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de Abril de 2008 - Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O vice-presidente da Associação
Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares
(Abdan), Ronaldo Fabrício, descartou o argumento
defendido por alguns ambientalistas de que a energia nuclear
tem custo elevado. Em entrevista à Agência
Brasil, ele afirmou que não se pode tomar como exemplo,
no caso da Usina Nuclear Angra 3, as usinas anteriores de
Angra 1 e 2, porque “elas foram construídas
numa época em que você não tinha recursos
para tocar o cronograma original”.
Ele
explicou que todas as usinas hidrelétricas e térmicas
construídas antigamente no Brasil tinham três
fontes de recursos: a tarifa na empresa, empréstimo
compulsório da Eletrobrás e empréstimos
do Banco Mundial (Bird) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID). “Com esses recursos, nós fizemos todas
as usinas a tempo e à hora, a preço absolutamente
previsto”, disse Fabrício.
No
final dos anos 80 e início da década de 90,
as tarifas das empresas foram congeladas em razão
da inflação alta. Além disso, a Constituição
de 1988 proibiu os empréstimos compulsórios
e a moratória decretada pelo ex-presidente José
Sarney teria posto fim aos financiamentos do BID e do Bird,
afirmou Ronaldo Fabrício. “O que aconteceu
foi que da década de 90 para cá, todos os
empreendimentos, e não só Angra 1 e 2, que
iam ser feitos em quatro ou cinco anos, levaram 15 anos
para ser feitos. E o custo foi astronômico”.
Segundo
o vice-presidente da Abdan, por essa razão, o custo
de energia de Angra 2 ao longo de 20 anos não é
uma maneira correta de aferir o preço de uma usina
nuclear.
Fabrício
reconheceu que Angra 3 vai adicionar uma parcela pequena
de energia (1%) à matriz brasileira, mas observou
que os 1.350 megawatts (MW) que vão ser ser introduzidos
quando a usina entrar em operação têm
95% disponibilizados. ”Essa energia pode ser usada
em 90% do ano. Essa energia equivale a uma hidrelétrica
de 2.500 MW, porque a hidrelétrica gera 50% de disponibilidade,
porque ela gera na época molhada e na época
seca ela não tem a mesma potência”. Acrescentou
que a usina eólica [gerada pelo vento] tem entre
30% e 35% de disponibilidade. Portanto, uma usina como Angra
3 equivaleria a 4 mil MW de uma de energia eólica.
O
vice-presidente da Abdan manifestou-se, contudo, favorável
à construção de usinas de todas as
fontes de energia no Brasil. “Nós precisamos
de energia de todas as fontes. Precisamos eólica,
solar, nuclear, hidromassa, hidrelétrica. Não
tem sentido ficar se batendo contra um determinado tipo
de energia porque, se fosse assim tão ruim, não
estava sendo adotado abundantemente na China, na Índia,
no Japão”.
Ele
disse que em todo o mundo, onde tem gás e energia
nuclear, quando o gás sobe de preço mais de
US$ 7,00 por milhão de BTUs [British Termal Unit,
medida de energia], o custo do megawatt/hora (MWh) é
inferior ao do gás. “Nós temos que aceitar
todas as formas. O que não pode faltar é energia”.
Para
Ronaldo Fabrício, argumentos contrários à
energia nuclear, como os Organização Não
Governamental ()NG) ambientalista Greenpeace, “não
têm a mínima sustância. O argumento do
Greenpeace é ideológico”, afirmou. Referiu-se
em especial à questão do lixo radioativo,
lembrando que os rejeitos da área nuclear “são
os únicos que têm nome, endereço e CPF.
A pessoa sabe onde está, monitora, enterra e controla
ao longo de não sei quantos anos. Os rejeitos das
outras usinas químicas, térmicas, vão
para o ar, para o mar, para a água. E ninguém
controla”.
Ele
lembrou que a geração de energia a partir
da fonte nuclear é uma das mais limpas para o meio
ambiente. “É uma das únicas fontes térmicas
que não produzem CO2 (gás carbônico),
que é o grande vilão do aquecimento global”,
disse o vice-presidente da Abdan. Na sua opinião,
para reduzir o problema do aquecimento global, não
existe atualmente outra alternativa senão a energia
nuclear.
A
expectativa de Fabrício é de que após
as audiências públicas realizadas na última
semana pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), deverá
ser concedida a licença ambiental para a construção
de Angra 3. Para ele, as audiências são positivas
na medida em que servem para mostrar à população
que a energia nuclear não é perigosa, é
econômica e não polui. "A audiência
pública é um excelente instrumento para que
a população tome contato com a realidade”.
+
Mais
Greenpeace
reafirma posição contrária à
energia de fonte nuclear
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de Abril de 2008 - Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - A coordenadora da campanha antinuclear
da Organização Não-Governamental (ONG)
ambientalista Greenpeace, Beatriz Carvalho, disse que a
opção de energia nuclear não tem viabilidade
no Brasil. “A gente sempre foi contra e continua sendo
contra”, afirmou, em entrevista à Agência
Brasil.
Beatriz
Carvalho participou das audiências públicas
sobre a Usina Nuclear Angra 3, promovidas na última
semana no Rio de Janeiro e São Paulo pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). Ela considera que essas audiências são
importantes porque representam “o único momento
realmente democrático” que o brasileiro tem
para discutir se quer ter essa solução energética
no país.
Carvalho
disse que Angra 3 vai contribuir muito pouco para a matriz
energética brasileira, em comparação
com o potencial energético do país, a partir
de outras fontes renováveis, que seriam “seguras
e limpas”. O aumento, em termos de fornecimento de
energia, seria de apenas 1% na matriz energética,
acrescentou.
Em
relatório econômico divulgado recentemente
no país, o Greenpeace acusa o governo de ter feito
uma “ginástica financeira" para apresentar
tarifa baixa para a energia nuclear de R$ 138,00 por megawatt/hora
(MWh). “A gente contesta esses dados, mostrando que,
na verdade, há subsídios que estão
escondidos nessa conta. E que tem dinheiro público
sendo jogado fora nessa construção matemática
que eles fizeram. Os custos da usina, principalmente de
construção, vão ser muito mais altos
do que o governo está apresentando”, afirmou
Beatriz Carvalho.
Segundo
a ativista do Greenpeace, o custo de construção
declarado pelo governo para Angra 3 seria de R$ 7,2 bilhões.
A entidade alega que com a incidência de juros sobre
o capital que está imobilizado para as obras, esse
valor seria de R$ 9,5 bilhões. “E se contar
os quatro anos de atraso médio na construção
de uma usina nuclear, o valor dela vai dobrar para R$ 15
bilhões”.
Ela
lembrou que o ponto principal que o Greenpeace debate na
questão nuclear está ligado à insegurança,
à falta de soluções para o lixo de
alta radioatividade e à instabilidade geopolítica
“que gera o país que tem a tecnologia nuclear”.
Lembrou ainda que o Greenpeace é totalmente contra
o uso dessa energia para quaisquer finalidades, a não
ser para fazer exames médicos. "Mas, para geração
de energia, a gente é contra”.