24
de Julho de 2008 - Luana Lourenço - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - A Eletronuclear,
estatal responsável pela implementação
da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, vai negociar
com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) para “chegar a
um denominador comum” sobre as exigências da
licença prévia do empreendimento, concedida
ontem (23).
O
principal “problema de interpretação”
a ser discutido com o Ibama é a condicionante de
dar destinação final ao lixo de alta radioatividade,
segundo o assessor da presidência da Eletronuclear,
Leonan Guimarães, em entrevista à Agência
Brasil. O texto da condicionante determina a apresentação
de proposta e início da execução do
projeto para disposição final dos resíduos,
o que, segundo Guimarães, pode significar exigência
de entrega de projeto para licenciamento ambiental ou início
das obras do depósito.
“O
que o Ibama entende por dar início ao projeto? Se
for dar início ao processo de licenciamento ambiental
do projeto, isso é perfeitamente viável. Se
for início da obra, isso seria inviável, aí
fica complicado o prazo”, argumentou.
Segundo
Guimarães, não há nenhum depósito
desse tipo em operação no mundo. Países
como Estados Unidos, França, Suécia e Japão
estão com projetos em andamento para instalar daqui
a pelo menos oito anos. “E eles têm uma quantidade
de resíduos incomparavelmente maior que a brasileira.
Temos armazenado em volume cerca de 100 metros cúbicos
em Angra 1 e 2, o que é uma quantidade muito pequena”.
A
Eletronuclear também pretende detalhar com o Ibama
outras condicionantes, “de conteúdo técnico
muito sofisticado”, segundo Guimarães, como
o arcabouço legal para financiamento de saneamento
ambiental dos municípios de Angra dos Reis e Paraty,
por exemplo.
Em
relação ao monitoramento independente da usina,
Guimarães afirmou que a Eletronuclear terá
que capacitar uma instituição para realizar
essa atividade. “Porque hoje não existe nenhuma
instituição que faça esse trabalho
que nós fazemos; vamos ter que desenvolver, incentivar
a capacitação de um organismo, uma universidade
para que ela faça paralelamente o [monitoramento]
que nós fazemos. É um problema de capacitar,
e leva tempo para isso funcionar”, apontou.
O
representante da Eletronuclear acredita que a previsão
de início das obras para 1° de setembro, anunciada
pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, está
mantida. Segundo ele, antes da concretagem da laje de fundação
do prédio do reator são necessárias
“obras preparatórias”, como preparação
de canteiros e do terreno, e são essas que o governo
pretende iniciar em setembro. “O ponto a ser discutido
com o Ibama é se é necessário aguardar
a licença de instalação para essas
obras. Mas não faz muito sentido o Ibama determinar
isso, porque são trabalhos preparatórios,
de recuperação da área, que ficou muito
tempo parada”, avalia.
A
construção de Angra 3 deverá ser executada
pela empreiteira Andrade Gutierrez, vencedora da licitação
da usina na década de 1980. O custo estimado para
as obras de Angra 3 é de R$ 7,3 bilhões. O
plano do governo é que a usina entre em funcionamento
em 2012. Para retomada das obras, um termo aditivo do contrato
deverá ser acordado e analisado pelo Tribunal de
Contas da União (TCU) antes da assinatura. “É
um problema bastante complexo, mas que agora vai ter que
ser resolvido”, apontou Guimarães.
+
Mais
Greenpeace
faz manifestação na frente da sede do Ibama
no Rio contra Angra 3
24
de Julho de 2008 - Da Agência Brasil - Rio de Janeiro
- O Greenpeace realizou na tarde de hoje (24) uma manifestação
em frente à sede do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
no centro do Rio, contra a emissão da licença
prévia ambiental para a instalação
de Angra 3, no litoral sul do estado.
Dois
ativistas vestiram macacões brancos, representando
roupas de segurança nuclear, e ficaram ao lado de
latões amarelos, uma alusão ao lixo nuclear.
Os manifestantes penduraram na porta do prédio do
Ibama uma foto do presidente do órgão, Roberto
Messias, com a declaração: "O Messias
chegou e traz más notícias."
Segundo
a ONG, mesmo com as 60 condicionantes impostas pela licença
prévia, os riscos e os custos da produção
de energia nuclear no país não compensam.
Para o Greenpeace, o Estudo e Relatório de Impacto
Ambiental feito pelo Ibama apresenta falhas graves. As principais,
diz o coordenador da campanha de energias renováveis
da ONG, Ricardo Baitelo, seriam a falta de esclarecimento
sobre o local de armazenamento dos resíduos produzidos
por Angra 3 e como a população seria retirada
do local em caso de acidente.
"A gente sabe que no mundo não existe uma resposta
definitiva para o depósito desse lixo. A gente sabe
que tem a problemática de que nenhum lugar do mundo
aceita receber o lixo. Todo mundo quer a usina, mas ninguém
quer receber esse depósito. A energia nuclear é
a mais cara de todas.”
O
lixo radioativo produzido pelas usinas Angra 1 e 2 vem sendo
estocado dentro das próprias usinas. Segundo o Greenpeace,
com os recursos previstos para Angra 3, cerca de R$ 8 bilhões,
seria possível instalar um parque de turbinas eólicas
com o dobro de potência em um terço do tempo
e gerando 32 vezes mais empregos.
Ao
final da manifestação, Ricardo Baitelo entregou
dois relatórios sobre energia nuclear para o superintendente
do Ibama no Rio, Rogério Rocco. Ele prometeu encaminhar
os documentos à presidência do órgão.