05
de Março de 2009 - Ativistas 'acorrentam' retrato
de Roberto Messias, presidente do Ibama, na sede do órgão
no Rio de Janeiro, em protesto contra a concessão
da licença ambiental prévia para a usina nuclear
Angra 3.
São
Paulo (SP), Brasil — Ao empurrar com a barriga a exigência
de solução definitiva para o lixo nuclear,
órgão ambiental quer criar fato consumado.
Mesmo
sem apresentar solução definitiva para o lixo
nuclear gerado pelos reatores de Angra 3, a Eletronuclear
conseguiu do Ibama, nesta quarta-feira (4/3), a licença
de instalação para a usina, o que na prática
autoriza a estatal a iniciar as obras do terceiro reator
nuclear do país. Com isso, o Ibama vai ajudando o
governo Lula a criar o fato consumado, autorizando novos
passos para um projeto que reconhecidamente não vai
conseguir cumprir uma de suas principais exigências,
de construir um depósito definitivo para os resíduos
radioativos de Angra 3.
Ouvido
sobre o assunto, o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc,
reafirmou sua posição contrária a Angra
3 e disse que a usina só obterá a licença
de operação caso a Eletronuclear apresente
o projeto de depósito definitivo.
"Segundo
o Ibama e a CNEN, a Eletronuclear cumpriu boa parte das
exigências feitas até aqui para obter as licenças
ambiental e de instalação. Para obter a licença
de operação, no entanto, a empresa terá
que ter as obras do depósito definitivo em andamento.
Caso contrário, a usina não entrará
em operação", afirmou Minc ao portal
do Greenpeace.
Resta
saber se Angra 3, depois de concluída ao custo estimado
inicialmente em R$ 8 bilhões, ficará mesmo
parada por não apresentar solução para
o seu lixo nuclear ou se o Ibama e o governo vão
contornar o assunto, justificando a operação
da usina devido ao fato consumado.
Na
prática, o Ibama está embromando o povo brasileiro
porque está claro desde o início da gestão
do seu atual presidente, Roberto Messias, que a construção
de Angra 3 não encontraria no órgão
qualquer obstáculo.
Veja
aqui o protesto que o Greenpeace fez contra a concessão,
pelo Ibama, da licença prévia ambiental para
Angra 3, em julho do ano passado.
Em
artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo no dia 5 de
agosto de 2008, Roberto Messias defendeu abertamente a sustentabilidade
e a necessidade de geração nuclear no Brasil,
além de relativizar o risco de acidentes no complexo
nuclear de Angra dos Reis (RJ).
Leia
aqui nossa resposta, também publicada como artigo
no jornal Folha de S. Paulo.
O
que ele não viu, ou não quis ver, foram as
muitas lacunas e falhas apontadas pelo Ministério
Público Federal (MPF) no Estudo de Impacto Ambiental
(EIA-Rima) apresentado pela Eletronuclear para respaldar
a construção da usina. Em vez de exigir a
correção do estudo, o Ibama transformou as
questões feitas pelo MPF em uma lista inicial de
60 condicionantes, exigidas em julho de 2008, sem garantia
alguma de que seriam cumpridas antes do início das
obras de Angra 3. A decisão de dar a licença
definitiva de instalação para Angra 3 mostra
que o Ibama não estava falando sério.
Os
problemas da energia nuclear não se resumem aos perigos
que oferecem ao meio ambiente e à população
em geral. São também um atentado aos cofres
públicos. Angra 3, que mal saiu do papel, já
está superfaturada em quase R$ 500 milhões,
segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU)
apresentados em relatório em outubro do ano passado.
Esse valor é cerca de 6% do orçamento previsto
da usina, estimado em R$ 8 bilhões. O TCU recomendou
a retenção da quantia e quer que o Congresso
Nacional decida o bloqueio ou não de recursos orçamentários
de 2009 para a obra.
O
Greenpeace, juntamente com o Partido Verde, entrou com uma
representação ao TCU em novembro de 2007.
Em resposta à recomendação do Greenpeace
e do PV, o TCU informou que revisaria os contratos apresentados
pela Eletronuclear e, em setembro de 2008, técnicos
do tribunal visitaram as instalações das centrais
nucleares em Angra dos Reis.
"O
Greenpeace continuará exigindo na Justiça
e nas ruas que o governo não embrome o povo brasileiro
investindo bilhões de reais de dinheiro público
em um projeto ultrapassado que ameaça a sociedade
e o meio ambiente, e não traz segurança energética.
Esse dinheiro poderia ser investido em soluções
energéticas renováveis mais eficazes, limpas
e baratas, como usinas eólicas e programas de eficiência
energética", afirma Rebeca Lerer, coordenadora
da campanha de Energia do Greenpeace.