05/07/2007
- Ministro interino Nelson Hubner destaca importância
da fonte nuclear na matriz energética brasileira
"O investimento em energia nuclear tem de ser visto
como estratégico", diz ministro
Desde
maio no cargo de ministro interino de Minas e Energia, o
engenheiro eletricista Nelson José Hubner Moreira
considera que atender as necessidades energéticas
do País com fontes mais baratas e menos poluentes
é um dos maiores desafios para o País. Em
entrevista ao Em Questão*, o ministro explica a importância
da construção da usina de Angra III para o
Brasil e esclarece aspectos polêmicos sobre a utilização
de energia nuclear.
Em
Questão - O Conselho Nacional de Política
Energética (CNPE) aprovou nesta semana a retomada
da construção da usina nuclear Angra III.
Qual a importância desse projeto para o País?
Nelson
Hubner - As usinas térmicas são estratégicas
para a segurança do suprimento de energia elétrica
no Brasil pelo fato de poderem ser acionadas, a qualquer
momento, para complementar a energia gerada pelas hidrelétricas
ou mesmo para regular os níveis dos reservatórios
no período de seca, operando na base do sistema de
forma ininterrupta. A usina nuclear tem essa característica
e, apesar do custo de implantação ser mais
elevado que o de outras fontes térmicas como biomassa,
gás natural ou carvão, seu custo para operar
na base é bem mais baixo em função
do custo do combustível ser menor. Angra III é
fundamental para garantir o atendimento pleno da demanda,
sobretudo, no período de seca. A usina será
construída próxima aos maiores mercados consumidores
do País, na mesma área que abriga as usinas
Angra I e II, o que reforça ainda mais o papel estratégico
desse complexo nuclear na garantia do suprimento de energia
elétrica no Brasil.
EQ
- As usinas nucleares contribuem para o aquecimento global?
Qual será o impacto ambiental do projeto?
NH
- Pelo contrário. A usina nuclear não emite
CO2 na atmosfera, um dos gases que mais contribui para o
efeito estufa. No relatório da ONU sobre mudança
climática foi aconselhada a utilização
de fontes renováveis de energia e a nuclear. O impacto
ambiental do projeto será mínimo porque a
usina será construída na mesma área
onde se encontram Angra I e II e o terreno já está
pronto para o início das obras. No caso dos rejeitos,
a solução que se busca é, no futuro,
dispor de tecnologia para reaproveitá-los no próprio
processo de produção até exaurir toda
a capacidade radioativa, evitando a necessidade de armazená-los
indefinidamente.
EQ
- Quais são as condições de segurança
no tratamento dos rejeitos?
NH
- Angra I e Angra II - e também quando for instalada
Angra III - têm dentro do corpo delas uma piscina
onde todo resto do combustível que é usado
é depositado ali para que seja resfriado e perca
a radioatividade. Durante toda a vida útil da usina
os rejeitos são armazenados nesta piscina. Os níveis
de segurança desses reservatórios seguem padrões
internacionais adotados em todas as usinas do mundo. Há
um controle absoluto realizado permanentemente por agentes
da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e
da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA). Nunca houve acidentes com rejeitos nas mais de 400
usinas nucleares instaladas no mundo. O grande acidente
da história foi na usina de Chernobyl (na então
União Soviética), que usava uma tecnologia
já ultrapassada e com níveis de segurança
muit o menores que os adotados atualmente.
EQ
- O fato de o Brasil voltar a investir em fonte nuclear
significa que deixará de investir em fontes limpas
e renováveis?
NH
- De forma alguma, pois precisamos de todas as fontes. O
Brasil tem as matrizes energética e elétrica
mais renováveis do mundo e, pelas projeções
do Plano Nacional de Energia, chegaremos ao ano de 2030
mantendo a proporção atual da participação
das fontes renováveis. O investimento em energia
nuclear tem de ser visto como estratégico, pois garante
energia na base e coloca o Brasil no seleto grupo de países
que dominam a tecnologia nuclear para fins pacíficos.
Entretanto, não abriremos mão de nossa grande
vocação pela energia hídrica, a mais
limpa, renovável e de menor custo.
EQ
- A previsão é que a usina entre em operação
em 2013. Até lá, quais são as garantias
de que não haverá um novo apagão?
NH
- Na década de 90 muitos países optaram por
um modelo no setor elétrico onde o próprio
mercado é que determinava as condições
de oferta e demanda. Não havia planejamento governamental
e o resultado, no Brasil, foi o racionamento. Hoje temos
um modelo no qual o Estado reassume o papel de planejamento
de curto, médio e longo prazos. Por meio dos leilões
realizados com cinco, três e até um ano de
antecedência, é possível garantir o
pleno abastecimento do mercado. Hoje, toda energia necessária
para 2010 já está contratada e acabamos de
assinar contratos de concessão de usinas responsáveis
pela oferta de energia a partir de 2011. O controle e a
previsibilidade são muito grandes, o que afasta a
possibilidade de um novo apagão.
EQ
- O senhor considera que o potencial de energias renováveis
no Brasil é bem aproveitado?
NH
- Sem dúvida e deve ser ainda mais explorado no futuro.
Enquanto a média mundial de participação
das fontes renováveis é de cerca de 14%, caindo
para 6% na média dos países desenvolvidos,
na matriz energética brasileira as fontes renováveis
representam 44%, e as projeções de longo prazo
do Plano Nacional de Energia (PNE-2030) indicam que essa
proporção será mantida. Ou seja: mesmo
com a previsão de crescimento acelerado do mercado
de energia nas próximas décadas, nossa matriz
continuará sendo a mais limpa e renovável
do mundo, sobretudo, porque temos um grande potencial hídrico,
de biocombustíveis e das fontes alternativas (eólicas,
solar e biomassa) a ser explorado.
EQ
- Como é elaborado o cenário para 2030?
NH
- O plano de longo prazo aponta os cenários macroeconômicos
e as melhores alternativas energéticas para sustentar
o crescimento da economia. Traçamos um cenário
político e econômico, fazendo uma previsão
de como estará o mercado, os custos relativos de
cada fonte, o impacto ambiental, entre outros. Os cenários
de curto é médio prazos são avaliados
por meio dos planos decenais, atualizados anualmente e que
servem de referência para o PNE-2030.
EQ
-M Outra crítica veiculada é que a usina Angra
III poderia ser utilizada também para a fabricação
de armas nucleares. Há algum fundamento nessa especulação?
NH
- Nenhum. No Brasil, fonte nuclear é para fins pacíficos.
As usinas nucleares produzem energia elétrica com
combustível a partir de urânio até 3,5%.
Para a fabricação de armas nucleares é
necessário um nível de enriquecimento superior
a 90%. Não há como produzir armas nucleares
utilizando a tecnologia adotada no processo de geração
de energia elétrica, como é o caso das usinas
brasileiras.
* Editado pela Secretaria de Comunicação Social
da Presidência da República (Secom).