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Em oitenta e sete anos de vida Jacques-Yves Cousteau
tornou-se um mito dos mares. Mesmo não sendo um cientista
de formação acadêmica provocou uma grande
evolução nos estudos da vida marinha. Nascido
no dia 11 de janeiro de 1910 na cidade Saint André
de Cubzac, França, Cousteau tornou-se uma referência
em pesquisas oceanográficas, popularizando as incursões
submarinas por todo o mundo. Durante cinqüenta anos
de sua vida produziu inúmeros filmes e programas
para a televisão sobre diversos aspectos da ciência
marinha, como “O Mundo Submarino de Jacques Cousteau” que
foi ao ar de 1968 a 1976 em uma TV americana, e escreveu
outras dezenas de livros sobre o assunto. Sua paixão
e perseverança fizeram com que Cousteau se tornasse
um dos maiores oceanógrafos do mundo.
Participou da invenção de várias ferramentas
que tornariam-se imprescindíveis à exploração
marinha como a scuba (self-contained underwater breathing
apparatus – cilindro portátil de ar comprimido),
também conhecido como Aqualug, junto com Émile
Gagnan. Desenvolveu transportes subaquáticos, escafandros
autônomos e câmeras para filmagem submarina.
Estes inventos e muitas outras pesquisas foram extremamente
importantes para o conhecimento e a conservação
de espécies marinhas, além de serem essenciais
na exploração de petróleo no mar do
norte. Durante a Segunda Guerra Mundial, onde serviu como
oficial de armas e prestou serviços à Resistência
Francesa, o que resultaria mais tarde uma condecoração
da Legião da Honra, Cousteau deu os primeiros passos
de sua odisséia pelas águas do planeta. Fundou
o Grupo de Pesquisas Submarinas da Marinha Francesa e expandiu
seu trabalho pelos sete mares. |
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Em 1950, logo após
a guerra, Cousteau reformou um navio britânico transformando-o
no famoso Calypso, embarcação que serviria
para a realização de várias pesquisas
oceanográficas. Já em 1953, Cousteau ganharia
reconhecimento mundial de seu trabalho através do
livro “O Mundo Silencioso”, o primeiro de vários
outros sucessos. Em 1955 fez uma adaptação
do livro e realizou um documentário, co-dirigido
pelo cineasta francês Louis Malle, que ganhou a Palma
de Ouro no Festival Internacional de Cannes. Cousteau ainda
foi premiado pela academia americana de Hollywood com três
estatuetas do Oscar. Um dos trabalhos premiados foi “O Mundo
sem Sol”, de 1956, onde o explorador francês apresentava
pesquisas realizadas por todo o mundo, inclusive no Brasil.
Após sua aposentadoria na Marinha Francesa em 1956,
Cousteau foi diretor do Instituto e Museu Oceanográfico
de Mônaco, já na década de 60 realizou
inúmeras experiências a respeito da ‘vida sob
as águas’ em laboratórios submarinos conhecidos
como Conshelf I, II e III. Finalmente em 1974 formou a Cousteau
Society, uma instituição sem fins lucrativos
dedicada a preservação ambiental, a vida e
a conservação marinha. |
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Mesmo sendo criticado
por cientistas que não simpatizavam com o trabalho
de Cousteau por ele não ter uma formação
acadêmica, tornou-se uma referência no estudo
das águas do planeta. Durante toda a vida lutou contra
teste nucleares no Pacífico Sul, foi contra a pesca
indiscriminada de baleias e foi ativista notório
na preservação da Antártida e ecossistemas
espalhados pelo mundo.
Conhecer e entender a vida Jacques Cousteau é um
exercício de inteligência e esperança,
é a certeza de que o homem é capaz de produzir
a tecnologia e desenvolver o progresso sem destruir seu
habitat. É aprender a conviver e respeitar as espécies
que habitam nosso planeta e saber que a harmonia do mundo
e de seus seres vivos depende muito de nossas ações.
No dia de 25 de junho de 1997, depois de complicações
cardíacas e respiratórias Jacques Cousteau
morre em Paris aos oitenta sete anos.
Mas para entender realmente a vida e a história de
Cousteau é preciso conhecer seu trabalho, durante
sua vida produziu setenta filmes e escreveu oitenta livros.
A seguir veja alguns destes títulos.
Saiba Mais: veja
alguns filmes sobre o trabalho de Cousteau
- "A Odisséia
de Cousteau - O Calypso em Busca do Britannic", equipe
de Cousteau encontra destroços da embarcação
afundada – (1977/Warner)
- "A Odisséia de Cousteau - Em Busca da Atlântida",
Cousteau faz pesquisas na costa da Grécia – (1978/Warner)
- "A Odisséia de Cousteau - O Nilo", a
equipe de Cousteau explora os santuários ecológicos
do rio Nilo – (1979/Warner)
- "A Odisséia de Cousteau - Mediterrâneo:
Berço ou Túmulo ?", pesquisas identificam
resíduos urbanos na região – (1980/Warner)
- "A Odisséia de Cousteau - As Ruínas
Perdidas do Mar", equipe do Calypso busca naufrágios
no Mediterrâneo e no Caribe – (1980/Warner)
- "A Odisséia de Cousteau - Clipperton: A Ilha
que o Tempo Esqueceu", Cousteau pesquisa vida em uma
ilha desabitada no Pacífico – (1981/Warner)
- "A Odisséia de Cousteau - Mamíferos
das Profundezas do Mar", focas e baleias são
pesquisadas por Cousteau no sul do Oceano Pacífico
– (1982/Warner)
- "Jornada aos Mil Rios", sobre o boto cor-de-rosa
– (1983/Pégasus)
- "Mapas da Amazônia", pesquisa sobre a
região – (1984/Pégasus)
- "Rio de Ouro", relação dos costumes
indígenas e o garimpo – (1984/Pégasus)
- "A Odisséia de Cousteau - Bomba Relógio
Submersa", sobre o resgate de uma carga tóxica
afundada perto da costa italiana – (1987/Warner)
- "Contagem Regressiva em Direção à
Amazônia", preparação de Cousteau
e sua equipe para uma expedição à bacia
amazônica – (1992/Pégasus)
Títulos em inglês:
- Amazon: Journey to a Thousand
Rivers
- Amazon: Legacy of a Lost World
- Amazon: New Eldorado-River of Gold
- Amazon: New Eldorado-Shadows in the Wilderness
- Amazon: River of the Future: Blueprints for Amazonia
- Andaman Islands: Invisible Islands
- Australia: The Last Barrier
- Australia: Out West Down Under
- Borneo: Ghost of Sea Turtle
- Borneo: Forests Without Land
- Cape Horn: Waters of the Wind
- Channel Islands: Waters of Contention
- Channel Islands: Days of Future Past
- Cocos Island: Sharks of Treasure Island
- Cries from the Deep
- Cuba: Waters of Destiny
- Marquesas Islands: Mountains from the Sea
- Mississippi: Reluctant Ally
- The Nile
- New Zealand: The Heron of the Single Flight
- New Zealand: The Rose and the Dragon
- Pacific Northwest: Lands of the Living Totems
- Papua New Guinea: Center of Fire
- Papua New Guinea: Into the Time Machine
- Papua New Guinea: River of Crocodile Men
- Pioneer of the Sea
- Saint Lawrence: Stairway to the Sea
- Sea of Cortez: Legacy of Cortez
- Thailand: Convicts of the Sea
- Warm-Blooded Sea: Mammals of the Deep
- Alaska: Outrage at Valdez
- (Amazon) Journey to a Thousand Rivers
- (Amazon) The New Eldorado/Invaders and Exiles
- (Amazon) River of the Future
- Amazon: Snowstorm in the Jungle/Rigging for the Amazon
- Bering Sea: Twilight of the Alaskan Hunter
- Borneo II: Forests Without Land
- The Great White Shark: Lonely Lord of the Sea
- Haiti: Waters of Sorrow
- Lilliput in Antarctica
- Papua New Guinea: Center of Fire
- Pioneer of the Sea
- Riders of the Wind
- Tahiti: Fire Waters
- Thailand: Convicts of the Sea
- Western Australia: Out West Down Under
- The Smile of The Walrus
- Diving For Roman Plunder
- Clipperton: The Island Time Forgot
- Time Bomb At Fifty Fathoms
- The Blind Prophets of Easter Island
- Mediterranean: Cradle or Coffin?
- Calypso's Search For The Britannic
- The Singing Whale
- The Smile of the Walrus
- A Sound of Dolphins
- The Dragons of the Galapagos
- The Desert Whales
- The Flight of the Penguins
- Whales
Saiba Mais: Cousteau
na literatura
- "Enciclopédia
dos Mares", com cinco volumes - (1984/Salvat, Editora
do Brasil)
- "Expedição de Jacques Cousteau na Amazônia",
com 253 páginas – (1984/Record)
Títulos em francês:
- Par dix-huit mètres
de fond/ J.Y.Cousteau - Durel 1946
- La Plongée en scaphandre / J.Y.Cousteau y F. Dumas
- Laffont 1950
- Le Monde du silence/ J.Y.Cousteau y F. Dumas - Laffont
1954
- Aldabra, sanctuaire de corail/ J.Y.Cousteau - IMA 1959
- Le Monde sans soleil/ J.Y.Cousteau J. Polus - Hachette
1964
- Les Requins / J.Y.Cousteau y P. Cousteau - Flammarion-Arthaud
1970-1993
- Vie y mort des coraux / J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion 1971
- Un trésor englouti/ J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion 1971
- Nos amies les baleines/ J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion 1972
- Pieuvres, la fin d'un malentendu/ J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion 1973
- Trois aventures de la Calypso/ J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion 1973
- Compagnons de plongée / J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion 1974
- Le Monde des océans (20 vol.) Cousteau Laffont
1974
- Les Dauphins y la libené/ J.Y.Cousteau y P. Diolé
- Flammarion-Arthaud 1975-1994
- Calypso / J.Y.Cousteau y A. Sivirine - Laffont 1978
- Saumons, castors y loutres/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet
- Flammarion 1978
- La Vie au bout du monde/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet -
Flammarion 1979
- Campagnes de la Calypso au large des côtes du Venezuela,
28 juillet-1a novembre 1979.
- Les Surprises de la mer/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet -
Flammarion 1980
- Mission de la Fondation Cousteau sur l'île de Clipperton,
février-avril 1980.
- A la recherche de l'Atlantide / J.Y.Cousteau y Y. Paccalet
- Flammarion 1981
- Almanach Cousteau de l'environnement / Équipe Cousteau
- Laffont 1981
- Français, on a volé ta mer / J.Y.Cousteau
y H. Jacquier Laffont 1981
- Le Destin du Nil / J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Flammarion
1982
- Planète océan (26 vol.) Cousteau, Laffont
(VPC Liriade) 1983
- Campagnes de la Calypso dans le bassin amazonien, 1982-1983.
- Fortunes de mer/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Flammarion
1983
- Du Grand large aux Grands Lacs/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet
- Flammarion 1985
- L'Expédition Cousteau en Amazonie/ J.Y.Cousteau
y M. Richards - Laffont 1985
- L'lle aux requins / D. Sérafini y Y. Paccalet -
Laffont 1985
- La Jungle de corail / D. Sérafini y Y. Paccalet
- Laffont 1985
- Le Galion englouti / D. Sérafini y Y. Paccalet
- Laffont 1986
- Les Pièges de la mer / D. Sérafini y Y.
Paccalet - Laffont 1986
- La Planète des baleines / J.Y.Cousteau y Y. Paccalet
- Laffont 1986
- La Mer blessée / J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Flammarion
1987
- Les Lions de la Calypso / D. Sérafini y Y. Paccalet
- Laffont 1987
- Le Mystère de l'Atlantide: Le Butin de Pergame
/ D. Sérafini Laffont 1987
- Cousteau's Rediscovery of the World expeditions. Papua
New Guinea, 1988.
- Traitement des eaux usées, septembre 1988.
- Le Mystère de l Atlantide: La Vague de feu / D.
Sérafini - Laffont 1988
- La Mer de Cortez/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Flammarion
1988
- Cap Horn à la Turbovoile/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet
- Flammarion 1989
- Les Grands Fleuves / J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Laffont
1989
- Papouasie Nouvelle-Guinée/ J.M. Cousteau y M. Richards
- Laffont 1989
- Le Dauphin de l'Amazone / D. Sérafini - Laffont
1989
- La Grande Barrière de corail/ J.Y.Cousteau y Y.
Paccalet - Flammarion 1990
- Les llesdu Pacifique/ J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Flammarion
1990
- Missions pacifiques / J.Y.Cousteau y Y. Paccalet - Laffont
1990
- La Forêt blessée / D. Sérafini - Laffont
1990
- Dauphins / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Phoques / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Pingouins / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Albatros / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Loutres de mers / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Le Corail vivant / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Le Garibaldi, poisson du Pacifique / Cousteau Hachette-Jeunesse
1991
- Le Dragon de mer / Cousteau Hachette-Jeunesse 1991
- Les Secrets des Antipodes / Cousteau Hachette-Jeunesse
1991
- Les Secrets de l'Amazonie / Cousteau Hachette-Jeunesse
1991
- Les Secrets d'une plongée / Cousteau Hachette-Jeunesse
1991
- La Légende du grand requin blanc / D. Sérafini
- Laffont 1991
- Baleines à bosse / Cousteau Hachene-Jeunesse 1992
- Lamantins / Cousteau Hachette-Jeunesse 1992
- Kangourous / Cousteau Hachette-Jeunesse 1992
- Eléphants de mer / Cousteau Hachette-Jeunesse 1992
- Les Crabes / Cousteau Hachette-Jeunesse 1992
- Les Secrets de Papouasie Nouvelle-Guinée / Cousteau
Hachette-Jeunesse 1992
- Les Secrets de l'Australie / Cousteau Hachette-Jeunesse
1992
- Les Secrets du Danube / Cousteau Hachette-Jeunesse 1992
- Les Secrets de Bornéo / Cousteau Hachette-Jeunesse
1992
- Les Secrets de la Calypso y de l'Alcyone / Cousteau Hachette-Jeunesse
1992
- Le Grand Requin blanc / J.M Cousteau y M. Richards - Laffont
1992
- Le Seigneur des requins / D. Sérafini - Laffont
1992
- L'Odyssée de la Calypso / D. Sérafini -
Laffont 1993
- L'Australie/ J.M Cousteau y M. Richards - Laffont 1993
- Mission en Antarctique / Cousteau Hachette-Jeunesse 1993
- Mission sur le Mékong / Cousteau Hachette-Jeunesse
1993
- Planète Terre, la grande aventure de la vie / Cousteau
Hachette-Jeunesse 1993
- Mission en Indonésie / Cousteau Hachette-Jeunesse
1994
- La Course des dauphins / D. Sérafini - Laffont
1994
- Mission en Alaska / Cousteau Hachette-Jeunesse 1995
- Le Dernier secret de l'île de Pâques / D.
Sérafini - Laffont 1995
- Madagascar, I'île des esprits/ J.Y.Cousteau y F.
Sarano - Plon 1995
- Le Monde des dauphins / J.Y.Cousteau /et Y. Paccalet -
Laffont 1995
- Namibie. Voyages au sud de l'Afrique / J.Y.Cousteau y
D. Ody - Laffont 1996
- Les Dragons des Galapagos / D. Sérafini - Laffont
1996
- Le Monde des requins (à paraître)/ J.Y.Cousteau
y Y. Paccalet - Laffont 1997
Cronologia Cousteau
1910 - Nasce n dia 11 de
janeiro na cidade de Saint-Andrè-de-Cubzac, na França,
Jacques Yves Cousteau
1920 – O estado de Vermount é palco de seus primeiros
mergulhos
1943 – Ao lado de Emili Gangnan inventa a válvula
reguladora de demanda de ar junto para mergulho
1950 – Compra o navio Calypso e o transforma em base de
suas operações oceanográficas
1953 – Em companhia do belga Jean de Vouters inventa uma
câmera fotográfica anfíbia
1973 – Recebe da ONU (Organização das Nações
Unidas) o Prêmio do Meio Ambiente
1982 – Inicia uma expedição pela Amazônia,
onde ficaria navegando por dois anos
1989 – É eleito pela Academia Francesa por méritos
culturais e científicos
1993 – O (CDGF) Conselho dos Direitos das Gerações
Futuras convida Cousteau para presidi-lo
1995 – Depois da realização de testes nucleares
em Mururoa e Fragautufa pede demissão da CDGF
1997 – Aos 87 anos Jacques Cousteau morre em Paris no dia
25 de junho por complicações cardíacas
e respiratórias
Os segredos do mar
"A Terra é o
único planeta do sistema solar onde a água
existe em quantidade apreciável, pois cobre cerca
de sete décimos da superfície do Globo. Mas
essa água, onde a vida surgiu pela primeira vez e
da qual todos os organismos dependem para sobreviver, foi-nos
dada de uma vez por todas: não haverá mais.
A história recordará a nossa época
como um período de crise em que o Homem, o principal
causador de toda a poluição, pôs em
perigo o meio ambiente, incluindo o mar, sustentáculo
da vida. Ao permitir que os resíduos industriais
sejam lançados aos oceanos e recusando-se a aceitar
um rigoroso controle internacional dos direitos de pesca,
o Homem impede o aparecimento de gerações
futuras.
As ilhas, lugares que desde sempre fascinaram a espécie
humana, também são afetadas. Elas têm
salvaguardado e preservado uma extraordinária diversidade
de vida animal e vegetal, tendo sido o seu isolamento o
fator que as transformou num último refúgio
para numerosos peixes, corais e outras criaturas marinhas.
Hoje em dia até estes oásis estão ameaçados.
No entanto, apesar de ser acusada de causadora de todos
os males do mundo moderno,a tecnologia é, na realidade,
a melhor arma da Humanidade contra a poluição,
que tantas vezes se nos apresenta como o preço do
progresso. Na verdade, não são os avanços
científicos e industriais que ameaçam o Homem
e a Natureza, mas sim a maneira errada e inconsciente como
a Humanidade aplica as suas conquistas tecnológicas.
Tenho esperanças de que um maior e mais profundo
conhecimento do mar, de que há milênios os
homens recebem sabedoria, inspire mais uma vez os pensamentos
e as ações que preservarão o equilíbrio
da Natureza e permitirão a conservação
da própria vida."
Jacques Cousteau
Texto extraído do livro “Os segredos do mar” escrito
originalmente a bordo do Calypso
Cousteau no coração
da mãe-terra
"Como todos os seres
humanos, nascemos no coração da mãe-terra.
Temos braços e pernas, respiramos oxigênio
que entra em pequenos pulmões.
Passamos grande parte da nossa vida na posição
vertical que nos dá uma maior autonomia e conforto
na Terra.
Vistos superficialmente somos iguais a todos os seres humanos.
Mas analisando um pouco mais fundo, alguma coisa nos faz
diferente. Nascemos com os olhos acostumados ao azul das
águas. Temos um corpo que anseia pelo abraço
do mar e, um pulmão que aceita grandes privações
de ar apenas para prolongar a nossa vida no mundo azul.
Somos homens e mulheres de espírito inquieto. Buscamos
na nossa vida mais do que nos foi dado. Passamos por grandes
provas para nos aproximar dos peixes. Transformamos nossos
pés em grandes barbatanas, seguramos o calor do nosso
corpo com peles falsas e chegamos até a levar um
novo pulmão em nossas costas. E tudo isto para quê??
Para podermos satisfazer uma paixão, um sonho. Porque
nós, algum dia, de alguma forma, fomos apresentados
a um mundo novo. Um mundo de silêncio, calma, mistério,
respeito e amizade. Esta calma e silêncio nos fizeram
esquecer da bagunça e agitação do nosso
mundo natal. O mistério envolveu o nosso coração
sedento de aventura. O respeito que aprendemos a ter pelos
verdadeiros habitantes desse mundo. Respeito esse que, só
depois de ter sentido a inocência de um peixe, a inteligência
de um golfinho, a majestade de uma baleia ou mesmo a força
de um tubarão, podemos compreender. |
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E a amizade. Quando
vamos até ao fundo do mar, descobrimos que ali jamais
poderíamos viver sozinhos. Então levamos mais
alguém. E esta pessoa, chamada de dupla, companheiro
ou simplesmente amigo, passa a ser importante para nós.
Porque, além de poder salvar a nossa vida, passa
a compartilhar tudo o que vimos e sentimos. E em duplas,
passamos a ter equipes, e estas passam a ser cada vez maiores
e mais unidas. E assim entendemos que somos todos velhos
amigos mesmo que não nos conheçamos.
E esse elo que nos une é maior que todos os outros
que já encontramos. E isso faz com que nós
mais do que amigos, sejamos irmãos. Faz de nós
mergulhadores."
Jacques Cousteau
Dois mestres: Jacques
Cousteau e José Lutzenberger
Durante a preparação
da Conferência ECO-92, conversei longamente com Cousteau,
em Brasília. Raras vezes em minha vida encontrei
pessoa tão profundamente preocupada com as calamidades
ecológicas que a atual cultura consumista prepara,
já para as crianças e jovens de hoje, sem
falar das gerações futuras. Preocupava-se
com a cegueira da grande maioria e estava revoltado com
o imediatismo dos poderosos em governos e tecnocracia. Sua
avançada idade não o impedia de engajar-se
com força e aceitar sacrifícios pessoais.
Em setembro de 1993 voltamos a nos encontrar, em Stuttgard,
na Alemanha. Estávamos participando de um dos eventos
mais lindos e comoventes que jamais presenciei. Era uma
"Reunião de Cúpula de Crianças".
Tinham entre 8 e 14 anos e vinham de toda a Europa, Leste
e Oeste. Além de muitos jogos, esportes, canções
em todos os idiomas, com o hino lema "Wir sind eine
Welt" (Somos um Mundo só), as crianças,
todas escolhidas entre as melhores de suas classes, convocavam
e questionavam políticos e tecnocratas importantes,
deles cobrando o cinismo, as omissões e o descaso
ecológico.
Era incrível o nível de informação,
a perspicácia e o sarcasmo desta infância,
mesmo de meninas e garotos de 8 anos. |
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Lá
estava Cousteau entre os assessores convidados pelas crianças,
adorado por elas. Ele armou barraca própria para
promover a idéia que já lançara em
1992 e que não foi aceita pelos governos que participaram
da Conferência. Para complementar a Declaração
dos Direitos Humanos, aprovada quase unanimemente em 1948,
com abstenção apenas da então União
Soviética, da Arábia Saudita e da África
do Sul, Cousteau queria uma nova declaração,
uma Declaração dos Direitos das Gerações
Futuras!
Desde a infância Cousteau fazia parte daquelas pessoas,
infelizmente tão raras, que mantém diálogo
intensivo com a Natureza. Entrou na Marinha porque gostava
do mar, mas não conseguiu satisfazer-se com as atividades
meramente militares. Cedo abandonou a carreira para dedicar-se
de corpo e alma ao fascínio do mundo marinho.
Foi o primeiro a explorar o mundo submerso e soube mostrá-lo
ao grande público. Inventou a máscara, snorkel
e pé de pato, desenvolveu o Aqualug e câmaras
especiais para fotografia subaquática. Com seu filho
Philippe, que, tristemente, perdera em acidente aéreo,
com seu Catalina, na embocadura do Tejo, em Lisboa, e que
foi sepultado em abismo marinho, fez os primeiros grandes
filmes que mostravam a profusão de vida nos recifes
de corais dos mares tropicais. Estes estão entre
os ecossistemas mais belos e preciosos deste castigado planeta
vivo - um mundo de estonteante beleza, de colorido deslumbrante,
com incrível riqueza de formas, comportamentos e
multifacetadas complementações, com diversidade
biológica comparável à das florestas
tropicais úmidas e igualmente vulneráveis.
Aprofundou sempre mais as suas observações
e descidas. Desenvolveu submarinos e equipamentos fotográficos
e de TV até para as tremendas pressões das
trincheiras abismais, onde se observa em ação
os mecanismos da deriva dos continentes com suas erupções
submarinas.
Com suas invenções conseguiu montar um império
industrial com ramificações em vários
continentes. Seus lucros sempre foram reinvestidos em novas
observações e pesquisas. Desde a primeira
ajuda financeira que lhe foi dada por um empresário
britânico, o que lhe possibilitou adquirir o barco
Calypso, ele quase sempre conseguiu autofinanciar-se. Sempre
viveu modestamente, seu grande gozo era a aventura do mar.
Com o passar dos anos, o que via em toda a parte levou-o
a preocupar-se sempre mais com os estragos ecológicos.
Chegou mesmo a arrepender-se de sua própria contribuição
indireta a alguns destes estragos. Com a popularização
dos equipamentos de mergulho surgiram no mundo milhões
de caçadores submarinos. É triste ver como
a maioria dos que mergulham só pensam em tirar troféu.
Pessoalmente, fiz mergulho e fotografia debaixo d'água
durante década e meia, quando vivia no Caribe. Nunca
empunhei harpão, mas não me faltou vontade
de fazê-lo, não contra as inocentes e encantadoras
criaturas do coral, mas contra os caçadores que espetavam
tudo o que viam pela frente. |
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Mas Cousteau
chegou a preocupar-se com a globalidade dos estragos que
hoje cometemos na água, na terra e no ar, chegou
à visão holística de nosso Planeta
como sistema vivo, com sua bio-geo-fisiologia. Tornou-se
um dos mais poderosos ambientalistas. Foi com este intento
que fez sua famosa expedição à Amazônia.
A expedição suscitou inicialmente protestos
de alguns que suspeitavam fins escusos. São muito
comuns, especialmente entre políticos, as pessoas
que não conseguem entender que alguém possa
agir de maneira desinteressada, simplesmente por idealismo.
Num mundo em que já não se encontra praia
limpa nem na mais remota das ilhas, onde recifes inteiros
de corais estão hoje mortos, outros morrendo pela
poluição, onde os que não estão
sendo avariados pela contaminação, estão
sendo vandalizados para a obtenção de souvenirs
para turistas, ou em que as espécies mais raras e
peculiares são caçadas vivas para aquaristas,
num mundo assim, em que nem o Pico do Everest escapa do
lixo, em que até os oceanos árticos têm
sua fauna dizimada pela pesca brutal e sem controle, é
lógico que Cousteau tenha sofrido grande angústia
e desespero, o que demonstrava claramente em suas conversas
e publicações.
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Ele refletia muito profundamente sobre quais as verdadeiras
causas de nossa atual agressividade e poder destruidor diante
da Natureza. A campanha de assinaturas por uma Declaração
dos Direitos das Gerações Futuras era apenas
parte de seus esforços. Com os ecólogos de
pensamento mais profundo compartilhava a convicção
de que nosso atual desastre é de fundo filosófico-religioso.
Dava-se conta que a atual forma de sociedade industrial
é uma religião fanática, que no mundo
vê apenas um repositório infinito de recursos,
de matérias-primas e de espaços a serem conquistados,
de sistemas vivos a serem dominados, demolidos ou eliminados.
Esta religião precisa ser trocada, e muito rapidamente,
por outra, por uma nova, na realidade muito velha, visão
holística. Por uma atitude de veneração
pelo grande processo da Sinfonia da Evolução
Orgânica, da qual somos apenas parte, um processo
estupendo que transformou nosso Planeta no maravilhoso sistema
vivo que é, em contraste total com os demais planetas
de nosso sistema solar, todos mortos.
Se a Humanidade conseguir atingir um desenvolvimento sustentável,
se conseguir sobreviver o próximo século,
restabelecendo harmonia com a Criação, Cousteau
será venerado como um dos grandes profetas que prepararam
a transição.
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José Lutzenberger, ambientalista brasileiro
famoso em todo o mundo por suas lutas conservacionistas.
Artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo,
em 1997. |
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Fonte: Folha de São Paulo (www.folha.com.br)
O Estado de São Paulo (www.estado.com.br)
Agência Reuters (www.reuters.com)
Enciclopédia Britânica (www.eb.com)
Fundação Gaia (www.fgaia.org.br)
Wikipedia (www.ql.wikipedia.org)
Enciclopédia Barsa
Organização: Redação Pick-upau
2005 – São Paulo – Brasil
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