20 de
abril - A demarcação e homologação
de terras indígenas e a instalação
da Comissão Nacional de Política Indigenistas
marcaram as comemorações ao Dia do Índio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou
a homologação de seis terras e recebeu
lideranças indígenas de todo o país
para homenagear os povos indígenas brasileiros.
As terras homologadas neste 19 de abril abrangem uma
área com mais de 978 mil hectares, incluindo
as terras Apyterewa (PA), Entre Serras (PE), Itixi-Mitari
(AM), Palmas (PR e SC), Pankararu (PE) e Wassu Cocal
(AL), que pertencem, respectivamente, às etnias
Parakanã, Pankararu, Apurinã, Kaingang,
Pankararu e Wassu.
O dia também
foi marcado pela posse declaratória de sete
territórios, assinadas pelo ministro da Justiça
Tarso Genro. Foram destinadas aos indígenas
as posses das seguintes terras: Cachoeirinha (MS),
da etnia Terena; Guarani de Araça'I (SC), da
etnia Guarani; Riozinho do Alto Envira (AC) - da etnia
Ashaninka e Isolados; Toldo Imbu (SC), da etnia Kaingang;
Toldo Pinhal (SC), da etnia Kaingang; Xapecó
(SC), da etnia Kaingang; e Yvyporã Laranjinha
(PR), da etnia Nhandeva Guarani. Após a assinatura
dos termos de reconhecimento, o ministro criou a Comissão
Nacional de Política Indigenista (CNPI), que
lutará pelos direitos dos índios e terá
a incumbência de elaborar anteprojeto de lei
para criação do Conselho Nacional de
Política Indigenista. O Conselho integrará
a estrutura do Ministério da Justiça
e será responsável por definir e monitorar
as ações prioritárias do governo
federal para o setor. Presidida por um membro da Fundação
Nacional do Índio (Funai), a Comissão
será composta por vinte representantes indígenas,
distribuídos por regiões: serão
nove da Amazônia, seis do Leste e Nordeste,
três do Sul e Sudeste e dois do Centro-Oeste.
Contará também com dois representantes
de duas organizações não-governamentais
indigenistas e treze membros do governo federal. Além
do presidente do Conselho, a entidade será
integrada por um representante dos seguintes órgãos:
Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidência
da República, Gabinete de Segurança
Institucional e dos Ministérios da Justiça,
Minas e Energia, Saúde, Educação,
Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Defesa e Planejamento.
+ Mais
Prêmio Culturas
Indígenas lança 2ª edição
no Dia do Índio
16 de abril - A Escola
Agroambiental Catxêkwyj reúne há
dez anos, em terras Krahô, no município
de Itacajá (TO), jovens, adultos e, desde o
ano passado, crianças, vindos de várias
aldeias da região. O objetivo dos encontros
é incentivar e recuperar, através de
atividades periódicas, práticas tradicionais
desse povo. Iniciativas como essa são o alvo
do Prêmio Culturas Indígenas, criado
ano passado pelo Ministério da Cultura, através
da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural
(SID), para mapear ações de fortalecimento
dos povos indígenas do Brasil.
Na próxima
quinta-feira, dia 19 de abril, o titular da SID, Sérgio
Mamberti, lança em São Paulo a segunda
edição do Prêmio, que acontecerá
na Aldeia Tenonde Porã, em Parelheiros (SP),
a partir das 10h. Também estarão presentes
na cerimônia, lideranças indígenas
de São Paulo, representantes da Petrobras,
Alfredo Manevy, da Secretaria de Políticas
Culturais (SPC/Minc), membros do Grupo de Trabalho
Indígena, instituído em 2005 pelo Ministério
da Cultura. O lançamento acontecerá
na Casa de Reza da aldeia onde será realizado
o canto dos xamãs, os rezadores da aldeia,
e uma apresentação do coral das crianças
guaranis, seguido de degustação da culinária
tradicional.
Prêmio 2007
- A nova edição do Prêmio vai
selecionar cem iniciativas e projetos com premiação
de 24 mil reais para cada um dos escolhidos. Em 2006
foram 82 selecionados recebendo cada um quinze mil
reais.Para este ano também estão previstas
também cerca de 52 oficinas de divulgação
do prêmio pelo Brasil, o que significa o triplo
de oficinas do ano passado. “Também teremos
mais articuladores regionais multiplicando e coordenando
as atividades do prêmio pelo Brasil. O tempo
de vigência do edital também deverá
ser maior. Todas as mudanças têm por
objetivo simplificar os procedimentos de acesso ao
prêmio”, explica Maurício Fonseca, coordenador
do Prêmio Culturas Indígenas.
Edição
Ângelo Cretã - O Prêmio Culturas
Indígenas foi criado pelo Ministério
da Cultura em abril de 2006. Sua coordenação
está a cargo da SID, num trabalho conjunto
com a Associação Guarani Tenonde Porã,
organização indígena localizada
em São Paulo. A primeira edição
do prêmio atraiu a atenção de
inúmeras comunidades, aldeias e organizações
indígenas de todo o Brasil. O MinC recebeu
um total de 504 inscrições, tendo sido
premiadas 82 iniciativas culturais de todas as regiões
brasileiras. Em sua primeira edição,
o homenageado foi o cacique e ex-líder dos
Kaingang, Ângelo Cretã. A iniciativa
do MinC tem o apoio dos ministérios do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome e do Meio Ambiente
(Carteira Indígena), ministérios da
Educação e da Saúde; além
da Fundação Nacional do Índio
(Funai) e do Sesc/SP.
Exposição
e mostra de vídeos marcam a Semana do Índio
20 de abril - A Coordenação-Geral
de Artesanato da Funai - CGARTE - como parte das comemorações
alusivas à Semana do Índio, estará
promovendo, entre os dias 19 e 27, na Loja Artíndia
de Brasília, exposição com painéis
fotográficos, cujo tema central é “Auwen
Uptabi”, autodenominação do povo Xavante.
“Auwen Uptabi significa “povo verdadeiro”. Os painéis
retratam o dia-a-dia das comunidades Xavante das terras
indígenas Pimentel Barbosa e Areões.
Ainda como partes
dessas comemorações, a Coordenação-Geral
de Documentação exibirá, no auditório
da Funai, 1º andar do Edifício-Sede, Mostra
de vídeos superinteressantes, com temática
indígena, nos dias 19, 20 e 23, sempre no horário
compreendido entre 12 e 14h. Na sala do Projeto Cultural
Maloquinha, situado no andar térreo, estarão
expostas, entre os dias 19 e 30 / 04, Pinturas Indígenas
a Óleo, da Artista Plástica Luzia Almeida.
Discurso do presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
no encontro com a Comissão Nacional de Política
Indigenista
20 de abril - Palácio
do Planalto, 19 de abril de 2007 - Não estava
nem previsto eu falar, mas eu queria dizer o seguinte
aos companheiros representantes da Comissão
e aos nossos companheiros representantes das nações
indígenas aqui presentes: vocês estão
acompanhando que neste novo mandato nós temos
que aproveitar para fazer as coisas que não
fizemos no primeiro mandato.
Eu queria dizer para
vocês que, por mais que tenhamos feito, eu acho
que nós ainda não fizemos grande parte
das coisas que precisamos fazer para tornar a qualidade
de vida de vocês uma qualidade de vida que respeite
a cultura de vocês e, ao mesmo tempo, dê
condições de vocês poderem viver
com dignidade.
Nós sabemos
de problemas de terras com ocupação
de fazendeiros, nós sabemos de problemas de
comunidades indígenas que vivem num território
infinitamente pequeno, que não permite sequer
que se tenha uma agricultura que permita sobreviver.
O nosso novo Ministro da Saúde e o nosso Presidente
da Funai têm o compromisso de, a partir de tudo
o que não aconteceu de 2003 a 2006, a gente
fazer acontecer de 2007 a 2010.
A criação
da Comissão é uma coisa necessária.
Eu fiz o decreto no ano passado e ela agora está
instalada. Eu espero que a Comissão possa ajudar
o governo a dar aos índios brasileiros o respeito
e a dignidade que eles deveriam ter merecido a vida
inteira. E eu penso que hoje é extremamente
importante, não apenas por ser o Dia Nacional
do Índio, mas é o dia da consagração
dessa Comissão. Ou seja, com a criação
da Comissão, eu queria que vocês soubessem
que vai aumentar a responsabilidade de cada um de
vocês, porque agora os erros que nós
cometermos e os acertos que nós fizermos serão
compartilhados entre nós.
Quero dizer para vocês
que não tem tema que seja proibido discutir.
Nós estamos abertos a discutir qualquer tema,
a discutir qualquer problema levantado, porque essa
experiência que vamos ter, com a Comissão
Nacional criada por nós a pedido de vocês
já há muito tempo, é a possibilidade
que nós temos de tornar a relação
Estado brasileiro e índios brasileiros a mais
democrática e mais civilizada possível.
Os brasileiros vão
ter que entender que, quando eles estiverem andando
na rua e virem um índio ou uma índia
aqui, próximo do Palácio do Planalto,
ou próximo de um Ministério, ou em qualquer
outro lugar, eles não têm que ficar imaginando
que aquele índio está vindo aqui para
fazer um manifesto, para fazer qualquer coisa. Eles
têm que perceber, compreender, que é
um cidadão brasileiro que, como todos os outros,
tem o direito de andar pelas ruas deste País,
de entrar no palácio do governo e de ser atendido
da forma que nós temos que atender todo e qualquer
ser humano brasileiro que passe pelo palácio
do governo.
Posso dizer para vocês
o seguinte: vocês terão, neste segundo
mandato, muito mais atenção do governo.
E aproveitem, por favor, vocês não foram
escolhidos para a Comissão para bater palmas
para o governo, vocês foram escolhidos para
trabalhar junto com o governo e cobrar do governo
as coisas que precisam ser feitas neste País
para as nações indígenas aqui
representadas e as que não estão aqui
representadas. Nós sabemos de parte dos problemas
que vocês vivem, nós sabemos que precisamos
e temos condições de tomar as decisões
para resolver esses problemas, para que, ao terminar
este mandato em 2010, a gente possa orgulhosamente
dizer que finalmente os índios conquistaram
a sua soberania e a sua cidadania definitiva nesse
País, não transformando vocês
num branco, mas transformando a sociedade brasileira
numa sociedade que tenha consciência e uma alma
capaz de compreender o significado que vocês
têm para o nosso País. Afinal de contas,
não são os índios que são
intrusos, nós é que somos os intrusos
e, portanto, nós temos que construir essa parceria
trabalhando muito.
Quero agradecer, Márcio
Meira, a você, e te desejar toda sorte do mundo.
O nosso querido Temporão está aqui,
o nosso ministro da Saúde, ele já sabe
de vários dos problemas que nós temos
que atacar para melhorar o tratamento de saúde
de vocês. Não para vocês terem
que ir para a cidade, mas para a gente levar à
aldeia os benefícios que nós levamos
para as cidades. Eu penso que nós estamos vivendo
um novo tempo, estamos vivendo uma nova era, e eu
quero contar com o testemunho de vocês para
que a gente possa, nestes próximos quatro anos,
fazer muito mais e fazer melhor do que já foi
feito.
Muito obrigado e parabéns
para vocês!
Karajá realizam
Seminário de Ortografia
17 de abril - De 07
a 11 de maio será realizado, na cidade de São
Félix do Araguaia-MT, o II Seminário
de Ortografia Iny (Karajá). O evento tem o
objetivo de definir a grafia correta das palavras
Iny, que ainda geram dúvidas quanto à
forma da escrita. Participarão professores
indígenas das doze aldeias jurisdicionadas
à Administração da Funai, naquela
cidade e, ainda, das aldeias Karajá de Buridina
e Aruanã, em Goiás, além de professores
da Terra Indígena Xambioá, no Tocantins.
A iniciativa foi dos
professores Woubedu Karajá, formado em Línguas,
no Curso de Licenciatura do 3º Grau Indígena
e Roberto Tewaxure Karajá, aluno do 3º
Grau Indígena. Os educadores pretendem, durante
as discussões, chegar a um consenso quanto
à correta ortografia Yni, discutida em 2006
no I Seminário. A Coordenação-Geral
de Educação da Funai está apoiando
financeiramente o encontro.
Artigo Márcio
Meira: Diálogo necessário com os índios
20 de abril - A Nação
brasileira tem uma dívida moral, ética
e estética com os povos indígenas. Da
rede de dormir ao Macunaíma, de Mário
de Andrade, passando pela cultura material, toponímia,
gastronomia e língua, em quase tudo podemos
notar a presença dos ameríndios em nossa
vida cotidiana.
Ameaçada até
os anos 70, a população indígena
voltou a crescer no Brasil e a partir de 1991, o IBGE
os incluiu no censo demográfico, registrando
um crescimento de 150% naquela década. Um ritmo
quase seis vezes maior que a média nacional.
Saltaram de 0,2% em 1991 para 0,4% da população
brasileira em 2000, totalizando 734 mil pessoas.
A Constituição
de 1988 inovou em relação aos direitos
indígenas. Deixa de tratá-los como seres
inferiores a ser “integrados” à nação
brasileira, reconhecendo-os na sua existência
enquanto “diferentes” e reconhece os direitos “originários”
sobre suas terras, conforme seus usos, costumes e
tradições.
A ratificação
pelo Brasil em 2002 da Convenção 169
da OIT sobre “Povos Indígenas e Tribais em
Países Independentes”, e em 2006 a Convenção
da UNESCO sobre a diversidade das expressões
culturais, também trouxe avanços importantes
aos direitos indígenas no Brasil.
Lideranças
tradicionais e o movimento indígena organizado
se tornaram atores políticos ativos desde a
constituinte, compondo hoje o cenário mais
amplo da sociedade civil brasileira, inclusive com
a eleição de vereadores e prefeitos
indígenas. Esses elementos revelam passos importantes
já consolidados na construção
da democracia étnica e cultural brasileira
pós 1984.
Entretanto, as comunidades
indígenas, muitas vulneráveis inclusive
a violação de direitos humanos, estão
entre os brasileiros com enormes desafios de inserção
diferenciada na agenda de nosso desenvolvimento social.
Há muito ainda a se cumprir no respeito aos
seus direitos, garantindo-lhes um papel ativo no presente
e no futuro do nosso país.
Nesse contexto, vários
são os desafios para uma política indigenista:
reformular o desenho e a massa crítica do órgão
indigenista – a FUNAI – aperfeiçoando-os e
adequando-os ao quadro atual das relações
democráticas não tutelares entre o Estado
e as comunidades indígenas do Brasil; aprimorar
a integração e a sinergia das ações
do Estado, aumentando a eficiência e eficácia
das ações nos territórios; prosseguir
na garantia dos direitos ao patrimônio territorial
indígena, combinados com a promoção
ao etnodesenvolvimento sustentável; promover
a educação e a saúde diferenciada
de qualidade; progredir no debate das garantias da
propriedade intelectual coletiva dos índios
sobre seus conhecimentos tradicionais, associados
ao patrimônio genético e ao patrimônio
cultural; agendar uma integração solidária
com os vizinhos da América do Sul com forte
população indígena, inclusive
no âmbito da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônico – OTCA
e do Mercosul; garantir o protagonismo e a participação
dos índios nas decisões que lhes dizem
respeito, instalando a Comissão Nacional de
Política Indigenista - CNPI.
As mais vastas áreas
protegidas da Amazônia e do Cerrado brasileiro,
especialmente na fronteira agrícola, o são
graças a presença contemporânea
de cerca de 222 povos distintos, falantes de 180 línguas:
a maior diversidade lingüística do planeta.
Suas terras representam 13% de todo o território
brasileiro, 22% na Amazônia Legal.
Muitos empreendimentos
do Programa de Aceleração do Crescimento
– PAC, estão previstos para a Amazônia
Legal ou outras regiões onde vivem indígenas
em suas terras. O debate atual sobre o aquecimento
global, de interesse de todos, robustece a necessidade
do diálogo sobre o desenvolvimento com as comunidades
indígenas.
Na perspectiva que
propõe o Presidente Lula de um novo ciclo histórico
de desenvolvimento para o Brasil, que combine patamares
expressivos de crescimento com inclusão social
e reversão das desigualdades regionais, as
comunidades indígenas precisam ver garantido
seu espaço social e político de interlocução
com o Estado e ter assegurado um lugar apropriado
no futuro do Brasil.
Márcio
Meira, presidente da Fundação Nacional
do Índio – Funai.
Paraense, Meira tem mestrado em Antropologia Social
pela Unicamp. Formado em Língua e Literatura
Francesa pela Universidade de Nancy e História
na Universidade Federal do Pará (UFPA). Foi
organizador do “Livro das Canoas: documentos para
a história indígena da Amazônia
colonial” (1994) e publicou trabalhos relacionados
às comunidades indígenas como: “Baniwá,
Baré, Warekena, Maku, Tukano ... os povos indígenas
do ‘baixo Rio Negro” querem ser reconhecidos (1991);
“De Marabitanas ao Apaporis – Um diário de
viagem inédito no noroeste amazonense” (1999);
“Os índios do Xié e a fibra da floresta”
(2000); “Índios e brancos nas águas
pretas: histórias do Rio Negro” (2005).
|