Ativista
que se destacou na Constituinte defende direito de
índios brasileiros apelarem a órgãos
internacionais
18 de Abril de 2007
- José Carlos Mattedi* - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - O apelo a
organismos internacionais por parte das comunidades
indígenas, para chamar a atenção
para problemas com o Estado brasileiro, é um
recurso “legítimo”, na avaliação
do ativista Ailton Krenak. “É uma pena que
o governo brasileiro ainda fica na dependência
de pressões internacionais para se manifestar
em favor dos povos indígenas”, diz ele.
Ailton Krenak ficou
conhecido nacionalmente durante a Assembléia
Constituinte que elaborou a Carta Magna de 1988. Ele
foi um dos principais articuladores em torno das propostas
que ampliaram os direitos indígenas. O ativista
cita os casos das lideranças indígenas
da terra Raposa Serra do Sol, em Roraima, cujas lideranças
buscaram a Organização dos Estados Americanos
(OEA), os fóruns da Organização
das Nações Unidas (ONU) e as entidades
civis internacional para “denunciar a falta de cumprimento
dos acordos internacionais e até da legislação
brasileira”.
A liderança
indígena diz, na verdade, lamentar que o recurso
a autoridades externas seja necessário. “É
triste ter que recorrer a organismos fora Brasil,
quando a solução está aqui”,
diz ele. Ao mesmo tempo, Krenak critica os que acreditam
que essa abertura internacional favoreça a
intromissão de estrangeiros nos assuntos internos
do país. “Essa idéia é pura maldade.
O povo indígena tem alertado a brasileiros
e estrangeiros que a terra tem limites, e que os brancos
precisam aprender a respeitá-la. O dano ambiental,
social e cultural vai colocar todos ao lado da dor
e do sofrimento.”
Ailton critica o atual
governo, do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Diz que espera um tratamento melhor aos povos
nativos no segundo mandato. “Não temos uma
palavra do Lula sobre o que o Estado brasileiro quer
fazer com as comunidades e territórios indígenas,
que tipo de apoio o governo vai dar e como desenvolver
essas regiões sustentavelmente.”
Ele denuncia, também,
a falta de empenho do Congresso na defesa dos interesses
indígenas. As comunidades dependem de “relações
de simpatia do parlamentar com alguma demanda regional”
para resolver seus problemas, o que acaba impossibilitando
trabalhar a questão indígena de forma
nacional. “O assunto é sempre muito regionalizado”,
pontua.
Krenak reclama, ainda,
que o projeto do Estatuto das Sociedades Indígenas
está parado no Congresso desde o início
dos anos 90. Segundo ele, nem o Legislativo nem o
Executivo tiveram a “sensibilidade” para regulamentar
essa lei, que busca melhorar a participação
indígena na proposição e na execução
das políticas públicas. “Como nada foi
feito, continuamos excluídos dos processos
de decisão sobre o desenvolvimento do país.”
Para o presidente
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), Márcio Meira, não há
problema na busca dos índios por apoio internacional.
“Os povos indígenas, como qualquer setor da
sociedade civil, têm o direito de procurar todos
os meios para garantir seus direitos. Dentro da lei,
não há problema nenhum", diz ele.
"Numa sociedade democrática, o movimento
social tem autonomia para buscar apoio e reconhecimento
com vários parceiros, inclusive internacionais.
A Funai, como órgão do estado, deverá
dialogar com esses povos respeitando sua autonomia.”
Segundo Meira, a regulamentação
do Estatuto das Sociedades Indígenas também
é uma preocupação do órgão.
Ele diz que pretende trabalhar junto com as lideranças
indígenas para que o documento seja aprovado
no Congresso. “A regulamentação é
necessária. A Constituição de
88 avançou muito em relação aos
direitos indígenas, mas nós precisamos
da regulamentação. A Funai está
atenta.”
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia
+ Mais
Demora da Justiça
está em descompasso com necessidades das comunidades
indígenas, diz advogada wapixana
18 de Abril de 2007
- José Carlos Mattedi* - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - A insensibilidade
é marca do Judiciário brasileiro no
tratamento de questões que afetam, muitas vezes,
milhares de índios brasileiros, avalia Joênia
Wapixana, indígena de Roraima que atua como
advogada. “Os trâmites são muito demorados,
e as comunidades não têm todo esse tempo
para respostas. Estamos tratando de vidas, que precisam
de respostas imediatas”, diz ela.
“Conheço um
caso em que comunidades ganharam uma ação
há mais de 20 anos. Mas, pelo excesso de recursos
processuais, as decisões já reconhecidas
acabam não sendo cumpridas”, completa Joênia,
que afirma sofrer discriminação em sua
atuação profissional. “Ainda existe
um olhar muito preconceituoso em relação
à identidade indígena, principalmente
porque se imagina que uma vez que você estudou,
deixou de ser indígena. Acham que o indígena
tem que ser aquela figura romântica e exótica
que sempre se leu na literatura brasileira.”
Joênia atua,
desde 2004, junto à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA), reivindicando a implementação
dos direitos dos povos indígenas brasileiros,
a partir da acusação de violação
da Declaração Americana de Direitos
Humanos da OEA, da qual o Brasil é signatário.
Ela também é advogada do Conselho Indigenista
de Roraima.
Para a advogada, há
uma carência de acesso à Justiça
pelas comunidades indígenas. Segundo ela, seria
necesário haver um número maior de advogados
indígenas. “O direito dá uma compreensão
mais rápida da situação de interesse
dos povos indígenas”, sublinha.
A morosidade da Justiça brasileira tem levado
o Conselho Indigenista de Roraima a buscar a intervenção
de organismos internacionais, como a OEA. É
o caso da reserva Raposa Serra do Sol, cujas terras
foram ocupadas por agricultores, acarretando-se danos
ambientais e conflitos com os indígenas. “Em
2004, entramos com uma petição na Comissão
de Direitos Humanos da OEA, pois havia um clima intranqüilo
e uma indefinição por parte do Estado
brasileiro. Havia uma morosidade de mais de 25 anos,
e os indígenas estavam sendo vítimas
de violência”, pontua.
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia
Lula não cumpriu
promessas de campanha com índios no primeiro
mandato, dizem lideranças
17 de Abril de 2007
- Alessandra Bastos - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O programa elaborado para
as comunidades indígenas, durante a campanha
presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em
2002, não está sendo cumprido, reclamam
lideranças indígenas que estão
em Brasília para protestos relativos à
Semana do Índio. "As promessas não
andaram e não estão sendo cumpridas”,
afirma o cacique da aldeia Cachoeirinha, de Miranda
(MS), Ramão Terena.
Agência
Brasil |
|
Semana
do Índio tem demarcações
e homologações de terras |
“O programa dizia
que o governo brasileiro iria virar a página
de uma política arcaica e iria dar passos importantes
na construção dessa nova política”,
conta ele. Entre as ações, segundo o
cacique, estaria a instalação do Conselho
Nacional de Política Indigenista e a criação
de um novo órgão indigenista de articulação
entre os ministérios para colocar as diretrizes
criadas pelo conselho em prática.
As lideranças
também dizem que houve uma "regressão"
no processo de demarcação de terras.
“Não houve avanço, e o número
de demarcações diminuiu em relação
ao governo passado”, diz Ramão. Os índios
alertam que, se o processo de demarcação
de terras continuar neste ritmo, levará cinqüenta
anos para a questão ser resolvida. Segundo
Ramão, no governo de Fernando Henrique Cardoso,
entre 1995 e 2002, a média foi de 15 demarcações
por ano e, no governo Lula, houve cinco. “No ano passado,
não houve nenhuma”, diz o cacique.
O coordenador-geral
da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab),
Jecinaldo Cabral, afirma que, dos R$ 60 milhões
destinados a questões indígenas no orçamento
do ano passado, apenas 2% foram investidos. “Falta
atenção na gestão de recursos”,
aponta.
Ramão Terena
vê crescimento apenas dos programas de assistência
social. “Houve melhora de assistência social.
É boa, mas chega em um determinado momento
que fica ruim, porque ficamos dependentes da assistência.
Não resolve”.
O coordenador da Coiab
concorda e avalia que, nos programas de desenvolvimento,
paralelos à assistência social, não
houve regresso, nem avanços, mas a continuidade
do descaso. “O governo passado não foi melhor.
Todos os governos recriminaram e tentaram tirar os
direitos das populações indígenas.
Não foi diferente no FHC e não está
sendo diferente no governo Lula”.
O processo de ocupação
de terras já demarcadas também é
problemático, segundo os líderes. Eles
apontam que muitas das terras devolvidas aos índios
foram desmatadas para plantações de
soja. “A mãe terra está nua”, diz o
líder terena.
Incompreensão
marca decisões do Judiciário sobre temas
indígenas, diz subprocuradora-geral
18 de Abril de 2007
- José Carlos Mattedi* - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - Para a subprocuradora-geral
da República e coordenadora da 6ª Câmara
de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal, Deborah Duprat, o Judiciário
brasileiro é movido por uma forte incompreensão
sobre a natureza dos direitos de povos indígenas.
Segundo ela, isso ocorre porque a justiça demora
para compreender o que se passa no mundo social, por
ser “um poder ainda bastante distante da realidade”.
Duprat sublinha que
o Judiciário é lento em relação
às mudanças sociais, principalmente
se forem levados em conta os grandes avanços
promovidos pela Constituição Federal
de 1988, quando houve uma quebra de paradigmas com
o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas.
De acordo com a subprocuradora, a justiça reflete
sobre o tema apenas a partir do momento em que as
questões vão chegando, “e começa
refletindo sobre pressupostos antigos, como a integração
à sociedade nacional e a perda da identidade”.
Assim, prossegue Duprat,
tanto o Judiciário como a sociedade brasileira
ainda não perceberam que os povos indígenas
passaram de uma situação de invisibilidade
e de inferioridade para um momento de fortalecimento
de suas identidades, e de empoderamento de seu próprio
processo social.
“Quando falamos em
empoderamento, significa que os índios forçaram
o direito a reconhecer que essa é uma nação
plural, com inúmeras identidades e que, numa
nação assim, você tem que ter
espaços que acolham toda essa diversidade”,
destaca. Duprat acrescenta que o direito nacional
anterior à Constituição de 1988
foi construído ignorando essas identidades.
“Esse direito foi
construído sobre o pressuposto de uma homogeneidade
social. Quando esse modelo se rompe, é natural
que a sociedade reaja, e que os operadores do direito
também fiquem um pouco sem instrumentos novos
para substituir aqueles que operaram durante tanto
tempo”, explica.
Segundo ela, a marca
do direito anterior no país foi a proteção
à propriedade privada, considerada um direito
fundamental. Com a Carta Magna de 1988, propriedade
e território foram colocadas lado a lado, mas
com noções completamente distintas.
“O território não é uma apropriação
patrimonial, mas um espaço onde as pessoas
têm uma referência de identidade. Mas
como o Judiciário ainda está preso a
essa noção de direito pressionado pela
propriedade privada, quem se diz proprietário
é favorecido pelas decisões judiciais.
Como ser proprietário fosse uma condição
de maior dignidade da pessoa humana do que sua própria
identidade. O que é um absurdo”, pontua.
Por outro lado, Duprat
defende o Judiciário quando o assunto é
o avanço das fronteiras agrícolas sobre
terras indígenas. Segundo ela, esse é
um projeto do governo apresentado como de desenvolvimento
nacional, “e isso coloca em xeque o processo de identificação
de territórios étnicos”.
E conclui: “O fato
é que apontamos problemas na justiça,
mas existem outros muito maiores no âmbito dos
demais poderes. O Executivo concebe planos de desenvolvimento
que passam ao largo das populações indígenas,
no sentido de ignorá-las no processo decisório
e na própria concepção do que
seja desenvolvimento nacional. Então, essa
noção de desenvolvimento é apropriada
pelo grupo referente ao direito anterior.”
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia
Congresso Nacional
é o atual vilão dos direitos indígenas,
diz advogado
17 de Abril de 2007
- 13h22 - José Carlos Mattedi* - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - Os direitos
dos povos indígenas brasileiros sofrem, atualmente,
um “contra-ataque conservador”. E esse golpe vem sendo
aplicado dentro do Congresso Nacional, com projetos
de lei e emendas constitucionais que vão de
encontro aos interesses dos índios, como tentativas
de diminuir e de dificultar o processo de demarcação
de terras. A opinião é do advogado e
assessor jurídico do Instituto Sócio-Ambiental
(ISA), Raul Silva Telles do Valle.
Segundo ele, a Constituição
Federal de 1988 foi um marco para os povos indígenas,
quando trouxe amplos direitos e garantias às
comunidades nativas – direito à terra e a seus
usos e costumes, e garantias que impedem que terceiros
se apropriem de recursos hídricos e minerais
em territórios indígenas. Com isso,
prossegue Telles do Valle, houve um aumento na demarcação
de terras e extensas áreas foram reconhecidas
– hoje, 25% da Amazônia Legal são de
reservas indígenas.
“Mas, nos últimos
quatro ou cinco anos, vimos no Congresso um movimento
contrário a esses direitos concedidos pela
Constituição. No Senado, por exemplo,
há três propostas de emenda constitucional
para diminuir ou dificultar o processo de demarcação
de terras. Dois deles, inclusive, estão prontos
para irem a plenário. E, pelo perfil dessa
legislatura, é bem provável que tenham
sucesso”, pontua.
Os direitos dos povos
indígenas brasileiros sofrem, atualmente, um
“contra-ataque conservador”. E esse golpe vem sendo
aplicado dentro do Congresso Nacional, com projetos
de lei e emendas constitucionais que vão de
encontro aos interesses dos índios, como tentativas
de diminuir e de dificultar o processo de demarcação
de terras. A avaliação é do advogado
e assessor jurídico do Instituto Sócio-Ambiental
(ISA), Raul Silva Telles do Valle.
Segundo ele, a Constituição
Federal (CF) de 1988 foi um marco para os povos indígenas,
porque trouxe amplos direitos e garantias às
comunidades nativas – direito à terra e a seus
usos e costumes, e garantias que impedem que terceiros
se apropriem de recursos hídricos e minerais
em territórios indígenas. Com isso,
prossegue Telles do Valle, houve um aumento na demarcação
de terras e extensas áreas foram reconhecidas
– hoje, 25% da Amazônia Legal são de
reservas indígenas.
“Mas, nos últimos
quatro ou cinco anos, vimos no Congresso um movimento
contrário a esses direitos concedidos pela
Constituição. No Senado, por exemplo,
há três propostas de emenda constitucional
para diminuir ou dificultar o processo de demarcação
de terras. Dois deles, inclusive, estão prontos
para irem a plenário. E, pelo perfil dessa
legislatura, é bem provável que tenham
sucesso”, diz ele.
Telles diz, ainda,
que, em novembro passado, a Câmara dos Deputados
aprovou um projeto de lei que diz que a terra indígena
pode ser explorada por terceiros se houver relevante
interesse público e da União. “Isso
abriu uma possibilidade de ocupação
de área indígena temporária ou
permanente, quando houver interesse público”,
frisa. “A Constituição tentou modificar
isso, mas com esse projeto a relação
de respeito ao direito do índio está
começando a andar para trás.”
Segundo o assessor
jurídico da ISA, há diversas mineradoras
querendo aprovar projetos que permitam a mineração
em territórios indígenas. “Se, por um
lado, existem vários projetos de lei que foram
ou vão ser aprovados, por outro existem apresentados
projetos benéficos à comunidade indígena,
e nenhum aprovado. O Estatuto da Sociedade Indígena
aguarda, desde 1993, para ser apreciado no plenário
da Câmara”, destaca.
Essa falta de apoio
no Legislativo, afirma Telles do Valle, é devido
ao pouco peso político dos povos indígenas,
que hoje representam cerca de 1% da população
do país. “Com esse peso minúsculo, não
conseguem eleger deputados federais nem senadores”.
Ele observa que essa é uma característica
brasileira, pois outros países da América
Latina reservam assentos no legislativo aos povos
nativos. “Esses governos vizinhos garantiram vagas
aos representantes indígenas, independentemente
do peso deles na população nacional”,
finaliza.
O presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira,
diz que o órgão já solicitou
à Câmara dos Deputados vistas do projeto
de lei que abre as terras indígenas para exploração
em caso de interesse público. “Nós vamos
analisar a proposição antes de encaminhá-la
ao Ministério Público. Não temos
ainda uma posição clara sobre o tema,
mas vamos dar o nosso pronunciamento em breve”, assinala.
Quanto a regulamentação do Estatuto,
ele afirma que a Funai pretende trabalhar junto com
as lideranças indígenas para que o documento
seja logo aprovado no Congresso.
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia
Líderes indígenas
conversam com presidente do STF sobre julgamento de
processos
19 de Abril de 2007
- Lourenço Melo - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Cerca de 20 representantes
de comunidades indígenas que estão acampados
em Brasília conversaram hoje (19) com a presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen
Gracie, sobre processos que tramitam na corte envolvendo
questões de terras de interesse de tribos de
todo o país. Eles agradeceram a apreciação
pelo tribunal, a partir de abril do ano passado, de
dezenas de processos que estavam parados havia muitos
anos no tribunal.
A ministra Ellen Gracie
afirmou que o STF tem interesse em agilizar o julgamento
dos processos e mostrou interesse de que isso sirva
de exemplo para outras cortes que têm processos
pendentes, segundo o advogado Paulo Machado Guimarães,
que representou o Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) no encontro com a presidente do Supremo. Dos
processos de interesse de aldeias, 115 foram apreciados
pelo tribunal de abril do ano passado para cá
e 164 estão parados, de acordo com o advogado.
Guimarães afirmou
que hoje, no encerramento da mobilização
dos povos indígenas no Acampamento Terra Livre,
montado na Esplanada dos Ministérios, "além
do esforço inédito que o STF realizou
do ano passado para cá, os índios saem
satisfeitos com a criação da Comissão
Nacional de Política Indigenista". A criação
foi oficializada em cerimônia no Palácio
do Planalto.
O advogado citou também
a decisão do ministro da Justiça, Tarso
Genro, de declarar sete novas áreas no país
como terras indígenas, "resolvendo problemas
complicados que perduravam havia muito tempo".
Um dos problemas mais
sérios entre os que estão pendentes
no STF, segundo avaliação de indígenas
e do advogado, é o do povo Pataxó Hã
Hã Hãe, no sul da Bahia. A etnia contabiliza
um total de 19 mortes de líderes em consequência
dos problemas com seu território. A ela também
pertencia Galdino Jesus dos Santos, incendiado por
jovens em Brasília há dez anos.
O vice-cacique pataxó
Aiuarã (Reginaldo Rodrigues Vieira) disse que
eles esperam do STF a destinação de
54.100 hectares de terras, entre os 9 milhões
de hectares que já tiveram no estado. Parte
dessa área foi titulada pelo governo da Bahia,
segundo Aiuarã, em favor de fazendeiros.
O acampamento na capital
federal reuniu mais de 1,2 mil índios de 89
etnias diferentes na capital federal desde a última
segunda-feira (16).
Governo cria comissão
para discutir política com índios
19 de Abril de 2007
- Ana Paula Marra - Repórter da Agência
Brasil - José Cruz/ABr - Brasília -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa
com o cacique Raoni e com o presidente da Fundação
Nacional da Índio (Funai), Márcio Meira,
durante recepção aos integrantes da
Comissão Nacional de Política Indigenista
no Palácio do Planalto.
Brasília -
O Ministério da Justiça assinou hoje
(19), Dia da Luta Indígena, uma portaria criando
a Comissão Nacional de Política Indigenista.
Composta por 20 representantes indígenas de
diferentes regiões, a comissão abre
a discussão aos índios sobre as políticas
indigenistas do governo. A fundação
também será composta por dois representantes
de organizações indigenistas e treze
membros do governo federal. Será presidida
por um representante da Fundação Nacional
do Índio (Funai).
A comissão
terá, entre outras funções, de
elaborar anteprojeto de lei para criação
do Conselho Nacional de Política Indigenista.
Em vez de ser consultivo, como a comissão,
o conselho seria deliberativo - suas decisões
teriam de ser seguidas pelo governo. A criação
da comissão era uma promessa do novo presidente
da Funai, Márcio Meira. “Queremos o índio
como protagonista. Não dá mais para
a Funai e o governo federal desenvolverem uma política
voltada para esses povos sem a participação
deles", disse em entrevista à Radiobrás.
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva prometeu que os índios
receberão "muito mais" atenção
de seu governo no segundo mandato. "Vocês
foram escolhidos como comissão para trabalharem
junto com o governo e cobrarem do governo para fazer
as coisas que precisam ser feitas neste país
pelas nações indígenas",
afirmou, ao dar posse aos integrantes da comissão.
"Quero dizer
pra vocês que não tem tema que seja proibido
de discutir", afirmou. "Nós estamos
abertos para discutir qualquer tema, qualquer problema
levantado, porque é a possibilidade que nós
temos de tornar a relação Estado brasileiro
e índios da forma mais democrática e
civilizada possível".
Também hoje,
o presidente Lula assinou a homologação
de seis terras indígenas, que abrangem uma
área de cerca de 978 mil hectares. As terras
homologadas foram a Apyterewa (PA), Entre Serras (PE),
Itixi-Mitari (AM), Palmas (PR e SC), Pankararu (PE)
e Wassu Cocal (AL), que pertencem, respectivamente,
às etnias Parakanã, Pankararu, Apurinã,
Kaingang, Pankararu e Wassu.
Segundo a Fundação
Nacional do Índio, entre 2003 e 2006, foram
homologadas as demarcações de 63 terras
indígenas, o que corresponde a uma área
de cerca de 11 milhões.
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