Professores
com pouca qualificação predominam na
educação indígena
19 de Abril de 2007
- Isabela Vieira e Wellton Máximo - Repórteres
da Agência Brasil - Brasília - O ensino
indígena no país esbarra na falta de
qualificação dos professores. O levantamento
Estatísticas sobre Educação Escolar
Indígena no Brasil, divulgado nesta semana
pelo Ministério da Educação (MEC)
constatou que uma parcela significativa dos docentes
não concluiu o ensino fundamental nem sequer
recebeu formação para dar aulas.
Dos cerca de 8 mil
professores que lecionam nas escolas indígenas,
constatou o estudo, 64,8% têm ensino médio
completo e 13,2%, o ensino superior. No entanto, a
pesquisa aponta que 12,1% só terminaram o ensino
fundamental e 9,9% nem concluíram esse nível
de ensino, 12,1%.
Conforme a pesquisa,
o Norte e Nordeste constituem as regiões com
um número maior de professores com menor escolaridade.
Em relação à média nacional,
o percentual de professores nesses estados com ensino
fundamental incompleto é maior que nos demais.
Agência
Brasil |
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Passeata
em Brasília na Semana do Índio |
Apesar de o total
de professores com ensino médio completo ter
aumentado desde 1999, o próprio levantamento
destaca a necessidade de investimentos em capacitação
profissional. "Ainda é expressivo o contingente
de professores indígenas, cerca de 10% do total,
que estão em atuação e que não
só não concluíram o ensino fundamental,
como nunca receberam qualquer formação
para atuar como professores", adverte o texto.
A adaptação
do currículo para a realidade das aldeias constitui
outra dificuldade. O levantamento do MEC revelou que
menos da metade das escolas (41,5%) dispõe
de material didático criado especialmente para
os grupos étnicos. Mesmo nesses casos, no entanto,
o uso costuma estar restrito a uma única cartilha,
livro ou dicionário.
"A situação
é extremamente preocupante, demonstrando a
insuficiência de materiais que permitam uma
prática educacional pautada pela interculturalidade
e pela valorização dos conhecimentos
e saberes próprios às comunidades indígenas",
avalia o levantamento.
Coordenador de Educação
Indígena da Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade
do MEC, Kléber Matos diz que o ministério
está investindo na melhoria da qualificação
dos professores. Ele, no entanto, alega que, por atuar
com comunidades indígenas, esses docentes precisam
de formação diferenciada. “Enquanto
o magistério normal dura três anos, a
formação de professores indígenas
leva de quatro a cinco”, compara. “Esse é um
problema que o ministério está resolvendo,
mas os efeitos só serão sentidos a médio
prazo".
Para Kléber,
a falta de professores capacitados também interfere
na educação especial para os índios.
Segundo ele, o problema é maior no ensino médio,
onde a carência é ainda maior. “Principalmente
no ensino médio, muitos professores não-indígenas
são remanejados para dar aula nas aldeias”,
admite. “Isso está longe de ser o ideal, mas
infelizmente é uma situação ainda
presente no ensino indígena do país.”
Maior parte dos alunos
indígenas se concentram nas primeiras séries
do ensino fundamental
19 de Abril de 2007
- Isabela Vieira e Wellton Máximo - Repórteres
da Agência Brasil - Brasília - Os problemas
na educação de índios no Brasil
refletem-se na distribuição dos 160
mil alunos dessas etnias entre os níveis de
ensino. Segundo o levantamento Estatística
sobre Educação Escolar Indígena
no Brasil, produzido pelo Ministério da Educação
(MEC), a falta de professores nas séries mais
avançadas provoca a concentração
de índios nos primeiros anos do ensino fundamental.
De acordo com a pesquisa,
elaborada com base nos Censos Escolares de 1999 e
2005, cerca de 130 mil estudantes indígenas
estão no ensino fundamental e têm entre
8 e 9 anos, totalizando 81,7% nas primeiras quatro
séries. Somente a primeira série concentra
32,8% dos estudantes. Em contrapartida, a proporção
de alunos no ensino médio é de apenas
4,5%.
Conforme o levantamento,
uma das explicações para a concentração
de alunos nas primeiras séries é o fato
de as escolas indígenas não trabalharem
com a estrutura formal de séries, mas separarem
os estudantes em iniciantes, alfabetizados e avançados.
"A concentração dos estudantes
nas três primeiras séries pode ter muitas
explicações. É sabido que o ensino,
em boa parte das escolas indígenas está
voltada à alfabetização e a rudimentos
do conhecimento de matemática, não estando
organizadas em termos de séries, anos ou ciclos",
explica o texto da pesquisa.
O coordenador de Educação
Indígena do MEC, Kléber Matos, diz que
a distribuição dos professores também
pode ser considerada como uma das causas para a predominância
dos estudantes nas séries mais básicas.
“Dos quase 9 mil professores que dão aula para
índios, apenas mil têm título
de ensino superior e podem lecionar para o ensino
médio”, ressaltou. “Dessa forma, é de
esperar que as matrículas nas séries
mais avançadas ocorram em quantidade menor”,
explica.
Kléber reconhece
que a educação indígena está
muito distante do equilíbrio entre os níveis
de ensino, mas ele afirma que o MEC aos poucos vem
diminuindo as disparidades na distribuição
das matrículas. “Nos últimos quatro
anos, conseguimos aumentar muito mais a matrícula
de quinta a oitava série do que de primeira
a quarta”, afirma. “Nós também temos
conseguido ampliar muito a oferta de ensino médio
nas aldeias".
Apesar dos esforços
do governo, a proporção dos indígenas
conforme a série escolar ainda registra diferenças
elevadas. Segundo a pesquisa do MEC, para cada aluno
de quinta a oitava série existem três
entre a primeira e a quarta. Ao comparar os níveis
fundamental e médio, a desigualdade ainda é
mais evidente. Para cada estudante no ensino médio,
há 18 no ensino fundamental.
Segundo o MEC, cerca
de 160 mil alunos estão matriculados em escolas
indígenas em todo o país. Desse total,
mais da metade (52,5%) está na Região
Norte. Somente o Amazonas responde por 30% dos estudantes.
A Região Nordeste está em segundo lugar
no número de alunos indígenas (23,2%),
seguida do Centro-Oeste (15,5%), do Sul (5,9%) e do
Sudeste (2,9%).
A pesquisa também
mostra que a responsabilidade pelo ensino indígena
está distribuída principalmente entre
os governos estaduais e as prefeituras. Segundo o
estudo, 51,8% dos alunos indígenas estão
em escolas municipais, contra 47,6% em escolas estaduais
e somente 0,6% em escolas particulares.
Kléber afirma
que a integração entre o governo federal
e as autoridades estaduais e municipais é essencial
para assegurar o sucesso da educação
indígena. “O ideal é haver uma colaboração
contínua entre essas três esferas, o
que está sendo conseguido aos poucos”, afirma
o coordenador do MEC. “O papel do ministério
é fornecer apoio técnico e pedagógico,
além de complementar a educação
indígena com políticas de financiamento”,
esclarece.
Primeira índia
mestra em direito critica equívocos sobre índios
nos livros escolares
19 de Abril de 2007
- Juliane Sacerdote - Da Agência Brasil - Brasília
- No Dia do Índio, muitos protestos e reivindicações
foram organizados em todas as regiões do país.
Os índios brasileiros querem mais respeito
e reconhecimento. Atualmente, existem cerca de 700
mil índios espalhados em 230 diferentes povos.
Para a primeira índia
com mestrado em direito no país, a advogada
Fernanda Kaingang, não há motivos de
comemoração se pensarmos na situação
de “penúria, miséria e violação
de direitos” que ainda se encontram muitos povos.
Na opinião
da diretora-executiva do Instituto Indígena
Brasileiro para a Propriedade Intelectual (Inbrapi),
é possível apenas celebrar o fato de
o Brasil ainda concentrar uma grande diversidade cultural.
“O problema é
que ainda existe muita falta de informação
das pessoas com relação aos povos indígenas
e suas diversidades e especificidades. É um
preconceito mascarado", denuncia Fernanda Kaingang,
gaúcha, pós-graduada na Universidade
de Brasília (UnB).
"Os livros escolares
trazem informações equivocadas dos índios.
Sempre falam que nós só caçamos
e pescamos. Não, nós não fazemos
parte do passado, nós somos parte do presente
do país e temos muito a contribuir com o Brasil.”
No Inbrapi, a advogada
trabalha pela defesa dos conhecimentos tradicionais
das tribos e com o devido reconhecimento das tecnologias
indígenas. Ela diz que Brasil ainda possui
políticas públicas insuficientes para
os índios e a educação permanece
em segundo plano.
“Os índices
de analfabetismo são enormes, são maiores
que no resto da população. Não
existem política públicas para povos
indígenas em nível superior. Não
se pensou que um índio poderia fazer uma graduação
e muito menos uma pós-graduação.
Foi um surpresa quando me formei a primeira mestra
indígena em direito no país.”
De acordo com Fernanda
Kaingang, a geração dela é consciente
com relação os problemas enfrentados
pelos seus povos, como a insuficiência de terras,
desnutrição de crianças e desrespeito
aos direitos humanos. Por isso, a universidade foi
vista como uma possibilidade de “adquirir conhecimentos
e atuar na luta de povos”.
“Nós sabemos
exatamente o que queremos. Nós queremos de
volta a nossa auto-determinação, de
dizer como vai ser nossa educação, de
ter as nossas terras, de ver respeitadas as nossas
terras. Queremos ver nossas crianças tendo
aulas nas línguas indígenas. Enfim,
que possamos ser brasileiros, mas com uma cultura
específica anterior ao próprio Brasil."
Essa luta, segunda
a advogada, requer mudanças estruturais nas
organizações que hoje apóiam
as causas indígenas, como a Fundação
Nacional do Índio (Funai).
“A Funai deve ser
urgentemente reestrutura e fortalecida, tanto no que
diz respeito aos recursos quanto na infra-estrutura,
nos funcionários. Ter realmente o apoio efetivo
do governo, que deveria elaborar política específicas
e consistentes para os índios”, opina Fernanda
Kaingang.
"Queremos parlamentares
conscientizados e não necessariamente índios
políticos. Se acontecesse seria ótimo,
mas o que buscamos mesmo são pessoas capazes
de apoiar nossa luta, nossa causa, que é legítima.
É mais que uma questão de formação
ou de ideologia, é uma questão de vida,
de tradição e história.”
Índios de Pernambuco
apresentam-se em escolas públicas para divulgar
cultura nativa
19 de Abril de 2007
- Marcia Wonghon - Repórter da Agência
Brasil - Recife - Durante todo o mês de abril,
120 índios de oito etnias estarão se
apresentando em escolas públicas de Recife
e região metropolitana. O projeto é
organizado pela Fundação Nacional do
Índio (Funai). Segundo a administradora da
instituição em Pernambuco, Estela Parnes,
a idéia é divulgar a cultura indígena
e facilitar a comercialização do artesanato
produzido nas aldeias, existentes em 14 municípios
do estado.
Hoje, um seminário
sobre a história e a cultura dos primeiros
habitantes do Brasil também marca o Dia do
Índio. O evento é organizado pela secretaria
estadual de Educação. A gerente de educação
indígena, Vera Lúcia Rodrigues, informa
que a idéia da iniciativa é mostrar
aos participantes um trabalho diferente do que é
apresentado normalmente. ”A imagem do índio
nos livros didáticos é sempre uma figura
folclórica, fora da realidade. Queremos que
eles sejam mostrados como protagonistas de sua própria
história”, diz ela.
Em Pernambuco, existem
atualmente cerca de 36 mil índios, de 10 etnias,
segundo dados da Fundação Nacional de
Saúde (Funasa). Pernambuco é o quarto
maior estado do pais em termos de população
indígena.
Índios pedem
mais e melhores escolas
18 de Abril de 2007
- Isabela Vieira - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O Brasil tem atualmente
mais de 160 mil alunos indígenas matriculados
em cerca de 2 mil escolas em todo o país, de
acordo com o Ministério da Educação.
Ainda assim, as escolas indígenas são
insuficientes e muitas têm baixa qualidade,
segundo a delegação de professores indígenas
que se reuniu hoje (19) em Brasília com o ministro
da Educação Fernando Haddad.
A principal reivindicação
do grupo, segundo o professor indígena e também
integrante do Conselho Nacional de Educação
(CNE), Gersem Baniwa, é a definição
sobre a responsabilidade pelo setor. “Isso está
claro na lei, mas na prática não acontece
porque há diferentes entendimentos de quem
tem essa competência, municípios, estados
ou União”.
O governo federal,
de acordo com o Baniwa, precisa resolver de forma
clara a questão e reorientar o processo. O
estudo Estatísticas sobre Educação
Escolar Indígena no Brasil, lançado
hoje pelo Ministério da Educação,
reconhece esse problema da indefinição
sobre a responsabilidade em relação
às escolas indígenas entre União,
estados e municípios.
A professora Gilcélia
Tupinambá leciona em classes de 1ª a 3ª
séries na escola de sua aldeia, localizada
no sul da Bahia. Aos 24 anos, a jovem que ainda cursa
graduação em Pedagogia, analisa que
os municípios precisam investir mais recursos
na construção de colégios perto
das aldeias. “É muito sacrificante o aluno
acordar muito cedo para ir à escola, às
vezes tem que ir a pé ou de carona, 19 km no
meu caso, e sofrem ainda, quando as escolas atendem
alunos não índios, com problemas como
o preconceito.”
Existe ainda uma demanda
crescente pela construção de escolas
de nível médio, o que seria competência
dos estados. “Existem hoje mais de 7 mil estudantes
nessa faixa de ensino e, nos próximos dois
anos, teremos mais 5 mil. É um contingente
maior que os demais níveis de ensino, sem escolas
para atendê-los todos.”
Para o ensino superior,
Baniwa diz acreditar que melhorias sempre são
necessárias, mas afirma que a situação
é relativamente boa. “Isso porque existem ações
afirmativas [como as cotas em universidades federais
e no programa Universidade para Todos], a área
não requer mais recursos urgentes para contratação
de professores e expansão de infra-estrutura,
por exemplo.”
Além da demanda
pela construção de escolas, os professores
levaram outras reivindicações para a
reunião: material didático e merenda
escolar em quantidade maior e mais adequadas à
realidade indígena. O professor Gersem critica
casos no Amazonas em que as escolas recebem alimentos
industrializados.
O ministro da Educação
se comprometeu a analisar as reivindicações
dos professores. “Não falta vontade política.
Se for o caso, o MEC se compromete a tramitar o PL
no Executivo para encaminhamento ao Congresso Nacional”,
disse ele, em relação à possível
necessidade de elaboração de um projeto
de lei específico sobre a educação
indígena. O novo projeto poderá integrar
o Plano de Desenvolvimento da Educação,
segundo o ministro.
Curso inovador do
MEC ajuda professores Guarani-Embiá a fortalecer
a própria cultura
15 de Abril de 2007
- Rômulo Rigaud - Da Voz do Brasil - Brasília
- Professores Guarani-Embiá estão participando
de um curso inovador do Ministério da Educação,
MEC para formação em magistério
de nível médio. A experiência,
inédita no país, vai possibilitar que
os professores dessa etnia, iniciem a formação
por exemplo no Rio de Janeiro, terminem no Rio Grande
do Sul e receba o certificado em Santa Catarina.
O curso começou
em 2003 e tem duração de cinco anos.
Os 75 professores são de cinco estados, Rio
de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná
e Espírito Santo. De acordo com o MEC, o novo
formato do curso é um sucesso. Até agora,
nenhum professor desistiu.
Márcia Blanc,
coordenadora do curso, explica que a iniciativa tem
o objetivo de suprir as necessidades dos Guarani-Embiá
conhecerem sua história e das demais comunidades
indígenas do país. Segundo ela o conhecimento
adquirido é baseado principalmente na cultura
dos próprios índios.
"Além
dos saberes tradicionais que são ministrados
como ciência nessa formação intercultural,
também o conhecimento ocidental é dado.
O português por exemplo é ministrado
só que como uma segunda língua. Temos
por exemplo etnohistória, eles estão
tendo a história mas ela é sempre baseada
na história do próprio povo. O que fazemos
é trazer esses saberes a tona, para que depois
sejam ministradas as aulas nas aldeias."
Teodoro
Tupã, da aldeia Itamarã, no município
de Diamante do Oeste (PR), é um dos professores
que participa do curso. Para ele, o curso é
mais importante para professor, que pode se informar
e voltar para a comunidade e transmitir seus conhecimentos.
"O professor vai retornar para a aldeia, ou seja
para a sala de aula, mais competente para trabalhar
com a criança."
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