17 de
Abril de 2007 - José Carlos Mattedi* - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - Nos últimos
seis anos, aumentou o número de etnias indígenas
no Brasil. Passou de 216 para 225 - um mosaico de
sociedades que falam cerca de 180 línguas.
Cresceu também a população indígena,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE): em 1991, o censo indicava 294 mil índios;
em 2000 esse número pulou para 734 mil, ou
seja, um salto de 150%. Atualmente, a população
indígena cresce quatro vezes mais do que a
branca, de acordo também com o IBGE.
Essas informações
estão no décimo volume da série
Povos Indígenas no Brasil – 2001/2005, lançado
no final do ano passado pelo Instituto Socioambiental
(ISA), entidade não governamental que defende
bens e direitos sociais relativos ao meio ambiente,
ao patrimônio cultural, aos direitos humanos
e aos povos.
Segundo o historiador
e antropólogo José Maurício Arruti,
professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)
e membro do Museu Nacional (RJ), o aumento no número
de povos tem relação com o processo
de retomada e construção de identidade
de grupos sociais que reclamam a condição
de indígenas (também denominados “resistentes”
ou “ressurgidos”).
Isso explica, de acordo
com ele, o surgimento de nove etnias nos últimos
anos, incorporadas a partir de informações
básicas a respeito da autodeterminação,
localização, população
e, principalmente, a manifestação de
vontade do próprio povo.
“O que aconteceu foi
que, no final do século 19, principalmente
no Nordeste, uma série de áreas indígenas
foram tomadas pelo Estado brasileiro, e as populações,
decretadas como nacionais. Entretanto, elas foram
extintas no papel, oficialmente, apesar de não
terem sido eliminadas fisicamente ou dizimadas do
ponto de vista cultural”, explica Arruti.
Com a criação,
no início do século 20, do Serviço
de Proteção ao Índio (SPI), que
depois se transformaria na Fundação
Nacional do Índio (Funai), esses povos “oficialmente”
extintos começaram a lutar para serem reconhecidos
como grupos indígenas, sobretudo a partir dos
anos 20 e 30 no Nordeste. “Isso caracteriza um primeiro
momento do ressurgimento de um grupo étnico”,
sublinha o historiador.
Na antropologia, explica ele, esse “ressurgimento”
é chamado de etnogênese. "Desde
os anos de 1970, mas em especial nos últimos
cinco anos, tais etnogêneses vêm se multiplicando
de forma surpreendente para qualquer observador, leigo
ou especialista", escreveu ele no estudo do ISA.
Nesse período, Arruti localiza demandas de
50 grupos pelo reconhecimento como indígenas,
especialmente no Norte e Nordeste (22 no Ceará
e sete no Pará, por exemplo).
Em 2003, o Brasil
ratificou a Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), sobre "Povos
Indígenas e Tribais em Países Independentes".
O texto é de 1989 e traz referências
aos direitos ambientais, humanos e étnicos.
Assim, determinados acordos internacionais passaram
a valer como leis nacionais, explica ele. Um dos artigos
da convenção, afirma Arruti, determina
que os países abandonem a política de
assimilação para adotar uma política
de reconhecimento pleno das diferenças culturais
e étnicas, e que aceitem a autonomia de organização
desses grupos.
“O Estado passa, então,
a adotar uma postura de respeito pela diferença,
e deixa de ser soberano classificador de quem é
o quê. Com a ratificação da 169
pelo Brasil, são os povos étnicos que
definem sua identidade”, pontua o antropólogo.
Segundo ele, a partir
daí, alguns grupos conseguiram recuperar ou
afirmar essa identificação por meio
da ritualidade ou da religiosidade ligadas a uma ancestralidade
indígena Outros afirmaram essa identidade pela
presença em determinado território,
ou a partir de reações discriminatórias
de outros grupos, o que fortaleceria a identidade
desse povo. Tudo isso, conclui Arruti, tem ajudado
no aumento do número de povos indígenas
no país.
No âmbito administrativo,
Arruti lembra que a mudança fundamental ensejada
pela Convenção 169 foi o abandono dos
chamados "laudos periciais antropológicos"
para verificar se um grupo poderia ser reconhecido
como indígena ou não. "Mas com
a ratificação da convenção,
o Estado brasileiro finalmente abdicou formal e teoricamente
dessa sua prerrogativa com relação ao
poder de classificar sua população",
escreveu ele no documento do ISA. "
Arruti alerta que
os povos "resistentes" não podem
ser considerados "menos índios" do
que os demais, especialmente em relação
a sua demanda por políticas públicas.
Ele lembra que esse fenômeno acontece por toda
a América Latina.
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia
Agência
Brasil |
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Comemorações
e protestos na Semana doÍndio |
Na Semana do Índio,
série de entrevistas mostra o novo perfil dos
povos indígenas brasileiros
17 de Abril de 2007
- Da Agência Brasil - Brasília - Em pleno
início do século 21, o número
de etnias indígenas no Brasil está crescendo,
e a população indígena total
aumenta a um ritmo quatro vezes maior que o da população
branca. Hoje, cerca de 12,5% (1/8 do território
do país) já são considerados
território indígena. O orçamento
para a saúde indígena é, hoje,
cerca de três vezes maior que o da Fundação
Nacional do Índio, órgão que,
anos atrás, tinha primazia em relação
à questão indígena no país.
O Congresso Nacional,
que, duas décadas atrás, concedeu uma
série de direitos aos povos indígenas,
hoje é visto como vilão. E o Judiciário,
e não o Executivo é considerado o principal
entrave para o processo de demarcação
das terras indígenas.
Uma série de
fatos que fogem ao senso comum é apresentada
no mais recente volume da série Povos Indígenas
no Brasil, publicação quadrianual organizada
pela organização não governamental
Instituto Socioambiental (ISA) e considerada referência
na área. A décima edição
do levantamento, que reúne artigos de especialistas,
entrevistas e análises sobre a situação
dos 225 povos indígenas do país, é
também a primeira do século.
Para
mostrar esse novo quadro da população
indígena brasileira, o programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia,
organizou, entre fevereiro e março, uma série
de entrevistas com especialistas que participaram
do Povos Indígenas no Brasil, além de
indígenas que ilustram e discutem as situações
abordadas nos artigos do livro. Nesta Semana do Índio,
a Agência Brasil apresenta uma série
de textos baseados nessas entrevistas e nas informações
contidas na publicação do ISA.
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