Ministro
da Justiça assina portarias que reconhecem
sete terras indígenas
19 de Abril de 2007
- Irene Lôbo - Repórter da Agência
Brasil - Marcello Casal JR/ABr - Brasília -
Lideranças indígenas participam no Ministério
da Justiça de cerimônia para assinatura
das portarias declaratórias das terras: Cachoeirinha
(MS), da etnia Terena; Guarani de Araça'I (SC),
da etnia Guarani; Riozinho do Alto Envira (AC) - da
etnia Ashaninka e Isolados; Toldo Imbu (SC), da etnia
Kaingang; Toldo Pinhal (SC), da etnia Kaingang; Xapecó
(SC), da etnia Kaingang; e Yvyporã Laranjinha
(PR), da etnia Nhandeva Guarani.
Brasília - O ministro da Justiça, Tarso
Genro, assinou hoje (19), Dia do Índio, portarias
reconhecendo sete territórios como indígenas,
para etnias localizadas em quatro estados brasileiros.
Agência
Brasil |
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Novas
terras indígenas são homologadas
em cerimônia em Brasília |
Com a medida, tornam-se
legalmente terras indígenas as seguintes áreas:
Cachoeirinha (MS), da etnia Terena; Guarani de Araça'I
(SC), da etnia Guarani; Riozinho do Alto Envira (AC),
da etnia Ashaninka e Isolados; Toldo Imbu (SC), da
etnia Kaingang; Toldo Pinhal (SC), da etnia Kaingang;
Xapecó (SC), da etnia Kaingang; e Yvyporã
Laranjinha (PR), da etnia Nhandeva Guarani.
Segundo o ministro,
a demarcação e a entrega dos territórios
trará conseqüências materiais e
simbólicas para as comunidades indígenas.
“São questões que estavam travadas dentro
do governo, algumas delas há muito tempo -
se não me equivoco, uma delas com discussão
de 30 anos acumulada - e que agora são questões
resolvidas, o que demonstra o tipo de relação
que nós queremos ter com as comunidades indígenas”.
O coordenador-geral
do Acampamento Terra Livre, Ramao Terena, disse esperar
do governo a sensibilidade para que não haja
retrocesso na demarcação de terras indígenas.
“Se não fosse a pressão do movimento
indígena, acredito que nada disso estaria acontecendo
neste 19 de abril”.
Desde a última
segunda-feira (16), mais de 1,2 mil índios
de 89 etnias diferentes permanecem na capital federal.
O grupo, que passou a semana acampado no gramado da
Esplanada dos Ministérios, deve ir embora hoje.
Para o novo presidente
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), Márcio Meira, a homologação
das terras é uma conquista dos índios,
que por muitos anos foram excluídos dos seus
direitos. “Na verdade, este é um momento em
que o governo dá mais um passo no reconhecimento
desses direitos, nesse sentido, acho que é
uma grande conquista no Dia do Índio”.
Na mesma cerimônia,
o ministro Tarso Genro criou a Comissão Nacional
de Política Indigenista (CNPI). A nova comissão
será composta por 20 integrantes indicados
pelas próprias lideranças indígenas
e mais quatro representantes da sociedade civil. O
ministro disse que o governo continuará trabalhando
para demarcar outros territórios indígenas
no país.
Agência
Brasil |
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Presidente
Lula participa de solenidade com índios |
Estiveram presentes
no evento diversas lideranças e representantes
indígenas do país. Da cerimônia,
as autoridades e os representantes indígenas
seguiram para o Senado Federal, para debater, em audiência,
questões ligadas a direitos indígenas.
Povo Guarani reclama
falta de terra e de condições para preservar
cultura
15 de Abril de 2007
- Stênio Ribeiro - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Representantes dos 225
mil índios guaranis, que habitam o sul do Brasil,
Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, divulgaram
hoje (15) o documento final do 2° Encontro Continental
Sepé Tiaraju e o Povo Guarani, que terminou
ontem em Porto Alegre. Durante quatro dias, eles discutiram
a necessidade de mais terras para trabalhar e preservar
suas manifestações culturais.
Os guaranis reclamam
da violência sofrida ao longo dos cinco séculos
de história da América do Sul e reivindicam
o direito de livre circulação, sem fronteiras
entre os países. "Apesar de toda a violência
praticada ao longo dos últimos 500 anos, nós
resistimos. Hoje somos mais de 225 mil pessoas, um
dos maiores povos da América", afirmam
no documento.
Eles asseguram que
sempre tiveram relação de respeito com
a natureza e dizem que sem o mato, a água,
os rios e todos os seres que nela [mata] habitam,
não podem viver. "A falta de terra é
o principal problema que atinge nosso povo. Não
vivemos sem a terra e a terra não vive sem
o nosso povo, formamos um único corpo. A falta
de terra não permite que vivamos de acordo
com nossa cultura. Nossos jovens são obrigados
a buscar trabalho em outros locais, não sobrando
tempo para aprender com nossos velhos".
Em razão do
respeito pelo meio ambiente, o povo Guarani enfatiza
que a demarcação de suas terras seria
"um bem para toda a humanidade", porque
eles jamais destruiriam a natureza. Os índios
manifestam "profunda tristeza" com a redução
das matas, com a poluição dos rios e
a extinção dos animais e dizem que as
poucas "matas verdadeiras" que restam foram
transformadas em reservas ou parques ambientais que
eles não podem ocupar.
Principal reivindicação
de lideranças indígenas é demarcação
de terras
16 de Abril de 2007
- Sabrina Craide - Repórter da Agência
Brasil - Marcello Casal JR/ABr - Brasília -
Entrevista coletiva de lideranças indígenas
na Esplanada dos Ministérios. Lá, cerca
de 800 índios participam do Acampamento Terra
Livre, instalado hoje no local, parte central do Abril
Indígena.
Brasília - A demarcação de terras
indígenas é o principal pedido dos índios
reunidos no Acampamento Terra Livre. Cerca de 800
lideranças começaram a chegar hoje (16)
em Brasília para apresentar ao governo federal
e debater até quinta-feira (19), Dia do Índio,
as reivindicações dos índios
brasileiros. O acampamento faz parte da 4ª edição
do Abril Indígena, movimento que prevê
uma série de mobilizações por
todo o Brasil.
De acordo com o secretário-executivo
da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab),
Jecinaldo Sateré Mawé, o processo de
demarcação de terras está andando
lentamente. “Não foi feita a demarcação,
em muitas terras ainda não foram sequer iniciados
os grupos de trabalho. Outras 34 estão paradas
no Ministério da Justiça esperando declaração
de demarcação”.
O presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira,
participou de um dos eventos do acampamento e prometeu
acelerar os processos de demarcação
e homologação de terras.
“Existe um processo
administrativo que tem que ser cumprido, mas nós
vamos procurar acelerar o máximo possível
para que as homologações e as portarias
que já estejam avançadas possam ser
rapidamente resolvidas”.
A questão da
saúde indígena também foi abordada
durante o acampamento. Os índios estão
preocupados com o avanço de hepatite e da malária
entre algumas tribos.
Segundo o representante
do Conselho Indígena do Vale do Javari, Jorge
Marubo, se não forem tomadas medidas urgentes,
alguns povos podem até desaparecer.
“Os profissionais
de saúde estimam que, se não forem tomadas
providências sérias e enérgicas,
em menos de 20 anos os povos indígenas do Vale
do Javari serão dizimados”.
O Acampamento Terra
Livre prevê para esta semana audiências
no Supremo Tribunal Federal e no Senado Federal. Na
sexta-feira (20), será instalada a Comissão
Nacional de Política Indigenista, que irá
reunir lideranças de todo o país para
debater as principais demandas dos índios brasileiros.
Também há a expectativa de uma audiência
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que ainda não foi confirmada.
Líder indígena
do sul do Amazonas alerta sobre ação
ilegal de madeireiras e avanço do agronegócio
na região
17 de Abril de 2007
- José Carlos Mattedi* -Repórter da
Agência Brasil - Brasília - O avanço
da fronteira agrícola no norte do Mato Grosso
e em Rondônia, além da atuação
ilegal de madeireiras, já atinge o sul do Amazonas
e vem assustando as comunidades indígenas da
região. A denúncia é feita pelo
líder indígena Walmir Parintintin, cujo
povo vive nas proximidades das BRs 230 e 319 da Transamazônica.
Segundo ele, forasteiros tomam conta da região,
levando o desmatamento e ao surgimento de pastagens,
ao mesmo tempo que trazem doenças com a contaminação
das águas dos rios com agrotóxicos.
Esse avanço
sobre a floresta e as áreas indígenas,
afirma Walmir, vem ocorrendo desde o início
da década, quando surgiram os primeiros problemas
com o plantio da soja. As cabeceiras de rios e igarapés
foram contaminadas, atingindo as aldeias. Agora, prossegue
ele, a principal preocupação é
com a ação de madeireiros, que “agem
ilegalmente”. “As terras indígenas correm o
risco de serem atingidas, porque a madeira que existe
nas fazendas está acabando. O governo não
enxerga o problema.”
Segundo Parintintin,
a doença provocada pelo uso de agrotóxicos
nas plantações de soja chega às
aldeias por meio da água dos rios e pelo consumo
de peixes contaminados, o que está levando
à morte de crianças e idosos. “Tem também
muito índio morrendo com câncer. É
resultado do problema dos agrotóxicos. Estamos
sofrendo com isso”, resume. “Temos consciência
de preservação da natureza. Hoje, são
os povos indígenas que seguram as terras e
mantêm o meio ambiente para o governo. Nossas
produções de artesanato não degradam
o meio ambiente.”
Os Parintintin estão
finalizando um trabalho de diagnóstico cultural
e de preservação de suas raízes,
que deve ficar pronto ainda este ano. “Nós
temos língua, cultura e danças tradicionais
que não esquecemos, apesar do avanço
das máquinas sobre nossas terras. Com esse
estudo, vamos conduzir e preservar a nossa cultura”,
conclui.
O rápido avanço
das fronteiras agrícolas nos últimos
anos, em direção aos territórios
indígenas, especialmente na região onde
habita Walmir, foi tema abordado também pelo
coordenador da campanha 'YIkatu Xingu pelo Instituto
Socioambiental, Márcio Santilli, em artigo
para o décimo volume da publicação
Povos Indígenas no Brasil - 2001-2005.
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia
Índios alertam
que conhecimentos tradicionais podem se perder com
desmatamento e ocupação de terras
20 de Abril de 2007
- Monique Maia - da Agência Brasil - Brasília
- O desmatamento de florestas dentro de reservas indígenas
e a ocupação crescente de fazendeiros
e agricultores nessas áreas têm contribuído
para perda de conhecimentos tradicionais dos índios.
O uso de ervas e chás
em várias etnias, por exemplo, ajuda no tratamento
de doenças e até mesmo no planejamento
familiar da comunidade. Com a dificuldade de acesso
às plantas, eles têm buscado a medicina
fora de suas tradições.
“Hoje em dia, aceitamos
medicamentos da medicina branca porque algumas aldeias
guarani têm pouca mata e faltam recursos para
a produção dos remédios tradicionais”,
diz um dos líderes guarani do estado de Santa
Catarina Leonardo Werá-Tupã.
Ele explica que o
preparo das ervas e dos chás é feito
pelos pajés. Os conhecimentos milenares são
secretos e repassados apenas para alguns membros da
comunidade. De acordo com Werá-Tupã,
existem remédios tradicionais tanto para ajudar
como para evitar filhos.
“Na nossa cultura
isso já é controlado. Existe o remédio
para o desligamento, mas também existe para
estimular a fertilidade tanto do homem quanto da mulher
em até três vezes”.
Para Juarez Iaraté,
da etnia Rikbaktsa do Mato Grosso, o ideal é
que se estimule a natalidade para fortalecer os povos
indígenas. “Na verdade, não gostamos
de dar remédios para as nossas índias,
porque em vez de a população aumentar,
ela vai diminuir. Nós damos quando a pessoa
tem alguma deficiência, não pode ter
crianças e tem problema de saúde”.
Em uma das aldeias
Caiowá do Mato Grosso do Sul, o planejamento
familiar é encarado de outra forma. De acordo
com uma das representantes da etnia Léia Aquino,
existem remédios tradicionais para jovens e
pessoas mais velhas evitarem filhos. Ela ressalta
que chás e ervas também apresentam regras
de uso.
“Se a jovem não
quer ter filho futuramente, logo depois da primeira
menstruação ela deve tomar esse remédio
preparado pelos homens. Mas evitamos dar, a não
ser que essa adolescente tenha problemas de saúde”.
Ela conta que a aldeia
já recebeu acompanhamento de médicos
da Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) sobre planejamento familiar. O programa teve
início em 2000 e atinge mais de 70 aldeias
da região.
Agência
Brasil |
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Índios
em Brasília |
Segundo ela, medicamentos
como o anticoncepcional são receitados nas
aldeias, mas apenas para mulheres com muitos filhos
e com problemas de saúde. Aquino conta que
esses medicamentos só são aceitos por
causa da derrubada das matas e da dificuldade de acesso
às plantas.
“No Mato Grosso do
Sul, por exemplo, existem lugares riquíssimos,
só que não temos acesso porque os fazendeiros
não permitem, somos barrados”.
De acordo com Lucidalva
pataxó, uma das representantes da etnia aldeia
Pataxó Hã-Hã-Hãe na Bahia,
o mesmo ocorre na região, onde fazendeiros
têm desmatado e queimado áreas de florestas
dentro e fora da reserva indígena. “Estamos
com dificuldades e precisando de mudas de árvores
para tirar o nosso remédio e assim poder manter
essa tradição”.
Ela diz que esse é
um dos fatores da aproximação dos índios
da medicina especializada, mas encara essa relação
como positiva. “Vários índios já
receberam atendimento médico nas aldeias e
nos hospitais. Os médicos também têm
sabedoria para poder vir para a aldeia e dar os remédios
que são necessários”.
Famílias indígenas
de Curitiba serão reassentadas na primeira
aldeia urbana do país
19 de Abril de 2007
- Lúcia Nórcio - Repórter da
Agência Brasil - Curitiba - Um projeto pioneiro
desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Curitiba
vai permitir que 35 famílias indígenas
que moram irregularmente numa área do Parque
Iguaçu, sejam reassentadas numa área
de 42 mil metros quadrados, localizada no bairro do
Caximba. “Será criada a Aldeia Indígena
Kakanã Porã e, pela primeira vez, teremos
uma aldeia em área urbana", disse o prefeito
Beto Richa. Kakanã porã é uma
expressão indígena que quer dizer "fruto
bom da terra".
Um convênio
que será firmado hoje (19) entre a Prefeitura,
Companhia de Habitação Popular de Curitiba
(Cohab) e Fundação Nacional do Índio
(Funai) possibilitará a construção
de casas com 37 metros quadrados ao redor de uma praça
e ao lado de um bosque de 9,6 mil metros quadrados.
Segundo o presidente da Cohab, Mounir Chaowiche, para
reproduzir as condições de uma aldeia,
os lotes não serão demarcados, será
criado um espaço para uso comum.
O projeto da Aldeia
envolverá recursos de cerca de R$ 613,5 mil.
Este valor consta de um pedido de financiamento que
a Cohab apresentou ao Ministério das Cidades
e Caixa Econômica Federal, utilizando recursos
do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC).
A Prefeitura Municipal
cederá a área para implantação
do projeto da aldeia e vai gerir os recursos para
financiar a construção das casas e execução
de infra-estrutura. A Funai dará assistência
aos índios e os membros da comunidade indígena
ficarão responsáveis pela conservação
da área e preservação do bosque
de mata nativa. |