Projetos
do PAC podem afetar terras indígenas na Amazônia
Legal, dizem ambientalistas
16 de Abril de 2007
- Sabrina Craide - Repórter da Agência
Brasil – Foto: Marcello Casal JR/ABr - Brasília
- O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Márcio Augusto Freitas
de Meira, participa da plenária indígena
no Acampamento Terra Livre. Lá, cerca de 800
índios de várias partes do país
participam do evento central do Abril Indígena
Brasília - A preocupação de que
alguns projetos do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) venham a afetar territórios
indígenas foi debatida hoje (16) no Acampamento
Terra Livre, que ocorre em Brasília.
Segundo o advogado
do Instituto Socioambiental (ISA) Raul Silva Telles
do Valle, muitas das obras de infra-estrutura previstas
no PAC estão na Amazônia Legal, sendo
que algumas delas podem afetar direta ou indiretamente
terras indígenas.
Agência
Brasil |
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Presidente
da Funai participa de evento em Brasília |
“Nossa preocupação
é que o governo federal já tem uma estratégia
de implementação dessas obras, mas,
até o momento, nenhuma estratégia de
como conversar com as populações indígenas
que serão afetadas por elas antes de se finalizar
o seu planejamento”, argumentou Valle.
Ele lembrou também
que o Brasil é signatário da Convenção
169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que prevê que qualquer medida
que afete territórios ou interesses indígenas
deve ser precedida pelos povos que serão afetados.
O secretário-executivo
da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab),
Jecinaldo Sateré Mawé, garante que os
índios querem dialogar, e não impedir
a realização dos projetos. “Não
podemos ser taxados de ir contra o desenvolvimento
do país. Nós queremos o diálogo
e o respeito ao estudo dos impactos ambientais nas
nossas terras”.
O Acampamento Terra
Livre começou a ser montado nesta segunda-feira,
em Brasília. O evento central da mobilização
Abril Indígena deve contar com a participação
de aproximadamente 800 lideranças indígenas.
Eles devem ficar na capital federal até a próxima
quinta-feira (19), Dia do Índio, para reivindicar
demarcação de terras, acesso à
saúde e educação, dentre outro
pontos.
+ Mais
Obras do PAC aumentarão
conflitos no campo, prevê pesquisador
16 de Abril de 2007
- Kelly Oliveira - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Divulgação
dos mais recentes dados sobre os conflitos e a violência
no campo, contidos na publicação anual
Conflitos no Campo Brasil 2006, com a participação
de membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT):
Antonio Canuto, Dom Xavier Gilles de Maupeou d'Ableiges
e Carlos Walter Porto Gonçalves.
Brasília -
Os conflitos pela água e no campo devem aumentar
nos próximos anos em função dos
projetos de infra-estrutura hídricas previstos
no Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC). A opinião é do pesquisador Carlos
Walter Gonçalves, que apresentou hoje (16)
o estudo “Conflitos no Campo Brasil 2006”, elaborado
pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os dados
mostram que o número de conflitos por água
aumentou de 14, em 2002, para 71, em 2005, caindo
depois para 45, no ano passado. Os envolvidos mudaram
de 14,3 mil, em 2002, para 13,07 mil, em 2006.
“Tudo indica que essas
políticas vão ser implantadas e efetivamente
os conflitos vão entrar”, disse. O estudo cita
a transposição de águas do Rio
São Francisco e a Usina Hidrelétrica
de Belo Monte. Com relação à
hidrelétrica em Rondônia, a CPT questiona:
“Energia para que e a serviço de quem?” No
caso da transposição, na avaliação
da pastoral, a obra não prioriza o abastecimento
humano, e sim irrigação, criação
de camarão e usos industriais.
O coordenador do Projeto
de Integração do Rio São Francisco
às Bacias do Nordeste Setentrional, Rômulo
de Macedo Vieira, garante que a prioridade é
atender o consumo humano. As outras atividades, disse,
só receberão água da transposição
quando houver excedente gerado pelas chuvas. “Se o
excedente for para a irrigação, ótimo,
pois gera emprego, combate a pobreza e diminui a miséria
na região”, disse à Agência Brasil,
em 23 de março.
Para o pesquisador
Carlos Walter Gonçalves, outro fator que pode
estimular os conflitos, tanto por água quanto
por terra, é o avanço da produção
de cana-de-açúcar e de outras culturas
para a geração de biocombustíveis,
em substituição à pecuária.
Ele prevê que a criação de gado
deve avançar nas regiões de cerrado
e na Amazônia. “Vai haver uma redefinição
do quadro espacial brasileiro. E a tendência
é pressionar essas regiões”, disse.
Funai publica regras
para licenciamento ambiental de obras e projetos que
afetem terras indígenas
16 de Abril de 2007
- Marcela Rebelo - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O Diário Oficial
da União divulgou hoje (16) as regras que a
Fundação Nacional do Índio (Funai)
seguirá para participar de processos de licenciamento
ambiental de empreendimentos potencialmente causadores
de impacto em terras indígenas. A partir de
agora, quando houver informação, por
parte de organizações indígenas,
ou ONGs que acompanham populações indígenas,
de que uma obra ou projeto impactará uma área
indígena, a Funai poderá solicitar que
o licenciamento seja feito pelo Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama)
A instrução
normativa refere-se a hidrovias, exploração
pesqueira em bacias hidrográficas, estradas,
linhas de transmissão de energia, mineração
e atividades de turismo e lazer em terras indígenas.
O acompanhamento dos empreendimentos será de
responsabilidade da Coordenação-Geral
de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente
(CGPIMA) da Funai.
As solicitações
para acompanhamento das obras deverão ser encaminhadas
por organizações indígenas, entidades
não-governamentais relacionadas aos índios
ou à proteção do meio ambiente,
órgãos licenciadores, Ministério
Público Federal ou demais interessados.
Se a obra ou atividade
analisada for potencialmente causadora de degradação
do meio ambiente das terras indígenas, a Funai
deverá participar do processo de licenciamento
ambiental desde seu início, a partir do cadastro
do projeto de empreendimento a ser licenciado. De
acordo com uma resolução do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama) de 1997, cabe ao
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) o licenciamento de atividades
com impacto ambiental e sociocultural em terras indígenas.
"Entendendo a
Funai que a obra ou atividade analisada é potencialmente
causadora de degradação do meio ambiente
das terras indígenas, cultura e populações
indígenas, deverá ser requerida a imediata
transferência do procedimento de licencialmento
instaurado nos órgãos licenciadores
ambientais estaduais e municipais ao Ibama",
destaca a instrução normativa da Funai.
"A Funai deve
agir em colaboração e parceria com os
órgãos licenciadores e responsáveis
pelo componente indígena em todas as fases
do processo de licenciamento ambiental", completa
o documento.
A Coordenação-Geral
de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente
deverá elaborar, juntamente com as comunidades
indígenas potencialmente afetadas, um termo
de referência que contenha dados como a participação
efetiva dos índios na discussão do projeto
e a garantia de que as práticas tradicionais
dos povos indígenas serão incluídas
no processo de avaliação dos impactos
ambientais.
A instrução
normativa destaca que o empreendedor é responsável
por todas as despesas relacionadas a vistorias, deslocamento
de servidores e indígenas e audiências
públicas.
A resolução
foi assinada no dia 21 de março, pelo hoje
ex-presidente da Funai Mércio Pereira Gomes,
substituído por Márcio Meira, empossado
no dia 22.
Uma das medidas do
Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), anunciado em janeiro pelo governo federal,
é um projeto de lei que regulamenta o artigo
23 da Constituição. O artigo define
as competências específicas da União,
estados e municípios em vários aspectos,
principalmente no que se refere ao meio ambiente.
Enquanto o artigo 23 da Constituição
de 1988 não era regulamentado, as questões
relativas à competência dos licenciamentos
ambientais foram reguladas pela resolução
do Conama.
Empresas alegam que
nova hidrelétrica não afetará
índios em Tocantins e Maranhão
16 de Abril de 2007
- Wellton Máximo* - Repórter da Agência
Brasil - Marcello Casal JR/ABr - Brasília -
O presidente da Fundação Nacional do
Índio (Funai), Márcio Augusto Freitas
de Meira, participa da plenária indígena
no Acampamento Terra Livre. Lá, cerca de 800
índios de várias partes do país
participam do evento central do Abril Indígena.
Brasília - O consórcio de empresas responsáveis
pela construção da Usina Hidrelétrica
de Estreito, na divisa entre os estados de Tocantins
e Maranhão, alega que o empreendimento não
prejudicará as populações indígenas.
O consórcio é formado pelas empresas
Vale do Rio Doce, Camargo Corrêa, Alcoa e a
franco-belga Suez Energy. Desde as 9h de hoje (16),
uma manifestação bloqueia a rodovia
Belém–Brasília para protestar contra
a obra. A obra vai inundar território do povo
Apinajé e afetar indiretamente os povos Krahô
e Krikati, segundo a missionária Laudosina
Pereira, do Conselho Indigenista Missionário.
Já as empresas
afirmam divulgaram comunicado à imprensa, esta
tarde, afirmando que as terras das três comunidades
indígenas estão longe tanto da barragem
como do reservatório. De acordo com o texto,
as terras dos índios Krahô, em Tocantins,
estão a 146 quilômetros da barragem e
a 44 quilômetros do futuro lago da hidrelétrica.
No caso dos índios Apinajé, que também
vivem no Tocantins, o consórcio afirma que
a área habitada pela comunidade está
a 40 quilômetros tanto da represa como do reservatório.
Em relação
aos Krikati, que habitam o sul do Maranhão,
o comunicado informa que as terras dessa população
estão a 70 quilômetros da barragem e
do reservatório. O comunicado, no entanto,
não informa nada sobre os índios Gavião.
Segundo o Cimi, representantes dessa etnia também
participam da ocupação, mas o consórcio
não confirma a informação.
A nota ressaltou ainda
que uma reunião, que terá a participação
do Ibama, da Fundação Nacional do Índio
(Funai) e da Casa Civil, para discutir o empreendimento
está marcada para o dia 24. Por meio da assessoria
de imprensa, o Ibama informou que ouvirá as
reivindicações da população
local nesse encontro para analisar o impacto da usina.
O órgão, no entanto, não confirmou
se revisará a licença de instalação,
uma das etapas anteriores à concessão
da licença ambiental definitiva.
Agência
Brasil |
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Índios
fazem passeata em Brasília |
Em Brasília,
o presidente da Funai, Márcio Meira, disse,
nesta tarde, que enviou uma equipe à região.
"Nós já mobilizamos a nossa procuradoria
para ir até lá para procurar entender
o conflito e ver o que está acontecendo”, afirmou.
Por volta das 4h,
200 indígenas e 350 trabalhadores rurais e
ribeirinhos tentaram ocupar o canteiro de obras da
hidrelétrica. Cinco horas mais tarde, os manifestantes
foram à BR-010 (Belém–Brasília)
e fecharam uma ponte entre os municípios de
Estreito (TO) e Aguiarnópolis (MA). Eles agora
aguardam a chegada de um representante do Ministério
Público Federal que vem de Imperatriz (MA)
para conversar sobre as reivindicações.
Os manifestantes pedem
a suspensão da licença de instalação
da usina concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) em dezembro. Eles alegam que a inundação
de 400 quilômetros quadrados de superfície
para a formação do reservatório
trará impactos sociais, econômicos e
ambientais sobre 5 mil indígenas e 15 mil ribeirinhos
nos dois estados e no Pará.
Segundo a concessionária
da usina, como as obras estão em fase inicial,
ainda não foram iniciadas as negociações
para a compra de propriedades na área do reservatório.
No entanto, o consórcio alega que o cadastro
das famílias que precisarão ser remanejadas
já foi repassado ao Ibama, aos cartórios,
às prefeituras, aos fóruns e ao Ministério
Público Federal e em cada estado.
O comunicado também
destacou que um documento do Centro de Trabalho Indigenista
(CTI) confirma que o eixo e o reservatório
de hidrelétrica estão distantes das
aldeias, o que, de acordo com o consórcio,
não afetará a vazão dos rios
que abastecem as comunidades indígenas. Os
resultados desse estudo foram apresentados a essas
populações nos últimos dias 10
e 11.
Com capacidade para
1.087 megawatts, a Usina Hidrelétrica de Estreito
é a maior em construção no Brasil
e está prevista para entrar em operação
em 2010. Considerado uma das obras prioritárias
do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), o empreendimento terá a energia distribuída
para todo o país. |