Saúde
recebe quase 80% dos recursos para indígenas,
mas é pouco fiscalizada, constata antropólogo
18 de Abril de 2007
- Juliane Sacerdote* - Da Agência Brasil - Brasília
- Nos últimos anos, de cada R$ 10 destinados
pelo governo federal aos povos indígenas, cerca
de R$ 8 foram aplicados na saúde dessas comunidades.
A constatação é do antropólogo
e pesquisador do Instituto de Estudos Socioeconômicos
(Inesc) Ricardo Verdum, que publicou estudo detalhado
sobre os números do setor na última
edição da publicação Povos
Indígenas no Brasil, do Instituto Socioambiental.
“Houve uma concentração
de recursos na área de saúde, nos últimos
anos. É legítimo. Cerca de 78%, dos
recursos previsto no orçamento de 2006, foram
destinados a dois programas ligados à saúde
indígena", diz ele. "Isso não
quer dizer que a área de saúde esteja
tomando conta dos recursos que são destinados
aos povos indígenas, e sim que as outras ações
como demarcação, fiscalização
dos territórios, área de educação
não estão sendo tão bem atendidos
quanto a área de saúde."
Verdum explica que,
realmente, em análise comparativa nos últimos
seis anos, os recursos destinados a outros fins diminuíram.
A diminuição seria da ordem de R$ 25
milhões. Segundo ele, pelo menos R$ 32 milhões
deixaram de ser aplicados em ações que
de fato atenderiam as necessidades, os direitos e
as demandas indígenas. Essa queda de investimentos
é ”um problema de aplicação e
gestão dos recursos”.
O antropólogo
lembra ainda que, mesmo com a liberação
dos recursos, ainda acontecem problemas, no caminho
até os beneficiados. Falhas na fiscalização
são apontadas por Verdum como uma das causas.
Hoje existem 35 distritos sanitários em todo
o país. A responsabilidade de gestão,
ou seja, a aprovação do orçamento,
e depois a fiscalização em si da implementação
e funcionamento satisfatório das ações.
Esses gestores podem ser as prefeituras, organizações
não-governamentais ou mesmo fundações.
“Essa fiscalização
tem funcionado de forma relativa. Em alguns lugares
tem sido possível uma fiscalização.
Em outras não. As informações
são muito genéricas, muito distantes,
as reuniões em que são discutidos e
apresentados são rápidas”, destaca.
O antropólogo propõe mais investimento
no monitoramento dessas ações, para
criar um controle efetivo.
Essa falha, para Verdum,
pode ser resultante da “pequena organização
das comunidades”, e “um trabalho permanente e coletivo
deve ser desenvolvido” para que mudanças no
sistema ocorram. Ele avalia a atuação
do governo, no atendimento aos povos indígenas,
de maneira incerta, já que ainda não
“existe de fato um compromisso com os índios".
*a partir de entrevista
a Beth Begonha e Spensy Pimentel, no programa Amazônia
Brasileira, da Rádio Nacional da Amazônia.
Suicídios e
alcoolismo entre jovens indígenas preocupam
lideranças
17 de Abril de 2007
- Alessandra Bastos - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O crescimento dos casos
de alcoolismo e suicídio nas comunidades indígenas
preocupa as lideranças indígenas que
organizam, esta semana, em Brasília, uma série
de protestos, por ocasião da Semana do Índio.
Desde ontem, já
está montado na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília, o 4º Acampamento Abril Indígena.
Já estão confirmadas audiência
no Senado Federal (no dia 19, às 13h) e um
encontro, no mesmo dia, às 16h, com a ministra
do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie. Os
índios pretendem também se reunir com
o presidente da república, Luiz Inácio
Lula da Silva. O encontro não está confirmado.
Um dos coordenadores
do evento, o líder Jecinaldo Sateré-Mawé,
do Amazonas, diz que a falta de esperança na
preservação dos costumes e perspectivas
de sustento nas próprias aldeias desestimulam
os jovens índios, que passam a ser obrigados
a ir para as cidades. A impossibilidade de produzir
é vista também como uma das causas do
aumento de suicídios e morte pela contaminação
de doenças nas cidades. “Eles ficam vulneráveis
e acabam sendo levados pelo álcool e pelas
drogas, vão trabalhar nas usinas de álcool
e voltam doentes e viciados”, conta.
Na Amazônia,
a situação é ainda mais crítica
por causa das fronteiras com o Peru e a Colômbia,
segundo Jecinaldo. “Muitos jovens são usados
pela guerrilha, pelas FARC [Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia], e vão
se envolvendo em furtos e criminalidade. É
uma situação gravíssima”, ressalta
o coordenador-geral da Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira (Coiab), Jecinaldo Cabral.
Na avaliação
do líder, uma das possíveis soluções
seriam a abertura de linhas de crédito específicas
para as famílias indígenas recuperarem
a agricultura tradicional. “Elas estão descobertas,
têm dificuldade de produzir”, avalia.
“Cesta básica
não resolve, os índios se tornam mão-de-obra
barata e, muitas vezes, escravos dos patrões
com dívidas que não conseguem pagar”,
conta o cacique da aldeia Cachoeirinha, no município
de Miranda (MS), Ramão Terena.
Em agosto do ano passado,
foi anunciada a estimativa de ter, em 2007, um plano
nacional de prevenção ao suicídio.
As diretrizes estão sendo discutidas por um
grupo de trabalho formado por representantes do governo,
organizações civis e universidades.
Se aprovado, o país será o primeiro
da América Latina a ter uma política
nesse sentido, segundo o Ministério da Saúde.
Vacinação
de idosos contra gripe pretende atingir mais de 86%
dos índios no país
20 de Abril de 2007
- Aline Bravim - Da Agência Brasil - Brasília
- Um dos objetivos da campanha de vacinação
de idosos contra a gripe promovida pelo governo federal,
que começa na próxima segunda-feira
(23), é atingir mais de 86% da população
indígena brasileira. Esta foi a marca alcançada
em 2006. De acordo com o presidente da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), Daniel Forte, a
campanha vai abranger 25 estados do país.
“A Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) começa
na Tríplice Aliança – Brasil, Paraguai
e Argentina – a campanha de vacinação.
Do lado brasileiro, deverá vacinar 120 mil
índios. Vamos colocar 2,2 mil agentes de saúde
indígena em movimento para levar a vacinação”,
disse, em entrevista à Radiobrás.
Forte informou uma
das medidas adotadas pelo governo para garantir mais
eficácia em relação aos problemas
de saúde indígena foi reorganizar órgãos
e instituições responsáveis pelo
repasse de recursos destinados a essa população.
Nesse sentido, a Funasa, junto com o novo ministro
da Saúde, José Gomes Temporão,
vai reavaliar os convênios que cuidam do orçamento
e repasse de verbas à saúde dos índios.
“Nós já
substituímos 26 Organizações
Não-governamentais que não estavam cumprindo
a aplicação dos recursos. Há
também prefeituras que não fazem o repasse
como devem. Por isso, o ministro Temporão pediu
para termos mais transparência, tanto na aplicação
como na cobrança e punição daqueles
que não cumprirem com a obrigação”,
argumenta Forte.
De acordo com ele,
antes, a prestação de contas era feita
pelo Ministério da Saúde, mas agora
é feita pela Funasa e dirigentes do Conselho
de Saúde Indígena.
Forte acrescentou
que a gripe não é a principal causadora
de morte entre os índios, e que doenças
como hepatite e malária deveriam ser combatidas
de forma mais rígida.
Lideranças
indígenas cobrarão de ministérios
solução para crise no Vale do Javari
16 de Abril de 2007
- Sabrina Craide e Juliana Andrade - Repórteres
da Agência Brasil - Brasília - Líderes
indígenas que estão em Brasília
para participar das atividades do Abril Indígena
vão entregar a autoridades um documento com
reivindicações dos grupos indígenas
do Vale do Javari, no Amazonas, sobre a saúde
na região. Segundo o coordenador geral do Conselho
Indígena do Vale do Javari, Clóvis Rufino
Reis, da etnia Marubo, serão realizadas audiências
nos Ministérios da Saúde e da Educação,
além da presidência da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e outros órgãos
envolvidos com a saúde indígena.
Ele conta que um dos
principais problemas é a falta de fiscalização
do território, o que aumenta o número
de invasores, como garimpeiros e madeireiros ilegais,
que levam doenças aos índios como hepatite
e malária. Segundo Reis, há poucos funcionários
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e da Funai para
fazer a fiscalização do território,
que tem 8,5 milhões de hectares e uma população
de mais de 4 mil indígenas. A Terra Indígena
Vale do Javari fica no extremo ocidente do Amazonas.
Reis argumenta que
até o tratamento para a malária está
causando conseqüências para os índios,
como anemia nas crianças e problemas hepáticos,
gastrite e úlcera nos adultos. “Estamos com
medo que essa situação da entrada de
garimpeiros, de madeireiros ilegais que estão
trabalhando nas áreas indígenas leve
esse tipo de doença que possa contaminar essas
populações isoladas”, afirma o coordenador.
Ele diz que 80% da população indígena
está doente e alerta que, se não houver
uma solução, alguns desses povos podem
ser extintos em poucas décadas.
De acordo com o documento
que será entregue às autoridades, 56%
dos pesquisados são portadores do vírus
da Hepatite B, segundo inquérito sorológico
realizado em dezembro de 2006 pela Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) em parceria com
o Hospital de Medicina Tropical do Amazonas entre
309 indígenas do Vale do Javari (quase 10%
da população da área). Além
disso, 85,1% dos pesquisados já tiveram contato
com o vírus de hepatite . Os exames detectaram
ainda quatro casos de hepatite C, doença decorrente
de vírus anteriormente não registrado
na região do Javari.
A falta de infra-estrutura
para a educação é outra preocupação
dos líderes indígenas. Na avaliação
de Reis, faltam escolas, transporte, merenda e capacitação
dos professores. Ele conta que muitas vezes os índios
estudam no chão e pede providências das
autoridades. “Se nem o estado nem o município
querem se responsabilizar por isso, nós queremos
que a educação no Vale do Javari seja
federalizada”, reclama. Ele diz também que
a falta de programas governamentais no Javari está
causando a migração de jovens índios
para os centros urbanos.
Segundo o líder
indígena Davi Yanomami, a Funasa não
tem equipamentos nem profissionais suficientes para
atender à população indígena.
Ele também reclama da falta de remédios,
que são adquiridos em Brasília e demoram
a chegar nas tribos. O líder acredita que o
problema é político e a solução
depende de ações do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. “Ele é o chefe”,
argumenta o Yanomami.
Os índios também
reivindicam que os recursos orçamentários
e financeiros destinados à região sejam
administrados pelo Distrito Sanitário do Vale
do Javari que, segundo eles, não tem autonomia
de gestão.
Funasa nega responsabilidade
por crise na saúde do Vale do Javari e diz
estar atuante
16 de Abril de 2007
- Sabrina Craide - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - A Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) rebateu, hoje 16),
por meio de nota, as críticas que lideranças
indígenas vêm fazendo à atuação
do órgão na região da Terra Indígena
Vale do Javari. A fundação informou
que todos os indígenas infectados com hepatite
B na reserva foram encaminhados na última sexta-feira
para o município de Atalaia do Norte (AM),
para novos exames e, conforme o resultado, terão
tratamento garantido.
A fundação
informou ainda ter realizado no ano passado a primeira
etapa do projeto “SOS Javari”, para atender as comunidades
indígenas da área, que enfrentam problemas
com hepatite e malária. A Funasa afirma que
o alto índice de indígenas do Javari
que tiveram contato com o vírus da hepatite
B está relacionado à proximidade dos
índios com habitantes brancos do município
de Atalaia do Norte.
No ano passado, foram realizados, de acordo com a
Funasa, inquéritos sorológicos para
detectar doenças e promover ações
de cura e prevenção contra hepatite
(A, B, C e Delta), malária, doenças
sexualmente transmissíveis, tuberculose, pneumonia,
colesterol e diabetes. Além do inquérito
sorológico, a equipe médica também
é responsável pela vacinação
dos indivíduos e da prevenção
das doenças, através de ações
de educação e saúde.
A Funasa informa
ainda que está tomando outras providências
para resolver a crise na saúde indígena
na região. "Entre as ações
programadas, destacam-se a aquisição
de geladeiras solares, a ampliação e
manutenção de equipes médicas
na área e as ações de Educação
e Saúde nas aldeias de forma continuada. É
importante ressaltar que todas as atividades realizadas
contam com o apoio de lideranças indígenas",
informa a nota.
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