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O
que são fontes de energia?
Entende-se por energia a
capacidade de realizar trabalho. Fontes de energia, dessa
forma, são determinados elementos que podem produzir
ou multiplicar o trabalho: os músculos, o sol, o
fogo, o vento etc.
Através do uso racional do trabalho, especialmente
na atividade industrial, o homem não apenas sobrevive
na superfície terrestre – encontrando alimentos,
abrigando-se das chuvas ou do frio etc –, mas também
domina e transforma a natureza: destrói florestas,
muda o curso dos rios, desenvolve novas variedades de plantas,
conquista terras ao mar, reduz distâncias (com modernos
meios de transporte e comunicação), modifica
os climas (com a poluição, as chuvas artificiais
etc), domestica certos animais e extermina outros.
As primeiras formas de energia que o homem utilizou forma
o esforço muscular (humano e de animais domesticados),
a energia eólica (do vento) e a energia hidráulica,
obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a
Revolução Industrial, na Segunda metade do
século XVIII e no século XIX, surgem as modernas
máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje
funcionam principalmente a energia elétrica. A eletricidade
pode ser obtida de várias maneiras: através
da queima do carvão e do petróleo (usinas
termelétricas), da força das águas
(usinas hidrelétricas), da fissão do átomo
(usinas nucleares) e de outros processos menos utilizados.
As chamadas modernas fontes de energia, ou seja, as mais
importantes, são: o petróleo, o carvão,
a água e o átomo. As fontes alternativas,
que estão conhecendo um grande desenvolvimento e
devem tornar-se mais importantes no futuro, são o
sol (energia solar), a biomassa e os biodigestores, o calor
proveniente do centro da Terra energia geotérmica),
as marés, o xisto betuminoso e outras.
É importante ressaltar que as fontes de energia estão
ligadas ao tipo de economia: quanto mais industrializada
ela for, maior será o uso de energia. O carvão
mineral foi a grande fonte de energia da Primeira Revolução
Industrial, e o petróleo foi a principal fonte de
energia do século XX e continua a desempenhar esse
papel, apesar de um recente e progressivo declínio.
Tanto o petróleo como o carvão mineral são
recursos não renováveis, isto é, que
um dia se esgotarão completamente; eles também
são muito poluidores, na medida em que seu uso implica
muita poluição do ar. Por esses dois motivos
eles estão em declínio atualmente, em especial
o petróleo, que foi básico para a era das
indústrias automobilísticas e petroquímicas.
Vivemos na realidade numa época de transição,
de passagem do domínio do petróleo para a
supremacia de outras fontes de menos poluidoras e renováveis,
ou seja, que não apresentam o problema de esgotamento.
Este pensamento está pelo menos na cabeça
dos ambientalistas de todo o planeta, mas a realidade ainda
é um mundo dominado pelos combustíveis fósseis.
A série “Que energia é essa?” irá trazer
as principais fontes de energia usadas em nosso planeta;
como surgiram, onde são usadas, qual a dependência
humana dessas fontes e muito mais. Neste capítulo
conheceremos a fonte de energia chamada “Álcool combustível”.
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O
álcool |
O álcool
pode ser produzido a partir de inúmeras plantas:
cana-de-açúcar, beterraba, cevada, batata,
mandioca, girassol, eucalipto etc. Além de
ser usado em bebidas e como desinfetante, ele serve
também como fonte de energia, podendo ser empregado
como combustível em veículos automotores
e também para produzir eletricidade. O primeiro
uso (substituindo a gasolina) já vem ocorrendo
desde os anos 70; o segundo, no entanto, ainda não
foi experimentado em grande escala.
Atualmente, dois países em especial preocupam-se
em desenvolver o álcool como fonte de energia,
podendo ser empregado como combustível em veículos
automotores e também para produzir eletricidade.
O primeiro uso (substituindo a gasolina) já
vem ocorrendo desde os anos 70; o segundo, no entanto,
ainda não foi experimentado em grande escala.
Podemos destacar dois países em especial que
preocupam-se em desenvolver o álcool como fonte
de energia: o Brasil, com a cana-de-açúcar
(etanol), e a Rússia, com o eucalipto (metanol*).
O uso do álcool como carburante em automóveis
fez tanto sucesso – pois além de eliminar parte
da necessidade de petróleo, ele polui menos
a atmosfera, podendo ainda ser misturado com a gasolina.
No futuro, o álcool deverá adquirir
uma importância maior como combustível
de veículos (e talvez também em usinas
que gerem eletricidade a partir da queima desse produto),
mas não deverá ser, em nível
mundial, uma das fontes de energia muito importante.
Isso porque é necessário muito espaço
para plantar cana-de-açúcar e eucaliptos,
já que, para produzir uma quantidade de álcool
que seja representativa como fonte de energia, é
preciso dispor de um número enorme de plantas.
Um país como a Alemanha, por exemplo, precisaria
ocupar todo o seu território com canaviais
para poder suprir com álcool apenas metade
de suas necessidades de energia (combustíveis
e eletricidade).
Além disso, a cana-de-açúcar
tem a desvantagem de exigir solos férteis para
se desenvolver adequadamente. Assim, tendo em vista
a necessidade sempre crescente de alimentos e de matérias-primas
provenientes da agricultura, pode-se perceber que
não será possível um crescimento
futuro muito grande do álcool como fonte de
energia.
Ele deverá provavelmente ser uma das fontes
de energia dos países que possuem enormes extensões
territoriais, como a Rússia, o Canadá,
o Brasil e outros.
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*O
metanol é um combustível que pode ser obtido
de fontes renováveis, sendo menos poluente que os
combustíveis fósseis e passível de
ser utilizado pela frota automotiva existente, desde que
se realizem pequenas adaptações. No Brasil
o metanol seria a alternativa de escolha para o etanol,
que já é utilizado por grande parte dos nossos
veículos automotores. A utilização
em larga escala do metanol requer melhor avaliação
dos seus riscos para a saúde humana e, neste aspecto,
faltam informações sobre a toxicidade reprodutiva
e imunotoxicidade deste álcool. O objetivo deste
projeto é investigar estes dois aspectos da toxicidade
deste composto.
PRINCIPAIS VANTAGENS...
A avaliação de risco permitirá que
a utilização do metanol como combustível
se faça com maior segurança.
PRINCIPAIS APLICAÇÕES...
Utilização do metanol em substituição
aos combustíveis fósseis que são mais
poluentes.
(Fonte: Fiocruz - Instituto Nacional de Controle de Qualidade
em Saúde / Departamento de Farmacologia e Toxicologia)
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Álcool:
alternativa discutível
O Programa Nacional do
Álcool (Proálcool) foi estabelecido em 1975
e, em 1979, como o segundo choque do petróleo, sua
implantação foi acelerada. Dentre os objetivos
estabelecidos pelo programa destacavam-se:
-
expandir
a cultura da cana-de-açúcar, particularmente
no Sudeste, devido às condições
naturais e conjunturais da região;
-
estimular
as grandes usinas, através de subsídios,
inicialmente a produzirem álcool e, posteriormente,
a formarem destilarias, de modo que a produção
se elevasse a qualquer custo;
-
estimular o consumo de álcool, utilizando-o misturado
à gasolina e como combustível de veículos
especialmente fabricados para tal fim.
Todas as metas estabelecidas
forma cumpridas e até extrapoladas. Entretanto, a
partir de 1986, com o declínio dos preços
internacionais do petróleo, o plano foi sentido sistematicamente
questionado, devido especialmente:
-
ao
alto custo do programa (fala-se em investimentos diretos
e indiretos da ordem de 7 bilhões de dólares);
-
à
expansão do plantio da cana-de-açúcar
em detrimento, por vezes, dos espaços agrícolas
ocupados por culturas alimentares;
-
ao fato de o álcool não substituir o petróleo,
mas apenas a gasolina, o que torna a produção
do álcool dependente do petróleo, uma
vez que o trator que trabalha a terra para o plantio
da cana-de-açúcar e o caminhão
que distribui o álcool funcionam a diesel;
-
ao fato de gerar excedentes de gasolina de difícil
comercialização, uma vez que o mercado
internacional oferecia preços mais baixos, incompatíveis
com os custos da Petrobras.
Foram apresentada
várias sugestões para reavaliar e redirecionar
o Proálcool. Uma delas foi a do engenheiro
João Augusto Conrado do Amaral Gurgel (presidente
da fábrica nacional de automóveis Gurgel
S.A.):
-
interrupção
da produção do álcool hidratado
(com 5% de água), já que não
é miscível à gasolina, podendo
apenas ser usado como combustível à
custa de uma grande elevação do
preço dos demais combustíveis;
-
manutenção da produção
do álcool anidro, excelente aditivo da
gasolina, podendo ser rentável ao usineiro,
por concorrer vantajosamente com o aditivo chumbo
tetraetila, que é caro, poluente e não
produzido no país.
-
Redução para 25% das áreas
plantadas de cana-de-açúcar. Se
localizadas mais próximas às usinas,
reduziriam o custo dos transportes e fariam do
álcool anidro (aditivo) um produto altamente
competitivo.
Dentre os argumentos
favoráveis ao Proálcool destacam-se
os do professor Rogério Cerqueira Leite, físico
e professor emérito da Universidade Estadual
de Campinas. Segundo ele, a argumentação
de que o custo de produção do álcool
é mais elevado que o da gasolina é um
absurdo e tal afirmativa esconde, na realidade, o
interesse da Petrobras em vender a gasolina no mercado
interno (onde a margem de lucro é maior que
no exterior).
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Veja
a seguir trechos de artigo publicado no Jornal Folha de
São Paulo, pelo professor da Unicamp.
(...) Qualquer modificação de uma matriz energético
e de um parque industrial tem que ter um horizonte maior
que dez anos. É, pois, uma irresponsabilidade alterar
o programa nacional do álcool com o argumento de
curto prazo. E deve antes de tudo ser analisada a verdadeira
razão para esta mudança de política
energética, pois, em realidade, só há
uma. Sem recursos para investimentos o governo federal se
mostra inclinado a adotar uma política que permita
à própria Petrobras se capitalizar. A gasolina
é vendida no mercado internacional pela Petrobras
a US$ 18 o barril, enquanto no mercado interno ela está
quase 50 cêntimos o litro. Passando a ser vendido
no mercado interno, o atual excedente de gasolina fornecerá
um lucro por litro que será de aproximadamente 30
cêntimos de dólar. O que significa um lucro
adicional para a Petrobras de um bilhão e trezentos
milhões de dólares por ano. É claro
que nessa contabilidade não estão incluídos
os custos de divisas, que é subsidiado pelo Banco
do Brasil, referentes a supressão das exportações
da gasolina. Como também está implícito
neste projeto o ônus adicional à população
que paga um pouco mais pelo trabalho executado pela gasolina
que venha substituir o álcool e pelos custos da ampliação
da dependência energética. Mas a grande dificuldade
com a proposta de contenção do Proálcool
é a ausência de qualquer prognóstico
ou reflexão sobre a matriz energética nacional
após dez anos. Em resumo, o programa tem sido alvo
de amplo debate nacional e já no início dos
anos 90 começa a sofrer uma reavaliação
dos seus objetivos.
Sobre o Proálcool,
leia o texto a seguir:
A ressaca do
Proálcool
(...) Do ponto de vista econômico nuca foi
um bom negócio. Em 1983, quando o barril do petróleo
custava US$ 40, o de álcool custava US$ 65. Para
economizar US$ 40 o país, que não tinha dólares,
gastava 50% na moeda nacional. Em 1988 o custo caiu para
US$ 38 e o barril de petróleo para US$ 15. Os consumidores
continuam pagando a diferença. Além do problema
dos custos, o Proálcool produziu um paradoxo. Ao
mesmo tempo que permite a economia de 180 mil barris/dia
de gasolina, o Proálcool obriga a Petrobras a exportar
120 mil barris/dia também de gasolina. Isso ocorre
porque a gasolina é produzida de qualquer modo na
refinação do petróleo e o álcool
não substitui outros combustíveis, como o
diesel. Esses barris são exportados a preço
de custo (US$ 22 o barril), o que não é um
bom negócio para a Petrobras e muito menos para os
consumidores. Com os imposto e o financiamento do Proálcool.
A discussão nascida com a falta de álcool
promete ir longe. O programa não deve acabar tão
cedo, sob pena de jogar fora os investimentos – poucos rentáveis
– já realizados. Não deve crescer, porque
exige subsídios e não há de onde tirar
mais dinheiro. A administração dessa enorme
massa de trabalho e investimentos promete ser complicada.
A crise do Proálcool veio para ficar. Há muita
conta para pagar, pouco dinheiro e muitos que querem receber
o seu.
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Aeronaves
a álcool duelam nos céus do interior de SP |
Uma
pequena empresa liderada por um engenheiro tecnicamente
competente, mas com vários fracassos comerciais
no currículo, comprou briga com o quarto maior
fabricante mundial de aviões. Ambas disputam
quem obterá primeiro a aprovação
para um tecnologia que pode baratear o uso de aeronaves
leves no país.
A corrida é para conseguir a aprovação
técnica oficial (homologação)
para utilização de álcool hidratado
como combustível em motores aeronáuticos.
O primeiro mercado potencial seria a conversão
dos cerca de mil aviões agrícolas em
operação no Brasil. Em seguida, poderia
vir a fabricação de novos aviões
já com motores a álcool – a princípio
para a agricultura, mas também, depois, para
transporte regional.
A disputa acontece nos céus do interior paulista.
No dia 10 de outubro de 2002, a Indústria Aeronáutica
Neiva, subsidiária da Embraer, apresentou publicamente
em Botucatu (230 km a noroeste de São Paulo)
a versão experimental do avião agrícola
EMB-202 Ipanema com motor a álcool.
“Confirmada a aceitação do mercado e
a validade do conceito, esperamos obter a certificação
para aeronave e motor em 18 meses”, disse o diretor
da Neiva, Paulo Urbanavicius, em uma nota.
A Neiva tem 21 mil m² de área construída,
fabrica aviões e peças e emprega mais
de mil pessoas. O engenheiro James Waterhouse, sócio-diretor
da Aeroálcool, de Franca (400 km ao norte São
Paulo) afirma já ter completado 70% do processo
de homologação e estima que ele deva
estar finalizado em mais “6 a 8 meses”.
A Aeroálcool tem hoje oito empregados, dos
quais alguns poucos são os engenheiros responsáveis
tecnicamente pelo motor convertido, como ele e seu
colega Omar J.J. Pugliesi.
A homologação
deve ser feita junto ao CTA (Centro Tecnológico
Aeroespacial), órgão do Comando da
Aeronáutica localizado também no interior
paulista, em São José dos Campos.
O próprio CTA perseguiu durante vários
anos a tecnologia do motor aeronáutico a
álcool. Progressos foram feitos, mas a pesquisa
foi interrompida. Tentativas foram feitas de retomar
o estudo em ambiente universitário, por exemplo
na USP. Mas também faltaram as condições
para seu prosseguimento, e a derrocada do programa
do álcool para veículos automotores
condenou de vez as pesquisas.
CORROSÃO...
Waterhouse estudou na USP de São Carlos,
onde teve contato com vários cientistas pioneiro
do projeto do álcool combustível,
como Romeu Corsini, Dawilson Lucato e Antônio
Moreira.
Ele aprendeu bem as lições. “O álcool
corrói tudo.” Portanto, as principais soluções
tecnológicas residiram no revestimento de
partes do motor com ligas de níquel, cerâmicas,
aço inoxidável ou teflon, nos lugares
adequados.Foi preciso reprojetar o sistema de injeção
de combustível, para adequá-lo às
variações de temperatura e densidade
do ar envolvendo o novo combustível.
Mas houve também grandes vantagens. Um pouquinho
de água condensada dentro de um tanque de
gasolina pode fazer o motor falhar em um momento
grave. Como água e álcool se misturam,
o problema sumiu. E, como o álcool queima
mais devagar, o desgaste dos pistões é
menor.
Waterhouse teve dois fracassos: tentou fabricar
ultraleves e esteve envolvido com uma linha aérea
em Mato Grosso. Nada deu certo. “Eu sou uma catástrofe
do ponto de vista comercial”, diz ele.
Seu novo projeto tem bem mais potencial comercial,
como atesta o interesse da Embraer/Neiva. Na aviação
agrícola, o combustível é o
item que mais onera a operações. O
litro da gasolina de aviação, a avigás,
custa de R$ 3,20 a R$ 3,90, e está aumentando
por conta do dólar mais caro. Já o
álcool custa de R$ 0,50 a R$ 0,70 por litro,
com a vantagem de ser produzido em qualquer parte
do país. Na safra de 2001/2002, em São
Paulo, a Aeroálcool usou um Piper Pawnee
PA-25-260, convertido para álcool, que voou
cerca de 250 horas sem nenhuma falha.
Comparando com um avião semelhante usando
avigás, os custos médios por hectare
pulverizado foram e R$ 979 para a gasolina e R$
5,52 para o álcool. Vantagens similares forma
registradas com o avião da rival Neiva: os
custos médios por hectare pulverizado forma
de R$ 11,61 para a gasolina e R$ 6,77 para o álcool.
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Álcool
combustível: tecnologia brasileira |
Álcool
combustível ou álcool carburante. O
álcool pode ser obtido por via sintética,
a partir do eteno, acetileno, carbureto, hulha, gases
do petróleo etc., ou por via biológica,
através da fermentação de matérias
de matérias-primas açucaradas, amiláceas
ou celulósicas. No Brasil, o álcool
combustível é produzido a partir da
cana-de-açúcar, através da fermentação
da garapa (extraída por meio de difusores ou
moendas), pela ação de leveduras, constituindo
o mosto. Os açúcares são desdobrados
em álcool etílico (etanol) e gás
carbônico pela ação desses microorganismos;
o líquido resultante (vinho) é destilado
em colunas destiladoras, obtendo-se vinhoto e flegma.
O vinhoto é neutralizado em leite de cal e
pode ser utilizado como fertilizante: a flegma se
desdobra, por retificação, em água,
óleo fúsel e álcool combustível.
A produção brasileira de álcool
carburante para motores a explosão (ou de combustão
interna) começou a ser intensificada a partir
da década de 70, em função da
crise mundial do petróleo, particularmente
através do Programa Nacional do Álcool
(Proálcool), que beneficiou sobremaneira o
setor sucro-alcooleiro.
Na década de 80 prosseguiram as pesquisas referentes
a novas fontes de obtenção do álcool,
como a mandioca e o babaçu (a partir de uma
tonelada de mandioca pode-se obter 180 litros de álcool,
enquanto a mesma quantidade de cana-de-açúcar
rende 651 litros), e intensificaram-se os estudos
em biotecnologia, cujo escopo é o melhoramento
genético da cana-de-açúcar (variedades
hidridas) e das leveduras utilizadas nos processos
de fermentação; tais processos de fermentação
descontínua (por “tabelada”), tendem a ser
substituídos pelos de fermentação
contínua, de maior rendimento, através
de engenharia bioquímica. O Brasil contava,
em meados da década de 80, com mais de 500
destilarias de álcool, com capacidade nominal
de produção de aproximadamente 14 bilhões
de litros por ano. |
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MOTORES
A ÁLCOOL...
O Brasil é um dos países em que se mais desenvolveu
a tecnologia de motores de combustão interna de ciclo
Otto, movidos a álcool etílico hidratado ou
a álcool metílico. Em meados da década
de 80, havia mais de 3,5 milhões de veículos
com motores movidos a álcool etílico. Para
tanto foram necessária modificações
no veículo: em função de seu calor
latente de vaporização mais elevado, a tubulação
de admissão foi reprojetada a fim de permitir fornecimento
de mais calor; os calibres de vazão de combustível
foram aumentados a fim de alterar a relação
ar/combustível, foi instalado um sistema auxiliar,
com injeção de gasolina, para facilitara a
partida em dias frios; o carburados sofreu tratamento superficial
anticorrosivo à base de níquel; o revestimento
de estanho e chumbo do tanque de combustível passou
a ser de estanho puro; o revestimento de zinco da bomba
de combustível passou a ser de cádmio cromatizado;
o tubo de aspiração do combustível,
de aço zincado, foi substituído por tubo de
latão cadmiado; o sistema de filtragem foi redimensionado
para atender a uma vazão mais elevada de combustível.
A fim de aproveitar a maior resistência do álcool
à detonação, a taxa de compressão
do motor foi elevada para 10:1 ou 12:1, com conseqüente
elevação do rendimento térmico do motor,
o que exigiu novo projeto dos pistões e juntas de
vedação. As sedes de válvulas, quando
de ferro fundido, foram substituídas por ligas sinterizadas
ferro-cobalto, fazendo desta forma, frente à falta
de lubrificação provocada pela retirada do
chumbo tetraetila; as hastes das válvulas passaram
a ser cromadas, e as cabeças aluminizadas. No sistema
de ignição foi aumentada a tensão nas
velas (através da introdução do sistema
transistorizado sem platinado), foi introduzida nova curva
de avanço na inflação e passaram a
ser utilizadas velas de reduzido valor térmico. A
curva da potência do motor foi reprojetada para maior
conjugado a baixas rotações, o que exigiu,
em conseqüência, alterações da
transmissão e redução do eixo motor.
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Relato:
seminário sobre desabastecimento de álcool
e o risco do metanol
Em reunião realizada
na COPPE/UFRJ em 14/12/89, promovida pela Sociedade Brasileira
de Planejamento Energético, com a participação
de técnicos, pesquisadores e professores da FEEMA,
CETESB, Fac. Medicina da USP, Área Interdisciplinar
de Energia da COPPE/UFRJ, Escola Politécnica da USP,
Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, COPERSUCAR,
SOPRAL, CESP, Sindicato dos Químicos e Engenheiros
Químicos/RJ, CENPES, Petrobras/SERPLAN e DECOM, IAA,
Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool,
CNI, Associação de Engenheiros da Petrobras,
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, foram discutidos:
1 - 0 problema do desabastecimento do álcool e longo
prazos;
2 - Alternativas para solução emergencial;
3 - Os riscos do metanol à saúde.
Visa-se com isto evitar a desmobilização do
Programa do Álcool pela falta de decisão e
pela incapacidade de implementar uma política correta
para os combustíveis fluidos, equilibrando a oferta
e a demanda tanto do álcool como da gasolina, respeitando
as restrições quanto à poluição
ambiental e os riscos para a saúde. Além disto
a ausência de medidas pode levar à falta total
de álcool em abril de 1990, seguida de corrida dos
consumidores do álcool para a gasolina pela conversão
maciça de motores, o que pode levar à falta
de gasolina e sobra de álcool, levando ao desemprego
na produção do mesmo.
1 - O problema do desabastecimento do álcool
Foram levantadas algumas causas que contribuíram
em graus diferentes para a presente crise de abastecimento
do álcool, que levará a um déficit
de cerca de 1660 milhões de litros de álcool
entre dezembro de 1989 e maio de 1990, levando em conta
uma produção de 12000 milhões de litros
na safra de 1989/90:
a) crescimento desarticulado da frota de carros a álcool
produzidos pelas montadoras sem levar em conta a possibilidade
de garantir o suprimento de álcool necessário,
enquanto sobra gasolina;
b) redução do estoque de segurança
pelo Governo, do equivalente a dois meses de consumo para
um mês, em 1988, constatando-se em fevereiro de 1989
que este equivalia a apenas nove dias de consumo;
c) decréscimo da produção de cana nas
últimas safras devido à prática de
preços comprimidos para a cana colhida;
d) aumento do consumo em torno de 15%, devido ao Plano Verão
no início de 1989;
e) exportação de açúcar oriundo
da cana que poderia ter sido destinada ao álcool
no Nordeste, correspondendo a cerca de 400 milhões
de litros deste combustível;
f) atraso do Governo em tomar as medidas preconizadas desde
o início da presente safra para evitar esta crise,
envolvendo entre outras providências o aumento do
preço dos combustíveis e as mudanças
das misturas de álcool e gasolina nos veículos.
As medidas de longo prazo constam do protocolo de combustíveis
líquidos para 1995, e incluem:
a) produção de 50% de carros novos a álcool
e 50% a gasolina, de modo a ter-se em 1995 uma frota de
6 milhões de carros a álcool com a gasolina
ocupando espaço crescente nos motores de veículos;
b) atingir em 1995 a produção de 16 bilhões
de litros de álcool;
c) que o aumento da demanda de álcool seja atendido
por melhoria de produtividade e eficiência na produção
do álcool.
As medidas oficialmente cogitadas em menor prazo foram:
a) reduzir de 22% para 12% o álcool anidro na gasolina,
com a exceção da zona metropolitana de São
Paulo por enquanto;
b) colocar 5% de gasolina no álcool hidratado, ainda
não completamente implementado;
c) importação de etanol de vinho e de milho
e de etileno para produzir álcool, limitada pela
oferta no mercado;
d) uso de aditivos oxigenados MTBE e ETBE, limitados pela
disponibilidade de sua produção.
2 - Solução
emergencial para a crise de abastecimento de álcool
até maio de 1990
a) A alternativa oficial de importação do
metanol e medidas constantes do quadro abaixo.
Hipóteses Consideradas
A – inclui 12% de álcool na gasolina
B – excluído estoque de segurança
C – atendimento da indústria em geral |
Quadro
1 – Alternativa de Importação do Metanol (Milhões
de Litros)
- |
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Déficit inicial |
-240 |
-1130 |
(-1380)* |
Mistura de Gasolina no álcool
hidratado |
- |
+60 |
- |
Antecipação da safra
para abril |
- |
+50 |
- |
Álcool para química
(redução) |
+60 |
- |
- |
Importação de etanol
(vinho, milho e etileno) |
+50 |
+140 |
- |
Déficit Maio/90 |
- |
-400 |
- |
Balanço |
-130 |
-1280 |
(-1530)* |
Uso da mistura 60%Álcool
hidr. 33%metanol 7%gasolina |
+300 |
+590 |
+146
(abril)(maio) |
Transferência do Nordeste
para o Centro-Sul |
-230 |
+230 |
- |
Déficit Final |
-60 |
-314 |
(-564) |
Obs.: O déficit
aparentemente de 564 milhões de litros no Centro-Sul
e 60 milhões no Norte e Nordeste será administrado
com um adicional de importações de etanol,
maior antecipação da safra, aumento real de
preços de combustíveis líquidos e virtual
redução de álcool anidro na mistura
(*) Considerando consumo já realizado pela indústria
química
b) Algumas novas alternativas,
levantadas na reunião e propostas para estudo pelo
Governo, poderiam ou evitar totalmente a importação
do metanol para mistura em proporção de 33%
ao álcool ou reduzir esta proporção
a apenas 5%. Estas novas alternativas estão listadas
no Quadro 2 abaixo, com os respectivos problemas para sua
implementação, os quais devem ser avaliados
para determinar a viabilidade da adoção de
cada medida.
No conjunto das mesmas deve-se ressaltar a suspensão
da exportação de açúcar, inclusive
a já autorizada mas cuja cana não tiver sido
ainda processada, bem como o desestímulo ao consumo
de álcool e de gasolina pelo aumento dos preços
reais dos mesmos e pelo fechamento dos postos nos sábados
e domingos, como já ocorreu no passado. 0 efeito
deste desestímulo pode ser significativo. Parte do
déficit atual se deve ao estímulo ao consumo
em 1989 pela queda do valor real dos preços dos combustíveis
associada ao Plano Verão. As medidas alternativas
implicam diminuição do impacto ambiental pois
reduzem o uso dos automóveis e a emissão dos
gases de combustão na atmosfera.
Em contrapartida, outras alternativas, como a retirada do
álcool anidro da gasolina e a inclusão de
maior percentual desta no álcool hidratado, aumentam
a poluição atmosférica considerando-se
inalterado o número médio de quilômetros
rodados por veículo/mês. Entretanto, este número
médio seria substancialmente reduzido pelas medidas
de desestímulo do consumo até maio. Isto poderia
compensar o aumento da poluição pelo uso maior
da gasolina, de alta octanagem e sem aditivo de chumbo,
em relação ao álcool. É preciso
fazer um balanço dos efeitos das diversas alternativas
antes de qualquer decisão de adotá-las, considerando-as
isoladamente.
Quadro 2 – Alternativas
ao Metanol (Milhões de Litros)
|
Quant.
de Álcool liberada
(milhões de Litros)
|
|
A) Suspensão
de exportação de açúcar |
400 |
Resolver o
problema de Transporte e Consulta ao IAA sobre a situação
das cotas de exportação |
B) Desestímulo
ao consumo – aumento dos preços reais de álcool
e gasolina em janeiro (30%) – fechamento dos postos
nos finais de semana |
600 |
Efetividade
da medida |
C) Zerar o
uso de álcool anidro e utilização
de gasolina de alta octanagem sem aditivo de chumbo |
470 |
Poluição
atmosférica
Consultar CETESB
Capacidade de produção de gasolina de
alta octanagem pela Petrobras |
D) Aumento
de proporção de gasolina no álcool
(10%) |
60 |
Discutir com
ANFAVEA e CETESB |
E) Mistura
de 5% de metanol |
150 |
Aceitabilidade
pelos Movimentos sociais |
F) Conversão
da frota cativa de álcool para gasolina |
50 |
Viabilidade |
G) Conversão
de Táxis a álcool para gás natural |
30 |
Viabilidade |
EXCEDENTE
POTENCIAL DE ÁLCOOL |
1760 |
|
DÉFICIT
ÁLCOOL |
1280 |
(1660)* |
(QUADRO 1)
BALANÇO |
+480 |
+(100)* |
(*) Considerando o consumo
já realizado pela indústria química
em geral.
Tal balanço deve
também ser feito entre o efeito da conversão
de carros a álcool para gasolina e o de conversão
de táxis para o gás natural.
A prioridade é para os riscos à saúde
e danos ao ambiente. Os efeitos de diminuição
da performance dos veículos e maior desgaste dos
motores podem ser tolerados tendo em vista que trata-se
de uma situação de emergência a vigorar
por poucos meses, até maio de 90.
Uma alternativa que não consta do Quadro 2 porque
consta já do Quadro 1 é a importação
de álcool etílico. Caso haja possibilidade
de ampliá-la, se houver disponibilidade no mercado
internacional, isto seria o ideal, pois não traria
nenhuma desvantagem do ponto de vista ambiental.
3 - Os riscos do metanol
para a saúde
a) A discussão que ocorreu na reunião sobre
os riscos do metanol à saúde evidenciam que
o metanol, antes da queima, apresenta vários problemas
para quem o manusear. Entretanto, os gases de sua queima
podem apresentar menor problema do que os gases de combustão
da gasolina.
b) Em favor do uso do metanol foram apresentados alguns
estudos realizados na USP e pela CETESB em São Paulo,
seja argumentando com dados levanta-los, como a tabela de
toxicidade publicada pela Chemical Rubber Co. no Handbooh
of Analytical Toxicity, 1977 (Tabela 1), seja com resultados
de estudos da Faculdade de Medicina da USP com ratos.
TABELA 1 – Toxicidade
de Alguns Combustíveis
Produto |
Contato
c/olhos |
Inalação |
Penetração
na pele |
Irrigação
na pele |
Inalação |
Metanol |
2 |
2 |
2 |
1 |
1 |
Benzeno |
2 |
4 |
2 |
2 |
2 |
Gasolina* |
(2) |
(3) |
(3) |
(1) |
(2) |
Etanol |
2 |
1 |
1 |
1 |
1 |
*O parêntesis significa
uma média das gasolinas no mundo. Esta gasolina contém
chumbo tetraetila, provavelmente.
Fonte: Chemical Rubber Co. Handbook of Analytical Toxicity,
1977.
TABELA 2 – Limite
de Tolerância para Trabalhadores numa Exposição
de 40 horas/semana
Etanol |
1900
mg/m3 |
Gasolina |
900 mg/m3 |
Metanol |
260 mg/m3 |
Fonte: Threshold Limit Values
and Biological Exposure Indices for 1988-1989
Ameríran Conference of Governmental Industrial Agencies
c) Entretanto, foi contra-argumentado
que na Tabela 1 a gasolina pode estar aditivada com chumbo
tetraetila e que os ratos têm reação
diversa à do ser humano. A Tabela 2 dá uma
ordenação diversa da Tabela 1 para a tolerância
à exposição, indicando ser o metanol
pior do que a gasolina. Ademais, estudo de maio de 1987
do Health Effects Institute norte-americano chega à
conclusão de recomendar prudência e mais estudos
sobre os efeitos do metanol como combustível.
d) Por outro lado, relatório da Environment Protection
Agency dos EUA, citando o mesmo estudo acima, não
vê empecilho maior para o metanol em baixo percentual
na gasolina.
e) 0 relatório da CETESB "Pesquisa de Combustíveis
com Metano" diz o seguinte:
i) É viável a utilização de
metanol em substituição a parte do etanol
utilizado nos combustíveis automotivos, sem provocar
danos ambientais significativos. Entretanto, tal prática
é recomendável apenas emergencial e temporariamente,
pelo menor período possível e evitando-se
sua aplicação nos grandes centros urbanos,
até que sejam obtidos resultados mais conclusivos
a respeito e as medidas de segurança totalmente equacionadas
e implantadas. Recomenda-se ainda que o metanol não
seja utilizado nos meses de inverno, quando o fenômeno
da inversão térmica intensifica a concentração
de poluentes nas cidades, até que o controle de emissões
esteja completamente equacionado.
i) Sendo absolutamente necessário o uso do metanol,
recomenda-se a adoção das seguintes prioridades
para sua utilização:
1°-Misturar Etanol/Metanol com no máximo 20%
do metanol.
2°-Misturar Etanol/Metanol/Gasolina na proporção
60/34/6% a 60/33/7%.
3° - Para substituir a mistura de 22% de álcool
anidro à gasolina, nas regiões quentes e só
após esgotar as alternativas (1) e (2), fazer a mistura
82% Gasolina/ 8% Etanol/ 10% Metanol. Isto deveria cessar
antes do próximo inverno nas regiões metropolitanas
de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto
Alegre, quando deverá voltar a 22% de álcool
anidro na gasolina.
f) Relatório da Comissão de Energia da Califórnia
traz resultados animadores sobre a frota de milhares de
veículos operando com metanol e continua colhendo
informações confiando que este combustível
em breve poderá substituir em boa parte o diesel
e a gasolina com vantagens no nível de poluição
ambiental, em quase todas as emissões. Um outro estudo
recente publicado pelo Scientific American de novembro de
89 aponta para uma redução no risco de formaldeído
atribuído ao metanol.
g) 0 Sindicato dos Químicos do Estado do Rio de Janeiro
colocou-se contra a utilização do metanol
como combustível até que seja provada a sua
inocuidade para a saúde humana, exigindo que seja
realizado devido Relatório (RIMA) pois até
hoje não existe na literatura qualquer artigo sobre
os efeitos da toxicidade crônica do metanol.
h) 0 Deputado Carlos Mine, da Assembléia Legislativa
do Rio de Janeiro, apresentou vários estudos críticos,
apontando os riscos do uso do metanol, entre os quais o
Manual de Metanol, do Instituto Brasileiro de Petróleo,
de 1978, o relatório do Dr. Antônio Horácio
Miranda. Prof. do Instituto de Química da USP, o
memorando da FEEMA, acrescido das declarações
do seu Presidente, contrários à importação
do metanol. Exigiu também, com base na liminar que
obteve na justiça, o cumprimento da Constituição,
a elaboração do RIMA, sua discussão
e aprovação pelos órgãos competentes. |
Fonte:
Sociedade Brasileira de Planejamento Energético www.sbpe.org.br
Revista Brasileira de Energia, Vol. 1, n° 2 |
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Usinas
de álcool viram fonte de energia elétrica
(artigo) |
Usineiros e concessionárias
de energia elétrica assinaram no Palácio
dos Bandeirantes, um contrato histórico: o
primeiro passo para o uso racional da energia gerada
nas usinas de açúcar e álcool.
Até agora, essa energia era apenas o excedente
das caldeiras de vapor, vendido pelos usineiros de
maneira precária, inconstante e a baixos preços
para as concessionárias. A partir desse contrato,
a chamada co-geração passa a ser uma
alternativa capaz de afastar – por alguns anos – o
fantasma do racionamento no Estado.
São Paulo, na verdade está numa encruzilhada.
Precisa rever com urgência sua matriz energética,
sob risco de ficar sem força para crescer.
Isso significa escolher a melhor combinação
de fontes de energia – sejam elas usinas hidrelétricas,
nucleares, térmicas a petróleo, gás
natural ou biomassa -, sempre considerando a viabilidade
econômica, a autonomia na produção
e os danos ambientais.
Hoje o Estado já depende e 12 mil megawatts
de potência instalada para fazer funcionar sua
indústria, comércio, serviços
e iluminar as residências e ruas. Isso representa
pouco mais de um quarto da demanda total brasileira
e é um número que cresce ao sabor dos
salários e da economia: se o País voltara
a crescer, a demanda energética acompanha o
ritmo das máquinas industriais. Se melhorar
o poder aquisitivo dos salários, a demanda
energética pode explodir, como aconteceu durante
o Plano Cruzado. Mesmo se a economia continuar no
ritmo atual, a demanda energética aumenta,
embora mais lentamente, seja pelo crescimento vegetativo
da população, seja pelo atendimento
de novos consumidores, antes desassistidos pelas concessionárias.
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|
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Para atender
a essa demanda crescente até agora, o Estado
recorreu as hidrelétricas, a opção
mais tradicional e, em geral, de menor impacto ambiental.
Dos mil megawatts necessários ao estado, 8.700
saem das usinas hidrelétricas instalados em
rios paulistas e o resto vem de outros estados, fornecido
basicamente por Furnas e pela usina de Itaipu.
“Nos últimos anos, sempre que a demanda encostava
ma oferta, entrava em operação uma nova
máquina de Itaipu, afastando o risco de racionamento”,
explica o presidente da Companhia Energética
de São Paulo, CESP, Antonio Carlos Bonini.
Agora Itaipu já funciona a plena carga.
A CESP tem mais 3 hidrelétricas estaduais para
incluir no sistema até 1994: Taquaruçu,
Rosana e Três Irmãos. Juntas, elas podem
fornecer mais 1.400 MW. Existe ainda a usina de Porto
Primavera, prevista para 1998 com muitos pontos de
interrogação, devido ao alto impacto
ambiental. Porto Primavera somaria mais 1.800 MW.
Mas aí termina o potencial dos rios paulistas.
Por isso, a partir dos 15 mil MW todo crescimento
de demanda será atendido por fontes alternativas,
pela “importação” de energia ou pela
possibilidade de racionamento.
A primeira grande alternativa energética acessível
aos paulistas é a co-geração,
isto é, a produção de energia
a partir de caldeiras usadas em alguns processos industriais.
A co-geração é possível
nas usinas de açúcar e álcool,
nas indústrias de cítricos, alimentícias,
de papel e celulose e de químicos e petroquímicos.
De grandes consumidores de energia, essa indústrias
passam a auto-suficientes e ainda geram um excedente.
A auto-suficiência já alivia a pressão
sobre as concessionárias, que pode redistribuir
aquela energia para outros consumidores. Só
as usinas de cana – que alcançaram 95% de auto-suficiência
– hoje deixam de comprar do sistema cerca de 250 MW.
Mas o mais interessante para o estado, nesse momento,
é a energia excedente.
Segundo José Zatz, chefe da Coordenadoria Técnica
da Secretaria de Energia, “além do que produzem
para consumo próprio, as usinas de cana podem
colocar no sistema mais 600 MW até o final
do século e por volta de 2.000 MW até
o ano 2010”.
A usina nuclear de Angra, se funcionasse sem interrupções,
forneceria 600 MW, o suficiente para iluminar a Baixada
Santista. A vantagem da co-geração sobre
a usina nuclear, ou mesmo sobre as hidrelétricas,
além da redução do risco ambiental,
é que não são necessários
7 a 8 anos de construção, nem investimentos
do estado. “Cada milhão de dólares que
um deles investe são 3 a 5 milhões de
dólares que o estado deixa de investir”, contabiliza
Zatz. |
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ALTERNATIVA
É A MENOS POLUENTE... |
A grande questão
– que afastava a iniciativa privada do setor energético
– e o preço do megawatt. As dez usinas que
arriscaram ensaiar a co-geração na última
década recebiam muito pouco por megawatt, algo
entre 12 e 21 dólares. “O megawatt de Itaipu
custa 40 a 42 dólares e cada megawatt novo
colocado no sistema nos custa 41 dólares”,
diz Ciro Barbosa Bernardes, do Setor de Distribuição
da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Com um preço tão baixo, os usineiros
não investiram em tecnologia, limitando-se
produzir a própria energia. No novo contrato
de longo prazo, a energia das usinas será cotada
pelo custo do megawatt novo, ou seja, cerca de 41
dólares. Com o preço garantido, os usineiros
se comprometem a estabilizar o fornecimento para as
concessionárias e investir em equipamentos,
multiplicando a geração de energia,
com a mesma quantidade de cana, sem aumentar, portanto,
o risco ambiental.
“Hoje produzimos 25 quilowatts/hora por tonelada de
cana, mas podemos chegar a 100kw/ton, se investirmos
em novos equipamentos”, explica Jairo Balbo, da Usina
São Francisco, em Sertãozinho, interior
de São Paulo. “Só preciso ter uma garantia
de que o programa de co-geração veio
para ficar e preciso de um preço que me dê
perspectiva de retorno para investimentos em tecnologia”.
Com o contrato de longo prazo, Balbo poderá
até pensar em substituir as velhas caldeiras
por turbinas a gás, que quadruplicaram a produção
de energia, com a mesma tonelada de cana.
Ao lado da co-geração, as outras opções
energéticas para afastar a idéia racionamento
seriam as termelétricas a gás natural
ou petróleo. O gás natural viria da
Bolívia ou Argentina e seria queimado com muito
menos poluição atmosférica do
que a produzida com a queima de carvão ou petróleo.
O gerenciamento do gasoduto e a construção
das usinas termelétricas ficaria nas mãos
da iniciativa privada. Mas a alternativa sofre oposição
da Petrobras, que não quer perder o mercado
cativo de derivados de petróleo.
Tanto o carvão como o petróleo e seus
derivados contém óxidos de enxofre e
de nitrogênio, os principais responsáveis
pela chuva ácida. Em todos os países
movidos a energia de termelétricas os órgãos
de controle ambiental têm impedido a instalação
de novas unidades ou exigido equipamentos de filtragem
dos poluentes.
|
|
|
No Brasil, só existem termelétricas
na região Sul e todas provocam chuva ácida.
Em São Paulo, há dois projetos para
a construção dessas usinas: em Mogi
Guaçu e em São José dos Campos.
Juntas, elas produziram 700 MW e por isso enfrentam
a oposição de ambientalistas e pesquisadores.
|
|
Por
Liana John
USINAS DE AÇÚCAR
E ÁLCOOL VENDEM ENERGIA ELÉTRICA...
O relógio de luz, em vez de registrar despesa, marca
receita em dez usinas de açúcar e álcool
do interior. No fim de cada mês, a Companhia Energética
do Estado de São Paulo (Cesp) e a Companhia Paulista
de Força e Luz (CPFL) reembolsam as usinas por conta
da energia gerada pela queima do bagaço de cana,
o principal resíduo industrial da atividade.
A Cesp e CPFL pagam as usinas tarifas que variam de R$ 0,011
a R$ 0,035 por quilowatt/hora - conforme a duração
do contrato – e repassam a energia que sobra das indústrias
aos consumidores residenciais da rede pública por
R$ 0,07 o quilowatt/hora. Com apenas 25% do bagaço
de 1 hectare de cana é possível iluminar 14
casas por mês, durante o período de safra,
que vai de maio a novembro. Nesses meses ocorre justamente
a estiagem, quando os reservatórios das hidrelétricas
estão mais baixos, o que obriga ao racionamento de
energia em algumas regiões.
AUTO-SUFICIÊNCIA...
Todas as 127 usinas e destilarias do Estado já são
auto-suficientes em geração de energia advinda
da queima do bagaço de cana. Não dependem,
portanto, das hidrelétricas. Dez delas geram excedente,
que soma 15,9 megawatts, suficientes para abastecer 50 mil
residências. A CPFL, que firmou contrato de compra
de eletricidade com nove usina, espera ampliar essa capacidade
para 20 megawatts em 1997, estendendo o benefícios
para 66,3 mil casas do Interior, ou o equivalente a uma
comunidade de 265 mil habitantes, durante os seis meses
de duração da safra de cana-de-açúcar.
Atualmente, as usinas que firmaram contrato com a CPFL são:
Santa Elisa e São Francisco, do município
de Sertãozinho; São Martinho, em Pradópolis;
Vale do Rosário, de Morro Agudo; Santa Lydia, de
Ribeirão Preto; Bonfim, de Guariba; Colombo, de Catanduva;
Santa Cruz, de Américo Brasiliense, e Nardini, de
Vista Alegre do Alto. A Cresciuma, de Leme, é fornecedora
da Cesp. De acordo com a CPFL, em 1997, a Santa Adélia,
de Jaboticabal, e a Galo Bravo de Ribeirão Preto,
passarão a integrar o sistema.
TURBINA...
O bagaço da cana é queimado numa caldeira,
que gera energia térmica em forma de vapor d’água.
Numa turbina, a energia térmica é transformada
em mecânica e, no gerador, em energia elétrica.
É a tecnologia da “contra-pressão”. Já
existem sistemas mais sofisticados, de alta pressão,
condensação e gaseificação,
de custo mais elevado, mas que permitem utilização
maior bagaço para gerar eletricidade.
Segundo o diretor-industrial da Usina São Francisco,
Jairo Menesis Balbo, de Sertãozinho (SP), o emprego
dessas novas tecnologias só será possível
quando a remuneração das usinas pelas concessionárias
for de US$ 70,00 por megawatt/hora. “Esse é o valor
mínimo exigido pelo Banco Mundial para financiar
a co-geração a partir do bagaço e ampliar
seus benefícios”, esclarece Balbo. Por enquanto,
as usinas que firmaram contrato de um ano com a CPFL recebem
US$ 11,87 por megawatt/hora e a Vale do Rosário e
santa Elisa, com contratos de dez anos, recebem US$ 35,33
por megawatt/hora.
Das dez usinas que geram excedente de energia no Estado,
oito estão na região de Ribeirão Preto,
incluindo aí a São Francisco, de Sertãozinho.
Juntas, elas alimentam a rede da CPFL com 14,1 megawatts
com potência de 10.293 megawatts/hora, suficientes
para garantir abastecimento em seis meses de safra.
QUEIMA DE RESÍDUO
POLUI POUCO...
Estudos da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL)
indicam que o uso da biomassa como alternativa energética
reduz a emissão de resíduos no meio ambiente.
O nível de poluição atmosférica
por causa da queima do bagaço é muito pequeno,
se comparado a outros combustíveis, como óleo
diesel e carvão. O bagaço produz pouca cinza
(2,5%), enquanto o carvão produz de 30% a 50%. O
enxofre quase não existe no bagaço, enquanto
o SO2 e o SO3 do óleo combustível estão
sempre presentes e em quantidades elevadas.
Por causa da umidade, a queima do bagaço é
lenta, com baixa temperatura da chama. Quanto maior essa
temperatura, maior formação do óxido
nitroso, que está entre os poluentes mais perigosos.
As pesquisas concluem que, com o uso de caldeiras bem dimensionadas,
chaminé de altura adequada e um sistema de extração
de cinzas eficientes. “o problema da poluição
praticamente inexistem”. E acrescenta que essa forma de
co-geração “aumenta a oferta de energia elétrica,
sem necessidade de construção de hidrelétricas,
evita a inundação de grandes áreas
e diminui os impactos sociais e no meio ambiente”.
Não são apenas usinas de açúcar
que usam o bagaço. No ano passado, o Estado de São
Paulo economizou cerca de US$ 35 milhões porque não
precisou importar o óleo combustível, derivado
poluente de petróleo. Ele foi substituído
por 2 milhões de toneladas de bagaço de cana
nas caldeiras nas indústrias de sucos cítricos,
de óleos vegetais, de produtos cerâmicos e
retíficas de pneus, principalmente
SÃO FRANCISCO
FOI A PIONEIRA...
A primeira fatura de energia emitida pela iniciativa privada
no Brasil fora da Usina São Francisco, de Sertãozinho,
na região de Ribeirão Preto (SP), em maio
de 1988. Ela começou a testar a produção
de eletricidade a partir do bagaço de cana em 1987.
Serviu de modelo para as Centrais Elétricas do Brasil
S.A. (Eletrobrás) oficializar o uso da biomassa como
alternativa energética e regulamentar o fornecimento.
Moendo cerca de 1 milhão de toneladas de cana, a
São Francisco produz um excedente de energia avaliado
em 219 mil quilowatts/hora, capaz de suprir mil residências
por mês durante a safra.
O diretor-industrial da São Francisco, Jairo Menesis
Balbo, defende o investimento em co-geração
pensando nos cálculos do próprio governo,
que prevê colapso no abastecimento de energia nos
próximos anos. Recentemente, o ministro das Minas
e Energia, Raimundo de Brito, admitiu a possibilidade de
racionamento. Balbo adverte que, sem energia, o País
não vai conseguir manter o ritmo de crescimento nem
oferecer vagas para 2,5 milhões de jovens que chegam
ao mercado todo ano. “O governo previa um aumento anula
de 4% a 5% no consumo de eletricidade”, diz. “Mas a elevação
é de 9,5% ao ano.” E não há recursos
suficientes para atender à demanda, como conclui
Balbo.
Por Moacyr Castro
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Fonte:Sociedade e Espaço – Geografia Geral*
Folha de São Paulo**
Conhecer Atual (ed. Nova Cultural)
Revista Isso é Senhor*
Larousse Cultural (ed. Nova Cultural)***
Fiocruz (www.fiocruz.org.br)
Fonte: Sociedade Brasileira de Planejamento Energético
www.sbpe.org.br****
Revista Brasileira de Energia, Vol. 1, n° 2****
O Estado de São Paulo*****
Pick-upau – 2003 – São
Paulo – Brasil
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