Em
1992, a primeira edição do Green Press mobilizou,
em Belo Horizonte, cerca de mil jornalistas, ambientalistas
e técnicos para discutir o papel da imprensa frente
ao desafio da preservação do meio ambiente.
Mais de 30 países enviaram ao Brasil seus representantes
para o Encontro, que teve duração de cinco
dias e foi reconhecido como evento paralelo da Rio 92. Importante
fruto do Green Press foi a Carta de Belo Horizonte, elaborada
por uma comissão do Sindicato de Jornalistas de Minas
Gerais e da Fenaj. O documento foi aprovado em Assembléia
Geral e levado à Rio 92, contendo uma lista de recomendações
e princípios éticos relativos ao trabalho
da imprensa na cobertura ambiental.
Muitos desafios foram lançados durante os encontros
ambientais de 92, mas poucos foram os avanços. No
entanto, é possível perceber mudanças
significativas no trabalho da imprensa para a conscientização
ecológica mundial. De acordo com o jornalista Américo
Antunes, que participou do Green Press, e em 2002, integra
o Imprensa Verde 2, “a partir daquele ano, houve uma grande
disseminação da cobertura ambiental. A preocupação
com o meio ambiente passou a estar muito mais presente no
cotidiano da sociedade “.
Tendo como objetivo geral
o alerta da sociedade e dos jornalistas quanto a necessidade
de se abrir espaço para a questão ambiental
nos meios de comunicação, o Green Press, juntamente
com a conferência do Rio, significou um marco na história
do jornalismo. “Até então, pouco se noticiava
o meio ambiente. Hoje, já se percebe uma maior preocupação
com o tema. O surgimento de veículos de comunicação
especializados tornou-se uma realidade, mas as iniciativas
ainda são isoladas”, analisa Antunes.
A Carta de Belo Horizonte
permanece, em muitos pontos, atual, e a necessidade de se
criar uma rede mundial de jornalismo ambiental, descrita
no documento, ainda existe. Também importante é
a organização de uma vigília internacional
para o cumprimento dos compromissos assumidos pelos governos
durante fóruns e encontros internacionais de meio
ambiente, como a Rio 92 e Rio+10 (realizada este ano, 2002,
em Joanesburgo – África do Sul).
Nós, participantes
do Encontro Internacional de Imprensa, Meio Ambiente e Desenvolvimento
– o GREEN PRESS, profissionais e estudantes de comunicação,
especialistas de diversas áreas do conhecimento e
representantes de diversos setores da sociedade ligados
às questões do meio ambiente e do desenvolvimento,
reunidos em Belo Horizonte, de 20 a 24 de maio de 1992,
consideramos:
- Que a Comunicação
Social é o principal instrumento para compreender
uma emergente comunidade global, interligada e interdependente;
- Que a existência
de uma comunicação democrática está
comprometida pela desigualdade na distribuição
de recursos e acesso aos meios de comunicação;
pela concentração desses recursos e meios
em mãos de grupos econômicos; pela censura
e outras formas de controle governamental;
- Que o acesso e a participação
da sociedade civil organizada no processo de informação
são as principais formas de garantir a autodeterminação
e a soberania dos povos.
Declaramos a nossa adesão
aos seguintes princípios éticos e fazemos
as seguintes recomendações:
I. O direito
à informação sobre questões
ambientais e de desenvolvimento é fundamental para
todos os povos, porque delas depende o futuro da humanidade.
II. Todas
as pessoas têm o direito a serem oportuna e corretamente
informadas sobre questões ambientais, e os profissionais
de comunicação devem ter o compromisso de
expressarem suas opiniões através dos meios
de comunicação social, sem restrições
de qualquer ordem.
III. Os
meios de comunicação social devem servir à
sociedade e esta tem o direito de influenciar e participar
das decisões sobre políticas para o setor,
assim como o de exigir da imprensa a responsabilidade por
suas ações.
IV. A censura
e qualquer outra forma de controle sobre a Comunicação
Social constituem violação do direito à
informação.
V. A pluralidade
dos meios de comunicação social e o livre
acesso às fontes são essenciais para o exercício
do direito à informação.
VI. São
empecilhos ao direito à informação
a concentração de propriedades dos meios de
comunicação e a influência econômica
governamental ou privada sobre as linhas editoriais.
VII. É
dever dos meios de comunicação e dos jornalistas
informar sobre opções de desenvolvimento,
que promovam o acesso de todos os bem estar, sem causar
danos ao meio ambiente.
VIII. A
imprensa deve proporcionar informações que
permitam ao público obter um retrato claro, preciso,
objetivo e não fragmentado da realidade.
IX. São
deveres da imprensa informar sobre as práticas lesivas
ao meio ambiente, alertar quanto aos seus efeitos sobre
os ecossistemas e contribuir para a educação
da sociedade.
X. O trabalho
jornalístico deve estar comprometido com a promoção
da qualidade de vida planetária, em todas as fases
de produção e veiculação da
notícia.
XI. A imprensa
tem o dever de expressar a pluralidade de pontos de vista
sobre os assuntos de meio ambiente e desenvolvimento.
XII. Ao jornalista devem ser garantidos
a liberdade e os meios de desenvolver pesquisas e reunir
informações.
XIII. É
inerente à atividade do jornalista atuar de acordo
com sua consciência, devendo ser garantido o direito
de recusar trabalhos que se contraponham e ela, bem como
a garantia do sigilo de suas fontes.
XIV. É
parte integrante dos deveres dos jornalistas e dos meios
de comunicação o respeito pelo direito dos
indivíduos à privacidade e à dignidade
humana.
I. Empreender
esforços para a inclusão de propostas na Agenda
21 da Conferência Rio 92, visando uma atuação
democrática e eficiente dos meios de comunicação
nos assuntos relativos ao meio ambiente e ao desenvolvimento.
II. Conclamar
as Nações Unidas, suas organizações
regionais e outras à convocação de
conferências e reuniões periódicas para
debates internacionais e locais sobre o papel da comunicação
nas questões ambientais e do desenvolvimento.
III. Promover
discussões entre os profissionais de comunicação
de todo o mundo sobre a necessidade de se estabelecer um
Código de Ética da Comunicação
Social, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento, além
de propor outras medidas que aperfeiçoem a atuação
dos profissionais e dos meios de comunicação
nesta questão.
IV. Viabilizar
e buscar recursos para a constituição de uma
rede mundial de jornalismo ambiental, independente de interesses
privados ou governamentais. Viabilizar, ainda, a criação
de uma agência de informações ecológicas,
que permita o intercâmbio e o acesso irrestrito dos
profissionais e estudantes de Comunicação
Social a todas informações sobre assuntos
de meio ambiente e desenvolvimento.
V. Estabelecer
formas de cooperação entre os povos que lhe
assegure o uso das tecnologias de comunicação
para a proteção do meio ambiente e a promoção
do desenvolvimento. Neste sentido, trabalhar para permitir
o acesso das nações aos satélites de
comunicação, aos modernos sistemas eletrônicos
de informação, à informática
e a outros recursos, tendo em vista a criação
de sistemas que atendam aos interesses da sociedade.
VI. Incentivar
a produção e a divulgação de
notícias dos países em desenvolvimento, promovendo
sua autonomia em relação às mensagens
culturais, científicas e informativas dos países
desenvolvidos.
VII. Criar
mecanismos para que as responsabilidades e deveres da Comunicação
Social sejam cumpridos, promovendo formas de participação
da sociedade nos veículos – através da inclusão
de seus representantes nos conselhos de imprensa e os conselhos
de redação -, e na instituição
do ombudsman.
VIII. Desenvolver mecanismos para proporcionar aos estudantes
e profissionais da comunicação treinamento
e formação continuada em assuntos ambientais
e de desenvolvimento.
IX. Propiciar
a organização de uma Vigília Internacional
para acompanhar o cumprimento dos compromissos assumidos
pelos governos em níveis nacionais, tratados em convenções
internacionais sobre sociedades sustentadas, visando principalmente
os interesses de gerações futuras. |