Quem
foi Chico Mendes*
Francisco Alves Mendes Filho
nasceu em Xapuri (AC) no dia 15 de dezembro de 1944, filho
de Francisco Alves Mendes e de Iraci Lopes Mendes. Trabalhou
como seringueiro desde a infância e só começou
a se alfabetizar aos 18 anos quando conheceu Euclides Fernando
Távora, antigo militante do Partido Comunista Brasileiro
(PCB). Preso após o levante comunista de 1935, Távora
conseguira escapar da prisão e refugiar-se no Acre,
onde passou a viver na floresta.
Chico Mendes atuou até 1975 junto a seringueiros
alfabetizando-os e conscientizando-os dos meios empregados
pelos seringalistas para explorá-los. Sua atuação
desagravada muita gente e por isso chegou a ter que se esconder
para não ser preso. Em 1975 ingressou no movimento
sindical como secretário-geral do recém-fundado
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC).
Com a morte do presidente do sindicato, Wilson Pinheiro,
assassinado com um tiro na sede da entidade, Chico Mendes
tornou-se o principal articulador da categoria.
Em 1976 começou a divulgar uma técnica que
criara para impedir o crescente desmatamento da floresta
amazônica no Acre, promovida pelos fazendeiros. Conhecida
por "empate", ela consistia na organização
de um cordão humano encabeçado por mulheres
e crianças que se colocavam à frente dos peões,
impedindo assim que eles avançassem para o corte
da mata. O "empate", que funcionava pelo menos
até a chegada da polícia, começou a
ser utilizado com freqüência cada vez maior pelos
seringueiros acreanos. O objetivo de Chico Mendes, contudo,
ia além disso. Sua intenção era criar
um fato político que levasse à desapropriação
da área e à criação de reservas
extrativistas. Nelas os recursos da floresta seriam utilizados
de forma racional, sem destruí-la, protegendo-a da
ameaça dos projetos agropecuários, dos grandes
madeireiros e da inundações provocadas pela
construção de hidrelétricas.
Ocupadas por grupos cuja fonte de sobrevivência consistiria
na exploração econômica de produtos
ainda pouco conhecidos, essas reservas teriam como objetivo
a conservação do meio ambiente, a manutenção
das populações locais que exercessem atividades
econômicas tradicionais não degradadoras e
o desenvolvimento de pesquisas científicas para o
aumento da produtividade e a melhoria de vida das populações
amazônicas.
Chico Mendes considerava as reservas extrativistas, cujo
modelo introduzia um novo conceito de conservação
da natureza, como a única solução contra
o desaparecimento da Amazônia. A proposta das reservas
extrativistas incluía a venda e a industrialização
da castanha e de outros vegetais como a copaíba,
a bacaba, o açaí, árvores medicinais,
o babaçu, o cacau, o guaraná e também
o mel de abelha.
Chico Mendes participou em 1977 da fundação
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. Em novembro
do ano seguinte, elegeu-se vereador à Câmara
Municipal de Xapuri pela legenda do Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime
militar instalado no país em abril de 1964. Em 1979,
transformou a Câmara num fórum de debates entre
lideranças religiosas, sindicais e populares e passou
a receber as primeiras ameaças de morte. Acusado
de subversão, foi detido e submetido a interrogatório
e tortura por policiais do estado. Suas iniciativas também
não eram bem vistas por seu próprio partido.
Assim, com a extinção do bipartidarismo em
novembro de 1979 e a posterior reorganização
partidária, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores
(PT), agremiação criada em 1980 e da qual
foi um dos organizadores no Acre.
Ainda em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança
Nacional por denunciar a impunidade que acobertava os responsáveis
pelo assassinato de Wilson Pinheiro. Processado, acabou
absolvido por unanimidade. Em 1981, assumiu a direção
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. Candidato
a deputado estadual em novembro de 1982, não conseguiu
se eleger. Passou a se dedicar então à aproximação
entre seringueiros e índios, abrindo caminho para
a formação de aliança entre os povos
da floresta.
Como um dos organizadores do 1º Encontro Nacional dos
Seringueiros, em outubro de 1985, Chico Mendes ampliou sua
projeção nos meios sindical e popular, fortalecida
ainda mais com a criação do Conselho Nacional
dos Seringueiros. Essa entidade serviu de ponto de partida
para o lançamento da proposta de organização
da União dos Povos da Floresta, movimento que reivindicava
ao mesmo tempo a reforma agrária e o respeito às
terras indígenas.
Em 1987, recebeu representantes da Organização
das Nações Unidas (ONU) em visita a Xapuri
para ver os estragos causados por projetos financiados por
organismos financeiros internacionais que destruíam
as florestas e expulsavam centenas de seringueiros e índios
de suas casas. Meses depois esteve nos Estados Unidos reafirmando
as denúncias ao Senado americano e à diretoria
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ainda
pouco conhecido no Brasil, mas muito respeitado no estrangeiro,
ainda em 1987 Chico Mendes recebeu o Prêmio Global
Quinhentos da ONU, concedido à personalidade de maior
destaque na luta pela preservação do meio
ambiente.
Em 1988, diante do acirramento das ameaças de morte
que sofria, teve sua segurança reforçada pelo
governador do Acre, Flaviano Melo. Chico Mendes acusava
Darli Alves e Alvarinho Alves, irmãos e donos da
fazenda Paraná, em Xapuri, de fazer ameaças
públicas à sua vida. Eram ambos foragidos
da Justiça, com prisão decretada no Paraná
desde 1973. Havia indícios de que eram amigos do
delegado da Polícia Federal Mauro Spósito
e de que já teriam ordenado o assassinato de mais
de 30 trabalhadores. Além das ameaças, Chico
Mendes enfrentou a acusação de ter atuado
como informante da Polícia Federal em 1975, parte
da campanha que visava desmoralizá-lo na região.
Em contrapartida, ainda em 1988, Chico informou Ter conseguido
reduzir de forma extremamente significativa o desmatamento
em Xapuri, já que fazendeiros só conseguiram
desmatar naquele ano 50 hectares de floresta primária
- a previsão fora de dez mil. A estratégia
utilizada ia além da denúncia visando criar
pressões de órgãos nacionais e internacionais
contra as queimadas, única forma de reduzi-las diante
da incapacidade do IBDF de fazê-lo.
Naquele mesmo ano o Banco Mundial sustentou um empréstimo
para a pavimentação da BR-364, no trecho em
território acreano até Rio Branco, alegando
que o projeto não previa proteção das
terras dos índios ao longo da rodovia. A decisão
do organismo internacional fora tomada, em grande parte,
devido à informação de Chico Mendes
de que o asfaltamento beneficiaria sobretudo um punhado
de grandes proprietários da terra na região.
Naquele mesmo ano o Banco Mundial sustentou um empréstimo
para a pavimentação da BR-364, no trecho em
território acreano até Rio Branco, alegando
que o projeto não previa proteção das
terras dos índios ao longo da rodovia. A decisão
do organismo internacional fora tomada, em grande parte,
devido à informação de Chico Mendes
de que o asfaltamento beneficiaria sobretudo um punhado
de grandes proprietários de terra na região.
Chico Mendes foi assassinado em sua residência em
Xapuri no dia 22 de dezembro de 1988, apesar de autoridades
estaduais e federais, como o presidente José Sarney
e o ministro da Justiça, Paulo Brossard, terem sido
informadas, oficialmente, e com antecedência, de que
ele corria risco de vida. A presidência do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Xapuri passou então a
ser exercida por Júlio Barbosa. Chico deixou viúva
Ilzamar Gadelha Mendes, com quem teve dois filhos. Fora
casado anteriormente com Eunice Feitosa de Meneses, com
quem teve uma filha.
Os mandantes do crime foram os fazendeiros Darci Alves Pereira
e seu pai, Darli Alves da Silva. O crime teria como causa
o fato de Darli Ter sido impedido por um "empate"
organizado por Chico de desmatar uma área de exploração
de borracha que adquiria. Além disso, a terra foi
desapropriada pelo governo estadual para o estabelecimento
de uma reserva extrativista. A partir de então, Darli
passou a dizer abertamente que ia matar Chico.
Na imprensa nacional, o assassinato ganhou as manchetes
e as primeiras páginas; nos jornais estrangeiros
também foi noticiado com destaque, sendo cobrada
do governo brasileiro uma postura enérgica para a
resolução do crime e a punição
dos culpados. Reportagens sobre queimadas na Amazônia
tornaram-se então freqüentes nas televisões
e em revistas no Brasil e no exterior. Pressionado pela
opinião pública mundial, o governo enviou
para Xapuri o diretor-geral da polícia federal, Romeu
Tuma, e o secretário-geral do Ministério da
Justiça, José Fernando Eichemberg. Um mês
depois do assassinato foi realizado ato ecumênico
no Congresso americano em homenagem a Chico Mendes.
Seus assassinos foram condenados a 19 anos de prisão.
Em fevereiro de 1993, fugiram da penitenciária de
segurança máxima em Rio Branco, onde cumpriam
pena com direito a saídas, ficando três anos
e quatro meses em liberdade. Capturados, passaram a cumprir
pena no presídio da Papuda, em Brasília.
Em 1989, Ilzamar Mendes vendeu para o cineasta Joffre Rodrigues
os direitos de imagem da vida do ex-marido por 1,7 milhão
de dólares. Ela contrataria um advogado em 1994 para
embargar no México as filmagens que a Warner, subcontratada
por Joffre, estava iniciando. Queria mais um milhão
de reais.
Em março de 1990, no final do governo José
Sarney, as reservas extrativistas foram reconhecidas e oficialmente
criadas por decreto-lei. Nesse mesmo ano, Chico Mendes recebeu
post mortem o Prêmio Internacional de Meio Ambiente,
administrado pela ONU e concedido pela Fundação
Sasakawa.
Chico Mendes foi cidadão honorário do Rio
de Janeiro e agraciado também com medalha da Sociedade
para um Mundo Melhor, em Nova Iorque.
Sobre a trajetória de Chico Mendes foram escritas
as seguintes obras: O testamento do homem da floresta: Chico
Mendes por ele mesmo - histórias de lutas (organização,
notas e introdução de Cândido Grzyborowski,
1989); O Acre de Chico Mendes, de Zuenir Ventura (1989),
série de nove reportagens para o Jornal do Brasil,
muito premiada; O empate contra Chico Mendes, de Márcio
de Sousa (1990), Tempo de queimada, tempo de morte: o assassinato
de Chico Mendes e a luta em prol da floresta amazônica,
de Andrew Revkin (1990), O mundo em chamas - a devastação
da Amazônia e a tragédia de Chico Mendes, de
Alex Shoumatoff (1990), Chico Mendes, um povo da floresta,
de Edílson Martins; Réquiem para a floresta:
desenho-canção para Chico Mendes, de Gervásio
Teixeira.
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Acre
coloca 50 policiais atrás de fugitivos (Folha)
Barreiras montadas nas estradas
do Estado estão restritas a entradas de Rio Branco
e postos de fronteiras. O secretário interino de
segurança Pública do Acre, Américo
Carneiro Pires, afirmou que cerca de 50 policiais militares,
civis e federais participam da captura de Darly Alves da
Silva e seu filho, Darci Alves Pereira, condenados a 19
anos de prisão pela morte do líder seringueiro
Chico Mendes. As polícias boliviana e peruana de
fronteira foram contactadas.
A Folha apurou que as barreiras nas estradas acreanas estão
restritas a entrada de Rio Branco e postos de fronteira.
"As blitze estão acontecendo, mas não
precisam aparecer. Estamos com dez carros na rua e outros
dez quebrados", afirmou Paes. O diretor da Colônia
Penal de Rio Branco, Nilson Alves, passou o dia realizando
a busca dos presos nas áreas próximas da fazenda
de Darly, no município de Xapuri. Alves foi o delegado
que presidiu o inquérito do caso Chico Mendes e foi
o responsável pela prisão de Darly em 89.
O secretário de Justiça e Segurança
Pública do Estado, José Elias Chaul, chegou
ontem de Brasília, depois de viajar na semana passada
para reivindicar do governo federal CR$ 70 bilhões
para a reforma da Colônia Penal e a construção
de um novo presídio de segurança máxima.
A obra seria realizada em caráter de emergência,
o que evitaria os processos de licitação.
"Depois de fuga de Darly, o ministro da Justiça
ficou mais sensibilizado com a situação do
Acre", afirmou Chaul. Para o assessor da Cooperativa
Extrativista de Xapuri, Gumercindo Rodrigues, a fuga do
preso mais famoso do Acre foi um grande "circo montado"
pelo governo do Estado para conseguir verbas para o presídio,
sem licitação: "Já fizeram isso
com o cólera na época do Canal da Maternidade".
O assessor disse acreditar que o problema de segurança
pública do Acre vai muito além da construção
de um novo presídio e do aparelhamento das polícias.
"O Estado é extremamente conivente com a violência
cometida por grupos poderosos do Acre. O governo estadual
fecha os olhos para os maiores barbaridades". O secretário
Chaul nega que o governo estadual tenha incentivado a fuga.
"Isso é um absurdo", disse.
AMAZONAS...
O superintendente da Polícia Federal do Amazonas,
Mário Spósito, 42, disse que um efetivo de
12 homens foi deslocado para investigar nos aeroportos do
Estado e, junto à Polícia Civil, em cidades
na divisa com o Acre se os assassinos do sindicalista Chico
Mendes, Darci e Darly Alves fugiram para o Amazonas.
Spósito diz que não acredita que os assassinatos
do líder seringueiro tenham fugido para o Amazonas.
"Podem ter fugido até para a Bolívia".
O Acre fica na fronteira do Brasil com Peru e Bolívia.
REMOÇÃO...
O Tribunal de Justiça do Acre negou o pedido de remoção
do fazendeiro Darly Alves da Silva para ser julgado pela
Justiça do Paraná. Segundo o advogado do fazendeiro,
Rubens Lopes Torres, a remoção foi negada
por ter sido solicitada de forma incorreta.
"Mandaram um ofício para o Acre. Tinha que ser
uma carta-precatória". Segundo Torres, a data
de prescrição do crime de Umuarama é
de 3 de abril. O presidente do Tribunal de Justiça
do Acre, Eliezer Matos, não foi encontrado para falar
sobre o caso.
Torres afirmou que Darly fugiu sem saber da negação
da remoção ao Paraná. Darly é
acusado da morte do agricultor e corretor de imóveis
Acyr Urizzi, ocorrido em 1973. Segundo o advogado do Conselho
Nacional de Seringueiros, Cesário Braga, o crime
só prescreve no segundo semestre.
Por Denise Carreira (Rio Branco/AC)
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Ministro
nega proteção à família de Mendes
(Folha)
A Polícia Federal
não vai dar proteção à viúva
e aos filhos de Chico Mendes. O Ministério da Justiça
alega que não tem homens suficientes para acompanhar
todas as pessoas que pedem proteção. O advogado
Márcio Thomaz bastos havia pedido a proteção
em razão da fuga dos assassinos de Chico Mendes.
O ministro da Justiça, Maurício Corrêa,
disse à Folha que costuma haver "certo exagero"
nos pedidos de proteção de vida recebidos
pela PF. Márcio Thomaz Bastos também solicitou
que o bispo de Rio branco, Dom Moacir Grecchy, e cerca de
dez líderes rurais sejam protegidos.
Bastos entende que a Polícia Federal deve dar garantias
de vida aos líderes rurais já jurados de morte.
"Há listas de lideranças marcadas para
morrer e os pistoleiros podem voltar a atacar", disse
o advogado, que fez o papel de acusação no
julgamento de Darci e Darli Alves.
O advogado afirmou não ter dúvidas de que
"as autoridades locais foram displicentes". "Conversei
com Ilzamar (viúva de Chico Mendes) e com Dom Moacir.
O clima em Rio Branco é de medo. Eles já estão
preparados para receber as mesmas ameaças de morte
que recebiam antes da prisão dos assassinos de Chico
Mendes", disse Bastos.
"Se ficar configurado o risco de vida, vamos dar proteção,
embora o quadro da Polícia Federal seja bem restrito",
afirmou Maurício Corrêa. O ministro admitiu
que Darli e Darci Alves podem não estar mais no Brasil.
"Lamentavelmente, esta é uma hipótese",
disse Corrêa. A capital do Acre, Rio branco, fica
bem próxima à fronteira com a Bolívia
(cerca de uma hora de viagem de carro).
Corrêa disse que o governo brasileiro ainda não
pediu ajuda do governo boliviano pois tem esperança
de que eles sejam capturados ainda em território
brasileiro.
O ministro recebeu do governador do Acre, Romildo Magalhães,
um pedido formal para que a Polícia Federal ajude
na captura dos assassinos de Chico Mendes, que fugiram.
O Condam (Conselho Nacional do Meio Ambiente) aprovou por
unanimidade uma moção cobrando providências
urgentes do governo do Acre. O presidente do Conselho Nacional
dos Seringueiros, Júlio Barbosa, presente à
reunião, disse que a fuga dos assassinos "preocupa
todos os segmentos da sociedade".
(Rio Branco/AC e Brasília/DF)
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Repercussão
- Entidade teme por seringueiros (Folha)
Organizações
ecologistas e de proteção aos direitos indígenas
manifestaram preocupação pela fuga dos assassinos
de Chico Mendes no Brasil.
Em Londres, um porta-voz da Survival International disse
que "o caso é importante porque demonstra a
falta de preocupação do governo do Brasil
para que haja justiça".
O porta-voz fez ainda um paralelo com o assassinato de 14
índios Tucuni em 1988, quando se encontravam reunidos
para discutir medidas de expulsão de colonos que
ocupavam e devastavam seus territórios. "Sabe-se
quem são os assassinos dos Tucuni, sabe-se que fugiram
para a Colômbia, mas o governo não faz nada
para capturá-los", disse.
Tony Jupiter, representante da organização
Friends of the Earth, afirmou, também em Londres,
que é "absolutamente vital que o governo do
Brasil capture os fugitivos aos seringueiros, que são
constantemente ameaçados de morte pelas suas políticas
de defesa do meio ambiente".
No Brasil, a presidente do IEA (Instituto de Estudos Amazônicos),
Mary Helena Alegretti, 44, disse em Brasília, que
a fuga dos assassinos de Chico Mendes, no Acre, deve prejudicar
o apoio internacional a projetos ecológicos no país.
Ela disse que os últimos acontecimentos podem até
dificultar a liberação de recursos acertados
com entidades e governos no exterior.
Alegretti baseia-se nas declarações do presidente
dos Estados Unidos, Bill Clinton, que afirmou estar bastante
preocupado com a questão dos direitos humanos nos
países não-desenvolvidos. "Os matadores
de Chico Mendes eram um exemplo contra a impunidade no Brasil,
cuja imagem já abalada com as rebeliões e
mortes nos presídios fica pior agora", disse.
A antropóloga ganhou o Prêmio Global 500 da
ONU, o mesmo dado a Chico Mendes.
Para ela, as autoridades públicas do Estado devem
ser responsabilizadas, pois podem ter sido até coniventes
com fuga dos criminosos.
O IEA entrará na Secretaria de Segurança Pública
do Acre com pedido de abertura de inquérito administrativo
para identificar os responsáveis pela fuga dos prisioneiros.
Segundo Alegretti, "se não houver pressão,
ninguém será punido".
(Rio Branco/AC)
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Defesa
- Advogado dos assassinos de Chico Mendes fala em "seqüestro"
(Folha)
Armando Reigota, advogado
de Darly Alves da Silva e de seu filho Darci Alves Pereira,
disse acreditar que Darly tenha sido incentivado a fugir
ou até mesmo tenha sido seqüestrado.
"Não havia vantagem nenhuma para Darly fugir
neste momento", disse ele. O advogado se negou a dizer
quais pessoas ou grupos teriam interesse na fuga ou sequestro
do fazendeiro: "Não sei de nada".
Segundo Reigota, Darly e Darci estavam otimistas com a possibilidade
de entrarem em liberdade condicional e regime semi-aberto,
respectivamente, ainda este ano.
"Eles sempre foram bons presos", disse o advogado.
No dia 23 de março, Darly seria removida para Umuarama,
no Paraná, para ser julgado pelo assassinato do agricultor
Acyr Urizzi, ocorrido em 1973.
Segundo Reigota, o Tribunal de Justiça do Acre negou
o pedido de remoção de Darly feito pela Justiça
paranaense: "Era mais um motivo para que Darly não
fugisse".
O advogado disse também que no estado de saúde
de Darly era um obstáculo maior para a fuga: "Um
homem que mal andava e cuspia sangue não ia passar
por aquele buraco na janela. Se ele saiu do pavilhão,
foi pela porta da frente", afirmou.
O advogado disse que seu cliente teria dado algum sinal
se pensasse na fuga. "Ele estava otimista com a possibilidade
de prescrição do crime de Umuarama, prevista
para o começo de abril", afirmou.
Mesmo para Darci, que acumula 31 anos de penas por tentativa
de homicídio de um grupo de seringueiros e o assassinato
de Chico Mendes, Reigota nega a vantagem da fuga.
"Ele tinha grandes chances de sair em pouco tempo".
Segundo os companheiros de pavilhão de Darly, o fazendeiro
de saúde nos últimos tempos.
O advogado Genésio Natividade, do IEA (Instituto
de Estudos Amazônicos) disse acreditar que o medo
de ser condenado e mantido preso no Paraná, onde
Darly seria julgado, o incentivou a fugir. "Eles poderiam
ter fugido há mais tempo, mas só fizeram agora
porque sabem que o Paraná as coisas seriam diferentes",
disse Natividade. "Há muito denunciamos as regalias
que eles gozavam na penitenciária e não houve
providências", disse.
(Belém/PA e Agências Internacionais)
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Matadores
de Chico Mendes apelam ao Tribunal de Justiça do
Acre (Estado)
Os advogados de Darci Alves
Pereira, que em julgamento realizado em dezembro de 1990
confessou ter assassinado o sindicalista Chico Mendes e
foi condenado - junto com seu pai, o fazendeiro Darli Alves
da Silva - a 19 anos de prisão, apelaram ao Tribunal
de Justiça do Acre (TJA). Eles pedem a anulação
de outro julgamento, ocorrido em do mesmo ano.
Nesse julgamento, Darli e seu irmão Oloci Alves Pereira,
acusados de tentar matar um grupo de aproximadamente 100
seringueiros, foram condenados a 12 anos de prisão.
Na apelação, seus advogados alegam que não
houve a publicação oficial da pauta e a intimação
para que pudessem apresentar a defesa oral dos réus.
Os mesmos advogados, João Lucena Leal, Armando Reigotta
e Rubens Lopes Torres, pretendem apelar também contra
a condenação de Darli e Darci, no julgamento
de dezembro, e antecipam a intenção de solicitar
ao Tribunal de Justiça do Acre que o novo julgamento
não que seja feita na comarca de Xapuri. Segundo
eles, um dos jurados do último julgamento havia participado
do julgamento anterior.
(Rio Branco)
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Assassinos de Chico Mendes fogem de presídio no
Acre (Folha)
O fazendeiro Darly Alves
da Silva e seu filho Darci Alves Pereira, condenados a 19
anos de prisão pelo assassinato do líder seringueiro
Chico Mendes, fugiram na madrugada de ontem da Colônia
Penal de Rio Branco (AC). Para o secretário-interino
de Justiça e Segurança Pública do Acre,
Américo Carneiro Paes, a fuga não constituiu
nenhuma surpresa. "As condições do nosso
presídio são tão terríveis que
só não foge quem não quer", afirmou.
O titular da Secretaria de Justiça e Segurança,
José Elias Chaul, está em Brasília.
Darly e Darci estavam presos no Pavilhão de Segurança
Máxima do presídio e fugiram junto com outros
sete detentos por uma das janelas do pavilhão. As
grandes das janelas foram serradas.
Na semana passada, o reforço da PM para segurança
do pavilhão foi retirado, para garantir as ações
de rua no Carnaval.
Considerado o preso mais famoso do Acre, Darly fugiu um
mês antes de ser deslocado para Umuarama (Paraná),
para ser julgado na acusação de assassinato
do agricultor Acyr Urizzi, ocorrido em 1973. No último
ano, Darly saiu várias vezes do presídio para
tratamento médico de uma úlcera, uma pneumonia
e problemas oculares.
A Secretaria de Justiça e Segurança Pública
instaurou inquérito para apurar a fuga. Segundo o
secretário-interino, foram colocadas em alerta as
delegacias de fronteira com a Bolívia e o Peru e
as polícias estaduais de Rondônia e Amazonas.
Sem iluminação, com muros externos derrubados,
guaritas abandonadas e uma guarda de três PMs para
realizar a segurança do pavilhão com 40 presos,
a fuga dos detentos não teve grandes obstáculos.
Para o representante do Comitê Chico Mendes, Sebastião
Machado, presidente da CUT do Acre, a fuga de Darly foi
facilitada pelas autoridades de segurança do Estado.
"Não houve seriedade, a fuga foi encarada de
forma natural".
O secretário-interino disse que o Estado "tem
feito o que pode, tem tentado junto ao Ministério
da Justiça mais recursos para construir um novo presídio,
sem sucesso." A Colônia Penal tem capacidade
para 140 presos, mas estava com 279 detidos.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia
(AC), Osmarino Amâncio Rodrigues, disse que vai entrar
com um processo pedindo intervenção no Estado
por acreditar que a Justiça foi conivente com a fuga.
Ele afirmou que "muitos assassinatos podem começar
a aparecer se Darly e seu capanga não retornarem
à cadeia". Enquanto isso, o sindicato está
tirando os ameaçados de morte do Estado. "Eu
mesmo devo sair do Acre em dois dias. Até lá
estou tomando muito cuidado", disse.
Por Denise Carreira (Rio Branco/AC)
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Réus
foram condenados a 19 anos (Folha)
O líder ambientalista
e seringueiro Francisco Mendes Filho, o Chico Mendes, foi
assassinado às 19 horas do dia 22 de dezembro de
1988, em Xapuri (a 180 km de Rio Branco, no Acre).
Ele foi morto com um tiro de escopeta quando atravessava
o quintal da sua casa para tomar banho. O caso teve repercussão
internacional. Pouco antes de ser morto, Chico Mendes disse
que os irmãos Darly Alves e Alvarinho Alves o ameaçavam
de morte.
No dia 5 de dezembro de 88, em carta enviada ao Departamento
Nacional dos Trabalhadores Rurais da CUT, Chico Mendes afirmava:
"Não quero flores no meu enterro, pois sei que
vão arrancá-las da floresta. Quero apenas
que meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos
jagunços, sob a proteção da Polícia
Federal do Acre, que desde 1975 já mataram mais de
50 pessoas, como eu, líderes seringueiros... Adeus,
foi um prazer."
O fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darci foram
detidos e julgados no dia 12 de dezembro de 1990. Darci
confessou o assassinato, mas disse que matou sozinho, sem
a ajuda ou o pedido do pai.
Por seis votos a um, os jurados concluíram que Darci
Alves Pereira assassinou o sindicalista Chico Mendes a mando
de seu pai, Darly Alves da Silva. Os réus foram condenados
a 19 anos de prisão. O juiz Adair Longuini destacou
os "péssimos" antecedentes de Darly e Darci,
acusados de outros crimes. Genésio Ferreira da Silva,
que na época tinha 15 anos, foi a principal testemunha
do assassinato. Genésio trabalhava na fazenda de
Darly, onde era preparado para ser pistoleiro, quando soube
do plano de assassinato de Chico Mendes. Ele denunciou os
patrões à polícia.
Em 28 de fevereiro de 1992, a Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça do Acre anulou o julgamento de Darly Alves
da Silva, aceitando o recurso dos advogados Rubens Lopes
Torres e Armando Reigotta, que alegavam não haver
provas suficientes no processo para incriminá-lo
como mandante.
CARTA ALERTOU AS AUTORIDADES
HÁ QUATRO ANOS...
O ecologista e sindicalista Chico Mendes começou
a ser "caçado" pelos fazendeiros do Acre,
onde era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Xapuri, quatro anos antes do seu assassinato, dia 23
de dezembro de 1988. A primeira ameaça de morte aconteceu
na noite de 5 de janeiro de 1984, quando um homem fortemente
armado tentou invadir a casa do sindicalista, segundo carta-denúncia
assinada por Chico Mendes e publicada no mesmo ano no boletim
bimestral da Associação Brasileira de Reforma
Agrária.
A carta acusa a polícia de Xapuri de conivência
com os fazendeiros e exige do então governador, Flaviano
Mello, medidas para resolver os problemas de conflito de
terra na região. Chico Mendes denuncia um plano secreto
elaborado por fazendeiros do Acre para "um novo ataque
aos sindicalistas do Estado, principalmente de Xapuri",
onde havia a maior mobilização em favor do
uso não predatório da floresta amazônica.
O prefeito de Xapuri também é acusado de proteger
os fazendeiros e de ter sido eleito com ajuda de latifundiários
"interessados em devastar grandes áreas para
a formação de pastagem".
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Polícia
Federal é mobilizada para captura (Folha)
A Polícia Federal
foi mobilizada para ajudar na captura de Darli e Darci Alves.
A PF mobilizou as superintendências do Acre, Rondônia
e Amazonas e colocou os nomes dos dois no SINPI (Sistema
Nacional de Procurados e Impedidos).
O ministro da justiça, Maurício Corrêa,
disse que mais providências só se elas forem
requisitadas pelo governador do Estado, Romildo Magalhães.
O ministro quer, no entanto, que os dois sejam capturados
logo pois, segundo ele, a fuga "arranha" a imagem
do Brasil no exterior.
Maurício Corrêa se reuniu com o secretário
de Segurança Pública do Acre, José
Elias Chaú, para discutir o assunto. O ministro contou
que o secretário só ficou sabendo da fuga
por volta do meio dia, quando almoçava em um hotel
em Brasília.
Chaú explicou que o seu Estado não tem recursos
para o sistema penitenciário e que somente para cuidar
de Darly e Darci eram deslocados, diariamente, 40 homens
da Polícia Militar. Embora a Polícia Federal
não tenha ainda sido acionada, o ministro determinou
que os policiais federais das fronteiras e dos aeroportos
fiquem atentos para impedir que os dois deixem o país.
FUGA ANUNCIADA...
Márcio Thomaz Bastos,
advogado de acusação no julgamento de Darly
e Darci Alves, afirmou que a fuga "foi anunciada".
Todo mundo em Rio Branco já esperava a fuga. A precariedade
da segurança era completa."
O advogado disse que enviou um fax a Maurício Corrêa
pedindo proteção para a família de
Chico Mendes. "Tenho certeza que Darly e Darci vão
espalhar o terror no Acre, ameaçando as pessoas."
Thomaz Bastos afirmou que a prisão de Darly e Darci
"quebrou uma tradição de impunidade que
existia no Acre". "Após a condenação
de ambos em 91, a violência na região diminuiu."
Para ele, com a fuga, "todo esse trabalho praticamente
se perde".
(Brasília/DF)
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Assassinos
estão na Bolívia e Paraguai (Folha)
Darly Alves da Silva, 68,
e Darci Alves da Silva, 30, condenados a 19 anos de prisão
pelo assassinato do líder seringueiro Chico Mendes
em 1988, estão vivendo fora do Brasil - Darli na
Bolívia e seu filho no Paraguai.
A afirmação foi feita à Agência
Folha pelo fazendeiro Alvarino Alves da Silva, 62, irmão
de Darly, que viveu foragido de 1988 a 1994. Alvarino fugiu
ao ser apontado como um dos mandantes do crime contra Chico
Mendes.
Alvarino disse que esteve com Darli logo depois que o irmão
e o sobrinho fugiram da penitenciária, em 15 de fevereiro
de 1993. "Ele veio até minha propriedade, onde
eu estava escondido da Justiça, e me falou da fuga",
disse. Ele disse que a decisão de matar Chico Mendes
foi de Darci. O crime ocorreu na noite de 22 de dezembro
de 1988. O seringueiro recebeu um tiro de espingarda. O
advogado de Darly, Rubens Lopes Torres, também afirma
que eles estão fora do país. "Depois
da fuga da prisão, o Darli ficou 30 dias escondido
na fazenda Paraná, em Xapuri (AC), mas hoje está
no exterior. Ele falou que iria se mudar para a Bolívia",
disse Torres. O seringueiro Osmarino Amâncio Rodrigues,
38, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Brasiléia (AC), afirma que Darli vive no povoado
de Puerto Rico, na Bolívia. Leia trechos da entrevista
de Alvarino:
Folha - O sr. tem feito
contato com seu irmão Darly e com o sobrinho Darci
desde que eles fugiram da prisão em 93?
Alvarino Alves da Silva - Logo depois que o Darly
fugiu da prisão, ele veio para Xapuri. Veio me procurar,
na fazenda, dizendo que estava bem e que ia desaparecer.
O Darci não estava junto. Eu sei que eles brigaram
logo depois da fuga.
Folha - O sr. sabe para
onde ele foi?
Alvarino - Ele disse que ia desaparecer porque não
queria mais ficar preso. Soube depois que ele foi para a
Bolívia. O lugar certo, não sei. Nem para
mim ele disse. Nem sei agora onde ele está. O Darci
foi para o Paraguai, na casa de uns parentes da família.
Folha - Nenhum dos dois
tem dado notícias?
Alvarino - Para a gente, não. Só se
eles aparecerem aqui, porque vivemos na fazenda, que não
tem nem telefone.
Folha - A polícia
já veio aqui atrás dos dois?
Alvarino - Muitas vezes. De vez em quando, a polícia
aparece. Mas a polícia sabe que não seriam
loucos de ficar escondidos aqui.
Folha - O Darly, quando
esteve com o senhor, disse por que decidiu fugir?
Alvarino - Ele tinha medo de ficar preso e ser transferido
para Umuarama, no Paraná, onde a Justiça o
processa por acusação de assassinato (de Acir
Urizzi e Ângelo Urizzi, em 1973). Ele também
é inocente nesse caso, mas ninguém acredita.
Folha - O que mudou na
família após o assassinato?
Alvarino - A gente já pagou muito caro por tudo
isso. A morte do Chico Mendes foi a maior bobagem que o
Darci poderia ter cometido. O Darly não teve nada
com o caso. O filho dele agiu sozinho, apesar de meu irmão
Ter sido condenado como mandante. Se alguém tem de
pagar pelo crime, que seja o Darci, que foi quem realmente
matou o Chico Mendes.
Folha - Por que a família
pagou caro com o caso?
Alvarino - Nossa vida tumultuou. Já perdi
um filho por causa disso tudo. O Vantil ficou muito nervoso
com tudo o que aconteceu . Foi ele quem ficou tomando conta
das nossas propriedades e acabava sendo pressionado pela
polícia. O coração dele não
agüentou, e um dia ele morreu de ataque cardíaco.
Perdemos muito dinheiro pagando advogado. Nossas propriedades
foram roubadas, tiraram gado. Hoje vivo isolado, com receio
de sair em público.
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Cronologia
-
1959 - A família
de Darly Alves da Silva muda de Conselheiro Pena (MG)
para Umuarama (PR).
-
1969 - Darly
e seu irmão Alvarino são suspeitos de
contratar um pistoleiro para matar Ângelo Urizzi
por causa de disputa de terras.
-
1973 - Em 29
de março, o filho de Ângelo, Acir Urizzi,
é morto por pistoleiros. Ele acusava Darly de
ter matado seu pai. O caso vai para a Justiça
e os dois irmãos são os suspeitos.
-
1974 - A família
de Darli sai do Paraná e em 15 de outubro chega
a Xapuri. A ação no Paraná pára.
-
1988 - Em 22
de dezembro, Chico Mendes é morto com um tiro
de escopeta. Em 27 de dezembro, Darci Alves da Silva,
filho de Darly, entrega-se à polícia e
confessa o crime.
-
1989 - Em 7
de janeiro, Darly, acusado de ser mandante, se entrega
à polícia e se diz inocente. Também
acusado, Alvarino foge. Ao longo do processo, é
inocentado por falta de provas.
-
1990 - Em janeiro,
Darly e Darci fogem. São capturados três
horas depois. Em 14 de dezembro, acaba o julgamento
com a condenação dos dois a 19 anos de
prisão.
-
1993 - Em 15
de fevereiro, Darly e Darci fogem da penitenciária.
Por Luiz Malavolta (Acre/Bolívia)
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Caravana
de Lula acirra conflito em Xapuri (Estado)
A luta pelo espólio
político de Chico Mendes travada entre familiares
do líder seringueiro assassinado em 1988 e a direção
local do PT causou constrangimento ao presidente do partido,
Luiz Inácio Lula da Silva, durante a passagem da
Caravana da Cidadania por Xapuri (AC). A viúva de
Chico Mendes, Ilzamar Cadelha Mendes, de 29 anos, não
acompanhou Lula na visita ao túmulo do líder
seringueiro. "O PT de Xapuri está tentando acabar
com o movimento iniciado por Chico", denunciou Ilzamar.
José Alves Mendes Neto, irmão de Chico Mendes,
acusou a direção do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Xapuri, controlado pelo PT, de discriminar e perseguir
os seringueiros não-filiados ao partido. "Agora,
só pode ser do sindicato quem for do PT", afirmou,
criticando a luta pelo poder na entidade criada pelo irmão.
"O ideal de Chico foi substituído pelo ideal
do cabide de emprego." O prefeito de Rio Branco, Jorge
Viana (PT), e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentaram
contornar a situação ainda na noite em que
Lula discursava para 500 pessoas na praça e os parentes
de Chico Mendes permaneciam em suas casas. Viana e Suplicy
os convidaram para um café da manhã com Lula.
"Foi uma conversa entre amigos", limitou-se a
contar Lula sobre o encontro, de meia hora.
Ilzamar ressaltou que o problema com o partido não
altera sua admiração por Lula, de quem Chico
Mendes foi aliado. Mas revelou ter trocado o PT pelo PMDB,
por cuja legenda pretende disputar uma vaga na Câmara
dos Deputados em 1994. "O pessoal do PT queria me ter
como uma bonequinha, mas eu reagi", explicou.
Na Justiça, é travada outra briga entre o
PT e a viúva, pelo controle da Fundação
Chico Mendes, que recebe recursos do Exterior. Um vereador
do PT obteve o sequestro dos bens da fundação
na Justiça, ao denunciar irregularidades nas contas
da entidade. A fundação está interditada.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Osmar
Facundo, do PT, rebateu as acusações de Ilzamar.
"Antes de Chico Mendes morrer ela era pobre",
lembrou. "Agora, tem uma grande casa, antena parabólica
e caminhonetes." Mas negou discriminar quem não
seja do PT. Lula deixou Xapuri sem que se contornasse a
crise.
Por Ricardo Osman (Xapuri/AC)
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Darly
vai cumprir pena em Brasília (Folha)
O fazendeiro Darly Alves
da Silva, 60, mandante da morte do líder seringueiro
Chico Mendes, vai cumprir o resto da pena, de 19 anos de
prisão, no presídio da Papuda, em Brasília.
Darly ficará preso no CIR (Centro de Internamento
de Reeducação), unidade de segurança
máxima do presídio.
A decisão de manter Darly preso em Brasília
foi tomada pelo ministro da Justiça, Nelson Jobim,
depois de receber fax do presidente do Tribunal de Justiça
do Acre, Jersey Pacheco Nunes.
O desembargador afirma a "inexistência, no estabelecimento
prisional desta capital, de reais condições
de guarda e segurança do referido preso".
Nunes disse ser "aconselhável" que, até
que se consigam melhorias no presídio Francisco de
Oliveira Conde - onde funciona a Colônia Penal de
Rio Branco - , Darly seja mantido em Brasília.
Jobim entrou em contato com o governador do Distrito Federal,
Cristovam Buarque (PT), que assegurou vaga para a transferência.
Chico Mendes foi assassinado a mando de Darly em dezembro
de 88. Darci Alves, filho de Darly, confessou o crime.
Os dois foram presos em janeiro de 1989 e condenados, em
dezembro de 1990, a 19 anos de reclusão em regime
fechado. Pai e filho fugiram da Colônia Penal de Rio
Branco em fevereiro de 1993.
A família de Darly e Darci vai ingressar na Justiça
para obter sua transferência para Rio Branco.
PARANÁ...
Darly também será julgado no dia 16 de
agosto de 1996 em Umuarama (PR) pela morte do corretor de
imóveis Acir Urizzi, ocorrida em junho de 1973 naquele
município. Eles tinham uma disputa agrária.
O julgamento de Darly foi marcado para 2 de julho (1996)
pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Umuarama, José
Roberto Pinto Jr., 42. Segundo Pinto Jr., a data do julgamento
foi marcada após o anúncio da prisão
de Darly pela Polícia Federal, em Medicilândia
(PA).
Em 1993, quando a Justiça do Paraná pedia
a transferência de Darly para o Paraná, o fazendeiro
fugiu.
Urizzi foi morto a tiros em 29 de junho de 1973, emboscado
no distrito de Vila Alta, hoje município. Foi para
fugir do processo criminal no Paraná que o fazendeiro
se mudou para o Acre, onde acabou condenado como mandante
da morte de Chico Mendes, em 1988.
(Brasília/DF e Londrina/PR)
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Ecologista
Chico Mendes é assassinado no Acre (Estado)
O presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (Acre), Francisco Mendes,
44 anos foi assassinado à noite com um tiro de escopeta,
calibre 12, disparado por um pistoleiro encapusado em frente
à sua casa, no centro de Xapuri. Dois policiais militares
que faziam a segurança de Chico Mendes estavam jantando,
desarmados, na cozinha da residência. Mendes, que
se tornou conhecido pela defesa da floresta Amazônica,
principalmente contra latifundiários ligados à
exploração de madeira, previu sua morte alertando,
em carta, o presidente José Sarney, o ministro da
Justiça, Paulo Brossard e o diretor-geral da Polícia
Federal, delegado Romeu Tuma, de que estava sendo ameaçado.
O corpo do sindicalista foi velado ontem à tarde
por milhares de seringueiros e trabalhadores rurais da região.
Os fazendeiros Alvarino e Darly Alves da Silva, denunciados
anteriormente pela vítima como prováveis mandantes
de sua morte, continuam soltos. Os irmãos são
proprietários de 30 mil hectares de terra na região,
e segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), são responsáveis por mais de 100 mortes
de trabalhadores rurais do Acre, desde que eles lá
chegaram em 1975. A morte de Chico, único brasileiro
a ser agraciado com o título "500 - Globais",
conferido pela Organização das Nações
Unidas (ONU), provocou reações de instituições
ambientalistas no Brasil e no mundo. "Este assassinato
foi uma pá de cal na credibilidade do governo brasileiro
junto aos organismos do crédito internacionais",
disse o secretário-geral do Partido Verde e vereador
carioca Alfredo Sirkis. "Agora vai ser difícil
libertar empréstimos para a região amazônica",
alertou.
AGONIA...
"Desta vez me acertaram". Estas foram as últimas
palavras de Chico Mendes, minutos antes de morrer. Ele tinha
acabado de ser atingido por um tiro de escopeta na casa
da rua Dr. Batista de Moraes, 487, em Xapuri. Dois pistoleiros,
ainda não identificados, fugiram na escuridão,
enquanto ele tentava, arrastando-se chegar ao seu quarto.
"Quero morrer na minha cama", dizia sempre à
mulher Ilzamar. Ele só resistiu até a porta
do quarto. No caminho, tentando desesperadamente falar mais
alguma coisa enquanto soltava sangue pela boca, ainda conseguia
abraçar a filha de quatro anos, Elenira, que está
traumatizada.
Chico morreu nos braços de um amigo de 26 anos, o
agricultor Júlio Nicácio, que o ouviu o tiro
da casa vizinha, onde mora, e correu imediatamente até
a residência de Chico. "Ele se debatia no chão.
Ainda coloquei sua cabeça sobre as minhas pernas,
mas ele morreu logo depois", descreveu. Nicácio
contou mais de 40 perfurações no corpo de
Chico, provocadas por estilhaços da bala. O sindicalista
Pedro Rocha, que estava na casa de Chico na hora do crime,
ainda tentou levar o corpo ao Hospital Epaminondas Jackson.
A viagem seguinte foi até Rio Branco 188 quilômetros,
onde o corpo de Chico desembarcou às três horas
de ontem. Às oito horas, o bispo do Acre, Moacir
Grechi, celebrou missa de corpo presente na catedral Nossa
Senhora de Nazaré. Chico já tinha sido, então,
embalsamado e passado pela autópsia do Instituto
Médico Legal da capital, trabalho comandado pelo
médico José Edson da Silva. Às dez
horas, estava de volta a Xapuri.
Em nota oficial, o Diretório Nacional do PT denunciou
o assassinato e exigiu das autoridades "a prisão
e a punição de mandantes e assassinos".
Mais ainda, convocou um ato na Assembléia Legislativa
de São Paulo. O diretor-geral da Polícia Federal,
Romeu Tuma, confirmou que pediu à Secretaria de Segurança
Pública do Acre providências para dar segurança
a Chico. No caso dele nós abrimos uma exceção,
pois segurança pessoal só é providenciada
para chefes de Estado ou diplomatas", disse Tuma. Em
Curitiba, o Instituto de Estudos Amazônicos (IEA),
com sede nesta cidade, também divulgou nota "exigindo
a imediata punição de todos os culpados".
A principal bandeira do sindicalista morto foi garantir
a floresta como área imune à penetração
destrutiva dos grandes grupos empresariais, que já
devastaram mais de 25% do território de Rondônia
em menos de dez anos. Assim, segundo os ecologistas, ele
passou a ser incomodo para os fazendeiros do Acre, que constantemente
o ameaçavam de morte.
(Rio Branco/AC)
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Uma
vida em defesa da floresta (Estado)
Chico Mendes ouvia diariamente
as rádios BBC de Londres, Vox da América e
de Moscou, mas ainda aos 24 anos não tinha aprendido
a ler, nem carregava bandeira ideológica. Eram os
anos 60 e o Brasil vivia a Ditadura Militar. "Pelo
que ouvia no rádio não conseguia entender
se era um golpe, quem deu e quem levou", disse ele
a Agência Estado em novembro. Vivendo no meio da floresta
amazônica na região de Xapuri, Mendes não
imaginava que um dia acabaria líder.
Depois de 28 anos cortando seringas ele iniciou a luta contra
o desmatamento comandando um movimento chamado "empatada".
Na verdade, o confronto existe desde o século passado
entre seringueiros e posseiros. "Todo seringueiro nasce
meio ecologista, porque defendemos a mata e nossa sobrevivência
sem destruições", afirmou Chico Mendes.
Considerando a "poronga" dos seringueiros (lamparina
própria utilizada pelos trabalhadores na mata), ele
jamais sonhou em viajar para o Exterior, muito menos ser
homenageado por boa atitude em defesa da Amazônia.
No ano passado, recebeu em Londres o prêmio "Global
500" da Organização das Nações
Unidas. Depois foi para Nova York receber o diploma "Sociedade
por um mundo melhor". Se não formos à
luta a floresta será devastada nos próximos
oito anos", alertou na época. Pensando assim,
Chico Mendes - cidadão carioca, personalidade no
Estado do Acre, habitante da floresta - concentrou suas
forças em novas denúncias contra o governo
"e seus projetos de ocupação desordenada"
da Amazônia. Junto com artistas, ele alertou para
as ameaças de morte e o desejo dos grileiros, apoiados
por pistoleiros, "de transformar a região em
pasto para gado".
Chico Mendes tinha dois filhos: Elenira, de quatro anos,
e Sandino, de dois, de seu casamento com Ilzamar. Ele presidia
o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, com três
mil filiados. "Sei que minha morte interessa a muita
gente, mas tenho convicção de que o movimento
dos seringueiros cresceu, o discurso ecológico atravessou
fronteiras e nada mudará essa consciência",
disse ele.
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Após
1 ano, caso Chico Mendes não foi julgado (Folha)
Faz um ano que o líder
sindical e ecologista Chico Mendes foi assassinado em Xapuri
(AC). O Tribunal de Justiça do Acre ainda não
marcou a data de julgamento dos acusados, o fazendeiro Darly
Alves da Silva e seu filho Darci Alves Pereira.
Nesse período, quatro inquéritos foram abertos
- o último há três meses, com as investigações
sob sigilo. As cerca de mil páginas do processo estão
no Tribunal de Justiça do Estado.
A decisão de confirmar a sentença de pronúncia
dos réus, mandando-os a julgamento popular, foi tomada
há mais de um mês, quando o tribunal indeferiu
recurso pedindo a liberdade de Darly e Darci.
Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, foi morto
com um tiro no peito às 18h45, no fundo do terreno
da casa onde morava. Aos 44 anos; era presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (188 km a sudoeste de
Rio Branco, AC). Ele era conhecido por sua atividade em
defesa do meio ambiente. Recebeu vários prêmios,
entre eles o Global 500, concedido em 1987 pelo Programa
de Meio Ambiente da Organização das Nações
Unidas (ONU) às 500 pessoas que se destacaram pela
luta em defesa do meio ambiente durante o ano.
Acusados de matarem Chico Mendes, Darly e Darci, filiados
à União Democrática Ruralista (UDR)
do Acre, fugiram após o crime. No dia 27 de dezembro,
Darci se entregou à polícia dizendo-se culpado.
Darli, acusado de ser o mandante do crime, se apresentou
em 7 de janeiro de 1989, mas alegou inocência. Darci,
indiciado como autor do crime, hoje se diz inocente.
O juiz de Xapuri, Adair Longuini, quer marcar o julgamento
de Darly e Darci para abril de 1990, após as férias
forenses. A defesa pretende adiar o julgamento para o final
de 1990, "para esperar a poeira baixar", segundo
disse o advogado Rubens Lopes Torres. Ele afirmou que vai
recorrer ao Superior Tribunal de Justiça do Acre
para "ganhar tempo". O julgamento estava marcado
para agosto de 1989, mas foi adiado devido a um recurso
de Torres.
(Rio Branco/AC)
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No Acre,
viúva de Chico Mendes é destituída
do comando da fundação (Estado)
A viúva do ecologista
Chico Mendes, Ilzamar Gadelha Mendes, foi destituída
da presidência da Fundação Chico Mendes,
a decisão foi tomada pelos membros do conselho deliberativo
da fundação, que escolheram o seringueiro
Jorge Gomes, presidente do Sindicato Rural de Xapuri (AC),
como novo presidente da entidade. Ilzamar, que está
no Rio em tratamento médico, foi nomeada presidenta
de honra da fundação.
A eleição da nova direção encerra,
pelo menos por enquanto, polêmica que se estabeleceu
na fundação desde maio, quando Ilzamar e seus
assessores Júlio Nicácio e Gilson Pescador
assinaram com a JN Filmes contrato para filmar a vida do
ecologista sem que lideranças seringueiras fossem
consultadas.
Os seringueiros que participaram da assembléia junto
com outros representantes de entidades civis que participaram
da criação da fundação, expulsaram
Pescador e Nicácio. Eles acusavam os dois de se aproveitarem
da inexperiência política de Ilzamar para tirarem
vantagens da fundação. Nicácio e Pescador
ainda recorreram à Justiça para intervir na
realização da assembléia, mas tiveram
seu pedido negado. A nova direção da fundação
não tomou ainda nenhuma decisão com relação
ao contrato assinado entre Ilzamar e a JN Filmes.
Dez meses após o assassinato de Chico Mendes - 22
de dezembro de 1988 - ainda está sem data marcada
o julgamento do fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho
Darci, indiciados, respectivamente, como co-autor e autor
do crime. Após um mês de greve dos funcionários
do Poder Judiciário, o processo contra Darly e Darci
está parado.
(Rio Branco/AC)
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Mulher
de Chico Mendes recebe prêmio nos EUA (Estado)
A viúva do sindicalista
e ecologista Chico Mendes, vai receber o hoje à noite
mais alto prêmio especial da National Wildlife Federation,
a maior organização ambientalista dos Estados
Unidos. Ilzamar receberá o prêmio depois de
Ter recebido, em Xapuri, uma ameaça de morte por
telefone: : Tome cuidado que você vai levar um tiro",
disse-lhe um homem, segundo ela informou na própria
sede da National Wildlife Federation aos jornalistas.
A mulher de Chico Mendes informou ainda que as ameaças
aumentaram cada vez mais e ela não tem, nem quer,
proteção policial. "Meu marido morreu
quando estava sob a proteção de dois guarda-costas",
afirmou. O prêmio que Ilzamar vai receber em homenagem
ao marido assassinado em dezembro é uma estatueta
de um tipo de garça que está ameaçada
de extinção. Já receberam o prêmio
o primeiro-ministro da Noruega, Gro Harlem Brundtland, o
fotógrafo Ansel Adams, e o príncipe Phillip,
duque de Edimburgo. Na mesma cerimônia serão
entregues outros prêmios especiais à cadeia
de televisão ABC, revista Time e ao ministro dos
recursos naturais da Costa Rica, Álvaro Umana Quesada.
O prêmio de ambientalista do ano foi conferido a um
ecologista americano, Russel E. Train, um dos principais
arquitetos da política de meio-ambiente dos Estados
Unidos.
Ilzamar muito tímida vestida com uma camiseta em
que se lê Florida, disse que "Chico deveria estar
aqui, neste momento". Uma repórter americana
quis saber se ela continuaria o trabalho do marido. "O
plano é esse, não fosse por isso, não
estaria mais em Xapuri, afirmou.
A cidade, descrita por Ilzamar, está tomada por pistoleiros:
"Os trabalhadores continuam ameaçados, vivemos
num clima de muita tensão". A diretora dos programas
internacionais da National Wildlife Federation, Barbara
Bramble, explicou que está orgulhosa de que Chico
Mendes tenha sido escolhido para o prêmio especial.
"Ninguém merece mais esta honra do que ele",
disse.
Por Moisés Rabinovici(Washington/EUA)
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Chico
Mendes chega a Hollywood (Estado)
A versão cinematográfica
da história de Chico Mendes começa com uma
imagem do líder seringueiro ainda adolescente, com
14 anos, tentando aprender a ler e a escrever sozinho. A
última cena do filme também vai mostrar um
menino de 14, testemunhando a reunião em que foram
acertados os últimos detalhes do assassinato do seringueiro,
marcado para o dia 23 de dezembro de 1988. As filmagens
começam no início de agosto, no sul do Pará,
onde serão rodados os planos gerais (imagens da floresta
amazônica e das queimadas) de um projeto orçado
em US$ 20 milhões, que deverá ser dirigido
por Rolland Jofle, com comprovada experiência na selva
depois da realização de A Missão. A
direção de fotografia será assinada
por Chris Menges e a produção-executiva está
sob a responsabilidade de David Puttman, que também
fizeram parte da equipe do premiado A Missão.
Chico Mendes é uma co-produção da JN
Filmes com a Warner Brothers. Joffre Rodrigues, filho do
dramaturgo Nelson Rodrigues e um dos sócios da JN
Filmes, esclareceu que não vai incendiar uma única
árvore para realizar as seqüências das
queimadas.
As divergências tiveram início quando começaram
a aparecer os primeiros interessados em comprar os direitos
para transpor a vida de Chico Mendes para o cinema. Dos
15 interessados, saiu vitoriosa a JN Filmes associada ao
abastado produtor Peter Guber, cujo último projeto,
Batman, arrecadou nada menos que US$ 1 bilhão. Guber
desembolsou cerca de US$ 1 milhão para a compra dos
direitos, e Joffre Rodrigues procedeu da seguinte maneira:
US$ 720 mil para Ilzamar, a segunda mulher de Chico Mendes,
US$ 20 mil para Eunice, a primeira mulher, e US$ 20 mil
para Ângela, a filha do primeiro casamento. Eunice
e Ângela vão receber, durante 20 anos, pensão
mensal de dois salários mínimos. Ilzamar ficou
com US$ 216 e doou US$ 504 mil para a Fundação
Chico Mendes.
Muitos não concordaram com a atitude de Ilzamar.
Durante os protestos surgiu novamente a preferência
pela proposta de David Puttman, que havia perdido a disputa
para o consórcio Guber/JN Filmes.
Acontece que, no final de 1989, a Sony japonesa comprou
a Columbia Pictures e convidou Peter Guber para ser o presidente
da Companhia. Guber não aceitou, pois tinha a sua
própria produtora, a bem sucedida Guber and Peter's,
que estava tocando três projetos financiados pela
Warner Brothers. Batman II, Rain Man II e Chico Mendes.
Os japoneses então ofereceram US$ 200 milhões
pela produtora de Guber. Ele não só aceitou
como assumiu a presidência da Columbia Pictures.
A Warner entrou com ação contra Peter Guber
e a Columbia e exigiu US$ 1 bilhão de indenização.
Houve um acordo favorável à Warner, que trocou
os velhos estúdios em Los Angeles pelas modernas
instalações cinematográficas da Columbia
no bairro de Burbank, também em Los Angeles. A Columbia
também cedeu 50% das ações da indústria
fonográfica CBS e ainda presenteou a Warner com vários
projetos que já estavam em andamento, entre eles,
Batman II, Rain Main II e Chico Mendes. A Warner entrou
em contato com a JN Filmes e assegurou a participação
da produtora brasileira no projeto. Como estava precisando
de um produtor executivo de renome, convidou David Puttman,
que imediatamente aceitou, pois fazia tempo estava interessado
em transpor para o cinema a vida do líder seringueiro.
A Fundação Chico Mendes, até então
dividida entre Guber e Puttman, atravessa um momento de
perplexidade, pois os acordos internacionais se incumbiram
de dissolver as preferências e a acirrada disputa.
A fundação vai ter uma participação
de 10% na bilheteria do filme e de 50% nas vendas do argumento
(escrito por Márcio Souza), que será transformado
em livro. O roteiro está sendo desenvolvido por Mastersimon,
segundo Joffre Rodrigues, o mesmo de Acusados, que deu o
segundo Oscar à atriz Jodie Foster. A Warner ainda
vai desembolsar US$ 600 mil, que serão distribuídos
entre outras seis entidades ligadas ao movimento dos seringueiros.
Joffre Rodrigues preferiu não adiantar nenhum nome
para o elenco do filme, mas já se sabe de convites
a Robert De Niro e Dustin Hoffman para encarnar Chico Mendes.
O produtor esquivou-se das hipóteses. Afirmou apenas
que quatro ou cinco atores serão estrangeiros. O
resto do elenco será brasileiro. Joffre está
procurando atores e atrizes, com apar6encia cabocla, falando
inglês fluentemente. Chico Mendes será inteiramente
rodado em inglês. O produtor está guardando
a sete chaves o nome da atriz que deverá interpretar
Ilzamar. Não será Sônia Braga, com toda
a certeza. Joffre pensa na população de Xapuri
(com vinte mil habitantes) para compor o quadro de figurantes.
As imagens em plano médio e em plano fechado serão
rodadas no Rio em março de 1991.
Por Evaldo Morcazel(Rio
de Janeiro)
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Polarização
ideológica caracteriza o julgamento (Folha)
Com a condenação
de Darci Alves Pereira e eu pai, Darly Alves da Silva, a
19 anos de prisão, cada, terminam dois anos de expectativa
e investigação do assassinato de Chico Mendes.
Supõe-se que 44 horas de julgamento, 1.632 páginas
de processo, nove peritos e três testemunhos tenham
feito justiça. Em termos políticos, o drama
produziu efeitos antes de começar: instalou a questão
ambiental no mapa político do Brasil. A sentença
desagrava a consciência abalada pela impunidade de
1 mil assassinatos de líderes rurais na Amazônia,
entre 1985 e 1989, segundo a Anistia Internacional.
A conclusão, entretanto, não autoriza regozijo.
O juiz Adair Longuini, os sete jurados, três promotores,
novo advogados e nove peritos do processo atuaram sob o
foco permanente da atenção mundial. Mil e
quinhentos visitantes e 150 jornalistas levaram pessoalmente
a Xapuri a demanda de justiça. O julgamento, e toda
a história de Chico Mendes, deixam a pressão
estrangeira para se mexer. Por si só, sua capacidade
de conviver com a violência é elástica.
Darci, réu principal, confessou o crime e Darly foi
condenado como mandante. Outro indiciado, Jardeir Pereira,
empregado da fazenda de Darly, continua foragido. Não
foram encontradas provas que associassem o assassinato à
ação da União Democrática Ruralista
(UDR) do Acre, como postulava o Partido dos Trabalhadores.
No dia 22 de dezembro, às 18h45, reagindo contra
os seringueiros que impediam a família Alves de desmatar
posse adquirida no Seringal Cachoeira, e com Chico Mendes,
que mandara buscar no Paraná uma ordem de prisão
contra seu pai, Darci fuzilou o sindicalista quando saía
de casa rumo ao banheiro, nos fundos. O assassino esperou
20 minutos atrás de um coqueiro, a 8 m e 20 cm da
porta, e disparou um só tiro, com uma espingarda
de cartucho 20. Mendes recebeu 42 grãos de chumbo
no peito e 18 no braço. Dois soldados destacados
pela Polícia Militar para protegê-lo, que jogavam
dominó na sala, fugiram correndo.
Darci agiu sozinho, confirmou o júri. Quatro dias
depois, entregou-se à polícia. A Polícia
Federal foi ao Acre caçar os suspeitos do crime.
Darly entregou-se no dia 7 de janeiro, alegando inocência.
No dia 8, Francisca da Silva Oliveira, uma de suas quatro
mulheres que viviam juntas na fazenda Paraná, não
resistiu ao assédio policial e suicidou-se cortando
a jugular com uma faca de cozinha.
Por empenho do juiz Longuini, que acelerou a tramitação,
o tribunal de Xapuri condenou Darci e seu irmão Olocy
Alves da Silva, em junho, a 12 anos de prisão por
dispararem contra uma manifestação de seringueiros
no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal de
Rio Branco, em maio de 1988. A fama violenta da família
Alves da Silva induziu cinco pessoas a abandonar o júri
de Mendes, com medo de represálias. Darly e filhos
foram acusados de 15 assassinatos. Quatorze foram relatados
no processo.
Dois peritos legistas da Universidade de Campinas, Nelson
Massini e Fortunato Palhares, e o delegado de homicídios
da Secretaria de São Paulo, Eduardo de Melo Neto,
confirmaram a veracidade da confissão de Darci. A
acusação, integrada pelo promotor Eliseu de
Oliveira, pelos advogados Márcio Thomaz Bastos (presidente
do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 1987-89),
Sueli Bellato e Ricardo Gebrin (da Central Única
dos Trabalhadores), Wilmar Shrader (da Comissão Pastoral
da Terra e do Acre) e Michael Nolani (do escritório
do vice-prefeito de São Paulo, Luis Eduardo Greenhalgh)
pediu a condenação de Darci e Darly por homicídio
qualificado. Os advogados de acusação trabalham
de graça.
A peça decisiva da acusação foi o depoimento
do menino Genésio Ferreira da Silva, 15, que vivia
na fazenda Paraná. Para proteger-se, Genésio
fugiu para o Rio de Janeiro, adotado pelo jornalista Zuenir
Ventura, do "Jornal do Brasil". Disse que ouviu
Darly encomendar a morte de Mendes ao filho. Denunciou outros
crimes. Contou que o assassinato foi comemorado, no dia
seguinte, com um churrasco na fazenda Paraná.
A defesa tentou impugnar 16 dos 21 jurados escolhidos, acusando-os
de identificação com o Partido dos Trabalhadores.
Os advogados João Lucena Leal, Rubens Lopes Torres
e Armando Reigota anunciaram que negariam a confissão
de Darci, mas o réu a assumiu no julgamento. A partir
daí, a defesa concentrou-se em desacreditar o testemunho
de Genésio. Lucena gastou parte do seu discurso rebatendo
acusações de que teria sido torturador de
presos políticos durante o regime militar. Reigota
lamentou a polarização ideológica que
revestiu de "sentido sociológico" um processo
jurídico.
O drama maniqueísta que opõe direita à
esquerda, proprietários truculentos a sindicalistas,
forra o mito de Chico Mendes, em uma época farta
de desilusões ideológicas. O serigueiro é
o Guevara ecológico. A mística pode ser primária,
mas a trama da Amazônia é mais. A Revolução
Francesa parece ter chegado em Xapuri.
Por Ricardo Arnt(Rio Branco/AC)
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Assassinado
suspeito de matar Chico Mendes (Estado)
Foi encontrado, crivado
de balas e rodeados de velas, o corpo de José Cândido
de Araújo, na altura do quilômetro 20 da rodovia
317, que liga Brasiléia a Rio Branco. José
Araújo, conhecido por Zezão, no dia 29 de
dezembro foi preso pela Polícia Militar do Acre como
suspeito de participação do sindicalista e
ecologista Chico Mendes.
Os seringueiros e os trabalhadores rurais de Xapuri e Brasiléia
responsável por vários crimes na região.
O assassinato teria ocorrido às 18h30 de quinta-feira,
na estrada velha, que liga Xapuri a Brasiléia. O
delegado Reni Ildor Graebner, superintendente da Polícia
Federal, comunicou o crime ao delegado Nilson Oliveira,
que preside as investigações da morte de Chico
Mendes.
Reni Graebner afirmou ao delegado Nilson Oliveira suspeitar
que o crime tenha sido cometido por Francisco de Assis Alves
Mendes, soldado da Polícia Militar do Acre, irmão
de Chico Mendes. Mas o delegado da Secretaria de Segurança
não quis confirmar essa versão e viajou a
Brasiléia.
O major Jordão, comandante da Polícia Militar
em Xapuri, revelou que o soldado Francisco Mendes pediu
férias e teria ido para a região de Brasiléia.
Mas o vereador Raimundo Barros, do PT, também primo
de Chico Mendes, disse que o assassinato do pistoleiro foi
queima de arquivo. "É um absurdo acusar o Assis",
acrescentou ele. A PF no Acre se recusou a prestar qualquer
informação sobre o caso. Mesmo assim, foi
possível apurar que José Alves Mendes, outro
irmão de Chico Mendes, recebera de Zezão,
várias vezes ameaças de morte. Os dois eram
vizinhos.
A morte de Chico Mendes ocorrida às vésperas
do Natal, deflagrou uma autêntica caçada policial
no interior do Acre. Pressionado pelas críticas no
Brasil e no Exterior, o governo enviou para a região
de Xapuri um grande contingente policial. Até agora,
no entanto, a polícia não conseguiu prender
um dos suspeitos de ser o mandante do crime, o fazendeiro
Alvarino Alves da Silva.
(Rio Branco/AC)
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Juiz
anula julgamento do caso Chico Mendes
Por dois votos contra um,
a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
Acre anulou em 29.02.92, em Rio branco, o julgamento que
condenou o fazendeiro Darly Alves da Silva a 19 anos de
prisão por ter sido o mandante da morte do ecologista
e líder seringueiro Chico Mendes. Assim que for publicado
o acórdão com o resultado da votação
- o que pode levar até um mês - , o processo
será enviado para Xapuri, vilarejo distante 180 quilômetros
de Rio Branco, onde Chico Mendes foi morto com um tiro de
escopeta três dias antes do Natal de 1988. Lá,
um novo tribunal do júri deverá decidir ainda
este ano a sorte de Darly.
A anulação do julgamento foi, entretanto,
apenas parcial. Os três desembargadores da Câmara
Criminal mantiveram a pena de 19 anos de prisão para
Darci Alves da Silva, filho de Darly, que confessou ter
atirado em Chico Mendes e que cumpre outros 12 anos de cadeia
por outro assassinato. Os desembargadores foram mais condescendentes
com Darli. No entender dos dois que votaram pela anulação
do julgamento de Xapuri, os jurados tomaram uma decisão
"manifestamente contrária à prova dos
autos", único argumento que permite anular uma
decisão do tribunal do júri.
A apreciação do recurso havia começado
uma semana antes em sessão interrompida quando a
votação estava empatada em um a um. Votou
contra o recurso da defesa o desembargador José Gercino
da Silva Filho, relator do processo, mas o revisor, desembargador
Francisco das Chagas Praça, decidiu pela absolvição
de Darly, voto considerado absurdo pelos advogados de defesa.
No reinicio da votação, no plenário
do Tribunal Regional Eleitoral, o desembargador vogal, Eliezer
Mattos Scherrer, votou pela anulação do julgamento
de Darly e o juiz Praça reformou sua decisão,
votando junto com o companheiro. O relator manteve sua posição,
mas foi voto vencido.
O advogado Márcio Thomaz Bastos, assistente da acusação,
anunciou que estuda dois recursos para tentar anular a decisão
do Tribunal de Justiça do Acre. "Vamos entrar
com um recurso especial no Superior Tribunal de Justiça
e estudamos ainda um recurso extraordinário no Supremo
Tribunal Federal", disse.
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Caso
Chico Mendes poderá ser revisto (Estado)
O Tribunal de Justiça
do Acre manifestou-se favoravelmente ao pedido dos advogados
Rubens Lopes Torres e Armando Reigotta para que o juiz da
comarca de Xapuri, Adair José Longuini, admita o
apelo de anulação do julgamento que condenou
a 19 anos de prisão o fazendeiro Darly Alves Pereira,
acusados pelo assassinato do líder sindical e ecologista
Chico Mendes.
A decisão do TJ permite apenas o início formal
do recurso para a anulação do primeiro julgamento.
O apelo havia sido recusado por Longuini porque foi interposto
pela defesa por meio de telex.
A sessão foi acompanhada pela viúva do sindicalista,
Ilzamar Gadelha Mendes, trabalhadores rurais e militantes
do Comitê Chico Mendes. Entretanto, poucos se mostraram
contrariados com a decisão dos quatro desembargadores
que acompanharam o voto da relatora Eva Evangelista de Araújo
Souza. "O Código de Processo Penal Brasileiro
não prevê essa forma de recurso por meio dos
modernos aparelhos de comunicação porque foi
elaborado em 1941", argumentou a desembargadora.
Oito dias após a publicação do acórdão
pelo TJ, a defesa vai apresentar ao juiz de Xapuri as 18
alegações da apelação. Segundo
o advogado Torres, o julgamento de Darly e Darci foi realizado
sob forte pressão da imprensa e existiram falhas
durante a preparação. Uma das alegações
da defesa é a publicação pelo Estado
do perfil das 20 pessoas convocadas para o sorteio de composição
do corpo de jurados. "Eles anteciparam o voto",
disse Torres.
Darly e o filho foram comunicados pelo advogado sobre a
decisão do Tribunal. "Começaram a fazer
justiça", disse o fazendeiro. Eles estão
presos na penitenciária de Rio Branco e desfrutam
de razoável conforto. Em suas celas há televisão
e fogão.
(Rio Branco/AC)
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Darly
diz que deixa a prisão a cada 3 meses (Folha)
O fazendeiro Darly Alves
da Silva, 54, que cumpre pena de 19 anos de prisão
em Rio Branco (AC), disse que suas saídas da prisão
são freqüentes, e que a detenção
do sargento Francisco Cunha foi "perseguição".
O sargento foi condenado pelo comando da Polícia
Militar do Acre a 30 dias de prisão por ter liberado
Darly para passear na cidade. Darly Alves da Silva foi condenado
por um júri popular no final do ano passado, em Xapuri
(AC), como mandante da morte do sindicalista Chico Mendes,
em 22 de dezembro de 1988.
Darly disse também que vê sua mulher todos
os domingos e que mantém relações sexuais
com ela. O secretário de Segurança Pública
do Acre, José Elias Chaul, 63, afirmou que os presos
podem sair da prisão para serem hospitalizados, mas
devem estar algemados e com escolta. "O sargento Cunha
alterou estas recomendações, e levou Darly
a lugares não autorizados, inclusive a um restaurante",
disse o secretário.
Darly deu uma entrevista exclusiva à Folha, por telefone.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Folha- Você saiu
da penitenciária na última semana?
Darly Alves da Silva - Eu saio normalmente daqui,
de três em três meses, e nunca disseram nada.
É que eles não gostam do sargento, e aproveitaram
para prejudicá-lo. Eu sou um preso simples igual
a qualquer outro, e tenho os mesmos direitos. Fui ao doutor
dentista e extraí um dente.
Folha - Consta que você
foi a outros lugares, como ao banco à casa de sua
mulher, Margareth.
Darly - Eu não fui visitar mulher. Fui ao
banco pegar um talão de cheques. Pedi para o sargento,
e dois policiais desceram com metralhadoras.
Folha - Você deu
dinheiro para o policial?
Darly - Ele não pediu dinheiro, coitado. Ele
se comportou direito. Eu fui na rua normalmente, não
bebi nada, não houve irregularidade.
Folha - Sua mulher Margareth
tem feito visitas a você? Vocês mantêm
relações sexuais?
Darly - Ela me visita todo Domingo. Tenho relações
sim, isso é preciso. Tenho que ter um apoio pessoal.
Folha - Você sustenta
sua inocência?
Darly- Eu não mandei matar ninguém.
Os caras pregaram um monte de mentiras. Eu amo o próximo
a si mesmo (sic).
Por Sérgio Oksman
(Rio Branco/AC)
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Cobiça
devasta legado de Chico Mendes (Estado)
Cinco anos após o
assassinato de Chico Mendes, o movimento criado pelo líder
seringueiro para impedir que a floresta continuasse a ser
devastada entrou em completo declínio. Seus integrantes
se acusam mutuamente de furto e apropriação
indébita, e as eleições para o Sindicato
dos Trabalhadores Rurais em Xapuri, marcadas para janeiro,
já prenunciam um grande racha, com duas chapas antagônicas
e irreconciliáveis.
Os dólares que entidades estrangeiras despejaram
no movimento de trabalhadores da cidade - dinheiro, que
por algum tempo serviu para que se alimentasse a idéia
de que o ideal de Chico Mendes seria mantido e subvencionado
- tiveram efeito desagregador. Ilzamar Gadelha Mendes, a
viúva do líder seringueiro, acusa herdeiros
políticos do marido, como Raimundo Barros, Osmar
Facundo e Gumercindo Rodrigues, de terem sucumbido à
cobiça do dinheiro. Os acusados rebatem com os mesmos
argumentos. Gumercindo afirma que Ilzamar "é
leviana, assistencialista, contrária ao ideal de
Chico Mendes".
A viúva conta com a solidariedade de José
Alves Mendes neto, o Zuza, irmão do líder
seringueiro, contra o primo Raimundo Barros, que ficou do
outro lado. Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Xapuri, Zuza se afastou da entidade. Ele acusa
os dirigentes de só aceitarem a participação
de sindicalistas do PT. Como Ilzamar, Zuza está filiado
ao PMDB e vai se candidatar presidente do sindicato. Já
em campanha, ambos estão percorrendo os seringais
e se dizem confiantes na vitória.
APROVEITADORES...
A situação é tão grave tanto
nas conversas com os dois lados quanto no exame das ações
que correm na Justiça, a impressão que fica
é de que, morto Chico Mendes, restaram em Xapuri
aproveitadores e oportunistas. Raimundo Barros, por
exemplo, recorreu à Justiça e conseguiu seqüestrar
todos os bens - um caminhão, um jipe Niva e dois
barcos - se encontram indisponíveis, recolhidos ao
quartel da Polícia Militar. A acusação
é de malversação do dinheiro da fundação
e falta de prestação de contas.
Também foram apreendidos centenas de objetos menores
que estavam dentro da sede do sindicato, como geladeiras,
cadeiras, canetas, papéis mimeógrafos, mesas,
material de escritório, televisão, videocassete
e outros.
Ainda por ordem do juiz, e a pedido de Raimundo Barros,
Longhini bloqueou as contas da Fundação Chico
Mendes nos Bancos do Brasil e da Amazônia, num total
de CR$ 175 milhões, em maio, correspondentes a US$
4,2 mil.
Em resposta, Ilzamar está movendo ação
contra Raimundo Barros, Gumercindo Rodrigues e Osmar Facundo
por furto e apropriação indébita. "Eles
invadiram a sede da fundação e subtraíram
de lá pelo menos 40 colchões, um fax, várias
resmas de papéis e inúmeros objetos",
acusa a viúva. Gumercindo deu o troco. Entrou na
Justiça contra Ilzamar e outros dois herdeiros do
movimento Chico Mendes - o ex-padre Gilson Pescador e o
ex-vereador Júlio Nicácio, atual marido da
viúva, por calúnia, injúria e difamação.
FILME...
As acusações não terminam por aí.
Os sindicalistas afirmam que Ilzamar se enriqueceu com dinheiro
da Fundação Chico Mendes, construiu uma mansão,
comprou caminhonete, antena parabólica e linha telefônica.
A viúva contra-ataca. Segunda ela, Gumercindo, que
é agrônomo e assessora o sindicato desde os
tempos de Chico Mendes, viajou para a Itália e os
Estados Unidos dizendo-se presidente da fundação,
arrecadou milhares de dólares e nunca prestou contas.
"Quem não presta contas é a Ilzamar,
por isso pedimos intervenção na fundação",
rebate Gumercindo.
A viúva contesta o sindicalista. Segundo ela, o dinheiro
que aplicou foi o que arrecadou com a venda dos direitos
autorais para a realização do filme sobre
a vida do marido: US$ 700 mil. Os sindicalistas queriam
que Ilzamar repassasse esse dinheiro para o movimento dos
trabalhadores, mas ela preferiu aplicar parte na construção
da sede da Fundação Chico Mendes e de um auditório
nos fundos. Outra parte do dinheiro foi entregue a Ângela,
filha ilegítima de Chico Mendes, que move ação
na Justiça para reconhecimento de paternidade.
LUTA JUDICIAL EXPÕE
JOGO DE INTRIGAS...
O juiz Adair Longhini, que no final de 1990 condenou
Darly Alves da Silva e o filho Darci a 19 anos de prisão
pelo assassinato de Chico Mendes, não se livrou da
questão que envolvia o líder seringueiro ao
proferir a sentença. Agora, examina ações
e ,aos ações, cíveis e criminais, de
sindicalistas e parentes do líder seringueiro, reveladoras
de furto e apropriação indébita - uma
briga de bastidores que pode devastar o movimento iniciado
por Chico Mendes.
A ação que levou a viúva do líder
seringueiro a contra-atacar movendo um processo por apropriação
indébita contra seus autores. Com a iniciativa provocou
nova reação de seus acusadores - ao acusar
Gumercindo Rodrigues de furto, Ilzamar Mendes foi transformada
em ré em outro processo. Gumercindo agora exige reparação
em dinheiro por danos morais, numa ação por
calúnia, injúria e difamação
que atinge ainda o ex-padre Gilson Pescador e o ex-vereador
Júlio Nicácio, atual marido de Ilzamar.
Dos processos que correm no Fórum de Xapuri envolvendo
questões relacionadas com Chico Mendes, só
um foi declarado extinto pelo juiz Longhini, o de prestação
de contas da Fundação Chico Mendes em 1990.
Após anos de exame, o juiz concluiu que as contas
de 1990 estavam corretas.
Por João Domingos
(Xapuri/AC)
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De volta,
Ilzamar Mendes prega a reconciliação (Estado)
Viúva de Chico Mendes,
casada com ex-vereador, diz que não quer mais saber
de polêmica. Palavra-chave que Ilzamar Mendes repetia
ao preparar-se para voltar a Xapuri, após dois anos
de ausência e de uma vitória judicial liberando
os bens seqüestrados da Fundação Chico
Mendes há quatro anos: "reconciliação."
Ela explicou: "Não quero mais polêmicas,
nem estou voltando para competir, mas para dar minha parcela
de contribuição."
Em Xapuri, na Rua Dr. Batistas de Moraes, 487, na casa de
madeira azul e janelas rosas em que Chico Mendes foi assassinado,
o amigo Prego, o ex-seringueiro, Raimundo Lopes Filho, de
59 anos, está esperando Ilzamar como se ela trouxesse
a redenção. "O movimento acusou a viúva
de fazer um trabalho de assistencialismo, que era o que
queria de verdade o marido e o que agora tornou-se necessário."
Hoje casada com o ex-vereador Júlio Nicácio,
com quem teve um terceiro filho, Ilzamar não vai
voltar para a casa do assassinato, fechada por três
anos. Ela a reformou, mantendo-a exatamente igual, para
transformá-la num museu. "Dentro tem uma vitrine
com roupa, sapato e prêmios do defunto Mendes",
conta Prego.
Com a vitória judicial, num processo que expôs
uma rede de intrigas em que se consumiram os herdeiros políticos
e econômicos de Chico Mendes, Ilzamar vai reempossar-se
da sede da fundação que mandou construir diante
da casa em que moravam, de US$ 4,2 mil bloqueados no Banco
do Brasil e da Amazônia, e de um caminhão,
um jipe Niva e dois barcos recolhidos ao quartel da Polícia
Militar.
"Vou realmente fazer assistencialismo com os bens retomados",
anunciou Ilzamar. "Pois não é disso que
precisam os seringueiros cada vez mais miseráveis?",
pergunta. "Era o que Chico queria e fazia." Ao
rival Júlio Barbosa, atual prefeito de Xapuri, ela
deseja "muita sorte", esperando que "ele
faça com a cidade o que não fez com a Fundação
Chico Mendes". Não se fala mais dos "rios
de dinheiro" que desaguavam de organizações
internacionais em defesa da floresta e dos seringueiros.
A viúva garante que só tem "cara e coragem".
Ela enviou um projeto para o movimento americano Confiança
da Terra, pedindo ajuda. Está propondo dar aos seringueiros
dois tratores que preparariam a terra para o plantio de
arroz, feijão e macaxeira.
O marido Júlio Nicácio também tem planos:
"Vamos criar infra-estrutura de turismo em Xapuri".
Ele acha que "o extrativismo não tem mais mercado".
E argumenta: no tempo em que esteve fora com Ilzamar, "R$
12 milhões foram investidos e perdidos com os seringueiros".
Prego lembra-se de ter visto sindicalistas "de pastinhas
na mão, como se fossem os patrões". E
diz: "Mas nós não somos empresários."
Oito anos depois do assassinato de Chico Mendes, Xapuri
está entrando num processo de reconciliação
para preservar o seringueiro, a melhor garantia de que a
floresta permanecerá em pé.
Por Moisés Rabinovici (Rio Branco/AC)
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Disputa
matou Chico Mendes (Folha)
Principal incentivador da
extração de borracha no Acre, Francisco Alves
Mendes Filho, o Chico Mendes (morto em 1988), foi presidente
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.
O líder dos trabalhadores defendeu a tese que as
reservas extrativistas de látex deveriam ser definidas
como áreas de propriedade da união, além
do desenvolvimento de pesquisas sobre o potencial da floresta
amazônica.
Mendes, que pregava o desenvolvimento sustentável
da floresta amazônica, criou um projeto extrativista
com o Bird (Banco Mundial).
Ele era interlocutor brasileiro com essa instituição
financeira e com o Senado norte-americano. Ambos o consultavam
sobre investimentos na região.
Suas atividades em defesa da Amazônia produziram resistências
e confrontos com lideranças rurais e políticas
da região.
Ele chegou a ser candidato a deputado estadual pelo PT acreano,
mas foi derrotado.
Em 22 de dezembro de 1988, foi morto a tiros em Xapuri (180
km de Rio Branco), aos 44 anos.
O assassinato do líder dos seringueiros do Acre teve
repercussão internacional.
Os acusados do assassinato, os fazendeiros Darly e Darci
Alves, foram julgados em 12 de dezembro de 1990.
Os jurados concluíram que Darci matou Chico Mendes
a mando de seu pai, Darly.
Os dois fazendeiros foram condenados a 19 anos de prisão,
em 1991.
Por sua contribuição à proteção
dos recursos naturais e do ambiente no Acre, foi outorgado
postumamente a Chico Mendes, em 1990, o Prêmio Internacional
Nações Unidas/Sasakawa do Meio Ambiente.
Uma da maiores reservas extrativistas do Acre leva hoje
o seu nome.
Por Andréa de Lima
e Eduardo Scolese (Rio Branco/AC)
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Assassinos
de Chico Mendes podem estar no Acre (Estado)
Seringueiros afirmam que
os dois fugitivos visitam a família pelo menos duas
vezes por mês e que há cerca de 90 dias policiais
foram alertados, mas não foi montado nenhum esquema
de captura.
O fazendeiro Darly Alves da Silva, mandante do crime contra
Chico Mendes, e seu filho Darci Alves Pereira, autor do
tiro que matou o líder seringueiro e ecologista,
podem estar no Acre. Seringueiros afirmaram que viram os
dois na Fazenda Paraná, de propriedade da família,
durante a Semana Santa. Segundo o seringueiro José
Carlos Braga, de 54 anos, eles visitam parentes na fazenda
pelo menos duas vezes por mês desde que fugiram da
Penitenciária Estadual do Acre, em fevereiro. Detalhe:
dois policiais foram avisados há três meses,
mas até agora não foi montado esquema de policiamento.
O seringueiro afirmou que a família Alves articulou
um esquema especial para facilitar as visitas dos fugitivos.
"Eles costumam chegar à noite, passam o dia
dentro da casa, esperam anoitecer e seguem de caminhonete
para o local ainda desconhecido pela polícia",
disse Braga. Ele já presenciou por quatro vezes a
chegada dos dois à fazenda. "A caminhonete é
seguida por dois carros menores e um deles dá um
sinal com farol para avisar que a entrada está livre",
contou. Outro seringueiro, Manoel Dantas Sobrinho, 34 anos,
trabalha nas imediações da fazenda e sabe
quando os dois estão para chegar por causa da movimentação
na casa. "A família fica agitada, pois precisa
checar se o caminho está livre."
Os seringueiros não oficializaram a denúncia,
mas afirmaram ter alertado em setembro dois policiais civis
de que os fugitivos rondavam a região. "Esses
policiais nunca mais apareceram por aqui e não prendem
os dois porque não querem", disse Sobrinho.
O diretor da Polícia Civil no Acre, Eremildom Luiz
de Souza, afirmou que não recebeu nenhum comunicado
oficial sobre a denúncia dos seringueiros. "Isso
não passa de boato, uma armação política",
afirmou. "Pessoas ligadas a partidos políticos
querem desmoralizar o trabalho da Polícia Civil,
que está empenhada em encontrá-los".
Ao ser perguntado sobre o número de policiais escalados
para a operação de busca no Estado, Souza
preferiu o discurso genérico. "Não tenho
números, mas toda a polícia está empenhada,
principalmente na fronteira com a Bolívia",
disse.
O advogado dos fazendeiros, Rubens Lopes Torres, disse que
perdeu o contato com seus clientes desde fevereiro de 1993.
A viúva de Chico Mendes, Ilzamar Mendes, afirmou
ao Estado que está sendo ameaçada pela família
de Darly. "Estou com medo porque o espírito
de matador do Darly é muito forte."
Por Marco Uchôa
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Descrença
marca visita de Ministro da Justiça, ao Acre (Estado)
O ministro da Justiça,
Maurício Corrêa, chega ao Acre em meio a um
clima de ceticismo sobre as possibilidades de recaptura
do fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves
Pereira, responsáveis pelo assassinato do seringueiro
Chico Mendes. As operações de busca de Darly
e Darci, que fugiram da penitenciária em Rio Branco,
estão concentradas na sede da superintendência
da Polícia Federal. O superintendente Luis Gonzaga
Netto não dá entrevistas, mas entre os policiais
aumenta a convicção de que os dois criminosos
dificilmente serão recapturados.
O Coronel Jair Tomás, comandante da Polícia
Militar do Acre, disse que a visita do ministro Maurício
Corrêa vai servir para que o governo federal conheça
in loco a precariedade operacional das polícias locais.
"Quem vive nos gabinetes em Brasília não
consegue ter a dimensão de um projeto enviado por
um Estado como o Acre." Tomás disse ainda que
a visita do ministro não terá nenhum significado
se não resultar em verbas e mais apoio logístico
para que se possa recapturar os assassinos.
SEM ESPERANÇA...
O bispo d. Moacir Grechi, da Diocese de Rio Branco,
disse que também não tem mais esperança
de que Darly e Darci sejam recapturados. Ele lembrou que
os dois só foram presos porque se renderam dias após
a morte de Chico Mendes. "Alvarino, irmão de
Darly e o outro mandante do crime, preferiu permanecer como
foragido da Justiça e até hoje não
foi localizado", afirmou. "Darly só será
preso caso decida se render à polícia outra
vez."
O secretário de Segurança, José Chaul,
negou que fosse aproveitar a visita do ministro da Justiça
para discutir o estabelecimento de uma recompensa no valor
de CR$ 200 milhões para quem fornecer pistas sobre
Darly e Darci. "O Acre é longe, mas não
é o oeste norte-americano", disse o secretário.
"A legislação brasileira não permite
o pagamento de recompensa pela cabeça de ninguém
e quem fizer esse tipo de sugestão está sujeito
a processo e pena de prisão."
SELVA LIVRE...
O governo anunciou em Brasília o início
da Operação Selva Livre 2, que vai retirar
mais de 10 mil garimpeiros da reserva indígena ianomâmi,
em Roraima. O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Sydney Possuelo, viajou para a
área feita por 250 funcionários do órgão,
50 agentes da Polícia Federal, soldados do Exército
e pilotos da Aeronáutica.
Os ministros da Justiça e do Exército, Zenildo
Zoroastro de Lucena, viajaram para Roraima. Eles acompanharão
a operação do Batalhão de Surucucu,
a 20 quilômetros da fronteira com a Venezuela.
O Ministério da Justiça liberou CR$ 29 bilhões
de seu orçamento para custear as despesas dos trabalhos
de retirada dos garimpeiros, que deverão durar até
120 dias. O ministro disse que o governo tem o esquema necessário
para impedir a volta dos garimpeiros à região.
Por Altino Machado (Rio Branco/AC)
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Assassino
de Chico Mendes é preso no PA (Folha)
A Polícia Federal
prendeu às 6h30 de 30/06/1996 o fazendeiro Darly
Alves da Silva, condenado a 19 anos de prisão pela
morte do líder seringueiro Chico Mendes.
Darly Silva estava foragido desde o dia 19 de fevereiro
de 1993 e foi localizado numa fazenda no município
de Medicilândia, a cerca de 90 km de Altamira, no
Pará.
O fazendeiro estava sozinho. O filho Darci Alves Pereira
- também condenado pelo mesmo crime - , morava com
ele, mas não foi preso. Segundo informações
iniciais da PF, ele teria viajado.
1.227 DIAS...
A prisão, 1.227 dias depois da fuga, foi feita
por sete policiais do COT (Comando de Operações
Táticas) da PF de Brasília. O COT, uma espécie
de polícia de elite treinada para ações
especiais, chegou à região na sexta-feira
à noite.
Há cerca de 50 dias, a PF recebeu informações
de que Darly e o filho estavam instalados em Medicilândia.
Viviam em uma pequena fazenda, onde criavam gado e faziam
pequenas plantações.
Os dois levavam uma vida praticamente normal. Darly tinha
até conta bancária. Recebia correspondências
e usava o posto telefônico da cidade.
Desde que obteve a pista, a PF enviou dois agentes do seu
núcleo de inteligência.
Eles rastrearam a conta e os telefonemas até contatar
que eram mesmo Darly e Darci. A operação da
prisão foi definida na noite de Sábado. Os
agentes do COT aguardavam durante todo o dia que Darci retornasse
à casa do pai, o que não ocorreu.
Para evitar riscos de novas fugas - já que presença
do COT chamou a atenção do município
-, os policiais decidiram pela prisão apenas do pai.
A idéia era aguardar mais dois ou três dias
na fazenda para prender o filho.
A proposta foi abandonada por causa do vazamento da notícia
da prisão de Darly. Segundo a assessoria de imprensa
do Ministério da Justiça, um funcionário
da fazenda ligou para uma retransmissora da Rede Globo em
Altamira e contou a história.
A notícia chegou à Rede Globo no Rio, que
fez contato com a Superintendência Regional da PF
em Belém. Com a confirmação, a prisão
foi anunciada pela TV.
Darly desceu do avião em Brasília às
21h58. Ele usava boné e andava de cabeça baixa.
Chelotti disse que, em princípio, Darly fica em Brasília
durante cinco dias. Nesse Período, vai ser decidido
para onde o fazendeiro será levado. O prazo fixado
por juízes de plantão no Acre e no Pará.
Chelotti quer que Darly cumpra o restante de sua pena no
presídio da Papuda, em Brasília, onde o risco
de nova fuga é menor que no Acre.
Enquanto estiver em Brasília, Darly será interrogado
pela Polícia Federal, que quer saber, principalmente,
quem o ajudou a fugir e a permanecer incógnito por
três anos.
OPERAÇÃO
CONJUNTA...
A prisão foi feita em uma operação
conjunta das superintendências da Polícia Federal
do Acre, Pará, Pernambuco e Brasília.
Os agentes da PF que participaram da operação
ficaram hospedados no hotel Lisboa, em Altamira.
De acordo com o dono do hotel, Josino Martins Lisboa, três
agentes estavam hospedados no hotel desde quarta-feira.
"Outros 14 agentes chegaram na sexta-feira. Não
sabia que eram policiais. Só soube quando chegaram
com o homem algemado".
Segundo ele, os agentes da PF chegaram com Darly Alves algemado,
por volta das 16 horas de 30 de junho de 1996. "Ficaram
meia hora e foram para o aeroporto", afirmou. Lisboa
disse que 14 dos 17 agentes da PF deixaram a cidade. "Os
outros três devem ficar, porque ainda não pagaram
as contas".
Por William França
(Brasília/DF)
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Darly
era assentado do Incra no Pará (Folha)
O mandante do assassinato
de Chico Mendes, Darly Alves da Silva, foi preso usando
um nome falso e assentado em uma área de 300 hectares
doada pelo Incra.
Segundo o delegado Daniel Sampaio, do comando de operações
táticas da Polícia Federal, Silva estava assentado
em Medicilândia desde 94. Na terra doada pelo governo,
ele criava gado e plantava cacau com seu filho Darci, as
respectivas mulheres e sete filhos.
Darly usava o nome falso de Francisco Matias de Araújo,
e Darci, de Daniel Darzila de Oliveira.
Segundo o delegado Sampaio, a propriedade fica a 40 km da
sede do município de Medicilândia. O acesso
ao local é difícil, e a viagem de carro leva
duas horas e meia.
Sampaio falou com a imprensa durante a escala para reabastecimento
que o avião bimotor fretado pela Polícia Federal
fez em Marabá (PA). O avião pousou às
18h20 e seguiu viagem para Brasília às 18h45.
Darly deve ficar preso na Polícia Federal de Brasília.
O filho de Darly, Darci Alves da Silva, não foi preso
porque noa estava na propriedade no momento da operação
da PF. A polícia informou que Darci havia saído
para vender cacau e comprar mantimentos. O delegado Sampaio
disse que a polícia continua procurando Darci na
região de Medicilândia.
A operação para localizar os mandantes do
assassinato de Chico Mendes envolveu 28 agentes da Polícia
Federal dos Estados do Pará, Acre e Distrito Federal.
"Já temos a rota completa de Darly desde a sua
fuga, em 1993. Não posso divulgá-la porque
isso atrapalharia as buscas a Darci.
"Darly não quis dar entrevista. Além
disso, o delegado informou que o preso estava proibido de
falar por ordem do diretor geral da Polícia Federal,
Vicente Chelotti.
A operação de captura começou durante
a madrugada. Os agentes da PF chegaram à propriedade
de Darly e cercaram a casa.
Não houve resistência, e ele se entregou. O
delegado disse não saber como os fugitivos conseguiram
a documentação falsa nem como conseguiram
ser assentados em terras da União.
A Agência Folha não localizou a direção
do Incra para saber detalhes do assentamento de dois fugitivos
com documentos falsos.
FILHO CUIDA DA
FAZENDA...
Os
negócios de Darly Alves da Silva, 69, são
administrados normalmente desde sua prisão
e da sua fuga em fevereiro de 1993 da Penitenciária
de Rio Branco (AC).
Segundo o irmão Alvarino Alves da Silva, 62,
Darly ordenou que seu filho Darlizinho "cuidasse
de tudo" e da administração da
fazenda. Darly é dono da fazenda Paraná,
com 3.000 hectares, em Xapuri, com 2.000 cabeças
de gado.
O advogado de Darly, Rubens Lopes Torres, também
tem autorização de cuidar dos negócios
de Darly. Disse que após a fuga, Darly fez
vários telefonemas para seu escritório,
falou que estava bem, mas não disse onde se
encontrava.
|
Por Estanislau Maria (Marabá/PA)
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O homem
da floresta (Conselho Nacional dos Seringueiros www.cnsnet.org.br)
Francisco Alves
Mendes Filho, seringueiro desde criança, dedicou
praticamente toda a sua vida à defesa dos trabalhadores
e povos da floresta. Participou da fundação
dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia
e Xapuri, além da fundação do
Partido dos Trabalhadores do Acre e do Conselho Nacional
dos Seringueiros.
Reuniu em sua luta o trabalho sindical, a defesa da
floresta e a militância partidária, onde
teve o seu trabalho reconhecido internacionalmente,
sendo várias vezes premiado, inclusive pela
ONU, que o distinguiu como um dos mais importantes
defensores da natureza no ano de 1987. Através
de sua luta pela implantação das reservas
extrativistas, Chico combinava a defesa da floresta
com a reforma agrária reivindicada pelos seringueiros,
contrariando grandes interesses, principalmente os
dos latifundiários e da UDR.
Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, tinha
completado 44 anos no dia 15 de dezembro de 1988,
uma semana antes de ter sido assassinado. Acreano,
nascido no seringal Porto Rico, em Xapuri, se tornou
seringueiro ainda criança, acompanhando seu
pai. Sua vida de líder sindical inicia com
a fundação do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Brasiléia, em 1975, quando é
escolhido para ser secretário geral. Em 1976,
participa ativamente das lutas dos seringueiros para
impedir desmatamentos através dos "empates".
Organiza também várias ações
em defesa da posse da terra.
Em 1977, participa da fundação do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, além de
ter sido eleito vereador pelo MDB à Câmara
Municipal local. Neste mesmo ano, Chico Mendes sofre
as primeiras ameaças de morte por parte dos
fazendeiros, ao mesmo tempo que começa a enfrentar
vários problemas sem seu próprio partido,
o MDB, que não era solidário às
suas lutas.
Em 1979, Chico Mendes transforma a Câmara Municipal
num grande foro de debates entre lideranças
sindicais, populares e religiosas, sendo por isso
acusado de subversão e submetido a duros interrogatórios.
Em dezembro do mesmo ano Chico é torturado
secretamente. Sem ter apoio, não tem condições
de denunciar o fato.
Com o surgimento do Partido dos Trabalhadores, Chico
transforma-se num de seus fundadores e dirigentes
no Acre, participando de comícios na região
juntamente com Lula. Ainda em 1980, Chico Mendes é
enquadrado na Lei de Segurança Nacional, a
pedido dos fazendeiros da região que procuravam
envolvê-lo no "justiçamento",
promovido por quarenta posseiros, de um fazendeiro
que poderia estar envolvido no assassinato de Wilson
Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores
de Brasiléia.
No ano seguinte, Chico Mendes assume a direção
do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até
o momento de sua morte. Nesse mesmo ano, Chico é
acusado de incitar posseiros à violência.
Sendo julgado no Tribunal Militar de Manaus, consegue
livrar-se da prisão preventiva.
Nas eleições de novembro de 1982, Chico
Mendes candidata-se a deputado estadual pelo PT não
conseguindo eleger-se. Dois anos mais tarde é
levado novamente a julgamento, sendo absolvido por
falta de provas.
Em outubro de 1985, lidera o 1º Encontro Nacional
dos Seringueiros, quando é criado o Conselho
Nacional dos Seringueiros (CNS), do qual tornasse
a principal referência. A partir de então,
a luta dos seringueiros, sob a liderança de
Chico Mendes, começa a ganhar repercussão
nacional e internacional, principalmente com o surgimento
da proposta de "União dos Povos da Floresta",
que busca unir os interesses de índios e seringueiros
em defesa da floresta amazônica propondo ainda
a criação de reservas extrativistas
que preservam as áreas indígenas, a
própria floresta, ao mesmo tempo em que garantem
a reforma agrária desejada pelos seringueiros.
A partir do 2º Encontro Nacional dos Seringueiros,
marcado para março de 1989, Chico deveria assumir
a presidência do CNS.
Em 1987, Chico Mendes recebe a visita de alguns membros
da ONU, em Xapuri, onde puderam ver de perto a devastação
da floresta e a expulsão dos seringueiros causadas
por projetos financiados por bancos internacionais.
Dois meses depois, Chico Mendes levava estas denúncias
ao Senado norte-americano e à reunião
de um banco financiador, o BID. Trinta dias depois,'
os financiamentos aos projetos devastadores são
suspensos e Chico é acusado por fazendeiros
e políticos de prejudicar o "progresso"
do Estado do Acre. Meses depois, Chico Mendes começa
a receber vários prêmios e reconhecimentos,
nacionais e internacionais, como uma das pessoas que
mais se destacaram naquele ano em defesa da ecologia,
como por exemplo o prêmio "Global 500",
oferecido pela própria ONU.
Durante o ano de 1988, Chico Mendes, cada vez mais
ameaçado e perseguido, principalmente por ações
organizadas após a instalação
da UDR no Acre, continua sua luta percorrendo várias
regiões do Brasil, participando de seminários,
palestras e congressos, com o objetivo de denunciar
a ação predatória contra a floresta
e as ações violentas dos fazendeiros
da região contra os trabalhadores de Xapuri.
Por outro lado, Chico participa da realização
de um grande sonho: a implantação das
primeiras reservas extrativistas criadas no Estado
do Acre, além de conseguir a desapropriação
do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, em
Xapuri. |
A partir dai, agravam-se as ameaças de morte,
como o próprio Chico chegou a denunciar várias
vezes, ao mesmo tempo em que deixava claro para as
autoridades policiais e governamentais que corria
risco de vida e que necessitava de garantias, chegando
inclusive a apontar os nomes de seus prováveis
assassinos.
No 3º Congresso Nacional da CUT, Chico Mendes
volta a denunciar esta situação, juntamente
com a de vários outros trabalhadores rurais
de todas a partes do país.
|
A
situação é a mesma, a violência
criminosa tem a mão da UDR de norte a sul do
Brasil. No mesmo Concut, Chico Mendes defende a tese
apresentada pelo Sindicato de Xapuri, "Em Defesa
dos Povos da Floresta", aprovada por aclamação
por cerca de 6 mil delegados presentes. Ao final do
Congresso, ele é eleito suplente da direção
nacional da CUT.
Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes é assassinado
na porta de sua casa. Chico era casado com llzamar
Mendes e deixa dois filhos, Sandino, de 2 , e Elenira,
4 anos. |
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O Memorial
Chico Mendes (Conselho Nacional dos Seringueiros www.cnsnet.org.br)
A Embaixada dos povos da
floresta é uma organização civil sem
fins lucrativos, com atuação em todo território
nacional, originária das idéias de Chico Mendes
pela preservação das florestas, biomas e ecossistemas
brasileiros e das comunidades que nelas vivem e trabalham.
Seu objetivo maior é colocar em prática ações
de melhoria da qualidade de vida das comunidades de base,
apoiando a implantação de projetos e serviços
de defesa do meio ambiente, habitação, saúde,
educação, e de valorização de
manifestações culturais e artesanato. Contribui,
ainda, para a educação ambiental da sociedade,
desenvolvendo atividades práticas e demonstrativas,
objetivando a inclusão de conteúdos sobre
meio ambiente e práticas agrícolas no curriculum
das escolas urbanas e rurais.
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O
que encontrar no Memorial Chico Mendes (Conselho Nacional
dos Seringueiros www.cnsnet.org.br)
O
Memorial Chico Mendes tem sua sede em Brasília/DF
e está aberto ao público em geral, para
consultas e pesquisas.
O acervo do Memorial possui relatórios, estudos,
livros, revistas ambientais e outras publicações,
biblioteca interativa, fotos, CD-ROM, etc. sua infra-estrutura
permite a realização de palestras e
treinamentos, feitos por técnicos em Educação
Ambiental. |
O Memorial abriga o Centro Demonstrativo de Produtos
Agroextrativistas, cujo objetivo é a divulgação
e a inserção dos produtos da floresta
em novos mercados, viabilizando assim a permanência
dos povos tradicionais na floresta.
No Centro Demonstrativo, além dos coeficientes
técnicos, podem ser encontrados e degustados
produtos extrativistas da região amazônica
(castanha-do-Pará, polpas de frutas diversas,
etc), além de artesanato típico, disponíveis
para venda.
|
O Memorial promove
eventos de música, dança e artes plásticas,
valorizando a cultura dos trabalhadores agroextrativistas.
Visando manter viva a cultura dos povos da floresta
e aproximá-la da população urbana,
o Memorial construiu a Casa dos Seringueiros, no Parque
da Cidade de Brasília, Distrito Federal.
Esta demonstração da arquitetura simples
e funcional desses habitantes das florestas estará
completa com a futura construção da
Casa de Farinha, do Defumador e da Casa de Óleo
de Coco-babaçu. |
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Objetivos
do Memorial Chico Mendes (Conselho Nacional dos Seringueiros
www.cnsnet.org.br)
· Valorizar e difundir
as iniciativas em defesa do meio ambiente;
· Pôr em prática ações
de melhoria da qualidade de vida das comunidades de base;
· Apoiar projetos de desenvolvimento das manifestações
culturais;
· Contribuir para educação ambiental
da sociedade;
· Promover atividades voltadas à proteção
das florestas;
· Divulgar, nível nacional e internacional,
a luta e os objetivos das comunidades tradicionais e as
idéias do Chico Mendes;
· Realizar, patrocinar e promover eventos (cursos,
seminários, encontros locais, regionais, nacional
e internacional), nos campos de estudos e pesquisas das
floresta, biomas e ecossistemas (preservação,
desenvolvimento sustentável);
· Constituir-se em um fórum permanente de
debate sobre temas relacionados às florestas e seus
habitantes;
· Realizar treinamentos e capacitação
dos recursos humanos na perspectiva do desenvolvimento sustentável,
assim como da transferência de tecnologia;
· Coordenar e apoiar pesquisas para o melhoramento
dos produtos agroextrativistas das florestas.
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Entrevista
de Chico Mendes, realizada durante o 3º Congresso Nacional
da CUT em 09/09/1988.
(Conselho Nacional dos Seringueiros www.cnsnet.org.br)
Como surgiu essa proposta
de aliança entre os povos da floresta?
Chico - A aliança dos povos da floresta vem
em função de uma história que começa
a partir do desbravamento da Amazônia. Para você
ter uma idéia, os índios eram os legítimos
donos da Amazônia e quando em 1877 começou
o seu desbravamento houve uma espécie de tráfico
de escravos para lá: eram nordestinos, cujos patrões
- os grandes seringalistas do inicio do ciclo da borracha
- aproveitavam-se de sua miséria, usando-os nesse
desbravamento. Essas pessoas foram preparadas para lutar
contra os índios, formando um exército de
brancos preparados pelos seringalistas, pelas empresas,
grupos e banqueiros internacionais, como era o caso da Inglaterra
e dos EUA interessados na borracha da Amazônia. Começa
então o conflito entre índios e brancos.
Nessa época, mais de sessenta grupos tribais na Amazônia
foram massacrados pela ganância dos patrões.
E a cada grupo dizimado correspondia a formação
de grandes áreas de seringais. Assim começa
toda a história.
Essa história permaneceu na década de 70 quando
o governo militar decidiu acabar com o monopólio
estatal da borracha e os seringalistas caíram na
falência. A situação piorou muito para
o seringueiro que era tido até então como
uma espécie de escravo, que tinha sua sobrevivência
garantida. Após 1970, com a implantação
do sistema latifundiário, com a política de
especulação da terra, a situação
mudou muito, iniciando-se então os grandes desmatamentos
e a expulsão em massa.
De 1970 a 1975 chegaram os fazendeiros do sul que, com o
apoio dos incentivos fiscais da Sudam, compraram mais de
6 milhões de hectares de terra, espalhando centenas
de jagunços pela região, expulsando e matando
posseiros e índios, queimando os seus barracos, matando,
inclusive, mulheres e animais.
Naquele momento, todos viviam nas matas, ninguém
tinha consciência de luta. Os filhos dos seringueiros
não tinham o direito de ir à escola, pois
aprenderiam a fazer contas e descobririam que estavam sendo
roubados; então os patrões não permitiam.
Na minha região, em cinco anos foram expulsas mais
de 10 mil famílias de seringueiros. Quatro mil delas
tentaram a vida na cidade aumentando o cinturão de
miséria das cidades. O resto foi para a Bolívia
tentar a vida nos seringais de lá, onde estão
até hoje, numa situação difícil
pois não são considerados nem brasileiros
nem bolivianos, vivendo na clandestinidade.
A partir de 1975 começa a nascer uma consciência,
organizam-se os primeiros sindicatos rurais juntamente com
um trabalho da Igreja Católica. Mas tudo ocorrendo
muito lentamente até 1980, quando generalizou-se
por toda a região o movimento de resistência
dos seringueiros para impedir os grandes desmatamentos.
Foi criado o famoso "empate", forma que encontramos
de, em mutirão, nos colocarmos diante dos peões,
das motosserras, iniciando um trabalho no sentido de impedir
os desmatamentos. Esse movimento era de homens, mulheres
e crianças. As mulheres tiveram um papel muito importante
como linha de frente e as crianças eram usadas como
uma forma de evitar que os pistoleiros atirassem. Tínhamos
uma mensagem para os peões: nos reuníamos
com eles e explicávamos que destruindo a floresta
eles não teriam mais como sobreviver e assim, muitas
vezes, contávamos com suas adesões. O inimigo
maior era a polícia contratada pelos fazendeiros.
Nesse período ocorreram muitas prisões e pancadarias.
Como isso mudou no
contexto de defesa da Amazônia?
Chico - Mudou dentro dessa luta pela preservação
dos recursos naturais, visto que a região de repente
estava se tornando um enorme pasto. Só na minha região,
de 1970 a 1975, foram destruídas pelo fogo e pelas
motosserras, 180 mil árvores seringueiras, 80 mil
castanheiras e mais de 1,2 milhão de árvores
de madeira de lei, sem contar as várias espécies
de árvores medicinais que foram devoradas e transformadas
em pastagens.
O objetivo era a especulação: desmatavam 2
mil ha de floresta virgem, plantavam 1 mil ha de pastagem
e assim não tinha mais como o seringueiro viver.
Toda essa situação, as políticas de
desenvolvimento financiadas pelos bancos internacionais,
como é o caso do Polonoroeste em Rondônia,
começaram a afetar inclusive as grandes empresas
madeireiras.
Criou-se, em 1985, o Conselho Nacional dos Seringueiros
por iniciativa do sindicato, já que até aquele
momento vivíamos uma luta isolada, sem respaldo até
mesmo do movimento sindical, onde todos estavam mais preocupados
com seus problemas regionais.
O que podíamos fazer? Tentar um encontro nacional
de seringueiros em Brasília, a única forma
de criar uma repercussão de toda a luta que havia
na região. Surge a idéia de se realizar esse
encontro e, finalmente, em outubro de 1985, ele aconteceu.
Esse encontro determinou que a partir daquele momento seria
realizada uma campanha no sentido de se tentar uma aliança
com os índios, já que as lutas eram iguais
e que muita coisa que aprendemos, nossos costumes na mata,
por exemplo, vêm dos índios. Tínhamos
uma herança de índio.
Começamos então a nos reunir com as principais
lideranças das nações indígenas.
Em 1982, antes do encontro então, já havia
uma possibilidade de aproximação com os índios.
Fui candidato a deputado estadual pelo PT e a gente conseguiu
lançar um índio candidato a deputado federal,
fazendo uma proposta de aliança dos povos da floresta.
Nessa eleição, nenhum dos dois teve resultado
positivo, mas foi importante no sentido de estabelecer essa
aliança.
No Encontro Nacional dos Seringueiros, que contou com observadores
nacionais e estrangeiros, começou a crescer essa
consciência de aliança. E até hoje já
foram realizados vários encontros com propostas conjuntas
entre índios e seringueiros. E aí surge a
bandeira de luta pelas reservas extrativistas da Amazônia,
que é uma área também indígena.
O índio não quer ser colono, quer utilizar
as áreas comunitariamente, e os seringueiros juntam-se
a essa consciência também. Não queremos
título de propriedade da terra, queremos que ela
seja da União, com usufruto dos seringueiros. Essa
coisa pegou e chamou a atenção dos índios
que começaram a se articular.
Em nível de cúpula essa idéia já
estava clara. Então, partimos para as bases, com
a realização de encontros regionais em áreas
vizinhas aos índios e esses índios começaram
a participar, e criamos, assim, comissões conjuntas
de índios e seringueiros. Recentemente, no Vale do
Juruá, realizamos uma passeata ecológica com
duzentos índios presentes.
Com o avanço da luta, o sindicato se fortaleceu e
as mulheres começaram a participar mais exigindo
a criação de um departamento feminino. Realizaram
seu primeiro congresso em 1º de maio de 1988, e a partir
dai as mulheres índias também começaram
a participar mais e, recentemente, elas fizeram parte da
mesa de um congresso.
Essa força nova que cresceu serviu pra deixar os
grandes latifundiários cada vez mais preocupados.
Hoje, a UDR se preocupa muito em tentar se estruturar na
Amazônia.
Essa experiência
teve condições de se reproduzir em outros
Estados?
Chico - Este trabalho está sendo articulado
para todos os estados da Amazônia. O único
problema que existe, conforme informamos à direção
do Conselho Nacional dos Seringueiros, são as poucas
pessoas. Como a Amazônia é muito grande, encontramos
dificuldades em estabelecer contatos em toda a região,
devido à dificuldades financeiras.
Com o Calha Norte, esses projetos dos bancos internacionais,
que têm por objetivo atingir os índios, fizeram
com que estes se organizassem muito mais. No Acre, essa
aliança se fortaleceu pois a área é
o alvo principal da cobiça dos grandes latifundiários
e empresas madeireiras por causa da estrada.
Conseguimos centralizar mais a nossa atuação
em Rondônia e no Acre pois, além do resto da
região amazônica ser de difícil acesso,
esses dois estados são o centro da atração
porque a estrada possibilita o acesso dos grandes latifundiários
e dos grupos estrangeiros à região. É
a BR-364, que tem sido uma polêmica.
Em janeiro de 1987,
recebemos a visita de uma comissão da ONU que acompanhou
de perto o nosso confronto com os fazendeiros contra o desmatamento.
Denunciamos que esse desmatamento era resultado dos projetos
financiados pelos bancos internacionais. Com isso a ONU
e as entidades ambientalistas americanas nos convidaram
para participar de uma reunião do BID em Miami, em
março de 1987.
Chico - Eu fui, sabendo que estava em terreno inimigo.
Denunciei a política e aquilo pegou em cheio o presidente
do Banco Central, que estava presente e que tentou impedir
a minha entrada. Consegui credenciamento com a imprensa
internacional, entrei e denunciei para vários diretores
executivos do BID o que estava sendo feito na Amazônia.
Tive uma audiência marcada com o chefe da Comissão
de Operação de Verbas do Senado americano,
para o dia 28, quando levei documentos comprovando todas
as conseqüências que o desmatamento, com a abertura
da estrada financiada pelo BID, estava causando. Assim,
no dia 2 de abril de 1987, o banco resolveu suspender o
resto do desembolso para o asfaltamento da estrada. Isso
aconteceu porque as entidades ambientalistas tinham um poder
muito grande junto ao banco e conseguiram sensibilizar o
Congresso americano.
Esse foi um ponto político muito importante no avanço
do Conselho Nacional dos Seringueiros e na proposta dos
índios.
Você
falou que durante praticamente um século os
seringueiros foram escravizados. Como se deu esse
processo, quais são as formas de trabalho na
floresta?
Chico - Desde aquela época que ninguém
era dono de terra na Amazônia, o seringalista
que sabia que existia uma determinada região
habitada por índios preparava os seringueiros
e atacava a região, destruíam as malocas
e implantavam a sede do barracão.
Dali, contando com profissionais, desbravavam uma
área de 30 a 40 mil ha dentro da mata, abrindo
picadas e estabelecendo as colocações
dos seringueiros. Estes dividiam as colocações,
que não são lotes, entre cem a duzentas
famílias e cada um deles explorava aproximadamente
300 a 500 ha, em vários blocos de seringueiras,
o que denominamos estradas de seringa.
Por exemplo, o seringalista que tinha trinta, quarenta
e cinqüenta famílias com uma produção
anual de 50 toneladas de borracha ia no banco, fazia
um financiamento de 100 toneladas e o seringueiro
se via forçado a cobrir aquela produção.
Dai ele se transformava em escravo pois seu grupo
não poderia vender o produto para outro seringalista.
Se o fizesse, a polícia o reprimia ou os jagunços
o matavam. |
Começa então o tráfico de nordestinos
para a Amazônia. Eram trazidos de navio até
o porto de Belém, sendo a praça de Belém
a sede principal dos seringalistas. Quando o navio
chegava, os patrões levavam um número
de pessoas para a selva. Existia uma propaganda no
Nordeste de que a borracha era uma mina, quando a
realidade era totalmente outra.
Quando o nordestino chegava à Amazônia
não tinha mais como voltar. Estava preso pelo
rio, caminhava horas nas matas, havia índios
que resistiam e que matavam, tudo isso, além
da malária e outras doenças.
|
Os que conseguiam
sobreviver, quando conseguiam um saldo que concretizaria
o seu sonho de voltar à terra natal, não
eram reembolsados. Como eram vários grupos
de seringalistas, financiados por entidades internacionais,
cada um detinha o domínio sobre uma deter minada
área, E um não podia entrar na área
do outro. Se acontecesse de um seringueiro ir ao barracão
de um seringalista diferente daquele ao qual ele pertencia,
e esse seringalista descobrisse, mandava a polícia
ao barracão, tomava a borracha do seringueiro
e ateava fogo nele. Muita gente morreu assim.
O próprio banco facilitava toda essa ação
criminosa porque a borracha era marcada - cada seringueiro
tinha uma marca para marcar sua borracha - ai então
o patrão sempre reconhecia uma borracha diferente
no seu lote.
Ainda hoje, em algumas regiões da Amazônia,
prevalece o sistema de seringueiro escravo.
O governo resolveu maneirar mais na ação
da polícia contra os seringueiros. Mas continuou
a exploração. Não matava mais,
mas prendia e açoitava, o que prevalece até
hoje em algumas regiões.
Na nossa região começamos a lutar pela
autonomia do seringueiro e já existe a figura
do seringueiro autônomo. São poucos,
temos no total cerca de 15 mil famílias de
seringueiros, das quais 30% são autônomas.
Portanto, para a grande maioria ainda existe a figura
do patrão porque o Conselho Nacional dos Seringueiros
ainda não conseguiu estabelecer suas bases
nos locais mais distantes, mas pelo menos já
houve um grande. avanço.
Entre 1975 e 1985, conseguimos evitar que mais de
1,2 milhão de lia de florestas fossem devastadas.
Conseguimos também reocupar todas as áreas
onde os seringueiros haviam sido expulsos na região
do vale do Acre. |
Como foi esse processo
de defesa?
Chico - Foi um trabalho difícil, tivemos que
enfrentar jagunços e a policia. Começamos
a reocupar essas áreas criando comunidades. Na medida
em que criávamos uma comunidade organizada, ela ia
trazendo famílias e colocando nas áreas desocupadas.
Quando havia uma ação policial de despejo
a comunidade se organizava muito bem e reocupava. E conseguimos,
com todas as limitações do Estatuto da Terra,
defender as áreas, baseados no decreto 4504 - que
diz que o posseiro não pode ser despejado de sua
terra. Conseguimos também eliminar o desconto que
o patrão fazia, até 1970, de 10% do peso da
borracha do seringueiro, além de 30% de aluguel que
era obrigado a pagar.
Fizemos um trabalho para evitar que o seringueiro pagasse
renda, para que ele começasse a construir sua autonomia.
O que fazíamos? Os atravessadores estavam interessados
em comprar diretamente do seringueiro, só que ele
não podia entrar no seringal pois o patrão
mandava prendê-lo. Com o nosso apoio, ele começou
a oferecer melhor negócio para o seringueiro, ou
seja, melhor preço para a borracha e, inicialmente,
venderia os produtos alimentícios mais barato. Começamos
então a dar apoio ao marreteiro como uma forma de
levar o seringueiro à autonomia.
Só que esse mesmo marreteiro, depois que se viu livre
para circular nos seringais, transformou-se numa figura
autoritária e exploradora. Agora, lutamos para combatê-lo,
nos. foi útil no passado, hoje é nosso inimigo.
Assim, a única alternativa é criar cooperativas.
Criamos a primeira cooperativa agroextrativista em 30 de
junho desse ano. Antes da sua fundação, os
patrões pagavam Cz$ 150,00 o quilo da borracha, depois
de criada a cooperativa, com o objetivo de derrubá-la,
passaram a pagar Cz$ 230,00 o quilo, e nós conseguimos
pagar Cz$ 264,00. Três semanas depois chegaram a esse
preço e nós passamos para Cz$ 285,00. Quando
acreditaram que pararíamos, nós passamos para
Cz$ 380,00.
Nesta questão dos preços, os usineiros, interessados
no aumento da produção da borracha e no lucro,
aliam-se a nós. E nós os aceitamos como uma
tática na questão da política de preços
da borracha. Nessa briga, tiramos a figura do patrão
e do marreteiro e deixamos o seringueiro livre. Hoje ele
compra mercadoria mais barata, conseguida por nós,
mas ainda tudo é muito precário, pois apesar
de existir uma série de propostas de apoio de entidades,
inclusive em nível internacional, nada saiu até
hoje.
Como surgiu a idéia
da cooperativa?
Chico - A cooperativa é uma forma nossa de
lutar pela liberdade. Isso foi conseguido com cinco anos
de articulação, pois houve cooperativas anteriores
controladas pelo governo e que não vingaram, pois
se tornaram mais um patrão do seringueiro. Para nós
a cooperativa deveria ser um instrumento do próprio
seringueiro, uma conquista dele. Para fazer isso, começamos
a montar uma primeira escola de alfabetização
dos seringueiros, onde adotamos uma política de ensino
que ensinava o trabalhador a lutar por melhores condições
de vida. Criamos uma cartilha, denominada Poronga, com o
apoio tanto do Cedi como de vários outros grupos
de universitários e professores. Poronga é
a luz que o seringueiro usa e coloca na- cabeça para
caminhar na selva. Então ela seria a cartilha que
nos ensinaria o caminho para lutarmos com mais força.
A primeira escola foi difícil porque os fazendeiros
começaram a dizer que recebíamos dinheiro
de Cuba. E então os órgãos de segurança
baixaram várias vezes, até que se convenceram
de que não era nada disso. Fomos crescendo e hoje
temos mais de dezoito escolas na região. Isso possibilitou
um grande avanço, pois à medida em que o seringueiro
começava a estudar visualizava uma forma de se livrar
do patrão. Os professores eram pessoas eleitas pela
comunidade, comprometidas. O único problema é
que se trata de um trabalho lento. A pessoa tem que estar
comprometida com as lutas da comunidade, criando confiança
mútua, tem que estar preparada para enfrentar a polícia
etc.
Então, uma equipe iniciou o preparo dessas pessoas
e elas conseguiram desenvolver um trabalho pela defesa da
floresta.
Como tem sido a relação:
entre seringueiros autônomos e os que têm patrão?
Chico - E um processo muito lento. O seringueiro,
com toda essa história passada, aprendeu, de geração
a geração, a ser escravo, a ser, dominado
pelo patrão. Não adianta chegar, em uma comunidade
onde não exista; nenhum trabalho, anterior e resolver
montar uma escola ou criar uma cooperativa. Não dá
certo.
Para se atingir os 30% de autônomos, levamos quinze,
anos. De 1980 para, as escolas avançaram, mas somos
bem poucos e temos preocupação em preparar
as pessoas. Além disso, como a Amazônia é
muito grande, encontramos dificuldades de chegar a todos
os lugares.
Também não adiante você ir até
as regiões mais distantes, fazer uma reunião
com os seringueiros, falar de nossa experiência e
não deixar ninguém preparado para continuar
o trabalho. Portanto, vamos demorar para chegar em várias
regiões, mas queremos fazê-lo preparando as
pessoas.
Ainda continua o antigo
esquema das multinacionais e dos seringalistas contratarem
grupos de seringueiros numa relação de trabalho
semi-escravizado?
Chico - Não. Aquele esquema de escravo do
Nordeste permaneceu até 1955. O que tem acontecido
muito é que as empresas agropecuárias pegam
os bóia-frias do sul e os levam como escravos para
trabalhar nas fazendas.
Temos tentado providências do Ministério do
Trabalho, o que é feito depois de muita pressão,
pois não existe preocupação com o trabalhador.
São bóia-frias de várias regiões,
levados de caminhão até lá e jogados
em fazendas de várias regiões da Amazônia.
Em troca do seu trabalho recebem comida e pinga.
Como é a sua
história de vida e como você se tornou uma
liderança nessa luta que se trava há quinze
anos?
Chico - Talvez eu tenha acertado na loteria. É
uma história que venho contando há pouco tempo.
Antes passamos: por uma fase muito difícil: a repressão
desde 78, quando começamos a resistência contra
o desmatamento. A polícia federal começou,
a pegar no nosso pé, fui submetido a vários
interrogatórios isolados, sem o acompanhamento de
ninguém. Depois aquele julgamento em tribunal militar.
Em 1980, foi assassinado o Wilson Pinheiro, grande liderança
de toda Amazônia. Naquela época ele encabeçava
todos os movimentos. Os fazendeiros, compreendendo isso,
mandaram matá-lo. Os trabalhadores, sete dias depois,
deram o troco matando um fazendeiro. Aí a justiça
funcionou.
Isso coincidiu com a época em que o Lula e eu estávamos
organizando o PT na região. Terminamos um comício
à meia-noite e viemos embora. No outro dia , ao amanhecer,
fuzilaram o fazendeiro e atribuíram isso à
influência do nosso discurso. Só que, estavam
a 85 km de onde aconteceu o ato público e não
poderiam ter nenhuma influência do Lula, nem minha.
Meu pai, nordestino, trabalhava como seringueiro e eu, com,
nove anos de idade, fui, ser seringueiro. Nasci em, 1944
e em 1955 já tinha aprendido, a cortar seringa. Em:
1962, morávamos em uma região de seringal
perto da fronteira com a Bolívia e não, sei
como descobrimos que morava perto de nós um exilado
político do tempo da Intentona Comunista. Era um
oficial do Exército que aderiu ao Prestes. Era super
jovem, tinha vinte e poucos anos. Com a derrota do Prestes,
foi preso na ilha de Fernando de Noronha. Como tinha parentes
no lado oposto, a sua fuga foi mais ou menos liberada. Fugiu
para a Bolívia e lá se engajou no Partido
Comunista Boliviano, que naquela época tinha um trabalho
muito bom, liderando o movimento operário. Foi também
perseguido lá e voltou para a clandestinidade. Parece
que se envolveu com operários e depois de alguns
anos voltou a criar o movimento de resistência junto
aos camponeses bolivianos. Aí houve uma outra ação
reacionária da direita, e ele, não tendo como
se esconder, veio para a fronteira. Optou pela selva, pois,
era perto da fronteira, atravessou e se entrosou com alguns
seringueiros que o ensinaram a sangrar a seringueira, a
fazer a borracha. Ficou isolado para ninguém descobrir
que morava ali.
Certo dia ele resolveu sair e passou na nossa casa. Não
sei como ele conseguia jornais, com meses de atraso, mas
conseguia. E numa conversa com meu pai que tinha muito ódio
dos seringalistas, da exploração, ele se interessou
em me levar para passar o final de semana na sua casa. Assim,
de 1962 a 1965 eu saía todos os sábados da
selva e ia para a casa dele, caminhando três horas
pela mata.
Ele começou a me ensinar a ler aos sábados
e domingos até de madrugada, pois segunda-feira tinha
que voltar a trabalhar. Começamos com aquelas leituras
de jornal, ele me explicando as notícias e então
comecei a me interessar pelos trabalhadores. Pegávamos
recortes de notícias de trabalhadores de países
socialistas e de outros países da América
Latina. Ele conseguiu um rádio a bateria que me emprestou,
e comecei às 6h da tarde a ouvir os noticiários
internacionais em português, da central de Moscou,
da BBC de Londres e da Voz da América.
Finalmente, em 64, irrompe o golpe militar. Em maio e junho
desse ano, a versão dá Voz da América
dizia que a democracia tinha sido vitoriosa, que os comunistas
iam acabar com o país etc. No outro dia a gente ouvia
a versão da central de Moscou que falava das prisões
de sindicalistas, das torturas etc. Então eu tinha
as duas versões: a dos americanos e a dos comunistas.
Ele me explicava o que era aquela revolução,
feita pela CIA com o apoio da ala reacionária. Dizia
que João Goulart, apesar de ser um governo populista,
tinha aberto uma exceção e os movimentos estavam
se articulando para criar a reforma agrária no país
e, exatamente preocupada com essa mobilização,
foi que a CIA articulou e financiou o golpe militar.
Ele me dizia também: hoje os trabalhadores estão
sendo rechaçados, mas por maior que seja o massacre
sempre existirá uma semente que renascerá
e aí você terá que entrar, mesmo que
seja daqui a oito, dez anos.
O seu nome era Euclides Fernando Távora. Era muito
inteligente, diziam que só sabia ler, mas descobri
que queimava tudo o que anotava. Em julho de 1965, começou
a emagrecer, achava que era úlcera. Disse que ia
para a cidade arranjar um médico, que não
havia mais perigo. Foi e não voltou nunca mais. Não
consegui localizá-lo, deve ter morrido.
Aí fiquei meio perdido, tinha uns dezenove anos.
Não se falava em sindicato, na cidade só se
falava em militar. Comecei a articular uma discussão
com meus companheiros. Como sabia ler, comecei a descobrir
o quanto a gente era roubado. Para os seringueiros, por
mais que os patrões tivessem mudado suas formas de
opressão, o que acontecia? Você produzia durante
um ano um monte de borracha, gastava metade na venda do
seringalista e então tinha aquela base de que no
final do ano você teria metade do lucro garantido.
Mas, chegava lá e você estava devendo. Descobri
que era um roubo absurdo. E comecei isoladamente um trabalho
de autonomia do seringueiro através do marreteiro.
Até 1968 cansei de sair à noite levando companheiros
que marcavam ponto com os marreteiros para vender sua borracha
e comprar mais barato. Estava dando certo. Só que
tinha seringueiro, coitado, sem consciência, que corria
e dizia para o patrão, e com isso passei por horas
apertadas.
Até 1975 vivi essa vida isolada, tentando um trabalho
quase inútil, mas consegui criar um grupo de alfabetização
e alfabetizei quase cinqüenta pessoas, mas tive que
largar devido a uma pressão muito grande. O prefeito
e o padre da cidade mandaram me chamar dizendo que eu estava
criando um grupo de agitadores. E tive que passar quase
dois anos e meio escondido, se não teria sido preso.
Em 1975, ouvi falar que estava chegando uma comissão
da Contag para fazer um curso de sindicalismo na Brasiléia.
Lembrei da recomendação do Euclides e fui
para lá. E deu certo, pois como ele tinha me ensinado
muita coisa durante três anos, acabei sendo eleito
secretário geral do sindicato.
No início
de seu trabalho sindical já existia alguma
outra forma de organização dos seringueiros?
Chico - A coisa estava muito crua, principalmente
entre os seringueiros, onde 95% nem votava. Era muito
difícil. Começaram a perceber que eram
explorados a partir da criação do sindicato.
Como eu tinha que trabalhar na produção
para ajudar em casa, aproveitava os finais de semana
para me dedicar ao movimento. Durante esse período
passei muitas dificuldades. Com a criação
de sindicato em 1975, tinha que passar muito tempo
na cidade para ajudar a encaminhar as propostas, pois
de repente começaram a chegar questões
de todos os lados. |
Em março de 1976, vivia mais na cidade, em
Brasiléia, porque o movimento estava muito
agitado e aí eu passava fome, não tinha
dinheiro nem para comer.
Lembro que em 10 de março de 1976 aconteceu
o primeiro movimento mais importante, quando chegaram
três seringueiros de um seringal próximo
à Brasiléia e denunciaram que a área
deles estava sendo devastada por cem peões,
com pistoleiros na região. |
Pela primeira vez reunimos
setenta homens e mulheres e fizemos uma trincheira na selva
para impedir o desmatamento. Este fato chamou a atenção
de todos, inclusive do exército e da policia. Mas
a gente chegou a conclusão de que a luta era por
ali mesmo.
O Sindicato de Xapuri é só de seringueiros
ou envolve outras categorias também?
Chico - Principalmente seringueiros. Mas ele atua
também com colonos, alguns peões de fazendas.
Temos em Xapuri 3 mil filiados. Esse sindicato conseguiu
passar por cima da Federação dos Trabalhadores,
peleja, aliada à UDR. Nas eleições
passadas a federação apoiou a aliança
PFL/PDS, os mais reacionários.
O que era a trincheira?
Chico - Era o seguinte: fazíamos um cordão
de mãos dadas e cercávamos a área que
estava sendo desatada, não deixávamos os caras
entrar e desmontávamos os seus acampamentos. Ninguém
ia armado, quer dizer, tínhamos duas ou três
pessoas armadas mas com a firme recomendação
de só agir nas últimas consequências,
no caso de estarem matando alguém.
Nosso objetivo era tentar convencer os peões a ficar
do nosso lado. E sempre conseguíamos a adesão.
Agora, quando a policia chegava, esses mesmos peões
eram obrigados a ficar contra nós. Lembro de umas
quatro vezes em que a gente foi preso e ficamos lá
deitados no chão e eles batendo ria gente e depois,
todos ensangüentados, nos jogavam no caminhão.
Dentro do caminhão, com muita gente junta, começávamos
a cantar os hinos da Igreja. Chegávamos na delegacia,
mais de cento e tantos homens ' não tinham lugar
para alojar todo mundo e ficávamos pelos corredores.
A policia cercava o prédio e, por fim, tinham que
nos liberar.
O senhor falou em
cantar hinos da Igreja, o senhor participava de algum movimento
ligado à Igreja?
Chico - A partir de 1973, comecei a me entrosar nos
trabalhos das comunidades de base. Naquele momento o sindicato
só podia funcionar nas dependências da Igreja
devido a repressão. Ela teve um papel muito importante,
apesar de que depois retrocedeu um pouco. Durante esse tempo
militei ativamente nas comunidades de base e tinha aqueles
padres progressistas que inventavam hinos ligados à
nossa causa. Era uma vida sofrida, mas a gente se animava
pois sabíamos que começávamos a incomodar
o poder.
Em 1980, passei noventa noites dormindo em lugares diferentes.
Até hoje sofri seis tentativas de emboscada, a última
delas foi em abril desse ano. No dia 27 de maio, quando
realizamos uma passeata pacifica pela defesa da floresta
e acampamos no prédio do IBDF - éramos mais
de quatrocentos homens - fomos atacados por pistoleiros
a 1h30 da manhã, a trinta metros do quartel da polícia
militar. Foi um tiroteio horrível.
Sorte que todos dormiam. Dois rapazes saíram baleados,
mas escaparam. Eu nunca mais andei só. A partir das
sete da noite não saio mais na cidade. Se vou a um
seringal volto por outro. Tivemos que aprender a lutar pela
nossa segurança.
Um mês depois que a UDR se instalou por lá,
aconteceu esse ataque em Xapuri, do grupo que é o
seu braço armado. Como não se contentaram,
em 18 de maio, pegaram o companheiro Ivair Higino, grande
liderança de uma comunidade da Igreja e o acertaram
numa emboscada. Ele, além do seu trabalho na comunidade
de base e no sindicato, começou a incomodar um vereador
do PMDB que morava ao lado. Esse candidato é articulado
com os fazendeiros mais reacionários da região
e o seu nome é Chico Tenório Cavalcante. Foi
ele quem articulou a emboscada pois o Ivair, candidato a
vereador pelo PT, ia seguramente derrubá-lo. E foi
dito em praça pública que ele mandou matar
o Ivair. O prefeito fez vistas grossas, ele recebeu o aval
da justiça pois não teve nem a sua candidatura
impugnada.
Como se dá
a compatibilidade entre o trabalho extrativista e a defesa
da floresta?
Chico - Os seringueiros e os índios habitam
há muito tempo a região. Os seringueiros vivem
do extrativismo, desmatam também para suas culturas
de sobrevivência e nunca ameaçaram a Amazônia.
Por outro lado, a principal atividade econômica da
região continua sendo a extrativista: borracha e
castanha.
Durante muito tempo brigamos pela questão da Amazônia,
mas não tínhamos proposta alternativa. Só
a partir de 1985 é que começamos a articular
propostas alternativas: queremos que a Amazônia seja
preservada mas também queremos que seja economicamente
viável.
Aí, partimos do ponto de que com a reserva extrativista
garantimos a política de comercialização
da borracha, pois sabemos que esta está ameaçada
pelos plantios de seringueiras no sul. Mas a questão
não é só essa. Temos a castanha que
é um dos principais produtos da região e que
está sendo devastada pelos fazendeiros e madeireiras.
Temos a copaíba, a bacaba, o açaí,
o mel de abelhas, uma variedade de árvores medicinais
que até hoje não foram pesquisadas, o babaçu,
uma variedade de produtos vegetais cuja comercialização
e industrialização garantiria que a Amazônia,
em dez anos, se transformasse numa região economicamente
viável, não só para o pais mas para
o mundo. O que precisamos hoje é que o governo dê
prioridade à industrialização desses
produtos.
Tem também a questão do cacau, do guaraná
e de outras culturas que se pode usar sem devastar a floresta.
O que a ameaça são os fazendeiros: no ano
passado, queimaram 20 milhões ha. Este ano, só
no Acre, os técnicos do Inpe descobriram que foram
queimados mais de 800 mil lia.
Quais as
causas das queimadas?
Chico - É a questão do incentivo
à política de especulação
da terra, a pecuária. Nas áreas onde
os seringueiros não chegam os fazendeiros fazem
queimadas, deixando a terra improdutiva. Nem estão
plantando capim.
O objetivo deles é queimar porque o IBDF é
tão incompetente que não tem nenhuma
capacidade de frear. Agora não, porque a ONU
fez uma denúncia, a Globo está mostrando,
mas isso é balela. Não basta denunciar
ou mostrar as queimadas. |
No ano passado
a pista de pouso do Acre ficou interdita da durante
três dias, agora já está com mais
de três semanas, isso devido às queimadas.
Pilotos me contaram que as queimadas mais fortes estão
em Rondônia e Mato Grosso.
Com a nossa resistência em Xapuri, este ano
eles só conseguiram desmatar 50 ha, ainda assim
porque tiveram o aparato policial garantindo. Não
pudemos nos aproximar pois não queríamos
o confronto armado.
|
Queremos criar
fatos políticos no sentido de sensibilizar
a opinião pública. Conseguimos mesmo
assim, suspender esse desmatamento com o apoio de
São Paulo e Rio de Janeiro, que enviaram telegramas
de protestos e o governo se viu obrigado a me chamar
para negociar a retirada da policia da área.
Mas ai a Autobrás, numa região onde
o Sindicato de Rio Branco não tem nenhuma ação
enérgica, conseguiu, às escondidas,
desmatar 15 mil ha. |
Essas queimadas têm
deixado o seringueiro sem trabalho?
Chico - Sim. Na década de 70, quando foram
muito fortes, contribuíram muito para o desemprego
e a miséria. Esses seringueiros expulsos entre 1970
e 1975 (calcula-se cerca de 10 mil famílias) foram
para a cidade formar o cinturão de miséria
naqueles bairros. Hoje, na capital do Acre, se você
visita um bairro desses, só vê miséria,
prostituição, tráfico de drogas, porque
o pessoal foi levado ao desespero. Por que hoje nas cidades
há tantos grupos marginais? Essas pessoas foram levadas
a isso não por convicção, mas pelas
circunstâncias.
Como o solo reage
a essas queimadas que vêm sendo feitas de maneira
sistemática na região?
Chico - O solo fica improdutivo. Por exemplo, em
uma pastagem onde eles desmatam 2 ou 3 mil ha, essa terra
não tem potência para resistir, e então
com dois anos a terra seca.
E porque os projetos pecuaristas se utilizam
desse método se eles próprios vão ser
prejudicados no futuro?
Chico - A ganância é enorme.
Eles, querem estabelecer o domínio por toda a região,
principalmente com a possibilidade do asfaltamento da estrada.
E lá, essa atividade não gera nem ICM. No
ano passado a borracha, com todo o desgaste que tem sofrido,
ainda foi a responsável por 45% da arrecadação
de ICM enquanto que a pecuária chegou somente a 5%
Além dos projetos
pecuaristas, quais outros têm sido implantados?
Chico - As madereiras, que inclusive são financiadas
em dólares por grandes empresas internacionais. O
ano passado, entre junho, julho e agosto, saíram
do Acre 300 metros de mogno por dia para exportação
E o projeto Calha
Norte?
Chico - É mais um outro desastre. Mais uma
forma de o governo expandir o seu domínio militar
por toda a fronteira da Amazônia para, inclusive,
evitar o fortalecimento dos trabalhadores
Vocês, que moram
na região da fronteira, vêem alguma situação
delicada que justifique a implantação do projeto?
Como contrabando, fronteira móvel etc.?
Chico - Não. Isso é uma invencionice.
Nos seringais não existe isso. Durante toda essa
década o seringueiro foi o verdadeiro guardião
da fronteira da Amazônia. O que vai ameaçar
essa fronteira é exatamente a devastação,
a expulsão dos seringueiros.
Como tem sido a relação
dos trabalhadores com os militares que estão se implantando
na região.
Chico - Não é boa. Eles nos vêem
com maus olhos. As pessoas mais afetadas são os missionários
que estão trabalhando com os índios. Eles
são vistos como elementos perigosos, que estão
preparando os índios para uma guerra ou os estão
usando. É um argumento que eles estão criando
para tentar entravar qualquer organização
dos índios. E o pior é a questão da
- colônia indígena. Agora eles querem transformar
o índio em colono, o que é o mesmo que acabar
com ele.
Existiria a queimada
com o propósito premeditado de extinguir um objeto
de defesa do trabalhador?
Chico - Também. Agora eles também estão
alegando, para o Calha Norte, que há grupos de guerrilha,
o Sendero Luminoso. São tudo argumentos falsos porque
o que poderá criar a presença desses elementos
do lado de cá é a situação criada
pela própria devastação, gerando desespero
nas pessoas, levando-as a se articularem e criando um foco
de resistência. Mas se o seringueiro tem sua área
garantida, não vai ser preciso ele se envolver com
essas coisas.
E já aconteceu
um conflito mais duro entre os militares e alguma comunidade
indígena ou seringalista com a implantação
do projeto?
Chico - Até o momento, só houve um
problema mais sério com índios de outras regiões
que nós não atingimos, com os Ticunas. Lá
houve um problema sério envolvendo os garimpeiros.
Nós ainda não temos nenhum acesso àquela
área, mas o Conselho de Segurança Nacional
está lá encurralado pelos índios do
Acre que não permitiram, em hipótese alguma,
a implantação das colônias indígenas.
Essa aliança se fortaleceu muito e eles foram agora
ao Acre para tentar articular comigo e com outras lideranças,
tentando nos fazer convencer os índios a aceitar
as colônias.
São índios
de que nações?
Chico - São os Kaxinawá, os Machineri,
os Apurinã, aqueles com quem temos mais contatos.
São grupos
contatados há muito tempo?
Chico - Há muito tempo. É um pessoal
que já tem 54 cooperativas, tem vários postos
de saúde, várias escolas e habita o rio Envira,
na região do vale do Juruá.
Quais as dificuldades
que vocês tiveram para fazer os primeiros contatos
com os índios?
Chico - Não foi difícil porque os primeiros
contatos foram feitos com as lideranças. Quando chegamos
às bases, já fomos com essas lideranças.
Isso tornou-se uma pressão muito grande na batalha
contra as colônias indígenas. Um coronel do
Conselho de Segurança Nacional me chamou um dia para
perguntar porque os seringueiros eram contra a colônia
indígena. Eu respondi que éramos contra porque
na nossa região o governo taticamente criou um projeto
de colonização para acabar com os seringueiros
e foi um desastre. E ele me disse: "Isso são
esses agitadores da Igreja que estão colocando idéias
na cabeça de vocês". E eu disse: "Não,
não somos tão crianças para não
sabermos o que queremos".
Além dos indígenas,
com quais outros setores que vivem e sobrevivem na floresta
vocês estão se articulando?
Chico - Mais com o seringueiro e o índio,
e também com o colono, o agricultor dos projetos
de assentamento, porque eles também estão
contribuindo para a devastação sem saber que
estão criando um problema futuro para eles mesmos.
E com os colonos ribeirinhos também.
Muitos foram expulsos pelos fazendeiros. O rio Acre hoje
é um rio ameaçado. Antes o próprio
transporte da borracha era feito por ele e hoje nem um navio
de 50 toneladas consegue ais entrar - assoreou. O próprio
clima mudou por causa do desmatamento das margens.
Quais são as
reivindicações comuns dos seringueiros?
Chico - Hoje a principal luta é pela criação
da reserva extrativista. Tivemos uma conquista numa área
de 60 mil lia em Cachoeira, onde os seringueiros se organizaram
com piquetes de mais, de quatrocentos homens não
permitindo o desmatamento, e o Mirad teve que de se apropriar.
Lá estamos agora abrindo escolas e posto de saúde.
Como é a receptividade
desse tipo de prática nos grupos da cidade da região?
Chico - Começa aos poucos a crescer uma consciência.
A população da cidade se vê sufocada
pela fumaça das queimadas que provocam casos de pneumonia,
desidratação, malária, sobretudo nas
crianças.
O pequeno comércio - chamado de regatão, nome
que veio dos judeus e turcos que ocuparam a região
- tem Xapuri como uma cidade criada por eles. Estes compravam
a borracha e a castanha.
Hoje há uma receptividade maior da cidade, mas antes
havia um preconceito muito grande da cidade em relação
ao campo. Porque o seringueiro, por não ter tido
o privilégio de estudar, chegando na cidade, ficava
meio atarantado e ia logo tomando sua pinguinha para se
encorajar. Então ele era tido como bêbado.
Agora não. Hoje ele é tido como uma pessoa
de respeito, porque a cidade começou a ver que ela
sobrevive graças à resistência do seringueiro.
O objetivo deles é queimar porque o IBDF é
tão incompetente que não tem nenhuma capacidade
de frear. Agora não, porque a ONU fez uma denúncia,
a Globo está mostrando, mas isso é balela.
Não basta denunciar ou mostrar as queimadas. No ano
passado a pista de pouso do Acre ficou interdita da durante
três dias, agora já está com mais de
três semanas, isso devido às queimadas. Pilotos
me contaram que as queimadas mais fortes estão em
Rondônia e Mato Grosso.
Com a nossa resistência em Xapuri, este ano eles só
conseguiram desmatar 50 ha, ainda assim porque tiveram o
aparato policial garantindo. Não pudemos nos aproximar
pois não queríamos o confronto armado. Queremos
criar fatos políticos no sentido de sensibilizar
a opinião pública. Conseguimos mesmo assim,
suspender esse desmatamento com o apoio de São Paulo
e Rio de Janeiro, que enviaram telegramas de protestos e
o governo se viu obrigado a me chamar para negociar a retirada
da policia da área. Mas aí a Autobrás,
numa região onde o Sindicato de Rio Branco não
tem nenhuma ação enérgica, conseguiu,
às escondidas, desmatar 15 mil ha.
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O último
diálogo (Conselho Nacional dos Seringueiros www.cnsnet.org.br)
Engenheiro agrônomo
e advogado, assessor de Chico Mendes de janeiro de 1986
até 22 de dezembro de 1988, dia da morte do líder
seringueiro. Permaneceu em Xapuri até o final de
1992, quando saiu para cursar Direito na Ufac (Universidade
Federal do Acre), no período de 1993 a 1997. Hoje
advoga e participa do Comitê Chico Mendes.
- Ô, Guma, que bom que você chegou, assim vamos
poder fazer uma 'parceirada' pra ganhar destes 'patos' aqui.
Estou ganhando deles sozinho. Senta aí.
- Não, Chico, eu não sei jogar dominó
direito.
- Ah,. mas pra jogar com estes patos você é
muito bom.
- Não, mas eu não jogo nada a valer.
- Ah, mas jogar com estes patos não compensa, se
não for valendo alguma coisa...
- Tá bom, então, vamos jantar comigo?
- Obrigado, Chico, mas eu não quero jantar.
- Vamos, sim.
- É que estou preocupado com o que lhe disse ontem.
- É... realmente eu andei por ai e também
não vi os caras durante o dia.
- Pois é, eu estou preocupado. Vou sair e dar uma
volta na cidade para ver se vejo os pistoleiros.
- Tá bom, enquanto isso eu vou tomar um banho e te
espero para jantar.
- Está bem, volto logo...
Este foi, mais ou menos, o meu último diálogo
com Chico Mendes, no início da noite de 22 de dezembro
de 1988. A cena é clara na minha mente, como se tivesse
acontecido ontem. Cheguei à casa dele, que estava
na cozinha, jogando dominó com dois dos policiais
destacados para fazer sua segurança, o cabo PM Roldão
e o soldado PM Lucas Roldão. Chico estava ganhando
o jogo, um de seus passatempos prediletos. Jogava valendo
dinheiro, pouca coisa, algo como R$ 0,50 (cinqüenta
centavos) cada partida, mas sempre valendo. Nunca o vi perdendo.
Era extremamente comedido no jogo e sabia jogar com maestria.
Como não me achava à altura dos jogadores
e estava realmente preocupado com o clima de insegurança
na cidade, decidi que não jogaria.
Pouco depois, chega a esposa de Chico Mendes, apressando
todos, pois queria colocar o jantar para que pudesse assistir
com tranqüilidade a novela da Rede Globo que estava
terminando. Salvo engano, estava sendo exibida " Vale
Tudo", onde a pergunta chave era: "Quem matou
Odete Reutmann" E ela não queria perder os capítulos
finais.
Chico Mendes convidou-me, então, para o jantar. Agradeci-lhe,
pois estava um pouco envergonhado. É que, no ano
de 1988, eu trabalhava em Xapuri sem receber qualquer tipo
de salário ou vencimento. Minha atividade era de
ajuda na criação e estruturação
da Cooperativa Agroextrativista de Xapuri Ltda., fundada
em 30 de junho de 1988. Não raro, chegava a passar
até dois dias sem comer, pois o CTA (Centro dos Trabalhadores
da Amazônia), entidade que eu representava em Xapuri,
pagava o aluguel da casa, o telefone e as vezes, conseguia
alguma doação financeira para que eu pudesse
permanecer trabalhando. Quando não tinha dinheiro,
comia na casa de alguns amigos ou ficava sem comer.
O Chico sabia disso e sempre que estava em Xapuri me convidava
para almoçar e jantar em sua casa. Era o repartir
da pobreza, pois ele também dependia das ajudas e
doações dos antigos que não moravam
em Xapuri. Naquele início de noite não foi
diferente, insistiu para que eu o acompanhasse no jantar.
PRENÚNCIO...
Eu o alertei sobre o que
já havia dito no dia anterior: "Chico, estou
preocupado porque não vejo os pistoleiros na cidade.
Tem alguma coisa muito estranha nisso tudo". Ele, que
chegara naquele dia a Xapuri, respondeu-me que no dia seguinte
iria "dar uma olhada". Quando se recordou do que
dissera no dia anterior, respondeu-me: "É, realmente
eu andei por ai e também não vi os caras durante
o dia".
E por que a presença dos pistoleiros significava
alguma coisa? Para quem está distante, talvez não
seja possível entender tal situação
Para nós que, desde março daquele ano, ao
abrir as janelas de nossas casas ou do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais, pela manhã víamos dois pistoleiros
armados parados bem em frente, e que ali permaneciam durante
todo o dia... de repente, o "sumiço" deles
seria prenúncio de algo grave.
Estive ausente entre os dias 6 e 1 3 de dezembro, quando
participei de uma conferência no Rio de janeiro, patrocinada
pela CNDDA (Campanha Nacional em Defesa e pelo Desenvolvimento
da Amazônia), substituindo Chico Mendes. Lembro-me
de tê-la iniciado ressaltando a honra que era para
mim substituí-lo e que ele estava ameaçado,
podendo, inclusive, não chegar vivo ao final do ano.
Não estava adivinhando nada. Nós, que estávamos
em Xapuri, sabíamos que isso era possível.
Retomei em 9 de dezembro, fazendo uma rápida parada
no Mato Grosso do Sul para visitar meus pais e cheguei ao
Acre em 1 3 de dezembro. Dia 1 5 . comemoramos os 44 anos
de Chico Mendes. Desde que cheguei de viagem, percebi algo
estranho: o desaparecimento dos pistoleiros. Os locais onde
costumavam reunir-se para beber e fazer suas farras estavam
às moscas. Algo não estava andando bem.
Passaram-se dez anos e, não fosse a sentida ausência
de Chico Mendes, parece que tudo aconteceu ontem...
POUCOS AVANÇOS...
Se Chico Mendes estivesse
vivo, com certeza estaria presente na discussão que
se trava neste momento em torno de um modelo de desenvolvimento
para o Acre. A discussão avançou pouco nesta
década. Os fazendeiros continuam afirmando que o
"desenvolvimento" só acontecerá
se suas atividades forem incentivadas e apoiadas pelas políticas
governamentais - não obstante os bilhões de
dólares gastos com incentivos fiscais desde a década
de 70, na Amazônia, para apoiar grandes projetos agropecuários,
todos falidos.
Os madeireiros aumentam a pressão em toda a região,
inclusive com a presença de grandes empresas asiáticas
no Amazonas. E no Acre, agora, para defender suas posições
na Assembléia Legislativa e junto ao governo do estado,
contam até com deputado eleito pela coligação
que apoiou Jorge Viana para governador. Este, por sua vez,
foi desenterrar o apoio da ITTO (International Timber Trade
Organization), já questionado pelo próprio
Chico Mendes.
Na outra ponta, estão os extrativistas e coletores
(seringueiros, castanheiras, quebradoras de babaçu,
coletores de açaí, ribeirinhos etc), que conseguiram
algumas vitórias importantes com a criação
de várias reservas extrativistas em toda a região
Amazônica, mas que continuam sem uma política
definida de apoio às suas atividades. Faltam garantia
de mercado, preço justo, transporte, educação,
saúde etc.
ACHO QUE FALTA CHICO
MENDES... E COMO ...
Pra mim, talvez como compensação,
tive uma grande alegria: o nascimento de meu filho, Clovis
Gabriel que, coincidentemente e sem nenhum planejamento,
nasceu no dia 22 de dezembro de 1997. já está
definido, no entanto, que sua festa de aniversário
nunca será no dia de seu nascimento. Será
antes ou depois, pois no dia 22 de dezembro nunca será
possível estar alegre, será o momento de lembrar
meu melhor amigo.
Por Gomercindo Clovis Garcia
Rodrigues
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Reserva
Chico Mendes (Ibama/CNPT)
A
RESEX Chico Mendes, criada pelo Decreto Nº 99.144
de 12/03/1990, está localizada no Estado do
Acre. Com uma área aproximada de 970.570 ha,
a Reserva abrange os municípios de Assis Brasil,
Brasiléia, Capixaba, Xapuri, Sena Madureira
e Rio Branco.
O acesso à Reserva pode ser feito por via rodoviária
pela BR-317, exceto no período chuvoso, quando
o acesso se restringe somente até o extremo
sudeste de Brasiléia. Essa rodovia, praticamente,
contorna a área da Reserva em seu lado Leste-Sul
com regular trafegabilidade durante todos os meses
do ano, somente, até Brasiléia.
|
Por via fluvial,
é possível entrar na Reserva pelo Rio
Xapuri e afluentes, exceto no período de seca,
quando praticamente, não é possível
a navegação devido ao baixo nível
de água e à formação de
enormes bancos de areia. Outro acesso viável
é pela parte mais oriental da Reserva, município
de Sena Madureira, pelo Rio Iaco e Rio Macauã
e seus afluentes. Por via aérea, é possível
chegar a todas as Cidades no entorno da Reserva, que
possuam campo de pouso. O melhor é o Aeroporto
Internacional de Rio Branco. |
CARACTERÍSTICAS...
O clima é quente
e muito úmido com uma temperatura média anual
em torno de 26°C. O período mais quente ocorre
nos meses de setembro, outubro e novembro com médias
máximas de 38° C, e o período mais frio
em junho, julho e agosto com médias mínimas
de 20°C. A precipitação média anual
está em torno de 2.200 mm. A maior precipitação
ocorre durante os meses de janeiro, fevereiro e março
que atingem um somatório de até 800 mm. O
período mais seco é registrado nos meses de
junho, julho e agosto com média acumulada de até
150 mm.
O bioma dominante é a floresta tropical aberta, com
sub-grupos diferenciados: floresta tropical aberta com bambu,
floresta tropical aberta com palmeiras e floresta tropical
aberta com cipó. Em menor proporção
ocorrem formações de floresta tropical densa.
Levantamentos realizados pelo Projeto RADAMBRASIL indicam
que os solos da área da Reserva são predominantemente
de alta fertilidade, existindo porém manchas de solos
pobres.
Por Gomercindo Clovis Garcia Rodrigues
DECRETO N° 99.144,
DE 12 DE MARÇO DE 1990...
Cria a Reserva Extrativista
Chico Mendes
O Presidente da República, usando das atribuições
que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Lei n° 6.938,
de 31 de agosto de 1981; com a nova redação
dada pela Lei n° 7.804, de 18 de julho de 1989, combinado
com o Artigo 3° do Decreto n° 98.897, de 30 de janeiro
de 1990.
DECRETA:
Art. 1° - Fica criada, nos Municípios de Xapuri,
Rio Branco, Brasiléia e Assis Brasil, no Estado do
Acre, a RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES, com área
aproximada de 970.570 ha (NOVECENTOS E SETENTA MIL, QUINHENTOS
E SETENTA HECTARES) que passa a integrar a estrutura do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA, autarquia vinculada ao Ministério
do Interior, compreendida dentro do seguinte perímetro:
NORTE: Partindo
do ponto 1 de coordenadas geográficas aproximadas
de 10°30'38" S e 69°47'57" Wgr; localizada
na confluência do Igarapé Samarrã com
o Rio Iaco, segue pela margem direita do Rio Iaco, sentido
jusante até a confluência de um Igarapé
sem denominação; daí, segue pela margem
esquerda do Igarapé sem denominação
no sentido montante até o Ponto 2 de coordenadas
geográficas aproximadas (cga) 10°17'40"
S e 69°10'57" War; localizado na sua cabeceira;
desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 63°45'49"
e distância aproximada 23188,11 m, até o Ponto
3 de cga, 10°12'07" S e 68°59'33" Wgr;
localizado na confluência do Rio Espalha, com Igarapé
sem denominação; desse ponto, segue pela margem
esquerda do Igarapé sem denominação
até sua cabeceira, Ponto 4 de cga, 10°5'30"
S e 68°57'09" Wgr; desse ponto, segue por uma reta
de azimute aproximado 120°50'47" e distância
aproximada 8386,30 m, até o Ponto 5 de cga, 10°17'50"
S e 68°53'12" Wgr; situado na cabeceira de um Igarapé
sem denominação, daí, segue pela margem
direita do Igarapé sem denominação,
no sentido jusante, até sua confluência Igarapé
Riozinho; daí, segue pela margem direita do Igarapé
Riozinho no sentido jusante até sua confluência
com o Igarapé Fundo; daí, segue pela margem
esquerda do Igarapé Fundo, no sentido montante, até
a sua cabeceira Ponto 6 de cga, 10°16'28" S e 68°38'08"
Wgr; desse ponto segue por uma reta de azimute aproximado
83°39'35" e distância aproximada de 452,70
m, até o Ponto 7 de cga, 10°16'26" S e 68°37'53"
Wgr; situada na cabeceira do Igarapé Mambuca; desse
ponto segue pela margem direita do Igarapé Mambuca
no sentido jusante até a confluência com o
Igarapé São Raimundo; daí, segue pela
margem direita do Igarapé São Raimundo, no
sentido jusante até a confluência com o Igarapé
Grande; daí, segue pela margem esquerda do Igarapé
Grande, no sentido montante até sua cabeceira, Ponto
8 de cga, 10°15'41" S e 68°26'18" Wgr;
desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 55°29'29"
e distância aproximada de 1941,65 m, até o
Ponto 9 de cga, 10°15'06" S e 68°25'15"
Wgr; situado na cabeceira de um Igarapé sem denominação;
desse ponto, segue pela margem direita do Igarapé
sem denominação, no sentido jusante até
sua confluência com o Igarapé Taxi, daí,
segue pela margem direita do Igarapé Taxi, no sentido
jusante, até sua confluência com o Igarapé
Iguatu; daí, segue pela margem esquerda do Igarapé
Iguatu, no sentido montante, até sua cabeceira Ponto
10 de cga, 10°17'18" S e 68°17'41" Wgr;
desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 150°21'15"
e distância aproximada de 2370,65 m, até o
Ponto 11 de cga, 10°18'26" S e 68°17'05"
Wgr; desse ponto, segue pela margem direita do Igarapé
da Taboca no sentido jusante até sua confluência
com o Igarapé Jatobá; daí, segue pela
margem esquerda do Igarapé Jatobá, no sentido
montante até sua cabeceira Ponto 12 de cga, 10°16'05"
S e 68°04'43" Wgr.
LESTE: Do
ponto 12, segue por uma reta de azimute aproximado 76°30'15"
Wgr; situado na cabeceira do Igarapé Tio Chico; desse
ponto, segue pela margem direita do Igarapé Tio Chico,
no sentido jusante, até sua confluência com
o Igarapé Caipora; daí, segue pela margem
esquerda do Igarapé Caipora até sua confluência
com o Igarapé Extrema, Ponto 14 de cga, 10°18'40"
S e
67°51'31" Wgr; desse ponto, segue acompanhando
os limites Leste, Sul e Oeste da Reserva Extrativista São
Luis do Remanso/INCRA, até o Ponto 15 de cga, 10°25'07"
S e 67°58'13" Wgr; situado na margem esquerda do
Rio Acre; desse ponto, segue pela margem esquerda do Rio
Acre; no sentido montante, até a confluência
com um Igarapé sem denominação, localizado
próximo a Fazenda Pau de Mulato; daí, segue
pela margem esquerda do Igarapé sem denominação,
no sentido montante, até sua cabeceira Ponto 16 de
cga, 10°28'47" S e 68°06'52" Wgr; desse
ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 260°51'30"
e distância aproximada de 8.811,92m, até o
Ponto 17 de cga, situado na cabeceira do Igarapé
Dois Irmãos.
SUL: Do Ponto 17,
segue pela margem direita do Igarapé Dois Irmãos,
no sentido jusante, até a confluência com o
Rio Acre; daí, segue pela margem esquerda do Rio
Acre, no sentido montante, até a confluência
com o Igarapé São Pedro; daí, segue
pela margem direita do Igarapé São Pedro,
no sentido montante, até sua cabeceira, Ponto 18
de cga, 10°30'50" S e 68°29'37" Wgr; desse
ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 255°06'49"
S e distância aproximada de 8174,35m, até o
Ponto 19 de cga, situado na cabeceira do Rio Branco; desse
ponto, segue pela margem direita do Rio Branco, no sentido
jusante até a confluência com o Igarapé
Castanheira, e por este Igarapé, segue pela margem
esquerda no sentido montante até o Ponto 20 de cga,
10°20'36" S e 68°39'13" Wgr; situado na
cabeceira desse igarapé, segue por uma reta de azimute
267°09'06" e distância aproximada de 20.124,86m,
até o Ponto 21 situado na cabeceira de um Igarapé
sem denominação, de cga, 10°30'09"
S e 68°50'145" Wgr; desse ponto, segue pela margem
direita do Igarapé sem denominação
até a confluência com o Rio Xapuri; Ponto 22
de cga 10°33'34" S e 68°50'37" Wgr; daí,
segue pela margem esquerda do Rio Xapuri, no sentido jusante
até o Ponto 23 de cga, 10°34'29" S e 68°39'22"
Wgr; localizado na confluência com um Igarapé
sem denominação, desse ponto, segue pela margem
esquerda do Igarapé sem denominação
no sentido montante até o Ponto 24 de cga 10°36'33"
S e 68°40'44" Wgr; situado na cabeceira; desse
ponto segue por uma reta de azimute aproximado 161°33'54"
e distância aproximada de 1581,38rn, até o
Ponto 25 de cga, 10°37'22" S e 68°40'28"
Wgr; localizado no Igarapé Riozinho; desse ponto,
segue pela margem direita do Igarapé Riozinho, no
sentido jusante, até a sua confluência com
o Igarapé São João; daí, segue
pela margem esquerda do Igarapé São João,
no sentido montante até a confluência com um
Igarapé sem denominação; daí,
segue pela margem esquerda do Igarapé sem denominação
até sua cabeceira Ponto 26 de cga 10°39'16"
S e 68°38'36" Wgr; desse ponto, segue por uma reta
de azimute aproximado 94°17'21" e distância
aproximada de 4.011,23m, até o Ponto 27 de cga, 10°39'25"
S e 68°36'24" Wgr; localizado na margem esquerda
do Igarapé Santa Isabel, desse ponto, segue por uma
reta de azimute aproximado 137°46'12" e distância
aproximada 8778,38m, até o Ponto 28 de cga, 10°42'57"
S e 68°33'10" Wgr; desse ponto, segue por uma reta
de azimute aproximado 114°26'38" e distância
aproximada 1208,31m, até o Ponto 29 de cga, 10°43'13"
S e 68°32'33" Wgr; situado na margem esquerda do
Rio Acre, desse ponto, segue pela margem esquerda do Rio
Acre até a confluência com Igarapé sem
denominação; daí, segue pela margem
esquerda do referido Igarapé até o Ponto 30
de cga, 10°45'55" S e 68°27'40" Wgr, situado
na sua cabeceira; desse ponto, segue por uma reta de azimute
aproximado 195°15'18" e distância aproximada
2.280,35m, até o Ponto 31 de cga, 10°47'07"
S e 68°28'00" Wgr; desse ponto, segue por uma reta
de azimute aproximado 212°09'08" e distância
aproximada 4134,00m, até o Ponto 32 de cga, 10°49'01"
S e 68°29'12" Wgr; desse ponto segue por uma reta
de azimute aproximada 306°17'07" e distância
aproximada 9800,51m, até o Ponto 33 localizado na
margem direita do Rio Acre, de cga, 10°45'52" S
e 68°33'32" Wgr; desse ponto, segue pela margem
esquerda do Rio Acre, no sentido jusante até sua
confluência com o Igarapé Bom Jardim, Ponto
34 de cga, 10°45'00" S e 68°31'57" Wgr;
desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximada 288°05'00"
e distância aproximada de 5.154,61m, até o
Ponto 35 de cga, 10°44'08" S e 68°34'38"
Wgr, situado na confluência de um Igarapé sem
denominação com o Igarapé Santo Antônio;
desse ponto, segue pela margem esquerda do Igarapé
Santo Antônio; no sentido jusante até a confluência
com o Igarapé Monte Branco; daí, segue pela
margem direita do Igarapé Branco, até o Ponto
36 de cga, 10°43'16" S e 68°38'03" Wgr;
desse ponto, segue por uma reta de azimute 0°0'00"
e distância aproximada de 9.500,00m, até o
Ponto 37 de cga, 10°48'26" S e 68°38'02"
Wgr, situado no Igarapé das Filipinas; desse ponto,
segue pela margem direita do Igarapé Filipinas; no
sentido jusante até o Ponto 38 de cga, 10°47'40"
S e 68°35'34" Wgr; desse ponto, segue por uma reta
de azimute aproximado 0°0'00" e distância
aproximada de 1.800,00m, até o Ponto 39 de cga, 10°48'38"
S e 68°35'34" Wgr; daí, segue por uma reta
de azimute aproximado 90° e distância aproximada
de 2.400,00m, até o Ponto 40 de cga, 10°48'38"
S e 68°34'15" Wgr; situado no Rio Acre; desse ponto
segue pela margem direita do Rio Acre, até a confluência
com o Igarapé Santa Fé; daí, segue
pela margem esquerda do Igarapé Santa Fé,
no sentido montante até o Ponto 41 de cga, 10°49'47"
S e 68°30'28" Wgr; localizado na confluência
com um Igarapé sem denominação; desse
ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 171°01'38"
e distância aproximada 1923,54m, até o Ponto
42 de cga, 10°50'48" S e 68°30'18" Wgr;
situado na confluência de um Igarapé sem denominação,
com o Igarapé Santa Fé, desse ponto, segue
por reta de azimute aproximado 241°33'20" e distância
aproximada de 2.729,47m, até o Ponto 43 de cga, 10°51'31"
S e 68°31'37" Wgr; situado na cabeceira do Igarapé
dos Paus; desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximado
338°11'54" e distância aproximada 2692,58m,
até o Ponto 44 de cga, 10°50'09" S e 68°32'10"
Wgr; situado na cabeceira do Igarapé Preto; desse
ponto, segue pela margem direita do Igarapé Preto,
no sentido jusante, até sua cabeceira com o Rio Acre;
daí, segue pela margem esquerda do Rio Acre no sentido
montante até a confluência com o Igarapé
Pupunha; daí, segue pela margem esquerda do Igarapé
Pupunha, até a confluência com um Igarapé
sem denominação; e por este segue pela margem
esquerda no sentido montante até o Ponto 45 de cga,
10°51'10" S e 68°33'12" Wgr; situado na
cabeceira; desse ponto segue por uma reta de azimute aproximado
189°12'39" e distância aproximada de 3748,33m,
até o Ponto 46 de cga, 10°53'18" S e 68°33'32"
Wgr; situado na margem esquerda do Igarapé Revolta;
desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximado 231°20'24"
e distância aproximada de 1920,94m, situado na margem
direita do Igarapé Monte Santo Ponto 47 de cga, 10°53'58"
S e 68°34'21" Wgr; desse ponto, segue pela margem
direita do Igarapé Monte Santo até a sua confluência
com o Rio Acre; daí, segue pela margem esquerda do
Rio Acre no sentido montante até a confluência
do Igarapé Grande; daí, segue pela margem
esquerda do Igarapé Grande no sentido montante até
sua cabeceira Ponto 48 de cga, 10°52'17" S e 68°44'50"
Wgr; desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximado
27°38'45" S e distância aproximada de 2370,65m,
até o Ponto 49 de cga, 10°51'09" S e 68°44'04"
Wgr; situado na cabeceira de um Igarapé sem denominação;
desse ponto, segue pela margem direita do Igarapé
sem denominação, no sentido jusante até
sua confluência com o Igarapé Pindacuara; daí,
segue pela margem esquerda do Igarapé Pindacuara
no sentido montante; até a confluência com
um Igarapé sem denominação, e por este
segue pela margem esquerda no sentido montante até
o Ponto 50 de cga, 10°49'31" S e 68°46'59"
Wgr; situado na sua cabeceira; desse ponto, segue por uma
reta de azimute aproximado 322°25'53" e distância
aproximada 2460,18m, até o Ponto 51 de cga, 10°49'02"
S e 68°47'12" Wgr; situado na cabeceira do Igarapé
Natal; desse ponto, segue pela margem direita do Igarapé
Natal até a confluência com o Igarapé
Riozinho; daí, segue pela margem esquerda do Igarapé
Riozinho no sentido montante, até a confluência
com o Igarapé Entre Rios; daí, segue pela
margem esquerda do Igarapé Entre Rios, até
a confluência com um Igarapé sem denominação
e por este margem esquerda, no sentido montante Ponto 52
de cga, 10°46'33" S e 68°56'45" Wgr; desse
ponto, segue por uma reta de azimute aproximado de 2952,96m,
até o Ponto 53, de cga, 10°47'18" S e 68°58'11"
Wgr, localizado na cabeceira de um Igarapé sem denominação;
desse ponto, segue pela margem direita do Igarapé
sem denominação, no sentido jusante até
a confluência com o Igarapé Virtude, Ponto
54 de cga, 10°45'24" S e 68°59'36" Wgr;
desse ponto segue por uma reta de azimute aproximado 306°13'16"
e distância aproximada de 28261,81m, até o
Ponto 55 de cga, 10°36'20" S e 69°12'07"
Wgr; situado na confluência do Igarapé Sindicato
com o Rio Xapuri; desse ponto, segue pela margem esquerda
do Rio Xapuri, até o Ponto 56 de cga, 10°36'20"
S e 69°12'07" Wgr; desse ponto, segue por uma reta
de azimute 185°39'16" e distância aproximada
de 10149,38m, até o Ponto 57 de cga, 10°46'01"
S e 69°18'09" Wgr; desse ponto segue pelo limite
norte do PAD Quixadá e pelos limites norte e oeste
da Reserva Extrativista de Santa Quitéria - INCRA,
até o Ponto 58 de cga, 10°52'26" S e 69°32'43"
Wgr; situado no Igarapé São Pedro, desse ponto,
segue pela margem esquerda do Igarapé São
Pedro, no sentido montante até o Ponto 59 de cga,
10°51'30" S e 69°39'54" Wgr; desse ponto,
segue por uma reta de azimute aproximado de 0°0'00"
e distância aproximada de 11.000,00m, até Ponto
60 de cga, 10°57'28" S e 69°39'55" Wgr;
localizado na margem esquerda do Rio Acre; divisa Internacional
Brasil-Peru; desse ponto segue pela margem esquerda do Rio
Acre, no sentido montante até o Ponto 13 de cga,
10°55'45" S e 69°47'18" Wgr; pertencente
a Área Indígena Cabeceira do Rio Acre, definida
pela Portaria n° 1.173/88; localizado na margem esquerda
do Rio Acre.
OESTE: Do
Ponto 13, segue pelo limite leste da Área Indígena
Cabeceira do Rio Acre, através das retas 13 - 12,
12 - 11, 11 - 10, 10 - 09, 09 - 08, 08 - 62, com os respectivos
azimutes e distâncias aproximadas: 25°49'15"
- 6887,67m, 344°44'41" - 1140,18m, 325°11'40"
- 781,03m, 34°59'31" - 1830,98m, 332°33'37"
- 2929,59m, e 16°41'57" - 1044,03m, até
o Ponto 61 de cga, 10°47'24" S e 69°46'06"
Wgr; desse ponto, segue por uma reta de azimute aproximada
349°49'28" S e a distância aproximada de
3962,32m, até o Ponto 62 de cga, 10°45'21"
S e 69°46'28" Wgr; localizada na cabeceira do Igarapé
Samarrã, daí, segue pela margem direita do
Igarapé Samarrã, até o Ponto 1 inicial
da presente descrição perimétrica.
Art. 2° - A Reserva Extrativista Chico Mendes, tem seus
limites descritos através das folhas topográficas
em escala de 1:100.000, MIR 1603, 1604, 1605, 1606, 1671,
1672, 1673, 1674, 1675, 1676 e 1737, editado pela Diretoria
do Serviço Geográfico do Exército,
anos 80/81.
Art. 3° - O Poder Executivo deverá proceder às
desapropriações das áreas privadas
legitimamente extremadas do Poder Público, à
identificação e arrecadação
das áreas públicas e, nos termos do Art. 4
do Decreto 98.897, de 30 de janeiro de 1990, à outorga
de Contratos de Consessão de Direito Real de Uso
à População com tradição
extrativista.
Parágrafo único - Caberá, ainda, ao
Poder Executivo, a permanente gestão no sentido de
assegurar a eficaz destinação da área
descrita no art. 1° desse Decreto.
Art. 4° - A área da Reserva Extrativista ora
criada fica declarada de interesse ecológico e social,
conforme preconiza o Art. 225 da Constituição
Federal, o Art. 9°, inciso VI, da Lei n° 6.938,
de 31 de agosto de 1981, com a nova redação
dada pela Lei n2 7.804, de 18 de julho de 1989 e Art. 2°
do Decreto n° 98.897, de 30 de janeiro de 1990.
Art. 5° - Este Decreto entrará em vigor na data
da sua publicação.
Art. 6° - Revogadas as disposições em
contrário.
Brasília-DF, 12 de março de 1990; 169°
da Independência e 102° da República.
JOSÉ SARNEY
João Alves Filho
FINALIDADES DO
PLANO...
1. Este Plano Objetiva
assegurar a auto-sustentabilidade da Reserva Extrativista
CHICO MENDES mediante a regulamentação da
utilização dos recursos naturais e dos comportamentos
a serem seguidos pelos moradores. Está aqui contida
a relação das condutas não predatórias
incorporadas à cultura dos moradores, bem como as
demais condutas que devem ser seguidas para cumprir a legislação
brasileira sobre o meio ambiente.
2. Objetiva ainda este plano manifestar ao IBAMA, o compromisso
dos moradores, de respeito à legislação
ambiental e ao mesmo tempo oferecer àquele Instituto
um instrumento de verificação do cumprimento
das normas aceitas por todos.
3. Tendo sido um documento aprovado por todos os moradores,
ele serve de guia para que eles exerçam suas atividades
na reserva dentro dos limites estabelecidos.
RESPONSABILIDADE
PELA EXECUÇÃO DO PLANO...
4. Todos os moradores são
responsáveis pela execução do Plano,
como co-autores, co-responsáveis na gestão
da reserva e únicos beneficiários da mesma.
De forma mais direta as Associações de Seringueiros
da Reserva Extrativista CHICO MENDES, os Sindicatos de Trabalhadores
Rurais de Assis Brasil, Brasiléia, Xapuri e Sena
Madureira e o Conselho Nacional dos Seringueiros, respondem
pelo Plano.
5. O não cumprimento do presente Plano de Utilização
significa quebra do compromisso do Direito de Uso da Reserva
por parte dos moradores, de modo a conservá-la para
os filhos e netos, tal como a receberam, e resultará
na perda dos direitos de uso por parte do infrator, nos
termos das penalidades estabelecidas neste Plano de Utilização.
INTERVENÇÕES
EXTRATIVISTAS E AGRO-PASTORIS...
6. Cada família
só poderá ter uma colocação
e será considerada colocação uma unidade
com o mínimo de duas estradas de seringa. É
proibido a partir da homologação deste documento
usar estradas de outras colocações. As estradas
devem pertencer às respectivas colocações.
7. É responsabilidade do seringueiro zelar por suas
estradas de seringa e castanheira.
8. As seringueiras e castanheiras não podem ser derrubadas.
Devem ser evitadas as derrubadas e queimadas que ameacem
a sobrevivência das seringueiras e castanheiras.
9. O uso de estradas de seringa será feito conforme
as práticas tradicionais obedecendo-se ao limite
de 50 dias anuais de corte por estrada e de dois dias semanais
por estrada, sendo vedado cortar danificando lenho "no
pau" e sendo empregado o sistema de corte "pela
banda" ou "pelo terço" para a divisão
das bandeiras e a colocação das tigelas, até
que surjam técnicas mais apropriadas.
10. Os moradores da reserva poderão extrair madeira
para uso próprio; tais como construções
no interior da reserva, barcos, móveis e instrumentos
de trabalho.
11. É proibida a entrada de madeireiros na reserva
com o fim de realizar exploração comercial
de madeira sob qualquer forma.
12. Não será permitido o comércio de
madeiras, na Reserva Extrativista.
13. É facultado o uso de palmeiras para a cobertura
de casas, bem como a coleta de frutos das palmeiras..
14. Exploração comercial de outros produtos
que impliquem em derrubada das palmeiras, tal como palmito,
só poderá ser feito com capacidade de produção
sustentável, a ser determinado por plano de manejo
aprovado pelo IBAMA, ouvidos os representantes da Reserva.
15. Os moradores da reserva poderão realizar atividades
complementares, tais como agricultura, criação
de pequenos animais, piscicultura, pecuária, agrosilvicultura.
Estas atividades poderão ocupar até dez por
cento (10%) da área da colocação.
16. A criação de animais como porcos, gado
e ovelhas deve ser feita por comum acordo dos moradores
da vizinhança, ficando a construção
de cercas ou chiqueiros sempre por conta do criador.
17. A criação de grandes animais será
permitida até o limite máximo de 50% da área
da colocação destinada para atividades complementares.
18. Fica estabelecido para efeito de benfeitoria que as
áreas de pastagens terão valores menores comparadas
a outras benfeitorias como sistemas agroflorestais, por
exemplo. Esses valores serão ainda fixados após
estudo técnico.
19. Obedecendo ao artigo 2° do Código Florestal
Brasileiro, não podem ser desmatadas as "Florestas
de Preservação Permanente" entendidas
estas como as matas ciliares, as das nascentes e as das
margens de cursos d'água, ou outras.
20. As capoeiras deverão ser aproveitadas para atividades
agroflorestais e agrícolas e para a criação
de animais de pequeno e grande porte.
NOVAS INTERVENÇÕES
NA FLORESTA...
21. Produtos da floresta
como frutos, óleos, essências, serão
extraídos para consumo dos moradores, e sua comercialização
só poderá ser feita mediante estudo que assegure
a capacidade de produção sustentável.
INTERVENÇÕES NA FAUNA...
22. Os moradores da reserva tem o direito de pescar (mariscar)
para sua alimentação.
23. É proibida a pesca profissional no interior da
reserva.
24. É proibido aos moradores da reserva a utilização
de explosivos, venenos e arrastão para pesca nas
áreas da reserva.
INTERVENÇÕES
NAS ÁREAS DE USO COMUM...
25. Os rios, lagos, varadouros,
praias e barrancos são áreas de uso comum
na reserva, respeitando-se a tradição dos
moradores. Essas áreas de uso comum deverão
ser mantidas e conservadas pela comunidade.
26. A construção de açudes, ramais
e outras obras que gerem impactos só poderão
ser realizadas após estudos que as aprovem e, sejam,
aprovadas também pelas comunidades envolvidas. Os
ramais que forem abertos deverão ser controlados
pelas comunidades e Associações.
FISCALIZAÇÃO
DA RESERVA...
27. Cada seringueiro é
um fiscal de sua colocação e das outras colocações,
cabendo a ele não só zelar por sua colocação,
como também observar para que as normas deste "Plano
de Utilização" estejam sendo cumpridas
pelo conjunto dos moradores.
28. Será constituída, uma Comissão
de Proteção da Reserva ligada diretamente
à Associação. Essa Comissão
será composta por cinco membros eleitos em Assembléia
Geral da Associação.
29. O regimento da Comissão de Proteção
da Reserva será elaborado pelo Conselho Deliberativo
da Associação e aprovado em Assembléia
Geral
30. A entrada de novos moradores na Reserva será
possível tanto para substituição de
alguém que está saindo, quanto para ocupar
colocações abandonadas, sempre mediante aprovação
da Associação que estabelecerá um regulamento
para tal.
PENALIDADES...
31. Quando houver uma infração
ao Regulamento, o seringueiro será inicialmente advertido
pela Comissão.
32. Após duas advertências o caso será
comunicado à Associação para tomar
providências. A Associação após
ouvir a Comissão de Proteção da Reserva
poderá comunicar ao IBAMA para que sejam adotadas
as devidas providências.
33. O seringueiro que tiver perdido sua Licença de
Uso não poderá requerer outra na Reserva Extrativista
Chico Mendes.
DISPOSIÇÕES
GERAIS...
34. O presente Plano de
Utilização poderá ser alterado após
proposta apresentada por grupo de no mínimo 10% das
famílias da reserva e aprovada com no mínimo
20% dos moradores reunidos em Assembléia Geral, desde
que as alterações propostas não entrem
em conflito com a finalidade da reserva, e desde que sejam
aprovadas pelo IBAMA.
35. As normas gerais deste Plano de Utilização
serão aplicadas conforme os regulamentos aqui contidos,
cabendo ao IBAMA, aos Sindicatos e Associações
a fiscalização e monitoramento da Reserva.
36. Quando um seringueiro solicitar a transferência
ou troca de sua colocação por outra, a transação
só poderá ser efetuada após aprovação
da comunidade, e desde que aquela esteja bem zelada.
37. É vedada a exploração comercial
dos recursos do solo e subsolo, tais como areia, minérios
e outros.
38. A pesquisa, fotografia, filmagem e coleta de material
genético no interior da reserva só poderão
ser realizados mediante autorização expressa
do IBAMA, após ouvir a Associação.
DIREITO A FISCALIZAR...
Conforme estabelecido no Plano de Utilização
da Reserva Extrativista Chico Mendes (§27), cada seringueiro
é um fiscal de sua colocação e das
outras colocações. Diz ainda o referido Plano
(§28), que será constituída uma Comissão
de Proteção da Reserva, com o objetivo de
apoiar a ASSOCIAÇÃO nessa tarefa.
Nesse sentido, o IBAMA promoverá treinamentos aos
moradores de forma a capacitá-los e credenciá-los
na atividade de fiscalização.
Esses treinamentos, terão como base a Resolução
do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA (N° 003/88,
de 16.03.88), que dá poderes as entidades civis com
finalidade ambientalista, de, pelo sistema de Mutirão,
participar da fiscalização de Unidades de
Conservação, lavrando autos de constatação
circunstanciados, cujo modelo será fornecido pelo
IBAMA.
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