RECURSOS
NATURAIS E CONSERVACIONISMO
Constituem recursos naturais
todos os bens da natureza que o homem utiliza, como o ar,
a água e o solo. Costuma-se classificar os recursos
naturais em dois tipos principais: renováveis e não
renováveis.
Os recursos naturais renováveis são aqueles
que, uma vez utilizados pelo homem, podem ser repostos.
Por exemplo: a vegetação (com o reflorestamento),
as águas em geral (com exceção dos
lençóis fósseis ou artesianos), o ar
e o solo (que pode recuperado através do pousio,
da proteção contra erosão, da adubação
correta, da irrigação, etc.).
Os recursos naturais não renováveis são
aqueles que se esgotam, ou seja, que não podem ser
repostos. Exemplos: o petróleo, o carvão,
o ferro, o manganês, o urânio, a bauxita (minério
de alumínio), o estanho, etc. Uma vez utilizado o
petróleo, por exemplo, através da produção
- e da queima - da gasolina, do óleo diesel, do querosene,
etc., é evidente que não será possível
repor ou reciclar os restos.
Essa separação
entre recursos renováveis e não renováveis
é apenas relativa. O fato de um recurso ser renovável,
ou reciclável, não significa que ele não
possa ser depredado ou inutilizado: se houver mau uso ou
descuido com a conservação, o recurso poderá
se perder. Por exemplo, degradação ou destruição
irreversível de solos, desaparecimento de uma vegetação
rica e complexa, que é substituída por outra
pobre e simples, etc. E mesmo o ar e a água, que
são extremamente abundantes, existem em quantidades
deles de suportar ou absorver poluição, sem
afetar a existência da vida, evidentemente não
é infinita. Dessa forma, mesmo os recursos ditos
renováveis só podem ser utilizados a longo
prazo por meio de métodos racionais, com uma preocupação
conservacionista, isto é, que evite os desperdícios
e os abusos.
Conservacionismo ou conservação dos recursos
naturais é o nome que se dá à moderna
preocupação em utilizar adequadamente os aspectos
da natureza que o homem transforma ou consome. Conservar,
nesse caso, não significa guardar e sim utilizar
racionalmente. A natureza deve ser consumida ou utilizada
para atender às necessidades do presente dos seres
humanos, mas levando em conta o futuro, as novas gerações
que ainda não nasceram, mas para as quais temos a
obrigação de deixar um meio ambiente sadio.
Foi somente a partir da degradação do meio
ambiente pelo homem - e da extinção de inúmeras
espécies animais e vegetais - que surgiu essa preocupação
conservacionista. O intenso uso da natureza pela sociedade
moderna colocou, especialmente no nosso século, uma
série de interrogações quanto ao futuro
do meio ambiente: Quando se esgotarão alguns recursos
básicos, como o petróleo ou o carvão?
Como evitar a destruição das reservas florestais
que ainda restam em nosso planeta e ao mesmo tempo garantir
alimentos e recursos para a crescente população
mundial? O que fazer para que não ocorra a extinção
total de certas espécies ameaçadas, como as
baleias? Como os países subdesenvolvidos poderão
resolver seus problemas de pobreza, fome e subnutrição
sem depredar a natureza? O conservacionismo procura responder
a essas e outras questões semelhantes conciliando
o desenvolvimento econômico com a defesa do meio ambiente,
por meio da utilização adequada dos bens fornecidos
pela natureza.
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O PATRIMÔNIO
CULTURAL-ECOLÓGICO
Somente a utilização
racional dos recursos naturais não basta. O conservacionismo
é uma atitude necessária mas insuficiente.
Além do uso racional da natureza, isto é,
pelo maior número de pessoas, é necessário
também preservá-la, resguardá-la tal
como ela ainda existe em certas áreas. Daí
ter surgido a idéia de patrimônio cultural
e ecológico da humanidade. Trata-se de paisagens
naturais ou obras de cultura que possuem um valor inestimável;
por exemplo, um rico ecossistema, uma cidade ou um monumento
que retratem ou simbolizem uma época ou uma civilização.
São exemplos de patrimônio ecológico:
o Pantanal Mato-Grossense (que possui a fauna mais rica
e variada do continente americano), a Amazônia, a
floresta do Congo na África, a Antártida.
Como patrimônios culturais podemos citar a Grande
Muralha da China, as pirâmides do Egito, as cidades
de Meca e Jerusalém.
Por que surgiu a necessidade de preservar ou resguardar
certas áreas ou obras, tanto culturais como naturais?
E por que se fala em patrimônio cultural-ecológico?
Com a industrialização e a chamada vida moderna,
tudo se transforma, tudo é constantemente modificado
em nome do "progresso". As memórias do
passado e a diversidade criada pela natureza são
destruídas a cada dia. Não se respeita nem
a História - as tradições e obras das
gerações anteriores - nem a natureza (os ecossistemas
em sua diversidade). Para que as futuras gerações
tenham uma idéia da riqueza do que foi produzido
no planeta, para que tombadas* ou protegidas pelo poder
público representa um avanço na defesa da
natureza e das obras artísticas, arquitetônicas
ou urbanísticas importantes no passado. Sem essa
proteção, tais obras estariam condenadas à
destruição para dar lucro a alguns.
CRISE
AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
Desde a década de
70 a humanidade vem tomando consciência de que existe
uma crise ambiental planetária. Não se trata
apenas da poluição de áreas isoladas,
mas de uma real ameaça à sobrevivência
dos seres humanos, talvez até de toda a biosfera.
O notável acúmulo de armamentos nucleares
nas décadas de 50, 60 e 70 ocasionou um sério
risco de extermínio possível anteriormente.
A multiplicação de usinas nucleares levanta
o problema do escape de radiatividade para o meio ambiente
e coloca a questão do que fazer com o perigoso lixo
atômico. O acúmulo de gás carbônico
também na atmosfera representa um risco de catástrofe,
pois ocasiona o crescimento do efeito estufa, que eleva
as médias térmicas da maior parte dos climas
do planeta.
Muitos outros problemas ambientais podem ser lembrados.
Um deles é a contaminação de alimentos
por produtos químicos nocivos à saúde
humana, como agrotóxicos adubos químicos,
hormônios e medicamentos aplicados comumente ao gado
para que ele cresça mais rapidamente ou não
contraia doenças. Podemos acrescentar ainda a crescente
poluição dos oceanos e mares, o avanço
da desertificação, o desmatamento acelerado
das últimas grandes reservas florestais originais
do planeta (Amazônia, bacia do rio Congo e Taiga),
a extinção irreversível de milhares
ou até milhões de espécies vegetais
e animais, etc.
Podemos falar numa consciência ecológica da
humanidade em geral, embora com diferentes ritmos - mais
avançada no Norte e mais tardia nos países
subdesenvolvidos - , que se iniciou por volta da década
de 70 e cresce a cada ano. Trata-se da consciência
de estarmos todos numa mesma "nave espacial",
o planeta Terra, o único que conhecemos que possibilitou
a existência de uma biosfera. Trata-se ainda da consciência
de que é imperativo para a própria sobrevivência
da humanidade modificar o nosso relacionamento com a natureza.
A natureza deixa aos poucos de ser vista como mero recurso
inerte e passa a ser encarada como um conjunto vivo do qual
fazemos parte e com o qual temos que procurar viver em harmonia.
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Um problema
mundial
Um fato que ficou claro
desde os anos 70 é que o problema ambiental, embora
possa apresentar diferenças nacionais e regionais,
é antes de mais nada planetário, global.
A longo prazo, de nada adianta, por exemplo, transferir
indústrias poluidoras de uma área (ou país)
para outra, pois do ponto de vista da biosfera nada se altera.
Não podemos esquecer que a atmosfera é uma
só, que as águas se interligam (o ciclo hidrológico),
que os ventos e os climas são planetários.
Vamos imaginar que estamos numa enorme casa, com todas as
janelas e portas fechadas, e há uma fogueira num
quarto nobre envenenando o ar. Alguém propõe
então transferir a fogueira para outro quarto, considerado
menos nobre. Isso elimina o problema do ar contaminado?
Claro que não. No máximo pode dar a impressão
de que por algum tempo melhorou a situação
dos que ocupam o quarto nobre. Isso elimina o problema do
ar contaminado? Claro que não. No máximo pode
dar a impressão de que por algum tempo melhorou a
situação dos que ocupam o quarto nobre. Todavia,
depois de um certo período (horas ou dias), fica
evidente que o ar da casa é um só e que a
poluição num compartimento propaga-se para
todo o conjunto. A biosfera, onde se inclui o ar que respiramos,
as águas e todos os ecossistemas, é uma só
apesar de muito maior que essa casa hipotética. O
ar, embora exista em grande quantidade, na realidade é
limitado e interligado em todas as áreas. Poderíamos
abrir as portas e janelas daquela casa, mas isso não
é possível para a biosfera, para o ar ou as
águas do nosso planeta.
Outro aspecto do caráter mundial que a crise ambiental
possui é que praticamente tudo o que ocorre nos demais
países acaba nos afetando. Até algumas décadas
atrás era comum a opinião de que ninguém
tem nada a ver com os outros, cada país pode fazer
o que bem entender com o seu território e com as
suas paisagens naturais. Hoje isso começa a mudar.
Vai ficando claro que explosões atômicas russas
ou norte-americanas, mesmo realizadas no subsolo ou em áreas
desérticas desses países, acabam mais cedo
ou mais tarde nos contaminando pela propagação
da radiação. Também a poluição
dos mares e oceanos (e até dos rios, que afinal desembocam
no mar), mesmo realizada no litoral de algum país,
acaba se propagando, atingindo com o tempo outros países.
As enormes queimadas de florestas na África ou na
América do Sul não dizem respeito unicamente
aos países que as praticam; elas fazem diminuir a
massa vegetal sobre o planeta (e as plantas, pela fotossíntese,
contribuem para a renovação do oxigênio
do ar) e, o que é mais importante, liberam enormes
quantidades de gás carbônico na atmosfera,
fato que acaba por atingir a todos os seres humanos. Inúmeros
outros exemplos poderiam ser mencionados. Todos eles levam
à conclusão de que a questão do meio
ambiente é mundial e é necessário criar
formas de proteção da natureza que sejam planetárias,
que não fiquem dependentes somente de interesses
locais - e às vezes mesquinhos - dos governos nacionais.
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POLÍTICA
E MEIO AMBIENTE
A crise ambiental vem suscitando
mudanças na política. Não apenas as
preocupações ecológicas cresceram enormemente
nos debates e nos programas de políticos e de partidos,
como também novas propostas surgiram. Até
mais ou menos a década de 60 era raro o partido político,
em qualquer parte do mundo, que tivesse alguma preocupação
com a natureza. Hoje esse tema ganha um certo destaque nos
programas, nas promessas eleitorais, nos discursos e algumas
vezes até na ação dos diversos partidos
políticos, em muitas partes do mundo. Multiplicaram-se
os ecologistas*, as organizações e os movimentos
ecológicos, assim como os partidos denominados verdes
que defendem uma política voltada basicamente para
uma nova relação entre a sociedade e a natureza.
Como infelizmente é comum em nossa época mercantilizada,
também no movimento "verde" há muito
oportunismo: às vezes a defesa do meio ambiente resulta
em promoção pessoal e mesmo em altos ganhos.
É o caso das empresas que visam apenas o lucro com
a venda de produtos ditos naturais. Podemos lembrar ainda
os constantes shows musicais cuja renda se destinaria aos
indígenas ou aos seringueiros da Amazônia -
que em geral até hoje nunca viram um centavo desses
milhões de dólares. Apesar de tudo isso, não
se pode ignorar a renovação que a problemática
ambiental ocasionou nas idéias políticas.
Até alguns anos atrás falava-se em progresso
ou desenvolvimento e aparentemente todo mundo entendia e
concordava. O que provocava maiores polêmicas eram
os meios para chegar a isso: para alguns o caminho era o
capitalismo, para outros o socialismo; certas pessoas diziam
que um governo democrático era melhor para se alcançar
o progresso, outras afirmavam que só um regime forte
e autoritário poderia colocar ordem na sociedade
e promover o desenvolvimento. Mas o objetivo era basicamente
o mesmo: o crescimento acelerado da economia, a construção
de um número cada vez maior de estradas, hospitais,
edifícios, aeroportos e escolas, a fabricação
de mais e mais automóveis, a extensão sem
fim dos campos de cultivo. A natureza não estava
em questão. O único problema de fato era a
quem esse desenvolvimento beneficiaria: à maioria
ou a uma minoria da população.
Usando uma imagem, podemos dizer que o progresso era um
trem no qual toda a humanidade viajava, embora alguns estivessem
na frente e outros atrás, alguns comodamente sentados
e outros de pé. Para os chamados conservadores (isto
é, a "direita"), isso era natural e inevitável:
sempre existiriam os privilegiados e os desfavorecidos.
Para os denominados progressistas (ou seja, a "esquerda"),
essa situação era intolerável e tornava
necessário fazer uma reformulação para
igualar a todos. Mas todas as pessoas concordavam com a
idéia de que o trem deveria continuar no seu caminho,
no rumo do "progresso", havia até discussões
sobre a melhor forma de fazer esse trem andar mais rapidamente.
A grande novidade da crise ambiental é que ela suscitou
a seguinte pergunta: Para onde o trem está indo?
E a resposta parece ser: Para um abismo, para uma catástrofe.
De fato, ao enaltecer o progresso durante séculos,
imaginava-se que a natureza fosse infinita: poderíamos
continuar usando petróleo, ferro, manganês,
carvão, água, urânio, etc. à
vontade, sem problemas. Sempre haveria um novo espaço
a ser ocupado, um novo recurso a ser descoberto e explorado.
A natureza, vista como um mero recurso para a economia,
era identificada com o universo, tido como infinito.
Mas hoje sabemos que a natureza que permite a existência
da vida e fornece os bens que utilizamos - a natureza para
o homem, afinal - ocorre somente no planeta Terra, na superfície
terrestre. E ela não é infinita; ao contrário,
possui limites que, apesar de amplos, já começam
a ser atingidos pela ação humana. Não
há espaço, atmosfera, água, ferro,
petróleo, cobre, etc. para um progresso ilimitado
ou infinito. É necessário portanto repensar
o modo de vida, o consumo, a produção voltada
unicamente para o lucro e sem nenhuma preocupação
com o futuro da biosfera. Essa é a grande mensagem
que o movimento ecológico trouxe para a vida política.
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A QUESTÃO
AMBIENTAL NA NOVA ORDEM MUNDIAL
Durante a ordem mundial
bipolar a questão ambiental era considerada secundária.
Somente os movimentos ecológicos e alguns cientistas
alertavam a humanidade sobre os riscos de catástrofes
ambientais. Mas a grande preocupação dos governos
- e em especial das grandes potências mundiais - era
com a guerra fria, com a oposição entre o
capitalismo e o socialismo. O único grande risco
que parecia existir era o da Terceira Guerra Mundial, uma
guerra atômica entre as superpotências de então.
Mas o final da bipolaridade e da guerra fria veio alterar
esse quadro. Nos anos 90 a questões do meio ambiente
torna-se essencial nas discussões internacionais,
nas preocupações dos Estados - e principalmente
dos grandes centros mundiais de poder - quanto ao futuro.
Já antes do final dos anos 80 percebia-se que os
problemas ecológicos começavam a preocupar
as autoridades soviéticas, norte-americanas e outras,
mas sem ganharem muito destaque. Houve em 1972, na Suécia,
a Primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente,
promovida pela ONU e com a participação começava
a se tornar um problema oficial e internacional. Mas foi
a Segunda Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente,
a Eco-92 ou Rio-92, realizada no Brasil vinte anos depois
da primeira, que contou com maior número de participantes
(quase cem Estados-nações) e os governos enviaram
não mais técnicos sem poder de decisão,
como anteriormente, e sim políticos e cientistas
de alta expressão em seus países. Isso porque
essa Segunda conferência foi realizada depois do final
da guerra fria e o desaparecimento da "ameaça
comunista" veio colocar a questão ambiental
como um dos mais importantes riscos à estabilidade
mundial na nova ordem. Além disso, os governos perceberam
que as ameaças de catástrofes ecológicas
são sérias e precisam ser enfrentadas, e que
preservar um meio ambiente sadio é condição
indispensável para garantir um futuro tranquilo para
as novas gerações.
Mas a problemática ambiental suscita várias
controvérsias e oposições. Os países
ricos voltam suas atenções para as queimadas
e os desmatamentos nas florestas tropicais, particularmente
na floresta Amazônica, a maior de todas. Já
os países pobres, e em particular os que têm
grandes reservas florestais, acham natural gastar seus recursos
com o objetivo de se desenvolverem. "Se os países
desenvolvidos depredaram suas matas no século passado,
por que nós não podemos fazer o mesmo agora?",
argumentam. Alguns chegam até a afirmar que essa
preocupação com a destruição
das florestas tropicais ou com outras formas de poluição
nos países subdesenvolvidos (dos rios, dos grandes
centros urbanos, perda de solos agrícolas por uso
inadequado, avanço da desertificação,
etc.) nada mais seria que uma tentativa do Norte de impedir
o desenvolvimento do Sul; a poluição e a destruição
das florestas, nessa interpretação, seriam
fatos absolutamente naturais e até necessários
para se combater a pobreza. Outro ainda - inclusive países
ricos, como o Japão, a Suécia ou a Noruega
- argumentam que é uma incoerência os Estados
Unidos pretendem liderar a cruzada mundial contra a poluição
quanto são justamente eles, os norte-americanos,
que mais utilizam os recursos do planeta.
Todos esses pontos de vista têm uma certa razão,
e todos eles são igualmente limitados ou parciais.
Os atuais países desenvolvidos, de fato, em sua maioria
depredaram suas paisagens naturais no século passado
ou na primeira metade deste, e isso foi essencial para o
tipo de desenvolvimento que adotaram: o da Primeira ou da
Segunda Revolução Industrial, das indústrias
automobilísticas e petroquímicas. Parece lógico
então acusar de farsante um país rico preocupado
com a poluição atual nos países subdesenvolvidos.
Mas existe um complicador aí: é que até
há pouco tempo, até por volta dos, a anos
70, a humanidade não sabia que a biosfera podia ser
irremediavelmente afetada pelas ações humanas
e existiam muito mais florestas ou paisagens nativas no
século passado do que hoje.
Nas últimas décadas parece que o mundo ficou
menor e a população mundial cresceu de forma
vertiginosa, advindo daí um maior desgaste nos recursos
naturais e, ao mesmo tempo, uma consciência de que
a natureza não é infinita ou ilimitada. Assim,
o grande problema que se coloca nos dias atuais é
o de se pensar num novo tipo de desenvolvimento, diferente
daquele que ocorreu até os anos 80, que foi baseado
numa intensa utilização - e até desperdício
- de recursos naturais não renováveis. E esse
problema não é meramente nacional ou local
e sim mundial ou planetário. A humanidade vai percebendo
que é uma só e que mais cedo ou mais tarde
terá que estabelecer regras civilizadas de conviv6encia
- pois o que prevaleceu até agora foi a "lei
da selva" ou a do mais forte - , inclusive com uma
espécie de "Constituição"
ou carta de gestão do planeta, o nosso espaço
de vivência em comum. É apenas um questão
de tempo para se chegar a isso, o que provavelmente ocorrerá
no século XXI.
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A biodiversidade
Um elemento que ganha crescente
destaque dentro da questão ambiental é a biodiversidade,
ou diversidade biológica (de espécies animais
e vegetais, de fungos e microrganismos). Preservar a biodiversidade
é condição básica para manter
um meio ambiente sadio no planeta: todos os seres vivos
são interdependentes, participam de cadeias alimentares
ou reprodutivas, e sabidamente os ecossistemas mais complexos,
com maior diversidade de espécies, são aqueles
mais duráveis e com maior capacidade de adaptação
às mudanças ambientais. Além disso,
a biodiversidade é fundamental para a biotecnologia
que, como já vimos, é uma das indústrias
mais promissoras na Terceira Revolução Industrial
que se desenvolve atualmente.
A humanidade já catalogou e definiu quase 1,5 bilhão
de organismos, mas isso é muito pouco: calcula-se
que o número total deles na Terra chegue a no mínimo
10 bilhões e talvez até a 100 bilhões!
E a cada ano milhares de espécies são exterminadas
para sempre, numa proporção que pode atinge
30% das espécies totais dentro de três décadas,
se o atual ritmo de queimada e desmatamentos nas florestais
tropicais (as mais ricas em biodiversidade), de poluição
nas águas, etc. continuar acelerado. Isso é
catastrófico, pois essas espécies foram o
resultado de milhões de anos de evolução
no planeta, e com essa perda a biosfera vai ficando mais
empobrecida em diversidade biológica, o que é
perigoso para o sistema de vida como um todo.
Não podemos esquecer a importância econômica
e até medicinal de cada espécie. Por exemplo:
as flores que cultivamos em jardins e os frutos e hortaliças
que comemos são todos derivados de espécies
selvagens. O processo de criar novas variedades, com cruzamentos
ou com manipulação genética, produz
plantas híbridas mais frágeis que as nativas,
mais suscetíveis a doenças ou ao ataque de
predadores, que necessitam portanto de mais proteção
para sobreviverem e, de tempos em tempos, precisam de um
novo material genético para serem corrigidas e continuarem
produzindo colheitas. Por isso, precisamos ter a maior diversidade
possível, principalmente das plantas selvagens ou
nativas, pois são elas que irão fornecer esse
novo material genético.
Os organismos constituem a fonte original dos princípios
ativos* dos remédios, mesmo que estes posteriormente
sejam produzidos artificialmente em laboratórios.
Os antibióticos, por exemplo, foram descobertos a
partir do bolor (fungos que vivem em matéria orgânica
por eles decomposta); e a aspirina veio originalmente do
chá de uma casca de árvore da Inglaterra.
É por isso que há tanto interesse atualmente
em pesquisas de florestas tropicais ou dos oceanos, em mapeamento
genético de organismos. A grande esperança
de um novo tipo de desenvolvimento, menos poluidor que o
atual, está principalmente na biotecnologia: produzir
fontes de energia ou plásticos a partir de bactérias,
alimentos em massa a partir de algas marinhas, remédios
eficazes contra doenças que matam milhões
a cada ano originados de novos princípios ativos
de microrganismos ou plantas, etc.
A biodiversidade, assim, é também uma fonte
potencial de imensas riquezas e o grande problema que se
coloca é saber quem vai lucrar com isso: se os países
ricos, que detêm a tecnologia essencial para descobrir
novos princípios ativos e fabricá-los, ou
se os países detentores das grandes reservas de biodiversidade,
das grandes florestas tropicais em especial. O mais provável
é um acordo para compartilhar por igual as descobertas
e os lucros, mas ainda estamos longe disso. Os países
desenvolvidos, como sempre, têm um trunfo na mão,
a tecnologia; mas alguns países subdesenvolvidos,
os que têm agora um outro trunfo, uma forma de matéria-prima
que não está em processo de desvalorização,
como as demais (os minérios e os produtos agrícolas).
*Tombado: vem de
tombar, colocar um imóvel de valor histórico,
um ecossistema original, etc. sob a guarda ou proteção
do Estado, visando à sua proteção pelo
interesse público.
*Ecologista: a ecologia pode ser entendida de duas
formas principais: num sentido mais estreito, como um ramo
da biologia que estuda as relações entre os
seres vivos e seu ambiente, e, num sentido mais amplo, como
todos os estudos ou ciências (geografia, antropologia,
biologia, oceanografia, etc.) que se ocupam dos diferentes
aspectos da questão ambiental. O termo ecologista,
ou militante ecológico, é aplicado também
à pessoa que pertence a uma organização
de defesa do meio ambiente.
*Princípio ativo: elementos predominantes
na constituição de uma substância orgânica
ou medicinal. A aspirina ou ácido acetilsalicílico,
por exemplo, constitui o princípio ativo de centenas
de remédios, com nomes diferentes, utilizados para
combater a dor de cabeça.
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