O
que são fontes de energia?
Entende-se por energia a
capacidade de realizar trabalho. Fontes de energia, dessa
forma, são determinados elementos que podem produzir
ou multiplicar o trabalho: os músculos, o sol, o
fogo, o vento etc.
Através do uso racional do trabalho, especialmente
na atividade industrial, o homem não apenas sobrevive
na superfície terrestre – encontrando alimentos,
abrigando-se das chuvas ou do frio etc –, mas também
domina e transforma a natureza: destrói florestas,
muda o curso dos rios, desenvolve novas variedades de plantas,
conquista terras ao mar, reduz distâncias (com modernos
meios de transporte e comunicação), modifica
os climas (com a poluição, as chuvas artificiais
etc), domestica certos animais e extermina outros.
As primeiras formas de energia que o homem utilizou forma
o esforço muscular (humano e de animais domesticados),
a energia eólica (do vento) e a energia hidráulica,
obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a
Revolução Industrial, na Segunda metade do
século XVIII e no século XIX, surgem as modernas
máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje
funcionam principalmente a energia elétrica. A eletricidade
pode ser obtida de várias maneiras: através
da queima do carvão e do petróleo (usinas
termelétricas), da força das águas
(usinas hidrelétricas), da fissão do átomo
(usinas nucleares) e de outros processos menos utilizados.
As chamadas modernas fontes de energia, ou seja, as mais
importantes, são: o petróleo, o carvão,
a água e o átomo. As fontes alternativas,
que estão conhecendo um grande desenvolvimento e
devem tornar-se mais importantes no futuro, são o
sol (energia solar), a biomassa e os biodigestores, o calor
proveniente do centro da Terra energia geotérmica),
as marés, o xisto betuminoso e outras.
É importante ressaltar que as fontes de energia estão
ligadas ao tipo de economia: quanto mais industrializada
ela for, maior será o uso de energia. O carvão
mineral foi a grande fonte de energia da Primeira Revolução
Industrial, e o petróleo foi a principal fonte de
energia do século XX e continua a desempenhar esse
papel, apesar de um recente e progressivo declínio.
Tanto o petróleo como o carvão mineral são
recursos não renováveis, isto é, que
um dia se esgotarão completamente; eles também
são muito poluidores, na medida em que seu uso implica
muita poluição do ar. Por esses dois motivos
eles estão em declínio atualmente, em especial
o petróleo, que foi básico para a era das
indústrias automobilísticas e petroquímicas.
Vivemos na realidade numa época de transição,
de passagem do domínio do petróleo para a
supremacia de outras fontes de menos poluidoras e renováveis,
ou seja, que não apresentam o problema de esgotamento.
Este pensamento está pelo menos na cabeça
dos ambientalistas de todo o planeta, mas a realidade ainda
é um mundo dominado pelos combustíveis fósseis.
A série “Que energia é essa?” irá trazer
as principais fontes de energia usadas em nosso planeta;
como surgiram, onde são usadas, qual a dependência
humana dessas fontes e muito mais. Neste capítulo
conheceremos a fonte de energia chamada “Hidrelétrica”.
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Breve
introdução
Nesse tipo de usina,
a máquina responsável pela produção
de energia elétrica chama-se gerador. Trata-se
de uma máquina rotativa composta de um estator,
onde estão localizadas ao bobinas de fio
e de um rotor elétrico, que vem a ser o núcleo
de ferro das experiências que descobriram
a energia elétrica. O campo magnético
é fornecido por um imã ou uma excitatriz
que polarizará o rotor. O gerador terá
que girar o suficiente para produzir uma tensão
elétrica com freqüência de 60
ciclos ou Hertz, que é a freqüência
adotada em todo sistema brasileiro. Acoplado ao
eixo do gerador está uma turbina. O fluido
que irá mover a turbina é a água
estocada no reservatório, que movimentará
as palhetas da turbina por ação de
seu próprio volume e gravidade. Então,
temos a barragem, para represar o rio, as comportas
e o vertedouro, que controlam o nível da
água da represa, e a casa de máquinas,
onde estão instalados os geradores acoplados
às turbinas. Para transformar a força
das águas em energia elétrica, a água
represada possa dar dutos forçados, gira
a turbina que, por estar interligada ao eixo gerador,
faz com que este entre em movimento, gerando a eletricidade.
Essa forma de obtenção de energia
provoca um forte impacto ambiental, devido à
construção de barragens e o alongamento
de áreas imensas, destruindo assim o ecossistema
local.
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Usinas
Hidrelétricas
As usinas hidrelétricas suprem cerca de
10% da energia e 20% do consumo total de eletricidade do
globo. Essa forma de energia passou a ser utilizada na Europa
a partir de 1860. Mas foi após a Segunda Guerra Mundial
que a energia hidrelétrica ganhou real importância,
com a construção de um número cada
vez maior de usinas que produzem eletricidade pela utilização
das águas correntes. A obtenção de
energia hidrelétrica depende da existência
de rios caudalosos e de planalto que são os que possuem
maior quantidade de queda-d’água. Por esse motivo,
são poucos os países que possuem grande potencial
hidrelétrico. Esses países, que apresentam
enormes territórios e grande quantidade de rios,
são a Rússia, o Canadá, os Estados
Unidos e o Brasil.
Apesar de também ser sujeita a certos limites de
produção – existe um potencial hidráulico,
que depende da quantidade de rios e quedas-d’água,
e quando esse potencial pode ser aproveitado se esgotarão
as possibilidades de construção de novas usinas
–, a energia hidrelétrica apresenta em relação
ao petróleo, ao carvão e à energia
atômica, algumas vantagens: não provoca diretamente
(pela queima ou combustão) grande poluição
e principalmente não se esgota, isto é, a
usina construída pode continuar indefinidamente a
produzir eletricidade.
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Só que
as usinas hidrelétricas costumam provocar um
outro tipo de impacto ambiental: as represas artificiais
formadas pelas barragens dos rios ocasionam a expulsão
de populações ribeirinhas, a imersão
de algumas cidades, povoados e florestas, e até
a perda de bons solos cultiváveis e de material
arqueológico, de riquezas pré-históricas
que podem existir no subsolo da área alagada.
No Brasil, devido à grande riqueza em rios
de planalto e à carência de petróleo
e carvão, cerca de 86% do total da energia
elétrica consumida é gerada em usinas
hidrelétricas. Mas o Brasil é um caso
à parte nesse aspecto. Convém destacar
a construção da maior usina hidrelétrica
do mundo, a de Itaipu, no rio Paraná, empreendida
por Brasil e Paraguai. Sua capacidade total é
de cerca de 12000 megawatts (MW), o que equivale a
12 milhões de quilowatts (kW)*. Mas a energia
hidrelétrica não tem um grande futuro,
uma vez que necessita de rios caudalosos e com quedas-d’água,
o que poucos países têm em boa quantidade.
Ela deverá continuar a ser uma das fontes de
energia do século XXI, em especial nesses poucos
países mencionados, mas sem se comparar com
os investimentos e as prováveis evoluções
que deverão ocorrer em outras fontes mais “limpas”
(o seja, que não poluem), especialmente as
biológicas. |
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A
energia hidrelétrica
A produção de energia elétrica
é feita basicamente a partir de usinas hidrelétricas,
termelétricas e nucleares. As hidrelétricas
produzem energia através de geradores movidos a força
hidráulica (quedas-d’água). As termelétricas
produzem energia através de geradores acionados por
aquecimento obtido a partir da utilização
de combustíveis fósseis, como o petróleo
e o carvão. E as nucleares, por sua vez, produzem
energia através de geradores movidos por aquecimento
obtido a partir de minerais atômicos, como o urânio
e o tório.
Das três, a termelétrica apresenta o mais baixo
custo de implantação, embora sua manutenção
seja dispendiosa. Já a hidrelétrica apresenta
maiores problemas com relação ao porte de
energia produzida, pois nem sempre as áreas onde
as usinas podem ser implantadas estão próximas
aos mercados consumidores, e a intensidade da energia vai
se dissipando à medida que aumenta a distância
das usinas geradoras.
Bacias
hidrográficas - Brasil |
Bacias
autônomas |
Áreas
(km²) |
%
da área do país |
Amazônica |
3.984.467 |
48 |
Paraná |
891.309 |
10 |
Tocantins-Araguaia |
809.250 |
9 |
São
Francisco |
631.133 |
7 |
Paraguai |
345.701 |
4 |
Uruguai |
178.255 |
2 |
Bacias
agrupadas |
Áreas
(km²) |
% da
área do país |
Nordeste |
884.835 |
10 |
Leste |
569.310 |
7 |
Sudeste |
222.688 |
3 |
No Brasil, apesar
do alto custo de implantação e de transporte,
as hidrelétricas são a fonte mais vantajosas
de energia elétrica, pois não utilizam
combustíveis fósseis (como as termelétricas),
nem apresentam o alto custo tecnológico e o
risco de uma usina nuclear.
O Brasil possui uma ampla rede hidrográfica,
em conseqüência do predomínio no
país de climas caracterizados por elevados
índices pluviométricos. Além
disso, os rios brasileiros são predominantemente
planálticos, o que implica presença
de desníveis acentuados ao longo de seus cursos.
Tais desníveis ou quedas determinam uma grande
potência hidráulica, estimada em 209
milhões de kW, sem se considerar as pequenas
quedas, com as quais a potência hidráulica
atingiria 400 milhões de kW.
Nos anos 70, o governo priorizou a expansão
da produção e do consumo da energia
elétrica de origem hidráulica, procurando
substituir na indústria o petróleo pela
energia hidrelétrica. A expansão da
produção ficou sob responsabilidade
da Eletrobrás, através de suas subsidiárias:
Eletronorte, Eletrosul, Furnas e Chesf.
Para a construção das usinas, forma
utilizadas linhas de crédito internacionais
que estavam abertas a juros baixíssimos (6%
ao ano). Essa grande oferta de dinheiro decorria do
fato de que os dois choques do petróleo (1973
e 1979) canalizaram bilhões de dólares
para os países exportadores do produto que,
por segurança e rentabilidade, os depositaram
em bancos europeus e norte-americanos. Tais entidades
financeiras, com folga de recursos, dispunham-se a
fazer financiamentos para áreas politicamente
confiáveis, caso do Brasil, na época
sob forte regime militar. Com base em slogans como
“Ninguém segura esse país”, projetaram-se
planos de expansão, observando-se taxas de
crescimento econômico para o Brasil em torno
de 10% ao ano.
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Os riscos de recessão
e declínio do preço do petróleo
foram descartados, era a euforia do milagre econômico
escondendo os questionamentos e as críticas.A
Eletrobrás optou pelo grandioso: em vez de
fazer usinas ao longo de um rio, de acordo com a necessidade
e como mandava a prudência, construía
uma gigantesca, no último degrau do rio, para
aproveitar toda a sua potência. Os desastres
ecológicos foram inúmeros: alagamentos
de florestas, áreas agrícolas, cidades
etc. e imensos represamentos dificultando os processos
de irrigação e navegação
em áreas próximas às usinas.
Tal política de expansão a qualquer
custo muito caro ao país. Em 1979, percebeu-se
que o crescimento econômico projetado no início
da década foram uma utopia, pois os estragos
provocados pelos choques do petróleo acarretaram
uma recessão econômica mundial. A produção
de energia tornou-se excedente e, por isso, paralisaram-se
algumas obras.
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Para estimular
os empresários a usarem energia elétrica
em lugar do petróleo, criou-se o programa EGTD
(Energia Garantida por Tempo Determinado) que estabelecia
tarifas de até 70% abaixo do custo, implicando
pesados ônus financeiros para o país.
Nos anos 80, a situação se complicou
ainda mais, devido à elevação
dos juros internacionais – que chegaram a 18% ao ano
– e à dificuldade de obtenção
de linhas de crédito.
A construção de usinas na escala projetada
tornou-se inviável e todo o esforço
dirigiu-se, então, para o término das
obras em andamento. Enquanto isso, o processo industrial
se expandia (movido a energia elétrica) e o
preço do petróleo começava a
declinar no mercado internacional. O governo, sem
recursos, elimina o EGTD e estimula novamente o uso
de petróleo no parque industrial, agora em
substituição à energia elétrica.
Tal aventura – subsídios ao uso de energia
elétrica – custou ao país cerca de 25
bilhões de dólares (que era a divida
da Eletrobrás) e uma crise energética
fabricada aqui dentro.
A falta de energia elétrica ameaça o
futuro do parque industrial brasileiro. O racionamento
é eminente, sobretudo durante o verão
(o que explica medidas como o horário de verão),
pois os rios brasileiros apresentam predominantemente
regime tropical (cheias de verão e vazante
no inverno), o que implica redução da
produção no início do verão,
quando o nível da represa está muito
baixo. |
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Bacias
hidrográficas no Brasil
Sobre
os aspectos abordados, muito se tem discutido e publicado,
veja a seguir um artigo publicado pelo jornal O
Estado de São Paulo.
BACIA DO PARANÁ...
Esta bacia apresenta cerca de 70% de toda a potência
instalada no Brasil. O grande aproveitamento hidrelétrico
da área se deve à sua potencialidade
natural e à sua localização,
próxima às principais áreas urbanas
e industrias do país.
Observa-se na área a presença de várias
hidrelétricas, destacando-se as do rio Paraná,
como por exemplo o conjunto Urubunpungá, da
Companhia Hidrelétrica de São Paulo
(CESP), que engloba duas usinas de grande porte (Ilha
Solteira e Jupiá), além de Itaipu, maior
usina hidrelétrica do mundo, cuja potência
é de 12,6 milhões de quilowatts.
USINA DE ITAIPU...
Situada a 14 km da foz do Iguaçu, no rio Paraná,
a construção da usina de Itaipu foi
definida em 1973, num tratado entre Brasil e Paraguai,
o qual estabeleceu as seguintes linhas gerais: |
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·
Formação da empresa Itaipu-Binacional
para a construção da usina, ficando
a Eletrobrás e a Administracion Nacional de
Eletricidade do Paraguai (ANDE) como membros da comissão
técnica do projeto.
· Os limites d aproveitamento dos recursos
hidrelétricos do rio Paraná, entre Salto
Guaíra ou Sete Quedas (inclusive) e Foz do
Iguaçu, pertencem em condomínio aos
dois países.
· A empresa Itaipu-Binacional pagará
as partes contratantes pelo direito de utilização
e a energia não consumida por um dos sócios
será vendida ao outro.
A obra, grandiosa, utilizou concreto suficiente para
a construção de oito cidades como Campinas,
no estado de São Paulo. O lago de 1.400 km²
comportaria cinco vezes a baía de Guanabara
e o vertedouro apresenta quase meio quilômetro
de comprimento. Os custos estimados da obra (1988)
giravam em torno de 18,5 bilhões de dólares
(inclusos os custos financeiros e de transmissão)
e os recursos foram fundamentalmente captados no exterior
sob responsabilidade brasileira (55% - Eletrobrás,
maior credora de Itaipu).
Em 1984 começaram a funcionar duas turbinas
da usina hidrelétrica de Itaipu. Leia o trecho
da reportagem sobre a inauguração, publicada
na Folha de São Paulo, feita pelo jornalista
João Vitor Strauss. |
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A
MAIOR HIDRELÉTRICA DO MUNDO JÁ PRODUZ
ENERGIA...
(...) Itaipu é uma das raras obras
de grande porte dadas ao presidente Figueiredo inaugurar.
Planejada quando o regime se entretinha com seguidos
acessos de grandeza, a hidrelétrica teve melhor
sorte que outras ilusões da mesma época,
como a rodovia Perimetral Norte ou a malfadada usina
nuclear de Angra I. Considerada obra prioritária
ao longo de três governo militares, Itaipu salvou-se
dos cortes de verbas que se abateram sobre outros
projetos insaciáveis, como a ferrovia do aço
e o programa nuclear teuto-brasileiro.
Os macronúmeros de Itaipu impressionaram. A
começar pelo custo previsto até o fim
da obra, que Costa Cavalcanti fixa em quinze bilhões
de dólares (algo em torno de 10% da dívida
externa da época).
É o preço do gigantismo da hidrelétrica.
Quando sua dezoito turbinas estiverem girando, ela
produzirá 12,6 milhões de quilowatts
– três a mais do que a Segunda usina do planeta,
Grand Coulee, nos Estados Unidos, limitada a 9,7 milhões
de quilowatts.
Na construção de Itaipu forma removidos
22 milhões de metros cúbicos de rocha,
o equivalente ao Pão de Açúcar,
e utilizado concreto suficiente para construir duzentos
Maracanãs. Por cada uma das turbinas de Itaipu
a vazão de água é a mesma do
rio Tietê, em São Paulo.
Aparentemente, usar água como fonte de energia
é um bom negócio. Afinal, produzir 12,6
milhões de quilowatts através de termelétricas
(usando petróleo) implicaria um consumo diário
de aproximadamente 600 mil barris/dia de petróleo.
Entretanto, os recursos empregados na construção
de Itaipu foram captados basicamente no exterior e,
sendo os juros internacionais muito elevados, tal
fato serve para aumentar ainda mais os custos da enorme
dívida externa brasileira. Esse ônus
obrigatoriamente tem de ser repassado às tarifas,
o que implica elevação dos custos da
produção industrial. |
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Construir uma usina do tamanho de Itaipu não
gerou somente problemas de ordem financeira, provocou
também grandes desastres ecológicos
e crises de ordem geopolítica. Do ponto de
vista ecológico, destaca-se o desaparecimento,
sob um lago, de Sete Quedas ou Guaíra, submersa
18 metros.
Com relação aos problemas geopolíticos
pode-se citar o da vazão do rio Paraná,
que acaba gerando tensões nas relações
Brasil-Argentina. Represa tanta água para o
funcionamento de Itaipu, segundo a Argentina, que
prejudicaria a navegação e implantação
de usinas em suas terras. A assinatura do Acordo Tripartite
(Brasil, Paraguai e Argentina) para a compatibilização
das hidrelétricas resolveu o impasse pelo menos
aparentemente, mas nada garante que no futuro, sob
outras circunstâncias, o assunto não
volte a gerar crises entre os países. |
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BACIA
AMAZÔNICA...
O potencial hidráulico na Amazônia
é estimado pela Eletrobrás em 100 milhões
de quilowatts, 80% distribuídos ao longo dos
rios da bacia Amazônica e 20% n bacia do Tocantins-Araguaia.
O desenvolvimento tecnológico dos setores de
transmissão de energia tem atenuado o problema
da distância das quedas aos centros consumidores.
Assim, o aproveitamento de potencial hidráulico
da Amazônia deixa de ser sonho e passa a ser
uma possibilidade concreta. Exemplo de tal fato é
a implantação no rio
Tocantins da usina hidrelétrica de Tucuruí,
segunda do Brasil em potência, a 300 km de Belém
do Pará em linha reta.
Tucuruí, parte do conjunto de obras faraônicas
projetada nos anos 70, apresenta grandiosidade e complexidade
comparável apenas a Itaipu, com um agravante:
está sendo construída na selva amazônica,
sob condições climáticas adversas
e distantes dos centros fornecedores de material e
equipamentos para sua construção. |
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A
grandiosidade da obra e as dificuldades locais transformaram
Tucuruí num verdadeiro desafio à engenharia
nacional. Um exemplo: o rio Tocantins, no local da
usina, chega a atingir três quilômetros
de largura e, em alguns pontos, 40 metros de profundidade.
O procedimento rotineiro de desviar o rio para a construção
da barragem,
neste caso, era praticamente
impossível. A empresa contratada pela Eletronorte
para a execução da obra lançou,
então, sobre o seu leito, uma muralha de pedra,
terra e concreto de 57 metros de altura para que fosse
possível o desenvolvimento das obras.
Desnecessário dizer que a construção
de Tucuruí custou muito dinheiro ao país
e foi alvo de muitas críticas: foram gastos
8,5 bilhões de dólares, sendo 3,5 bilhões
referentes somente a juros do financiamento, além
de a região ter sofrido grave impacto ecológico.
A Eletronorte rebate as críticas destacando
sua importância regional, através da
viabilização de projetos como carajás
e Albrás, do fornecimento de energia para Belém
e toda a região Norte e da geração
de empregos.
Leia a seguir trecho de artigo de Liana John em O
Estado de São Paulo, sobre o impacto ambiental
causado pela construção de hidrelétricas
na Amazônia.
IMPACTO DE
USINAS É IMPREVISÍVEL...
A construção de 76 usinas hidrelétricas
ameaça a Amazônia. Uma prova é
o que houve em Tucuruí. |
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Setenta
e seis novas usinas hidrelétricas das Centrais
Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte)
vão inundar na Amazônia perto de 80 mil
quilômetros quadrados de florestas, área
equivalente ao estado de Santa Catarina. Ninguém
pode saber ainda o que essa água vai sepultar
em termos de ecossistema, vegetação
ou fauna, nem o que isso vai significar para a natureza
brasileira.
A experiência de outras hidrelétricas
já construídas na região – Tucuruí
e Balbina – demonstraram a incapacidade da Eletronorte
em tratar das questões do meio ambiente. A
barragem de Tucuruí foi fechada para a formação
do lago antes da retirada de uma floresta e com isso
o país perdeu milhões de dólares
em madeiras nobres além de terem sido arrasados
6500 quilômetros quadrados de riquezas naturais
e um lago e um rio terem ficado seriamente poluídos
pela floresta apodrecida.
Desastres como esse obrigaram os bancos internacionais
a suspender os financiamentos do setor energético
devido a pressão de entidades ambientalistas
mundiais. Mesmo depois das negociações
com os bancos norte-americanos e depois do pacote
ecológico do governo federal, o setor energético
continua com os empréstimos suspensos até
Segunda ordem, enquanto outros projetos na Amazônia
voltaram a ser discutidos. Sinal de que a credibilidade
do setor ainda está balada. E não sem
razão: nos planos das centrais elétricas,
o enfoque dado ao meio ambiente é basicamente
o mesmo dos últimos anos enquanto existem hidrelétricas
ainda maiores do que Tucuruí projetadas para
regiões ecologicamente mais ricas e diversificadas.
Ou seja, onde o impacto contra o meio ambiente poderá
ser maior do que o ocorrido em Tucuruí. (...) |
BACIA DO SÃO
FRANCISCO...
O rio São Francisco drena parte do Sertão
nordestino, de clima semi-árido. Trata-se do único
rio perene da região, sendo, por isso fundamental
para o desenvolvimento de importantes projetos regionais,
de irrigação e transporte.
O represamento das águas de um rio importante como
o São Francisco provoca alterações
em sua vazão, gerando, conseqüentemente, obstáculos
para o seu melhor aproveitamento. A construção
da usina de Três Marias, em Minas Gerais, é
u exemplo: no período de estiagem (inverno), retém-se
tanta água na represa para o funcionamento das turbinas
geradoras, que resta pouca água rio abaixo, dificultando
seu aproveitamento tradicional para irrigação
e navegação no Sertão nordestino.
Das usinas construídas ao longo do São Francisco
– Paulo Afonso, Itaparica, Três Marias -, a de Sobradinho
é a mais importante, com 4 414 km² (350 km de
comprimento e 13 km e largura), submergiu quatro municípios
(remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado),
expulsando cerca de 70 mil habitantes da área.
A usina, localizada no estado da Bahia, apresenta uma potência
instalada de 1 milhão de quilowatts e foi construída
pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco
(CHESF), que empregou cerca de 9 mil homens e 800 milhões
de dólares na construção. O processo
de relocamento dos moradores das cidades inundadas custou
à CHESF 15% do valor da obra, sendo as famílias
transportadas para quatro novas cidades e cerca de 30 vilarejos.
Esse procedimento, entretanto, tem acarretado problemas,
como inadaptação dessa população
aos novos locais e também às novas rotinas
do rio, agora subordinadas ao comando dos técnicos
da usina. Leia sobre o assunto no texto a seguir. (publicado
no jornal O Globo)
SECA AGRAVA-SE
EM SOBRADINHO E AMEAÇA CAUSAR NOVO DRAMA SOCIAL NO
NORDESTE...
Para produzir energia e alimentar a barragem de Paulo Afonso,
responsável pelo fornecimento de eletricidade a quase
todo o Nordeste, Sobradinho tem que liberar uma cota mínima
de 2 100 metros cúbicos de água por segundo.
Atualmente, devido à seca, somente 1 300 metros cúbicos
estão chegando à barragem de Sobradinho. A
previsão de chuvas no norte de Minas Gerais e para
novembro e, até lá, a CHESF – Companhia Hidrelétrica
do São Francisco – calcula que o nível do
lago terá baixado cerca de sete metros.
(...) A barragem de Sobradinho fornece para todo o estado
do Maranhão, partes do Piauí e Pará
e uma pequena área da Bahia.
Os efeitos da estiagem começaram a ser discutidos
pela CHESF, governo da Bahia e populações
dos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Sento Sé,
Remanso, Pilão Arcadio, cujas principais atividades
econômicas estão ameaçadas. A produção
agrícola de cebola, milho, feijão, mandioca,
melão e melancia deverá se perder.
Às margens do lago de Sobradinho vivem 14 240 famílias,
das quais 11 200 possuem lavouras irrigadas. Em alguns povoados,
como Itapera, no município de Sento Sé, a
água do lago recuou 800 metros e, no período
mais crítico de estiagem, em novembro, esta marca
poderá ultrapassar um quilômetro. Estimativa
da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional,
da Secretaria de Planejamento da Bahia, diz que a vazante
afetara’18 500 hectares de terras irrigadas, prejudicando
mais de 80% do rebanho bovino de 11 308 cabeças e
podendo dizimar todo rebanho caprino de 32.367 cabeças,
em virtude do lamaçal que se formará entre
o lago e sua margem original.
A pesca também será prejudicada, pois haverá
muito peixe para pouca água, o que causará
a captura de alevinos (filhotes) e matrizes (fêmeas).
A saúde da população correrá
sérios riscos, pois o lamaçal facilitará
o surgimento de focos de epidemias.
Dessa forma, fica claro que a construção de
hidrelétricas não é um processo tão
simples como se coloca, pois envolve desde questões
econômicas até ecológicas e sociais.
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