MATA
ATLÂNTICA
RESOLUÇÃO
Nº 1, DE 31 DE JANEIRO DE 1994
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA,
AD REFERENDUM do Plenário, no uso de suas atribuições
e tendo em vista o disposto no art. 9º, do Decreto
nº 99.274, de 06 de junho de 1990;
Considerando ação conjunta entre o Secretário
do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, no uso das
atribuições que lhe são conferidas
pelo artigo 94 do Decreto Estadual nº 30.555, de 03
de outubro de 1989, e o Superintendente do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
- IBAMA em São Paulo, no uso das atribuições
que lhe são conferidas pelo artigo 68 do Regimento
Interno aprovado pela Portaria Ministerial nº 445,
de 16 de agosto de 1989;
Considerando o disposto no artigo 23, incisos VI e VII da
Constituição Federal e a necessidade de se
definir vegetação primária e secundária
nos estágios pioneiro inicial, médio e avançado
de regeneração de Mata Atlântica em
cumprimento ao disposto no artigo 6º, do Decreto 750,
de 10 de fevereiro de 1993, na Resolução CONAMA
nº 10, de 10 de outubro de 1993, e a fim de orientar
os procedimentos de licenciamento de exploração
da vegetação nativa no Estado de São
Paulo, resolve:
Artigo 1º Considera-se vegetação primária
aquela vegetação de máxima expressão
local, com grande diversidade biológica, sendo os
efeitos das ações antrópicas mínimos,
a ponto de não afetar significativamente suas características
originais de estrutura e de espécie.
Artigo 2º São características da vegetação
secundária das Florestas Ombrófilas Estacionais:
§1º Em estágio inicial de regeneração:
a) fisionomia que varia de savânica a florestal baixa,
podendo ocorrer estrato herbáceo e pequenas árvores;
b) estratos lenhosos variando de abertos a fechados, apresentando
plantas com alturas variáveis;
c) alturas das plantas lenhosas estão situadas geralmente
entre 1,5m e 8,0m e o diâmetro médio dos troncos
à altura do peito (DAP = 1,30m do solo) é
de até 10cm, apresentando pequeno produto lenhoso,
sendo que a distribuição diamétrica
das formas lenhosas apresenta pequena amplitude:
d) epífitas, quando presentes, são pouco abundantes,
representadas por musgos, liquens, polipodiáceas,
e tilândsias pequenas;
e) trepadeiras, se presentes, podem ser herbáceas
ou lenhosas;
f) a serapilheira, quando presente, pode ser contínua
ou não, formando uma camada fina pouco decomposta;
g) no sub-bosque podem ocorrer plantas jovens de espécies
arbóreas dos estágios mais maduros;
h) a diversidade biológica é baixa, podendo
ocorrer ao redor de dez espécies arbóreas
ou arbustivas dominantes;
i) as espécies vegetais mais abundantes e características,
além das citadas no estágio pioneiro, são:
cambará ou candeia (Gochnatia polimorpha), leiteiro
(Peschieria fuchsiaefolia), maria-mole (Guapira spp.), mamona
(Ricinus communis), arranha-gato (Acacia spp.), falso ipê
(Stenolobium stans), crindiúva (Trema micrantha),
fumo-bravo (solanum granuloso-lebrosum), goiabeira (Psidium
guaiava), sangra d'água (Croton urucurana), lixinha
(Aloysia virgata), amendoim-bravo (Pterogyne nitens), embaúbas
(Cecropia spp.), pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica),
murici (Byrsonima spp.), mutambo (Guazuma ulmifolia), manacá
ou jacatirão (Tibouchina spp. e Miconia spp.), capororoca
(Rapanea spp.), tapiás (Alchornea spp.), pimenteira
brava (Schinus terebinthifolius), guaçatonga (Casearia
sylvestris), sapuva (Machaerium stipitatum), caquera (cassia
sp.);
§2º Em estágio médio de regeneração:
a) fisionomia florestal, apresentando árvores de
vários tamanhos;
b) presença de camadas de diferentes alturas, sendo
que cada camada apresenta-se com cobertura variando de aberta
a fechada, podendo a superfície da camada superior
ser uniforme e aparecer árvores emergentes;
c) dependendo da localização da vegetação
a altura das árvores pode variar de 4 a 12m e o DAP
médio pode atingir até 20cm. A distribuição
diamétrica das árvores apresenta amplitude
moderada, com predomínio de pequenos diâmetros
podendo gerar razoável produto lenhoso;
d) epífitas aparecem em maior número de indivíduos
e espécies (liquens, musgos, hepáticas, orquídeas,
bromélias, cactáceas, piperáceas, etc.),
sendo mais abundantes e apresentando maior número
de espécies no domínio da Floresta Ombrófila;
e) trepadeiras, quando presentes, são geralmente
lenhosas;
f) a serapilheira pode apresentar variações
de espessura de acordo com a estação do ano
e de um lugar a outro;
g) no sub-bosque (sinúsias arbustivas) é comum
a ocorrência de arbustos umbrófilos principalmente
de espécies de rubiáceas, mirtáceas,
melastomatáceas e meliáceas;
h) a diversidade biológica é significativa,
podendo haver em alguns casos a dominância de poucas
espécies, geralmente de rápido crescimento.
Além destas, podem estar surgindo o palmito (Euterpe
edulis), outras palmáceas e samambaiaçus;
i) as espécies mais abundantes e características,
além das citadas para os estágios anteriores,
são: jacarandás (Machaerium spp.), jacarandá-do-campo
(Platypodium elegans), louro-pardo (Cordia trichotoma),
farinha-seca (Pithecellobium edwallii), aroeira (Myracroduon
urundeuva), guapuruvu (Schizolobium parahyba), burana (Amburana
cearensis), pau-de-espeto (Casearia gossypiosperma), cedro
(Cedrela spp.), canjarana (Cabralea canjerana), açoita-cavalo
(Luehea spp.), óleo-de-copaíba (Copaifera
langsdorfii), canafístula (Peltophorum dubium), embiras-de-sapo
(Lonchocarpus spp.), faveiro (Pterodon pubescens), canelas
(Ocotea spp., Nectandra spp., Crytocaria spp.), vinhático
(Plathymenia spp.), araribá (Centrolobium tomentosum),
ipês (Tabebuia spp.), angelim (Andira spp.), marinheiro
(Guarea spp.) monjoleiro (Acacia polyphylla), mamica-de-porca
(Zanthoxyllum spp.), tamboril (Enterolobium contorsiliquum),
mandiocão (Didimopanax spp.), araucária (Araucaria
angustifolia), pinheiro-bravo (Podocarpus spp.), amarelinho
(Terminalia spp.), peito-de-pomba (Tapirira guianensis),
cuvatã (Matayba spp.), caixeta (Tabebuia cassinoides),
cambui (Myrcia spp.), taiúva (Machlura tinctoria),
pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha), guaiuvira (Patagonula
americana), angicos (Anadenanthera spp.) entre outras;
§3º Em estágio avançado de regeneração:
a) fisionomia florestal fechada, tendendo a ocorrer distribuição
contígua de copas, podendo o dossel apresentar ou
não árvores emergentes;
b) grande número de estratos, com árvores,
arbustos, ervas terrícolas, trepadeiras, epífitas,
etc., cuja abundância e número de espécies
variam em função do clima e local. As copas
superiores geralmente são horizontalmente amplas;
c) as alturas máximas ultrapassam 10m, sendo que
o DAP médio dos troncos é sempre superior
a 20cm. A distribuição diamétrica tem
grande amplitude, fornecendo bom produto lenhoso;
d) epífitas estão presentes em grande número
de espécies e com grande abundância, principalmente
na Floresta Ombrófila;
e) trepadeiras são geralmente lenhosas (leguminosas,
bignoniáceas, compostas, malpiguiáceas e sapocindáceas,
principalmente), sendo mais abundantes e mais ricas em espécies
na Floresta Estacional;
f) a serapilheira está presente, variando em função
do tempo e da localização, apresentando intensa
decomposição;
g) no sub-bosque os estratos arbustivos e herbáceos
aparecem com maior ou menor freqüência, sendo
os arbustivos predominantemente aqueles já citados
para o estágio anterior (arbustos umbrófilos)
e o herbáceo formado predominantemente por bromeliáceas,
aráceas, marantáceas e heliconiáceas,
notadamente nas áreas mais úmidas;
h) a diversidade biológica é muito grande
devido à complexidade estrutural e ao número
de espécies;
i) além das espécies já citadas para
os estágios anteriores e de espécies da mata
madura, é comum a ocorrência de: jequitibás
(Cariniana spp.), jatobás (Hymenaea spp.), pau-marfim
(Balfourodendron riedelianum), caviúna (Machaerium
spp.), paineira (Chorisia speciosa), guarantã (Esenbeckia
leiocarpa), imbúia (Ocotea porosa), figueira (Ficus
spp.), maçaranduba (Manilkara spp. e Persea spp.),
suiná ou mulungú (Erythryna spp.), guanandi
(Calophyllum brasiliensis), pixiricas (Miconia spp.), pau-d'alho
(Gallesia integrifolia), perobas e guatambus (Aspidosperma
spp.), jacarandás (Dalbergia spp.), entre outras;
§4º Considera-se vegetação secundária
em estágio pioneiro de regeneração
aquela cuja fisionomia, geralmente campestre, tem inicialmente
o predomínio de estratos herbáceos, podendo
haver estratos arbustivos e ocorrer predomínio de
um ou outro. O estrato arbustivo pode ser aberto ou fechado,
com tendência a apresentar altura dos indivíduos
das espécies dominantes uniforme, geralmente até
2m. Os arbustos apresentam ao redor de 3cm como diâmetro
do caule ao nível do solo e não geram produto
lenhoso. Não ocorrem epífitas. Trepadeiras
podem ou não estar presentes e, se presentes, são
geralmente herbáceas. A camada de serapilheira, se
presente, é descontínua e/ou incipiente. As
espécies vegetais mais abundantes são tipicamente
heliófilas, incluindo forrageiras, espécies
exóticas e invasoras de culturas, sendo comum ocorrência
de: vassoura ou alecrim (Baccharis spp.), assa-peixe (Vernonia
spp.), cambará (gochnatia polymorpha), leiteiro (Peschieria
fuchsiaefolia), maria-mole (Guapira spp.), mamona (Ricinus
communis), arranha-gato (Acacia spp.), samambaias (Gleichenia
spp., Pteridium sp., etc.), lobeira e joá (Solanum
spp.). A diversidade biológica é baixa, com
poucas espécies dominantes.
Artigo 3º Os parâmetros definidos no artigo 2º
para tipificar os diferentes estágios de regeneração
da vegetação secundária podem variar,
de uma região geográfica para outra, dependendo:
I - das condições de relevo, de clima e de
solo locais;
II - do histórico do uso da terra;
III - da vegetação circunjacente;
IV - da localização geográfica; e
V - da área e da configuração da formação
analisada.
Parágrafo Único. A variação
de tipologia de que trata este artigo será analisada
e considerada no exame dos casos submetidos à consideração
da autoridade competente.
Artigo 4º Esta Resolução entra em vigor
na data de sua publicação, revogadas as disposições
em contrário. |