A bacia hidrográfica
do Guarapiranga localiza-se na porção sudoeste
da Região Metropolitana de São Paulo, abrangendo
uma área de 639 Km2. Compreende parte do território
dos municípios de São Paulo, Embu, Itapecerica
da Serra, Cotia, São Lourenço da Serra e
Juquitiba, e toda área do município de Embu
Guaçu. Apresenta uma população de
cerca de 622 mil pessoas (PDPA 1995), concentradas predominantemente
em áreas urbanas de baixo padrão habitacional.
Abriga uma região
de transição entre a mancha urbana da metrópole
e as escarpas da Serra do Mar ainda recobertas por Mata
Atlântica. Incorpora ao norte áreas densamente
ocupadas; ao sul territórios ainda preservados,
compreendendo as cabeceiras dos rios Embu Guaçu
e Santa Rita, já próximos à vertente
marítima da Serra do Mar. A leste confronta-se
com a bacia hidrográfica do reservatório
Billings, também com alto grau de ocupação
urbana e a sudeste, com a bacia do Capivari-Monos, ainda
pouco ocupada. A oeste, confronta-se com a bacia do rio
Cotia e com a reserva florestal do Morro Grande.
A região compreende
terrenos entre 730 e 930 metros de altitude, apresentando
um relevo bastante acidentado em quase toda sua extensão.
De maneira geral, a bacia pode ser caracterizada pela
presença de vertentes escarpadas frágeis
à ocupação urbana e também
pela presença de extensas planícies aluviais.
Apresenta temperaturas médias entre 16º e
23ºC, índice pluviométrico anual entre
1600 e 2000 milímetros. A direção
predominante dos ventos é SW – NE.
O reservatório
do Guarapiranga foi construído entre 1906 e 1908
e é o segundo maior sistema produtor de água
da Grande São Paulo, atendendo uma população
estimada de 3 milhões de habitantes. Tem como principais
contribuintes os rios Embu Guaçu e Embu Mirim,
que, juntos, perfazem 97% da vazão total regularizada
da bacia.
O agravamento da qualidade
das águas do reservatório, colocando em
risco a utilização futura deste manancial
para abastecimento público, levou o Governo do
Estado de São Paulo a firmar um convênio
com o Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento – BIRD, para a elaboração
do Programa de Saneamento Ambiental em Regiões
Metropolitanas – Bacia do Guarapiranga.
O Programa associa ações
de caráter corretivo como extensão de redes
de água e esgotos, coleta e disposição
final de resíduos sólidos e recuperação
urbana, e ações preventivas como repovoamento
vegetal, recuperação de áreas degradadas,
implantação de um sistema de parques e o
apoio a atividades econômicas compatíveis
com a preservação dos mananciais. É
composto ainda por um conjunto de ações
voltados à elaboração de mecanismos
institucionais necessários à sua viabilização.
A responsabilidade pela
execução do Programa envolve instituições
como a CDHU, SABESP, Secretaria de Estado do Meio Ambiente,
Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Prefeitura
Municipal de São Paulo.
Os projetos descritos
a seguir foram realizados pela Secretaria Estadual de
Meio Ambiente no âmbito do sub-programa Proteção
Ambiental.
Diagnose da Vegetação
e Modelos para Recomposição Vegetal
A partir de levantamentos florísticos e fitossociológicos,
foram identificadas as espécies ocorrentes em diversas
formações vegetais da região e propostos
diversos modelos de recomposição, servindo
de base para os projetos de repovoamento vegetal, arborização
urbana e parques.
Foi realizado inventário
que identificou cerca de 500 espécies vegetais
ocorrentes na bacia e proposição de modelos
sucessionais de repovoamento vegetal.
+ Mais
Parque Ecológico
do Guarapiranga: um espaço de lazer e preservação
A expansão da ocupação
urbana desordenada, sobretudo a partir dos anos 70, levou
uma parte considerável da população
de baixa renda, expulsa das áreas mais valorizadas
da Capital, a ocupar as regiões periféricas,
algumas de risco, outras de proteção ambiental,
como as margens da Represa do Guarapiranga, localizada
na região Sul da cidade de São Paulo.
Para amenizar o problema,
a Secretaria do Meio Ambiente do Estado - SMA concebeu
e inaugurou, no dia 3 de abril de 1999, o Parque Ecológico
do Guarapiranga, para promover a preservação
e proteção da fauna e flora no entorno da
represa que tem o mesmo nome, além de proporcionar
atividades de cunho cultural, ambiental e recreativo aos
visitantes, sobretudo aos moradores da região,
muitas vezes lembrada pelos altos índices de criminalidade.
A unidade de conservação
localiza-se no número 3.286 da Estrada da Riviera,
no Bairro da Riviera Paulista, na zona sul da Capital.
Com 250,30 hectares de extensão, ocupa 7% dos 28
km no entorno da Represa do Guarapiranga, constituindo
uma proteção contra invasões e ocupações
ilegais.
A preocupação
é mais que justificável, uma vez que a represa,
um reservatório construído entre 1906 e
1908 para regularizar a vazão do Rio Tietê,
é responsável pelo abastecimento de cerca
de três milhões de pessoas que vivem na região
Sul da Capital e em Taboão da Serra.
Em defesa do meio ambiente
O projeto do Parque Ecológico
do Guarapiranga foi escolhido por meio de um concurso
público organizado pela Fundação
Florestal e Instituto de Arquitetos do Brasil, em 1991,
recebendo trabalhos de todo o país. O projeto vencedor
foi o do arquiteto Carlos Maximiliano Fayet, que foi contratado
pela SMA para desenvolver a sua proposta, que começou
a ser executado em outubro de 1997 e finalizado em dezembro
de 1998.
Eram 10 horas do primeiro
sábado de abril de 1999, tempo bom, quando o então
governador Mário Covas e o secretário do
Meio Ambiente anunciaram a milhares de pessoas a inauguração
do Parque Ecológico do Guarapiranga. As catracas
registraram 8.700 visitantes nesse dia, repleto de atividades
culturais e esportivas. No dia seguinte, foram 10.753
pessoas, recorde de visitação até
hoje.
Quem recorda tudo, “como
se fosse ontem”, é o administrador do parque, Marco
Antonio Lucena. “Aqui, eu procuro controlar tudo; nenhuma
folha de árvore se desprende sem que eu saiba”,
brinca, bem humorado, embora demonstre rigor e perfeccionismo
no que faz. Detalhes quase imperceptíveis saltam
aos seus olhos. Das atividades ambientais às culturais
e esportivas, o uso das quadras, dos computadores e brinquedos,
tudo tem de ser registrado ou receber sua aprovação.
Desde o projeto, o Parque
Ecológico do Guarapiranga é inteiramente
planejado para causar o mínimo dano ao meio ambiente.
A passarela que dá acesso aos seus principais edifícios,
com 500 metros de extensão, é totalmente
suspensa, para evitar impacto no solo, as janelas dos
edifícios são grandes, para privilegiar
o uso da luz solar, e mesmo as cortinas são feitas
de papel reciclado.
Aliás, esse tipo
de criação pode ser aprendido em uma das
muitas oficinas oferecidas semanal e gratuitamente. Uma
delas ensina a transformar material reciclável,
de papelão a “pet” de refrigerante, em artesanato,
como vasos com plantas artificiais, “origami”, porta-retratos
e outros.
Do Infocentro à
Brinquedoteca, do Museu do Lixo ao Programa de Educação
Ambiental e do Anfiteatro ao Salão Oval, o Parque
Ecológico do Guarapiranga proporciona aos visitantes
atividades diversas em meio à vegetação
nativa, replantada e remanescentes de Mata Atlântica.
Educação
Ambiental
O Núcleo de Educação
Ambiental, uma das propostas principais quando da concepção
do parque, permite a escolas da rede pública e
particular, faculdades e interessados agendar visitas
para aprender um pouco mais sobre o meio ambiente, de
modo geral, e, especificamente, sobre a Bacia do Guarapiranga.
Os grupos têm acesso a uma série de atividades
ambientais e culturais, com vídeos, material institucional
e debates.
Os grupos podem também
percorrer as trilhas ecológicas, aprender sobre
preservação ambiental e as micro-bacias,
por meio de uma grande maquete, que mostra uma bacia preservada
e outra sob o efeito da devastação. Monitores
voluntários e bolsistas da Frente de Trabalho orientam
e dão explicações aos grupos, com
aproximadamente 40 pessoas. Em pouco mais de quatro anos
de atividade, cerca de 390 grupos visitaram o parque,
ou seja, mais de 15.000 pessoas atendidas.
Outra local obrigatório
de visita é o Museu do Lixo, criado para sensibilizar
os adultos e conscientizar as crianças, com um
acervo de 123 peças recolhidas no fundo do Guarapiranga,
que ilustram de um modo original os problemas causados
pelo lixo jogado pela população de toda
a bacia, mesmo de localidades distantes, e que acaba chegando
à represa pelos rios e córregos.
Apesar de se encontrar
toda espécie de objetos, peças e restos
nas diversas regiões do reservatório, Lucena
esclarece que o lixo, em determinados locais, tem um perfil
próprio. “No Jardim Aracati, por exemplo, região
de desmanches, são encontradas majoritariamente
peças automotivas, nas proximidades da Avenida
Robert Kennedy, onde existem muitos bares e restaurantes,
são encontradas bastantes garrafas de bebidas e
de refrigerante”, diz.
É a “geografia
do lixo”, resultado das “pegadas do bicho-homem”, termos
que surgem nas fitas institucionais e que foram incorporados
pelos monitores na apresentação do local
aos visitantes. Assim, no Museu do Lixo, é possível
ver fotocopiadora, brinquedos, carcaça de automóvel,
ventilador e latas de refrigerante - embora estas sejam
“raridade”, pois têm grande valor para venda a empresas
de reciclagem.
O parque mantém,
em contrapartida ao processo histórico de devastação,
um grande viveiro, atualmente com mais de 16 mil mudas
de plantas nativas, ornamentais e frutíferas, com
a principal utilidade de arborizar e repovoar áreas
desmatadas no entorno da represa. Lucena destaca o apoio
inestimável que a Polícia Militar Ambiental
presta para a manutenção do viveiro, ajudando
no transporte de terra fértil, para a formação
de mudas.
O diretor estuda, inclusive,
uma proposta de homenagem o soldado Ariosvaldo Cordeiro,
morto recentemente ao tentar evitar um assalto, dando
seu nome ao viveiro, que tem capacidade para produção
de 200 mil mudas. O soldado Cordeiro era apaixonado por
plantas e pelo viveiro, que ficou paralisado de agosto
de 2001 até maio deste ano.
Cultura e recreação
O Parque Ecológico
do Guarapiranga desenvolve, ainda, atividades culturais
e esportivas, e para maior conforto dos visitantes oferece
um ambulatório médico e um fraldário
nos fins de semana. Há também um grande
espaço reservado a esportes e recreação,
com “playground”, duas redes para vôlei em areia,
dois campos de futebol, uma quadra de futebol de salão
e outra poliesportiva, tudo ao ar livre.
Voluntários atendem
nas manhãs de terça e quinta-feira, no Salão
Oval, um grupo de “terceira idade”, com 287 alunas cadastradas,
das quais 73 participam ativamente de atividades como
ginástica chinesa e ioga, além de oficinas
temáticas sazonais. Na última quinta-feira
de cada mês, os idosos se entregam à dança,
num baile que ocorre das 14 às 16,30 horas.
Outra atividade cultural
importante acontece no Anfiteatro, com capacidade para
90 espectadores, que já abrigou 18 espetáculos
teatrais, montados por quatro grupos voluntários.
Lucena contabiliza 31.483 pessoas que assistiram a esses
eventos desde a inauguração do parque.
O diretor destaca, ainda,
a Brinquedoteca, com patrocínio da empresa de brinquedos
Estrela, que recebe diariamente cerca de 35 crianças.
Outra conquista, segundo ele, é o Infocentro, implantado
em convênio com o programa estadual Acessa São
Paulo, que oferece à comunidade dez computadores,
com conexão à “internet”. Em média,
160 pessoas visitam esse espaço todos os dias.
Inaugurada no dia 1º
de julho de 2000, a Biblioteca “Noemia Alves de Siqueira”
conta com um acervo de 8.313 publicações
e mais 7.000 a serem classificadas. É a única
da região a atender aos sábados, domingos
e feriados. Mais de seis mil usuários já
consultaram os livros da biblioteca, cujo nome homenageia
uma ex-freqüentadora, já falecida.
A “geração
saúde” também tem vez no Parque Ecológico
do Guarapiranga, com seus campos, quadras e trilhas. Atualmente,
um grupo de 37 pessoas pratica os passos de capoeira regional
nos finais de semana. Com o objetivo de tirar os jovens
da rua e iniciá-los na prática de esportes,
voluntários mantêm equipes de futebol mirim.
Cerca de 160 garotos treinam duas vezes por semana em
horários alternados e jogam aos sábados,
entre eles e contra times convidados. No ano passado,
o Grêmio Juventude, representando o parque, foi
campeão na categoria infantil da primeira “Copa
Cafu”.
A Equipe Correr, um grupo
de maratonistas composto por cerca de 40 pessoas, corre
nas trilhas do parque todo primeiro domingo do mês.
Essas trilhas são abertas a todos. “É só
procurar a voluntária Edinalva, no Núcleo
de Atletismo, todos os sábados, mas quem preferir
fazer trilhas, a atividade acontece sempre no primeiro
domingo de cada mês”, lembra Lucena. Há,
também, para os “apressadinhos”, uma pista de “cooper”
de mil metros, a única da região.
Programa Guarapiranga
Criado por meio do Decreto
Estadual 30.442, de setembro de 1989, o Parque Ecológico
do Guarapiranga foi construído dentro do Programa
de Saneamento Ambiental da Bacia do Guarapiranga, que
teve como principal objetivo assegurar a qualidade da
água do reservatório.
Iniciado em dezembro de
1992 e concluído seis anos mais tarde, o Programa
Guarapiranga foi implementado por meio de um convênio
firmado entre o Governo do Estado e o Banco Mundial, que
investiu US$ 262 milhões nessa iniciativa que envolveu,
ainda, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
- CDHU, Prefeitura de São Paulo, SABESP e a Secretaria
de Recursos Hídricos, além da SMA, responsável
pelas ações de proteção ambiental
e implantação e gestão de parques,
repovoamento vegetal e estudos referentes à qualidade
da água.
Entre os resultados do
programa, estão o aumento de áreas verdes
na bacia, análise atualizada e abrangente da qualidade
da água, recuperação de áreas
degradadas, reurbanização do espaço
público e a criação de áreas
de lazer para a população carente.
O Programa Guarapiranga
possibilitou, além do Parque Ecológico do
Guarapiranga, que é o maior e mais importante,
a criação de outros cinco: Parque da Ilha
dos Eucaliptos, uma ilhota localizada na porção
esquerda da represa, o Parque da Represinha, em Itapecerica
da Serra, Parque Temático de Itapecerica da Serra,
Parque do Lago Francisco Rizzo, em Embu, e o Parque Várzea
do Embu-Guaçu, em Embu-Guaçu.
Texto: Osmar Soares de Campos Filho
Fotos: Pedro Calado
Veja mais:
Lei
nº. 12.233, de 16 de janeiro de 2006 (Define a Área
de Proteção e Recuperação
dos Mananciais da Bacia Hidrográfica do Guarapiranga,
e dá outras providências correlatas)
Decreto
nº. 51.686, de 22 de março de 2007 (Regulamenta
dispositivos da Lei estadual n° 12.233, de 16 de janeiro
de 2006, -
Lei Específica Guarapiranga, que define a Área
de Proteção e Recuperação
dos Mananciais da Bacia Hidrográfica do Guarapiranga
- APRM-G, e dá providências correlatas)
Mananciais
Sul do Município de São Paulo: Um Passo
em Direção a uma Diretriz de Atuação