O
que são fontes de energia?
Entende-se por energia a
capacidade de realizar trabalho. Fontes de energia, dessa
forma, são determinados elementos que podem produzir
ou multiplicar o trabalho: os músculos, o sol, o
fogo, o vento etc.
Através do uso racional do trabalho, especialmente
na atividade industrial, o homem não apenas sobrevive
na superfície terrestre – encontrando alimentos,
abrigando-se das chuvas ou do frio etc –, mas também
domina e transforma a natureza: destrói florestas,
muda o curso dos rios, desenvolve novas variedades de plantas,
conquista terras ao mar, reduz distâncias (com modernos
meios de transporte e comunicação), modifica
os climas (com a poluição, as chuvas artificiais
etc), domestica certos animais e extermina outros.
As primeiras formas de energia que o homem utilizou forma
o esforço muscular (humano e de animais domesticados),
a energia eólica (do vento) e a energia hidráulica,
obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a
Revolução Industrial, na Segunda metade do
século XVIII e no século XIX, surgem as modernas
máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje
funcionam principalmente a energia elétrica. A eletricidade
pode ser obtida de várias maneiras: através
da queima do carvão e do petróleo (usinas
termelétricas), da força das águas
(usinas hidrelétricas), da fissão do átomo
(usinas nucleares) e de outros processos menos utilizados.
As chamadas modernas fontes de energia, ou seja, as mais
importantes, são: o petróleo, o carvão,
a água e o átomo. As fontes alternativas,
que estão conhecendo um grande desenvolvimento e
devem tornar-se mais importantes no futuro, são o
sol (energia solar), a biomassa e os biodigestores, o calor
proveniente do centro da Terra energia geotérmica),
as marés, o xisto betuminoso e outras.
É importante ressaltar que as fontes de energia estão
ligadas ao tipo de economia: quanto mais industrializada
ela for, maior será o uso de energia. O carvão
mineral foi a grande fonte de energia da Primeira Revolução
Industrial, e o petróleo foi a principal fonte de
energia do século XX e continua a desempenhar esse
papel, apesar de um recente e progressivo declínio.
Tanto o petróleo como o carvão mineral são
recursos não renováveis, isto é, que
um dia se esgotarão completamente; eles também
são muito poluidores, na medida em que seu uso implica
muita poluição do ar. Por esses dois motivos
eles estão em declínio atualmente, em especial
o petróleo, que foi básico para a era das
indústrias automobilísticas e petroquímicas.
Vivemos na realidade numa época de transição,
de passagem do domínio do petróleo para a
supremacia de outras fontes de menos poluidoras e renováveis,
ou seja, que não apresentam o problema de esgotamento.
Este pensamento está pelo menos na cabeça
dos ambientalistas de todo o planeta, mas a realidade ainda
é um mundo dominado pelos combustíveis fósseis.
A série “Que energia é essa?” irá trazer
as principais fontes de energia usadas em nosso planeta;
como surgiram, onde são usadas, qual a dependência
humana dessas fontes e muito mais. Neste capítulo
conheceremos a fonte de energia chamada “Usinas Nucleares”.
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O
átomo – muita discussão em torno de uma hipótese
Há mais de 2.400 anos, o filósofo
grego Anaxágoras, trabalhando só com o pensamento
e a intuição, pois não tinha obviamente
nem os instrumentos nem os conhecimentos da ciência
moderna, afirmou que a matéria poderia ser dividida
infinitamente.
Sua genial percepção foi contudo contestada
por Leucipo e Demócrito, para os quais a matéria
só poderia ser dividida até um certo limite.
Existiam então partículas infinitesimais,
inseparáveis e indestrutíveis que formariam
as substâncias. A essas partículas, Demócrito
deu o nome de átomo, palavra grega que significa
indivisível.
A polêmica estabeleceu-se na Grécia Antiga.
E com os argumentos da lógica e às vezes do
sofisma, o debate prolongou-se até que Aristóteles,
o maior de todos os pensadores gregos, se fixasse na tese
de Anaxágoras sobre a divisibilidade infinita da
matéria. O conceito do átomo, porém
estava definitivamente incorporado ao pensamento ocidental.
Por essa época, os homens já sabiam como combinar
alguns elementos, muito embora a noção que
tivessem de elementos fosse totalmente equivocada. Aristóteles
estabelecera que eram quatro os elementos, isto é,
as substâncias das quais derivavam todas as demais:
fogo, água, terra e ar.
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Mas os homens,
antes de Aristóteles e depois dele, ainda que
sem saber direito o porquê, eram capazes de
combinar o cobre e o estanho fazendo o bronze, sabiam
como fabricar o vidro e praticavam a metalurgia de
ferro. As razões de todos esses feitos, só
a química e a física atômica,
criações da ciência no século
XIX depois de Cristo, poderiam explicar.
Os primeiros passos da ciência moderna foram
dados pelo monge franciscano Rogério Bacon,
que, no século XVIII, contestou os conhecimentos
não apoiados na experiência. Até
então, toda a ciência, ou filosofia,
como se dizia, só se apoiava na lógica,
na razão, chegando até a desdenhar a
experimentação. E foi com base numa
experiência que Robert Boyle (1627-1691) provou
a existência dos átomos, ou “corpúsculos”,
como os chamou. Boyle verificou que o gás encerrado
num recipiente munido de êmbolo, com o qual
se pudesse exercer pressões maiores ou menores,
diminuía ou aumentava de volume na proporção
em que a pressão fosse exercida, o que provava
a teoria de ser a matéria formada por átomos.
Logo depois, o pai da ciência moderna, Isaac
Newton, estabeleceria, como Demócrito, serem
os átomos “a menor parte da matéria”,
acrescentando estarem dotados de “certos poderes,
virtudes e forças” com os quais uns atuavam
sobre os outros. Estava aberto o caminho para a investigação
do átomo. |
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Mil
e uma utilidades
O emprego da radioatividade
e da energia nuclear está cada vez mais desenvolvido
em todo o mundo. Coisas simples, incorporadas ao nosso
dia-a-dia, são possíveis devido à
radioatividade. Por exemplo: a seringa descartável
de injeção. O que permite a esterilização
da seringa dentro de um invólucro no qual será
vendida nas farmácias é um tratamento
radioativo que elimina todos os germes e impede sua
proliferação. A radiografia com emprego
de raios X é corriqueiramente usada na identificação
de problemas de saúde. E, ainda na medicina,
são numerosos os tratamentos – especialmente
em casos de câncer – possíveis com o
aproveitamento das propriedades dos isótopos
radioativos.
Na alimentação, também são
importantes as pesquisas possibilitadas pelos radioisótopos.
Por um lado, é possível acompanhar toda
a trajetória da absorção dos
alimentos por uma planta, definindo-se os nutrientes
que essa planta melhor absorve, da seguinte forma:
misturam-se radioisótopos em adubos que serão
dados como alimentos à planta. Depois, ao cientista
basta medir a radioatividade existente na planta para
calcular as quantidades dos diversos adubos por ela
absorvidos. Existem mil e uma aplicações
na indústria, gamagrafia, medidores etc.
Mas, depois da bomba atômica, a aplicação
mais conhecida da energia nuclear está nos
reatores.
O papel dos reatores nucleares é gerar calor.
Com esse calor, podem-se mover navios, fundir minério
de ferro e, sobretudo, produzir energia elétrica.
Para mover navios ou produzir energia elétrica,
o reator nuclear funciona conforme o mesmo princípio
de uma caldeira. Só que no lugar do carvão,
da lenha ou do petróleo, o que aquece a “caldeira”
é a fissão do núcleo do urânio
ou outro material físsil. A fissão aquece
a água, produzindo vapor, que, sob pressão,
vai girar as turbinas, pondo em movimento as hélices
do navio ou as pás do gerador de eletricidade. |
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Em princípio,
nada diferencia uma central elétrica térmica
convencional de uma central elétrica nuclear,
exceto que a primeira usa petróleo (com suas
míseras dez mil quilocalorias por quilo) e
a segunda usa urânio (com suas sensacionais
19 milhões de quilocalorias por grama de isótopo
físsil) para produzir o vapor que porá
o gerador em movimento.
Na siderurgia e mesmo em outras indústrias
como a químicas e a petroquímica, que
requerem calor para provocar fenômenos químicos
em seus processos, a energia nuclear poderá
vir a ser largamente utilizada, estando em desenvolvimento
reatores específicos para essas aplicações.
Esses reatores, chamados HTGR, conseguem elevar a
temperatura do fluido arrefecedor – gás neste
caso – até 1.000ºC (os demais não
chegam nem à metade disso), o que permite a
gaseificação do carvão ou a obtenção
de hidrogênio puro a partir da água.
O carvão gaseificado, o hidrogênio e
também o monóxido de carbono, que esses
reatores permitem obter, são insumos básicos
para a produção de aço, plásticos,
papel etc. |
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O
combustível nuclear – aqui, o urânio
O urânio
é um elemento químico de número
atômico 92, isto é, tem 92 prótons
em seu núcleo. O urânio encontrado na
natureza é uma mistura de três isótopos,
sendo 99,28% de urânio 238, 0,71% de urânio
e 0,00057% de urânio 234. Só o urânio
235 ou U5 é físsil, sendo aliás
o único elemento físsil encontrado na
natureza, ponto de partida portanto para toda a indústria
nuclear.
Entretanto, o U5 pode ser transformado em plutônio
físsil, daí ser considerado material
fértil. Assim, será físsil aquele
material capaz de gerar energia nuclear pela fissão,
e fértil, o material capaz de ser transformado
em físsil. Além do U8, também
o tório é um material fértil,
porque poderá se transformar no U físsil.
As pessoas de urânio no Brasil começaram
em 1951, em trabalho conjunto do Conselho nacional
de Pesquisas e do U.S. Geological Survey. Em 1956,
as pesquisas ganharam maior impulso com a criação
da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN
- , que continuou trabalhando em convênio com
o USGS até 1960.
Na década 60, iniciou-se a cooperação
francesa nos trabalhos de pesquisa de urânio
no Brasil, por meio do Comissariat à l’ Énergie
Atomique, que chegou a ajudar na organização
do Departamento de Exploração Mineral
da CNEN. A cooperação francesa, que
durou até 1966, permitiu a formação
de mais de meia centena de técnicos brasileiros
na pesquisa de urânio e acabou levando à
identificação das primeiras reservas
no Planalto de Poços de Caldas (Minas Gerais).
Quando foi assinado o Acordo Nuclear com a Alemanha,
o Brasil dispunha, nos municípios de Caldas
(MG) e Figueira (PR), de 11 mil toneladas de urânio
(entre asseguradas e estimadas) passíveis de
exploração a preços competitivos.
Além disso, sabia-se de outras ocorrências,
associadas a outros minérios em Araxá
(Minas), Olinda (Pernambuco) e Jacobina (Bahia), cuja
exploração entretanto dependia das dimensões
da produção dos minérios aos
quais o urânio aparece associado. Isto é,
por ser muito difícil e caro extrair urânio
desses outros minérios (pirocloro em Araxá,
ouro em Jacobina), seria necessário explorá-los
em grande quantidade para justificar economicamente
a extração. Daí por que esta
não chegou a ser feita.
O trabalho de encontrar urânio começa
com o exame das grandes unidades geológicas
favoráveis à existência do minério,
tendo em vista identificar as áreas nas quais
se deverá executar um trabalho sistemático
e metódico.
Selecionadas as áreas, nelas são feitos
diversos tipos de levantamentos: aerogeofísicos
sob revôos das áreas com aparelhos sensíveis
à radioatividade), geoquímica (identificação
de alterações no solo e na flora provocadas
pela presença de minérios de urânio),
radiometria (localização de anomalias
por meio do cintilômetro, aparelho que substitui
o contador Geiger). |
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Uma vez comprovada
a existência de indícios de urânio,
passa-se à fase de pesquisa, na qual, por meio
de sondagens e abertura de galerias, além do
continuado emprego dos métodos já descritos
anteriomente, medem-se as dimensões da reserva
e, finalmente, definem-se as possibilidades e métodos
de sua exploração. |
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Muitas
maneiras de enriquecer
Está visto
que o urânio natural tem muito pouco material
físsil, o que não impede sua utilização
na geração de energia, embora limite
sua aplicação geral. É que a
taxa de irradiação obtida com o urânio
natural – quantidade de energia gerada por quilo de
urânio consumido – é baixa. Usa-se elevar
a taxa de irradiação enriquecendo o
urânio. Daí que urânio enriquecido
é todo urânio com mais de 0,7% de U235.
Na maior parte dos reatores comerciais usados atualmente
para gerar energia elétrica, utiliza-se urânio
com 3 a 5 por centro de U235. Para se fabricar uma
bomba atômica, seria necessário urânio
com pelo menos 90% de U235 (ou Pu-239 praticamente
puro).
Existem quatro processos de enriquecimento do urânio:
difusão gasosa, ultracentrifugação,
jato centrífugo e um processo aerodinâmico
desenvolvido pela África do Sul cujas características
básicas são muito semelhantes às
do jato centrífugo.
A mais antiga das técnicas é a da difusão
gasosa. Projetada inicialmente com finalidades militares,
é capaz de enriquecer urânio a 90% sendo
por isso considerada monopólio das potências
nucleares. Este processo, para se tornar econômico,
precisa ter uma capacidade de pelo menos 8.500.000
(oito milhões e quinhentos mil) unidades de
trabalho separativo por ano. (Unidade de trabalho
separativo ou UTS dá uma idéia do trabalho
executado para elevar o teor de U235, ou seja, realizar
o chamado enriquecimento em U235).
Para se ter uma idéia do que significa aquele
número, basta dizer que 8.500.000 UTS atenderiam
a uma demanda de urânio para cerca de 60 usinas
nucleares da capacidade de Angra II. Por suas dimensões,
pelos investimentos que requer e por seu alcance bélico,
só os Estados Unidos, Grã-Bretanha,
Franca, Rússia e China têm usinas de
enriquecer urânio por difusão gasosa,
embora este seja um dos dois processos totalmente
comprovados do ponto de vista técnico e econômico.
Essas potências se negam a transferir tecnologia
de enriquecimento por difusão, embora aceitem
vender serviços de enriquecimentos aos demais
países interessados.
Os europeus, os americanos e recentemente os japoneses
vêm trabalhando numa Segunda alternativa de
enriquecimento, denominada ultracentrifugação.
Igualmente considerado segredo militar por permitir
também o enriquecimento a 90%, o processo oferece,
sobre a difusão gasosa, a vantagem de ter custos
operacionais mais baixos e permitir a instalação
de usinas de enriquecimento menores. Um consórcio,
conhecido pelo nome de Urenco, formado Grã-Bretanha
Alemanha e Holanda, tem duas usinas em operação
– uma na Inglaterra (Capenhust) e outra na Holanda
(Almelo) – produzindo urânio enriquecido por
centrifugação. A Urenco está
considerando a construção, na Alemanha,
de outra usina utilizando o mesmo processo. A nova
expansão da capacidade americana de enriquecimento
está sendo feita com usinas de centrifugação.
O Japão tem em operação uma usina
de demonstração que usa o processo de
centrifugação. |
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O
plutônio
O plutônio não
existe na natureza. Ele é criado artificialmente
pela transmutação do urânio 238, processada
dentro de um reator. Tem vários isótopos,
dos quais são físseis os de número
de massa ímpar: Pu239 e Pu241. Como elemento gerador
de energia, o plutônio é de uma capacidade
extraordinária. Os plutônios físseis
têm como combustível nuclear, propriedades
semelhantes às do U235, podendo substituir este combustível.
Entretanto, o manuseio do plutônio exige severos cuidados.
Trata-se de um elemento tóxico: a concentração
máxima tolerável é de 0,00003 gramas
por metro cúbico de ar. Entretanto ele é menos
tóxico que algumas substâncias aceitas naturalmente
pela nossa sociedade.
O plutônio gerado em um reator está misturado
ao combustível, do qual é retirado por meio
de uma operação química denominada
reprocessamento. Esta operação não
permite a separação dos isótopos físseis
dos férteis, daí por que a obtenção
de plutônio com alto percentual de isótopos
físseis (plutônio de alta qualidade) depende
da própria qualidade do plutônio contido no
combustível a ser reprocessado. Esta última
separação é entretanto desnecessária
se a finalidade for usar o plutônio nos reatores nucleares
para produção de energia elétrica.
Tanto a composição isotópica como a
quantidade de plutônio produzida dependem do tipo
de reator e de sua taxa de irradiação. Serão
necessários, por exemplo, reatores de baixa taxa
de irradiação para produzir plutônio
com 96% de teor físsil, único capaz de ser
usado em bombas nucleares. Tais reatores contudo são
antieconômicos quando postos a operar na geração
de energia elétrica e vice-versa. Assim, os reatores
comerciais com elevada taxa de irradiação
produzem plutônio pobre em material físsil
para fins militares mas não para fins energéticos.
O que não elimina a possibilidade de, em caso de
especial necessidade, eles serem postos a operar com baixa
taxa de irradiação de modo a produzir plutônio
de alta qualidade, o que seria altamente antieconômico.
Para isso, há soluções alternativas
mais baratas e mais rápidas.
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Os
reatores – reatores para todos os gostos
O reator é
um dispositivo complexo no qual a reação
nuclear em cadeia é iniciada e controlada visando
à obtenção de energia com diversas
finalidades. Vários países, centros
de pesquisas e empresas vinculadas ao desenvolvimento
e fabricação de reatores nucleares têm
pesquisado diferentes caminhos tecnológicos
na busca do tipo de reatores que possam oferecer mais
rentabilidade, produtividade e segurança, conforme
as finalidades a que se destinem.
Assim, existem mais de 10 tipos diferentes de reatores,
conhecidos pelas iniciais de seus nomes em inglês,
e agrupados conforme o tipo de combustível,
moderador e arrefecedor usados.
Combustível é o elemento gerador
de energia, constituído normalmente por uma
mistura de material físsil e material fértil.
São usados como combustível, por exemplo,
urânio (U235 ou U235 + U238), mistura de urânio
e tório (Th232 + U233) e de urânio e
plutônio (U238 + Pu239) etc.Moderador
é o material utilizado para reduzir a energia
dos neutrons de modo a aumentar a ocorrência
da fissão controlada. São usadas como
moderadores a água comum (denominada tecnicamente
água leve), a água pesada (constituída
por isótopos pesados de hidrogênio),
a grafita.
Arrefecedor é o material que permite
o transporte da energia térmica, gerada pela
fissão, para sua utilização.
São usados como arrefecedores a água
leve, a água pesada, o gás carbônico,
o hélio, o sódio líquido.
Geralmente é o moderador que serve à
classificação dos reatores. Por isso,
eles são conhecidos como reatores a água
leve, ou água pesada ou grafita.
Além dessa classificação técnica,
os reatores podem ser divididos em duas grandes linhas
que expressam sua evolução tecnológica:
são os reatores comerciais empregados hoje
no mundo, originários da primeira linha de
reatores desenvolvida nos Estados Unidos, com fins
militares, durante a Segunda Guerra Mundial. E os
reatores superconversores rápidos, existem
operando para demonstração no Reino
Unido, França e Rússia. Sua grande vantagem
é produzir mais material físsil do que
consome, empregando o plutônio como combustível.
Não usam materiais moderadores porque funcionam
como nêutrons rápidos, de alta energia. |
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Água
comum, a preferida
Nenhum reator
que tenha água leve como moderador funciona
com urânio natural. Todos usam urânio
levemente enriquecido, daí por que um programa
nuclear baseado em reatores a água deve ter
uma usina de enriquecimento de urânio. Atualmente,
são os reatores mais comprovados comercialmente
no mundo: mais de 80% das usinas nucleares em operação
utilizam reatores de água leve, um dos quais
o PWR, é também o único tipo
usado na propulsão naval. Duas razões
explicam essa preferência: os PWR produzem energia
a custo mais baixo e foram desenvolvidos nos Estados
Unidos, onde se concentra mais da metade da indústria
nuclear do mundo ocidental. Essa é a linha
de reatores preferida pelos países em que o
programa nuclear tem por principal finalidade gerar
energia elétrica a custo baixo, ou seja, em
que o parâmetro econômico é fundamental
para definir a escolha.
Existem duas linhas principais de reatores a água
leve, ambas de origem norte-americana: o PWR e o BWR.
O PWR – iniciais da expressão inglesa Pressurized
Water Reactor, que significa reator a água
pressurizada - , desenvolvido inicialmente pela firma
Westinghouse, utiliza água leve pressurizada
como moderador e arrefecador. Os reatores em instalação
no Brasil são dessa linha. O BWR – iniciais
da expressão inglesa Boiling Water Reactor,
que significa reator a água fervente - , desenvolvido
pela firma General Electric, utiliza água leve
como moderador e arrefecedor. |
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Tanto a base industrial
dos reatores a água leve como sua engenharia
estão em constante expansão em relação
à dos demais tipos de reatores, o que permite
a construção de modelos com capacidades
superiores a 1.000 megawatts elétricos. Um
dos países que mais avançaram em tecnologia
de reator a água leve foi a Alemanha, a partir
da absorção dos conhecimentos norte-americanos
no assunto. A França e o Japão seguiram
o mesmo exemplo: partiram para a assimilação
de tecnologia de reatores a água leve e, posteriormente
para desenvolvimento próprio. |
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A
água pesada complica
Existem diversos tipos de
reatores a água pesada, conforme o combustível
e o arrefecedor que utilizem. Entretanto, só o CANDU
(Canadian Deuterium Uranium Reactor) e o PHWR (Pressurized
Heavy Water Reactor) alcançaram versões comerciais.
Os demais projetos não passaram da fase de protótipos.
Os reatores a água pesada são de maior complexidade
tecnológica e de custo operacional mais elevado que
os de água leve. Oferecem a vantagem de dispensar
o urânio enriquecido, mas, em compensação,
o processo de obtenção da água pesada
não é o menos complexo tecnologicamente, ainda
que menos sujeito a problemas políticos no campo
internacional.
A água pesada distingue-se da água comum por
ter sua molécula formada por um átomo de oxigênio
e dois átomos de deutério (isótopo
de hidrogênio de massa 2). O símbolo da água
pesada é D2O. A tecnologia de obtenção
da água pesada não é sigilosa (como
a do enriquecimento do urânio por difusão gasosa)
mas é complexa e altamente custosa. Em todo o mundo
operam apenas três fábricas comerciais de água
pesada: duas nos Estados Unidos e uma no Canadá.
Os reatores CANDU requerem um quilo de água pesada
por cada quilowatt elétrico instalado. Está
é uma das razões de seu elevado custo operacional.
Entretanto, produzem mais plutônio físsil por
urânio consumido do que os reatores a água
leve, o que é uma vantagem relativa, já que
o reprocessamento deste tipo de combustível normalmente
não é justificado pois não há
urânio residual com teores de enriquecimento que justifiquem
o aproveitamento econômico. Daí que, em todo
o mundo, os reatores a água pesada tendem a ter desenvolvimento
menor.
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Um
velho que melhora sempre
Os reatores arrefecidos
a gás, conhecidos pelas iniciais GCR – Gas Cooled
Reactor, chegaram a ser comercialmente importantes na década
de 50 e, até hoje, operam em países como a
Grã-Bretanha e a França, mas se tornaram obsoletos
e não competitivos com os demais. São filhos
diretos dos primeiros reatores construídos, com finalidades
bélicas, nos Estados Unidos, Reino Unido e França,
utilizando urânio natural como combustível,
grafita como moderador e gás carbônico como
arrefecedor.
Os reatores a gás são os que mais viveram
importantes aperfeiçoamentos tecnológicos.
O primeiro deles foi a substituição do urânio
natural pelo urânio enriquecido nos AGR – Advanced
Gas Cooled Reactors. Depois, num novo estágio, utilizou-se
como combustível uma mistura de urânio altamente
enriquecido, tório e gás de hélio,
em substituição ao gás carbônico.
Outras modificações estruturais foram adotadas
no projeto. Neste estágio, sendo o reator denominado
High Temperature Gas Reactor (Reator a Gás de Alta
Temperatura – HTGR), obteve-se um dispositivo de grande
eficiência e menores riscos ecológicos, o que
o torna ideal para países desenvolvidos de elevada
densidade populacional, além de permitir seu uso
não só na geração de energia
elétrica como também em processos industriais
(na petroquímica, na siderúrgica etc., como
fonte térmica). Entretanto, esses reatores usam urânio
altamente enriquecido e dependem fundamentalmente do reprocessameno,
com todas as implicações políticas
daí decorrentes.
Embora, ao contrário do PWR, CANDU ou AGR, não
seja considerado um reator comprovado, o HTGR encontra,
teoricamente, crescente aceitação nos Estados
Unidos, Europa e Japão. Nesse país, inclusive,
existe um programa de HTGR em estudo, para atender às
necessidades da indústria siderúrgica japonesa.
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O
ciclo do combustível
O urânio, desde que
é minerado, e até chegar ao reator, passa
por um complexo processo de preparação. Após
sair do reator, esse combustível “queimado” enfrenta
novos processos, nos quais se recuperam urânio e plutônio
físseis nele contidos e prepara-se o resto para ser
cuidadosamente armazenado como rejeito radioativo, no jargão
popular chamado de “lixo atômico”.
Todo esse trabalho é conhecido como ciclo de combustível.
Suas principais fases são:
Prospecção
– é a procura, a descoberta de ocorrência de
jazidas de urânio.
Mineração – o urânio é
extraído da terra, onde às vezes se encontra
associado a outros minerais de interesse econômico.
Concentração – o urânio é
separado dos demais minerais e transformado no produto denominado
yellow cake (bolo amarelo).
Conversão – o yellow cake, por meio de processos
complexos, é transformado num composto com flúor,
conhecido como hexafluoreto de urânio ou UF6 sólido,
que, em torno de 60ºC, se transforma num gás.
Enriquecimento – o hexafluoreto de urânio
é submetido a processos para elevar seu teor de U235.
Fabricação do elemento combustível
– o UF6 enriquecido é transformado em pastilhas de
UO2 e condicionado em tubos apropriados formando o elemento
combustível.
Irradiação – o combustível
é colocado no reator para, através da reação
em cadeia, gerar energia.
Reprocessamento – o combustível “queimado”
ou irradiado é submetido a processos químicos
para nele se recuperar plutônio e urânio físsil.
Eliminação de rejeitos radioativos
– após tratamento especial, o material restante é
depositado em locais em que sua radioatividade não
possa afetar os seres vivos e o meio ambiente.
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A
segurança dos reatores
O primeiro receio
comum ao geral das pessoas diante de uma central nuclear,
refere-se ao risco de explosão. No caso, explosão
atômica. Esse é um receio totalmente
infundado. Existem razões físicas que
tornam impossível a explosão de um reator
nuclear, a começar pelo baixo teor de enriquecimento
do urânio empregado na reação.
O urânio de um reator, como se viu, é
enriquecido a apenas 3%. Além disso, o reator
dispõe de elementos para controlar e moderar
a reação em cadeia que impedem o tipo
de reação capaz de levar à explosão.
O fato é que nunca se assistiu à explosão
de um reator nuclear nessas três décadas
de emprego de energia nuclear para fins pacíficos.
O que pode acontecer realmente é a liberação
de elementos radioativos por um reator. Um acidente
pode ocasionar a liberação de doses
letais de radiações e para preveni-lo,
os projetos dos reatores incluem um pesado e complexo
esquema de proteção cujo objetivo é
evitar que qualquer coisa ocorrida no coração
do equipamento possa ter repercussões do lado
de fora.
O esquema de proteção começa
na seleção de materiais e escolha de
terreno para localizar uma usina. Ao longo dos anos,
a indústria nuclear foi desenvolvendo e fixando
normas de segurança por cuja aplicação
zelam comissões nucleares nacionais e internacionais
tais como a Comissão Nacional de Energia Atômica
– AIEA, o organismo ligado à ONU, com sede
em Viena.
A concepção de uma usina nuclear guarda
estreita relação com as necessidades
de segurança. Tudo é feito para impedir
ao máximo a disseminação de radiações.
A primeira barreira à liberação
de substâncias radioativas é a própria
pastilha do combustível nuclear, feita de um
material cerâmico que retém parte das
radiações. A Segunda barreira são
os tubos de zircaloy dentro dos quais são arrumadas
as pastilhas de combustível. A terceira barreira
é o material refrigerante que envolve o combustível
e se encontra hermeticamente fechado no vaso metálico
de contenção. Por fim, tudo isso - pastilhas,
tubos e vaso – encontram-se dentro do prédio
do reator, a quarta barreira, com 75 centímetros
de espessura de concreto armado. |
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Esses são
os sistemas concebidos no projeto de um reator para
reduzir ao mínimo a propagação
de radiações. Mas não bastam.
Para prevenir falhas técnicas e humanas, as
usinas são dotadas de inúmeros instrumentos
de controle e medição que mantêm
os técnicos permanentemente informados sobre
suas condições de funcionamento. E se,
apesar disso, ocorrerem acidentes sérios, entra
em ação uma última linha de defesa
composta por equipamentos destinados a provocar imediata
paralisação e rápido desaquecimento
do reator. Já houve poucos casos em que tais
equipamentos foram chamados a intervir – nos casos
em que os problemas chegaram às machetes dos
jornais – e o fizeram com êxito evitando acidentes
com maiores proporções.
Os problemas ligados à segurança de
um reator não se limitam porém às
medidas destinadas a conter emissões radioativas
descontroladas. Assim como qualquer fábrica
ou uma usina termelétrica lançam na
natureza os seus efluentes industriais, alguns altamente
poluidores, a usina nuclear também lança
gases na atmosfera e líquidos nos rios e mares.
Só que, ao contrário do que fazem muitas
indústrias, as usinas nucleares tratam esses
restos de forma a torná-los o menos nocivo
possível. Esse tratamento é feito em
dois sistemas: tratamento de resíduos gasosos
e de resíduos líquidos. São completos
sistemas de tubos, válvulas, filtros e depósitos
que retêm os elementos radioativos contidos
nos gases e líquidos a serem lançados
na natureza através de uma chaminé ou
de um túnel de descarga. Esses resíduos,
assim tratados, têm no máximo a metade
da radioatividade natural da água comum e representam
menos de 2,5% na radioatividade média que um
homem suporta anualmente.
Sim, porque as pessoas vivem imersas em radioatividade.
A luz solar é uma fonte radioativa natural
como a televisão é uma fonte radioativa
artificial. Até nos alimentos existe radioatividade.
Cada um recebe cerca de 110 a 150 milirem de radiações
por ano (o rem é uma medida de radiação),
mas a radioatividade de uma central nuclear operando
em condições normais não deve
ultrapassar a 5 mrem/a.
Assim, tratados os resíduos gasosos e líquidos,
resta saber o que será feito com os resíduos
sólidos. Trata-se do combustível queimado
que, logicamente, é um material perigosamente
radioativo. Este é manipulado com todo o cuidado
em recipientes próprios através de meios
mecânicos (gruas, pinças) que evitam
o contato humano. São colocados em tanques
de chumbo ou aço cheios de água para
que esfriem e percam parte da radioatividade. E, depois,
acondicionados em chumbo, são transportados
até as usinas de tratamento. Como se viu anteriormente,
parte desse combustível pode ser recuperada
na foram de urânio enriquecido e plutônio.
A parte imprestável é novamente acondicionada
e transportada para sítios geológicos
apropriados (minas subterrâneas de sal, por
exemplo), onde permanecerá para o resto dos
tempos. |
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Energia
nuclear no Brasil – o esforço pioneiro de Álvaro
Alberto
A história
da política nuclear brasileira está
desde o início intimamente ligada a todas as
implicações internacionais do poder
nuclear, no contexto das quais o Brasil sempre enfrentou
dificuldades naturais que as potências atômicas
impunham aos países sem tecnologia nuclear
original.
Quando os Estados Unidos tentaram, por meio do Plano
Baruch, assegurar-se do monopólio da tecnologia
e das matérias-primas nucleares no mundo ocidental,
o Brasil se opôs a eles, por meio de seu representante
na Comissão de Energia Atômica da ONU,
Almirante Álvaro Alberto da Mota. Isto foi
em meados de 1946. |
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Então,
o representante brasileiro, pela primeira vez, formulou
o princípio das compensações
específicas: o Brasil estaria disposto a fornecer
matérias-primas nucleares aos países
interessados desde que estes fornecessem em troca,
ao Brasil, tecnologia e equipamentos para o desenvolvimento
de uma indústria nuclear brasileira. Álvaro
Alberto, em muitas oportunidades, chegava a ser voto
isolado em defesa da autonomia nuclear dos países
não nucleares nas sessões daquela Comissão,
mas ia conquistando junto ao governo e à opinião
pública brasileiros uma posição
ímpar de pioneiro na formulação
de uma política nuclear independente para o
Brasil. Em 15 de janeiro de 1951, pela Lei 1.310,
o Presidente Eurico Gaspar Dutra cria o Conselho Nacional
de Pesquisas, inspirado pelo Almirante Álvaro
Alberto. Entre as atribuições do CNPq
estavam “a investigação e a industrialização
da energia atômica e suas aplicações”.
Presidido desde sua criação pelo Almirante
Álvaro Alberto, o CNPq logo tratou de implementar
a política das compensações específicas
passando a esbarrar em forte oposição
do governo dos Estados Unidos. Tanto que, desesperançado
de contar com a colaboração do aliado
do Norte, o Almirante Álvaro Alberto voltou-se
para a Alemanha, ainda covalescente dos desastrosos
efeitos da Segunda Guerra, e, em fins de 1953, conseguiu
obter três unidades de enriquecimento de urânio
pelo processo ultracentrífugo. Na Alemanha,
o almirante entrou em contato com alguns dos mais
proeminentes físicos da época, entre
eles William Groth, Bayerle e o descobridor da fissão
nuclear, Otto Hann, propondo-lhes virem ao Brasil
prosseguir nos estudos para os quais enfrentavam muitas
limitações pelo fato de estar a Alemanha
ocupada pelas quatro potências aliadas.
Os físicos não vieram, e os equipamentos
só chegaram aqui após grandes lutas.
Os equipamentos tiveram seu embarque proibido a pedido
do comissário norte-americano na Alemanha,
James Connant, cumprindo ordens do próprio
presidente da Comissão de Energia Atômica
dos Estados Unidos, Almirante Lewis Strauss. O presidente
do CNPq peregrinou pela Alemanha e Estados Unidos
tentando liberar as centrifugadoras, entrevistando-se
até com o Almirante Strauss.
Após muita luta, com lances dignos de espionagem,
os equipamentos chegaram e estão instalados
no IPT de São Paulo. Um maior número
de equipamentos, necessário para montar uma
usina, entretanto não foi possível obter.
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Após muita
luta, com lances dignos de espionagem, os equipamentos
chegaram e estão instalados no IPT de São
Paulo. Um maior número de equipamentos, necessário
para montar uma usina, entretanto não foi possível
obter.
Além da Alemanha, o Almirante Álvaro
Alberto tentou interessar a França no programa
nuclear brasileiro. Em consequência, também
no fim de 1953 o governo brasileiro assinou, com representantes
da Societé des Produits Chimiques des Terres
Rares, contrato de encomenda na França de usinas
para obtenção de urânio nuclearmente
puro. Tanto esse acordo quanto as negociações
do Almirante Álvaro Alberto da presid6encia
do CNPq em 13 de janeiro de 1955. Seu sucessor, professor
batista Pereira, decidiu desativar o acordo com os
franceses já que havia dúvidas sobre
o êxito da operação, pois o Brasil
não dispunha na época de reservas conhecidas
de urânio em volume suficiente para assegurar
o suprimento das usinas. |
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Os
anos da CNEN
Uma resolução
do Conselho de Segurança Nacional, de 30 de
agosto de 1956, recomendou a criação
de uma Comissão Nacional de Energia Nuclear
diretamente subordinada à Presidência
da República, instituída no dia 10 de
outubro do mesmo ano. Também estava explícito
nessa resolução a manutenção
do princípio das compensações
específicas em caso de exportação
de materiais físseis.
O Brasil já contava então com alguns
físicos nucleares de renome mundial como César
Lattes, Mário Shoemberg, José Leite
Lopes e Marcel Damy, este o segundo presidente da
CNEN. Dispunha, também, de dois institutos
de pesquisa: o Instituto de Pesquisas Radioativas
de Belo Horizonte – IPR, criado em 1953, e o Instituto
de Energia Atômica – IEA, de São Paulo,
criado em 31 de agosto de 1956 por inspiração
do CNPq. |
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Um terceiro instituto
seria criado em 1963 no âmbito da Universidade
Federal do Rio de Janeiro: o Instituto de Engenharia
Nuclear. Em torno desses institutos avançavam
os trabalhos de pesquisa no País, buscando
identificar soluções nacionais para
a tecnologia nuclear diante do bloqueio existente
para sua obtenção externa. Em 1956,
o IEA instalou um reator de pesquisa do tipo piscina,
de 5 megawatts, de origem americana.
O IPR instalou em 1958 seu reator, de 100 quilowatts,
também de origem americana. O terceiro reator
de pesquisa brasileira viria a entrar em funcionamento
só em 1965: o Argonauta do IEN, de 10 quilowatts,
construído com técnica e material inteiramente
brasileiros. O IPR viria a instalar mais um reator,
também inteiramente nacional, funcionando com
tório-urânio e água pesada: o
Capitu.
Este, no entanto, é subcrítico e só
serve para pesquisas em física nuclear. Paralelamente,
desenvolveram-se os primeiros trabalhos para melhor
definir as reservas brasileiras de minerais nucleares,
que, por volta do anos 50, acreditava-se estarem entre
as maiores do mundo.
A CNEN aceitou cooperação nessas pesquisas,
estabelecendo primeiro um convênio com o governo
dos Estados Unidos, executado de 1956 a 1960. Entre
1961 e 1966, os trabalhos de pesquisa mineral da CNEN
passaram a ser feitos com a cooperação
do governo francês, que enviou ao Brasil técnicos
responsáveis inclusive pela organização
do Departamento de Exploração Mineral
da entidade brasileira. Sem dúvida, esse trabalho
mostrou-se proveitoso, seja pela formação
dos primeiros técnicos brasileiros em pesquisa
de urânio e outros minérios radioativos,
seja pela identificação das primeiras
reservas brasileiras desses minerais.
O maior evento desse período foi, sem dúvida,
a decretação do monopólio estatal
sobre minérios e materiais nucleares, por meio
da Lei 4.118, de 27 de agosto de 1962. Pela lei, ficou
definido que só o Governo brasileiro, através
da CNEN, poderia pesquisar, lavrar e processar minerais
radioativos no Brasil. Até então, vários
organismos e empresas privadas intervinham na questão,
dificultando soluções harmônicas,
especialmente em relação aos minerais
radioativos sobre os quais era grande o interesse
das potências nucleares, consumidoras de urânio
e tório.
Entretanto, se ficava clara a política que
o País seguiria em relação aos
seus minerais radioativos, ainda muito se discutia
sobre a linha de reatores mais adequada às
condições nacionais. E, como nada se
definia, cada um dos três mais importantes institutos
de pesquisa executavam trabalhos sobre linhas diferentes,
sempre no sentido de tornar o Brasil capaz de fabricar
um reator de potência. O IEA estudava reatores
a gás, o IEN investigava reatores rápidos
e o IPR pesquisava os reatores a tório, dando
origem ao famoso Grupo do Tório. |
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Com a Reforma
Administrativa (Decreto-Lei 200) que colocou a CNEN,
em 1967, na área do Ministério das Minas
e Energia e, principalmente, com as Diretrizes da
Política Nuclear, baixadas em dezembro desse
mesmo ano, começou um novo período da
história nuclear brasileira.
O Brasil voltou a envolver-se em problemas diplomáticos
com os Estados Unidos – aliado da Rússia na
questão - , que pretenderam do Governo brasileiro
adesão ao Tratado de Não-Proliferação
de Armas Nucleares, aprovado pela ONU em 12 de junho
de 1968. O Brasil, assim como a França, a Argentina,
a Índia, Israel e outros países, recusou-se
a aderir ao acordo porque este só prescrevia
as armas nucleares nas nações conceituadas
como “não-nucleares”, embora não impusesse
qualquer limitação à produção
de armas at6omicas pelas potências que até
então já haviam explodido artefatos:
Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha,
França e China. Embora a política nuclear
brasileira sempre tenha tido objetivos pacíficos,
o Brasil considerou que “o Tratado não estabelecia
um balanço aceitável entre os direitos
e obrigações das nações
nucleares e não-nucleares”.
Mais felizes foram os esforços brasileiros
para transformar o conjunto da América Latina
em zona não-nuclear. Um tratado nesse sentido
foi proposto em 1962 pelo Brasil às demais
nações do Continente e afinal assinado
em 1967. É o Tratado de Tlatelolco.
Pelo acordo, ficavam proibidas as explosões
de armas nucleares no Continente, exceto quando para
fins pacíficos e sob supervisão internacional.
Também era permitida a adesão internacional
ao Tratado, implicando às nações
aderentes o compromisso de respeitarem a desnuclearização
do Continente: Estados Unidos, Grã-Bretanha,
França e Holanda aderiram.
Internamente, os trabalhos da CNEN avançavam
em dois grupos: na pesquisa mineral e nos estudos
técnico-industriais. A criação
da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM,
em 1969, dotou o setor mineral do governo de um instrumento
ágil para a execuç1ao de trabalhos geológicos.
Foi também criada uma companhia para dinamizar
as atividades do setor nuclear do País: a Companhia
Brasileira de Tecnologia Nuclear – CBTN, diretamente
subordinada à CNEN. Seu objetivo era dotar
a CNEN de uma organização de natureza
empresarial capaz de elaborar projetos e executar
pesquisas tecnológicas no setor nuclear, além
de promover a participação crescente
da indústria brasileira na produção
de componentes para centrais nucleares.
Criada em 1º de dezembro de 1971, a CBTN, em
julho de 1972, incorporou o IPR, o IEN e o Instituto
de Dosimetria. A seguir fez pesquisas objetivas sobre
as perspectivas mundiais da energia nuclear com fins
pacíficos e acabou contratando a firma norte-americana
Beechtel Overseas para levantar, com expressiva participação
de engenheiros da CBTN, o potencial da indústria
nacional em suportar um programa nucleoelétrico.
Esse levantamento, concluído em fins de 1973,
demonstrou Ter a indústria nacional excelentes
condições de atender às necessidades
brasileiras no caso da instalação em
série de reatores nucleares.
É claro que muitos componentes poderiam ser
imediatamente fornecidos, mas outros, mais complexos,
exigiriam prazos maiores para adaptação
física e tecnológica e garantia de qualidade
do parque industrial às encomendas.
A CBTN já adotava então o princípio
de que um programa nuclear brasileiro deveria ter
condições de viabilizar economicamente
uma indústria nuclear nacional. Em 10 de dezembro
de 1974, a CBTN foi transformada na NUCLEBRÁS,
que iniciou nova etapa da história nuclear
brasileira. Já então estavam em pleno
andamento na praia de Itaorna, em Angra dos Reis,
Estado do Rio, as obras da primeira central nuclear
do País, esforço isolado do setor elétrico.
Na época, supunha-se que o País contava
com uma das maiores reservas de tório do mundo.
A suposição decorria da confusão
que se fazia com os números que indicavam as
reservas de monazita. A monazita, mineral que corresponde
a um fosfato de terras raras, pode ter ou não
em sua estrutura molecular os elementos tório
e urânio. As areias monazíticas do litoral
brasileiro contêm o elemento tório em
percentual que varia de 4% a 6%.
Por ocasião da primeira CPI Nuclear, na década
de 50, o DNPM, por meio do depoimento do engenheiro
Ernesto Bastos Pouchain, declarava que a avaliação
feita pelo Departamento indicava uma reserva de 45.000
toneladas de monazita. |
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A
primeira usina – o átomo como saída
Em meados da década
60, era cada vez maior a preocupação entre
setores técnicos e governamentais com a possibilidade
de o Brasil vir a precisar de energia nuclear para suprir
suas crescentes necessidades de energia elétrica.
O próprio Grupo do Tório nasceu de um trabalho
dos engenheiros Jair Carlos Mello e Carlos Werth Urban sobre
as Necessidades de Combustível para um Programa Nucleonergético
da Região Centro-Sul. Percebia-se que, com o intenso
aproveitamento do potencial hídrico da região
Centro-Sul, não tardaria a chegar o momento em que
deixariam de existir lugares apropriados para a construção
de novas hidroelétricas nessa região, onde
se concentrava mais da metade do consumo nacional de hidroeletricadade.
Dentre as várias soluções possíveis,
o florescimento da indústria nuclear em todo o mundo
e a importância dessa tecnologia apontavam a instalação
de centrais termonucleares como uma das saídas.
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Água
leve como opção
Ao começar
a administração do Presidente Ernesto
Geisel, o Governo brasileiro já tinha certeza
sobre a necessidade de instalar usinas nucleares em
série para atender ao crescimento da demanda
de energia no País. Entretanto, remontava a
1956 a idéia de construção da
primeira usina: originou-se nos gabinetes técnicos
da American and Foreign Power – Amforp, grupo norte-americano
que até meados da década de 60 cuidou
da distribuição de energia elétrica
em diversos Estados brasileiros, incluindo o Estado
do Rio. A Amforp, que o Rio se chamava Cia. Brasileira
de Energia Elétrica, pensou em instalar uma
pequena usina de 10 megawatts em Cabo Frio. Desistiu
ao constatar que o empreendimento custaria US$ 2 mil
por quilowatt instalado, a preços da época.
Na CNEN, criada no mesmo ano, também se pensava
numa usina nuclear. Em 1959 foi criada a Superintendência
do Projeto Mambucaba, cujo objetivo era verificar
a viabilidade de uma usina de 150 a 200 megawatts
às margens do rio Mambucaba, próximo
a Angra dos Reis. O projeto foi logo abandonado, porque
certamente não era prioritário na época,
mas a CNEN o retomou em 1965, quando criou um Grupo
de Trabalho de Reatores de Potência, também
de poucos resultados. Dois anos depois, porém,
diversos órgãos do Governo começaram
a se mostrar mais sensíveis ao problema, o
que resultou na formação de uma comissão
integrada pelo Conselho de Segurança Nacional,
Ministério das Minas e Energia, CNEN e Eletrobrás,
que acabou por recomendar a construção
de uma usina no Sudeste, com capacidade para 500 megawatts.
Não seria necessariamente uma usina competitiva,
mas, principalmente, um empreendimento voltado para
a aquisição de conhecimentos técnicos
e experiência. |
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As conclusões
da comissão foram pouco depois avalisadas
por um grupo técnico da Agência Internacional
de Energia Atômica – AIEA, levando o Governo
brasileiro a tomar a decisão definitiva de
construir uma usina. Em abril de 1970, Furnas Centrais
Elétricas, subsidiária da Eletrobrás
e encarregada de executar as obras (e, depois, operar
a usina), sob supervisão e fiscalização
da CNEN, decidiu fixar o empreendimento na pequena
praia de Itaorna, perto de Angra dos Reis. E, em
junho do mesmo ano, são expedidos convites
às firmas pré-selecionadas para concorrer
ao fornecimento do projeto e equipamentos básicos.
Furnas optou por reator do tipo água leve-urânio
enriquecido, escapando assim o Brasil ao que já
parecida ser uma tendência entre os países
em desenvolvimento que, na época, vinham
preferindo comprar reatores do tipo urânio
natural-água pesada. O maior argumento a
favor do reator a água leve era sua confiabilidade
operativa e garantia industrial, já que a
grande maioria dos reatores em operação
no mundo é dessa grande maioria dos reatores
em operação no mundo é dessa
linha. Na medida em que a usina integraria um sistema
de abastecimento de energia elétrica, manifestavam
os técnicos do Governo preocupação
em evitar problemas no fornecimento de energia em
virtude de dificuldades no funcionamento do reator,
atrasos na entrega de peças de reposição
e sobretudo, suspensões (momentâneas
ou não) no suprimento de combustível.
Furnas, que pré-qualificara os fabricantes
de reatores a água leve, recebeu as propostas
em janeiro de 1971 e, juntamente com a Eletrobrás,
indicou, no dia 18 de maio de 1971, a firma norte-americana
Westinghouse Eletric Corporation como vencedora.
O contrato de Furnas com Westinghouse foi firmado
em 7 de abril de 1972 e as obras começaram
em 1º de outubro do mesmo ano.
O contrato com a Westinghouse era o tipo que os
técnicos chama turn key ou “caixa preta”:
a empresa norte-americana era responsável
única pelo projeto e pelos equipamentos essenciais,
obrigando-se a entregar a usina de Furnas pronta
para operar. Pelo contrário, a transfer6encia
de tecnologia é mínima, limitando-se
o fornecedor a treinar o pessoal que irá
operar a usina depois de pronta. Na fase das obras
civis, alguns trabalhos que exigem especial competência,
devido aos graus de segurança requeridos
de uma usina nuclear, também podem ser ensinados
e transferidos para os futuros operadores da usina
ou outras empresas. Assim, empresas brasileiras
de construção e engenharia adquiriram
conhecimentos em fundações, estruturas
de concreto, sistemas de captação
de água de refrigeração, soldagens,
serviços de montagem e outros itens indiretamente
ligados à própria geração
de energia nuclear. O grau de nacionalização
de equipamento nessa unidade foi inferior a 10%.
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Assim
é Angra I
A primeira unidade de Angra
dos reis, que, juntamente com outras duas construídas
com tecnologia alemã, forma a Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto, terá potência líquida
de 626 megawatts elétricos. É formada por
um reator PWR sistema turbogerador e sistemas auxiliares.
O reator, como já foi dito, é arrefecido e
moderado a água leve utilizando urânio levemente
enriquecido como combustível. O urânio, em
forma de pastilhas, é acondicionado em tubos de zircaloy,
liga de zircônio que mais se presta ao revestimento
das varetas combustíveis.
O reator PWR é constituído por três
circuitos de água: o primário, o secundário
e o de água de refrigeração. A água
do circuito primário é aquecida pelo calor
gerado pela fissão nuclear, atingindo temperaturas
da ordem de 300º centrígrados. Através
das tubulações apropriadas, essa água,
de tal ebulição, é enviada ao gerador
de vapor, onde transfere seu calor para a água do
circuito secundário, sem, contudo, penetrar neste.
Isto é, a água aquecida pela fissão
permanece dentro de tubulações próprias
sem ser transferida para outros circuitos A transferencia
de calor do circuito primário para o secundário
se dá através de equipamentos apropriados
denominados trocadores de calor.
O vapor gerado no circuito secundário é que
vai acionar a turbina e, por conseguinte, movimentar o gerador.
A partir daí, a operação é idêntica
à de qualquer usina de energia elétrica a
carvão ou óleo. Turbina e gerador formam o
sistema denominado turbogerador, que, movimentado pelo vapor,
gira à velocidade de 1.800 rotações
por minuto. A potência bruta de geração
de Angra I é de 657 megawatts elétricos mas
como parte dessa energia é consumida na própria
usina, sobram 626 megawatts (potência líquida)
para serem lançados no sistema elétrico. Após
movimentar a turbina, o vapor é recolhido no condensador,
onde será resfriado pelo circuito de água
de circulação. Esta água, que também
não entra em contato direto com o vapor, é,
no caso da Central Almirante Álvaro Alberto, captada
no mar, através de um túnel com cerca de um
quilômetro de extensão, ligando Itaorna à
praia de Piraguara de Fora. Depois de resfriar o vapor a
água de circulação é novamente
lançada ao mar numa temperatura de cerca de 24º
centígrados, sem qualquer contaminação
radioativa.
O reator e os geradores de vapor – conjunto denominado Sistema
Nuclear Gerador de Vapor – ficam dentro do edifício
do reator, uma construção que, em Angra I,
tem 75 metros de altura por 36 de diâmetro e forma
cilíndrica. O exterior do edifício do reator
é de concreto e o interior , de aço.
Além do edifício do reator, Angra I conta
com os seguintes prédios:
- Edifício de segurança:
local em que estão os sistemas de controle e
prevenção de acidentes;
- Edifício de combustível:
local em que fica armazenado o combustível e
dispõe de equipamentos apropriados para executar
a retirada e recarregamento de combustível na
usina.
- Edifício de turbogerador:
onde ficam a turbina e o gerador.
- Edifícios auxiliares: onde
ficam as salas de operações, painéis
de controle, locais de serviços etc.
Por fim, como qualquer outra
usina elétrica, Angra dos Reis terá uma subestação,
no caso de 500 quilovolts (kv).
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Usinas
nucleares
A energia atômica nasceu com a 2ª Guerra
Mundial. Com a necessidade de fabricação de
armas cada vez mais potentes, os governantes tentaram mostrar
que a energia atômica era uma energia limpa e barata.
Tudo mentira! Era só uma desculpa para fabricarem
armas e fazerem a gente pagar a conta! A energia nuclear
provém da fissão nuclear do urânio,
do plutônio, do tório ou da fusão nuclear
do hidrogênio. Atualmente utiliza-se quase somente
o urânio.
O Brasil possui a 6ª maior reserva mundial de urânio.
O processo começa com a inserção de
um nêutron em um reator abastecido com urânio
235. O urânio absorve o nêutron, passa a ser
urânio 236 e fica instável, isto é,
fica com excesso de energia que precisa ser liberada para
que volte a ser estável novamente. Para recuperar
a estabilidade, ele se quebra em 2 pedaços (fissão
nuclear), liberando radioatividade e nêutrons.
Esses nêutrons vão bombardear outros átomos,
repetindo todo o processo, que se chama reação
em cadeia. Esse tipo de geração de energia
é caro e altamente poluente e prejudicial, tanto
à natureza, como ao homem.
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Tem um efeito
devastador no organismo: destróem as células
de dentro para fora, primeiro a camada muscular, depois
os vasos sangüíneos, a camada de gordura,
a derme e finalmente a epiderme. Apesar de tudo, foi
colocado em funcionamento a Usina Angra II, e há
planos para terminar as obras em Angra III, sem saber
o que farão com os resíduos radioativos...Só
em Angra I, existem 91 mil quilos de rejeitos radioativos,
com vida de 30 mil anos. |
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A
energia nuclear
A energia elétrica
gerada pelas atuais usinas nucleares baseia-se na fissão
(quebra, divisão) do átomo, tendo por matéria-prima
o urânio ou o tório, que são dois minérios
altamente radioativos*.
Quando os átomos de urânio ou tório
são bombardeados por nêutrons, seus núcleos,
fragmentam-se, liberando enorme quantidade de energia. Os
nêutrons dos átomos fragmentados, por sua vez,
vão bombardear outros átomos, que também
se quebram, e assim sucessivamente, numa reação
em cadeia.
*Radiativos; materiais que emitem radiação
(transmissão de energia através de ondas ou
de partículas subatômicas). Isso significa
que eles estão constantemente libertando energia.
Esses materiais, especialmente o urânio U235 – que
possui 92 prótons de 143 nêutrons em seu núcleo
-, são utilizados na fissão nuclear, que liberta
enorme quantidade de energia em fração de
segundos. Meio quilo de urânio U235 pode produzir
equivalente à queima de 3 milhões de toneladas
de carvão.
Nas usinas atômicas, a fissão nuclear é
provocada sob controle no reator atômico, o elemento
fundamental desse tipo de usina. A energia liberada na fissão
produz calor, que vai aquecer uma certa quantidade de água,
transformando-a em vapor; a pressão do vapor faz
girar um turbina, que aciona um gerador; este converte a
energia mecânica proveniente da turbina em energia
elétrica. Para entender melhor o processo, observe
a figura abaixo:
Um problema que
se coloca em relação à atuais
usinas nucleares é que possuem, em média
, uma duração de apenas 25 anos. Assim,
considerando os elevados custos de sua instalação
e a pequena quantidade de energia que produzem nesses
25 anos de existência (em comparação
com as usinas hidrelétricas e termelétricas),
pode-se questionar se elas são de fato uma
boa alternativa energética para a futura escassez
de petróleo e de carvão.
Em 1995, as usinas atômicas contribuíam
com apenas cerca de 20% do total de energia elétrica
produzida na superfície terrestre.
No início da década de 50 pensava-se
que já nos anos 80 as usinas nucleares contribuiriam
com no mínimo 30% do total mundial de energia
elétrica.
Como se vê, houve uma superestimação
de seu crescimento. No entanto, apesar de seus elevados
custos e da oposição que a construção
de novas usinas atômicas vem encontrando em
vários países (pelos riscos de acidentes
e pela contaminação radioativa das áreas
vizinhas), observou-se que de 1980 até 1995
houve mais que uma duplicação do número
de usinas nucleares existentes no mundo.
Os países onde a energia elétrica gerada
em usinas nucleares ocupa melhor posição
são a França (60% do total), a Bélgica
(55%) e a Suécia (40%). No entanto, o maior
desenvolvimento dessa tecnologia e o maior número
de usinas construídas encontram-se nos Estados
Unidos e no Japão, seguindo-se a Rússia,
a Inglaterra, a Alemanha e a França. |
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O LIXO ATÔMICO...
Quando ocorre o processo de fissão nuclear,
dizemos que o urânio sofreu uma queima. A queima
do urânio nos reatores nucleares dá origem
ao plutônio, material extremamente tóxico
e perigoso (uma única partícula, se
aspirada, pode causar câncer do pulmão),
utilizado na fabricação de armas nucleares.
Um reator comum, com capacidade de produção
de 500 000 kW, produz cerca de 120 kg de plutônio
anualmente (10 kg são suficientes para produzir
uma bomba atômica).
Em 1975, produziram-se no mundo 25 000 kg de plutônio;
em 1995, cerca de 160 000 kg. Isso coloca o grave
problema do que fazer com esse perigoso material,
que é cobiçado por grupos terroristas
e por alguns governos militares que querem construir
bombas atômicas. Além desse problema,
existe outras formas de poluição das
usinas nucleares: o aquecimento do meio ambiente ao
redor e em especial o lixo atômico.
O aquecimento do meio ambiente ao redor da usina atômica
ocorre porque ela se localiza em geral numa área
litorânea ou vizinha a um rio ou lago, para
ter abastecimento fator de água, e essa água
utilizada na usina (para produzir vapor e para esfriar
certos equipamentos) é depois devolvida para
o lago ou mar, causando um aquecimento e com isso
grande mortandade de peixes no local. O lixo atômico
são os resíduos produzidos pelas usinas
nucleares. Como são materiais radioativos e
portanto perigosíssimos, livrar-se deles constitui
um enorme problema. Costuma-se colocado em caixas
de concreto hermeticamente fechadas, que são
enterradas ou jogadas ao mar.
O problema é que hoje em dia nenhuma região
quer sediar depósitos subterrâneos de
lixo atômico, que podem contaminar essa área
e até serem desenterrados por alguém
no futuro, por uma falha na segurança.
E nos mares existe o problema da corrosão dessas
caixas com o tempo, que um dia poderão se abrir
e assim provocar grande contaminação
das águas. |
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Existem diversos
tipos de reatores, já que o desenvolvimento
da tecnologia nuclear vem sendo intensamente pesquisado
nas últimas décadas, com grandes avanços
e mudanças. Os tipos de reatores hoje existentes
parecem ser transitórios, ou seja, constituem
apenas uma etapa para o surgimento futuro de uma tecnologia
mais aprimorada.
Os reatores da próxima geração
– chamados de reatores de regeneração
– vão utilizar o plutônio como matéria-prima.
Eles deverão se basear não mais na fissão
de átomo e sim na sua fusão, que é
um processo semelhante ao que ocorre no Sol e demais
estrelas, onde predominam temperaturas altíssimas.
Caso essa tecnologia, que por enquanto é apenas
teoria, se desenvolva de fato, então poderemos
Ter no futuro usinas nucleares bem mais potentes e
talvez até mais seguras, pois produzirão
bem menos resíduos (alguns estudiosos afirmam
que nenhum) e serão mais protegidas contra
acidentes, que foram e ainda são muito comuns
nas atuais usinas de fissão. |
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Os
acidentes nucleares e a militarização da energia
Outro problema,
gravíssimo, que se coloca nas usinas nucleares
são os acidentes. Na verdade, os acidentes
sempre acompanharam o funcionamento dos reatores nucleares.
Já ocorreram mais de trezentos acidentes que
produziram escape da radioatividade para o meio ambiente,
em diversos países. Por coincidência,
o mais célebre acidente norte-americano ocorreu
duas semanas após o lançamento do filme
anti-nuclear Síndrome da China, estrelado por
Jane Fonda e Jack Lemon. Quando o filme surgiu, foi
imediatamente criticado pela indústria nuclear,
por mostrar uma situação que seria improvável.
Porém, em março de 1979, toda uma série
de falhas e erros operacionais converteram um defeito
normal de funcionamento na central de Three Mile Island,
no Estado da Pensilvânia, em um drama no qual
muitas cenas de Síndrome da China se repetiram.
A partir daí mundo acordou para os perigos
de acidentes nas usinas nucleares, que já existiam
antes mas eram camuflados.
Mas o maior acidente nuclear até o momento
foi o de Chernobyl, na Ucrânia, em abril de
1986. Ocorreu uma explosão no reator nuclear
da usina, liberando grandes doses de radioatividade
para as vizinhanças. Ventos e nuvens radioativas
carregavam parte dessa radiação para
área longínquas, inclusive na Europa
ocidental. |
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Além das
centenas de pessoas que morreram na hora por estarem
na usina nuclear, as doenças e mortes progressivas
devido ao recebimento de elevadas doses de radiação.
Segundo cálculos realizados por vários
cientistas, milhares de pessoas serão vítimas
da radiação nos anos e décadas
seguintes ao acidente. Devido a ele, provavelmente
10 000 novos casos de câncer surgirão
na Ucrânia e pelo menos 1000 no restante da
Europa, principalmente na Rússia, embora essas
cifras possam até mesmo dobrar. Será
contudo quase impossível estimar os efeitos
nas gerações futuras. A radiação
causa danos genéticos, podendo, portanto, ocasionar
defeitos genéticos nas futuras gerações.
Esse tipo de problema pode não se manifestar
em várias gerações e surgir só
nos descendestes de pessoas que já vão
estar mortas há séculos.
Após o desastre de Chernobyl, a indústria
nuclear passou a enfrentar uma crise de confiabilidade.
Segundo alguns, há grandes probabilidades de
que, na história da energia nuclear – curta,
cheia de altos e baixos -, o desastre de Chernobyl
possa ser considerado como o começo do fim.
Mas a energia nuclear ainda não está
morta, nem agonizando; contudo, as esperanças
otimistas que cercam seu nascimento foram aos poucos
se esvaindo.
Em Chernobyl, a última delas – a esperança
de que a energia nuclear podia ser segura e limpa
– morreu em uma arrasadora explosão radioativa.
Resta saber se as futuras usinas com base na fusão
do átomo, a grande esperança dos defensores
da energia nuclear, serão realmente mais seguras
contra acidentes e livre do lixo atômico. Caso
isso não ocorra, dificilmente a energia nuclear
continuará em expansão, sendo que mais
provavelmente ela conhecerá um declínio
nesta década. |
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Finalmente, existe
um outro aspecto relacionado com a energia nuclear:
ela sempre está ligada ao militarismo, sendo
esse motivo principal a ter recebido tantos investimentos
desde a Segunda Guerra Mundial. Muito mais verbas
foram gastas na pesquisa atômica, nas últimas
década, na época da Guerra Fria, do
que em todas as outras formas de energia somadas.
Se a energia solar tivesse recebido tantos investimentos
quanto a nuclear, certamente hoje teríamos
já milhares de carros movidos a bateria solar
e talvez até gigantescas usinas para a captação
de raios solares e obtenção de eletricidade
a partir deles. Desde seus primórdios a energia
nuclear esteve ligada aos interesses militares.
As relações entre a indústria
nuclear e as forças armadas têm provocado
um enorme sigilo ao redor das informações
sobre reatores atômicos em funcionamento ou
em construção. De fato, o grande entusiasmo
suscitado pela descoberta da fissão nuclear
deve-se não tanto à possibilidade de
produzir eletricidade e sim à construção
de armamentos nucleares. Grande parte dos investimentos
na pesquisa atômica originaram-se de interesses
militares. É por isso que até países
pobres, como o Paquistão ou na Coréia
do Norte, que poderiam obter eletricidade em outros
meios mais seguros e baratos, preferiram investir
em energia nuclear, visando obter principalmente a
bomba atômica. O controle da energia nuclear,
com aposse de um reator e a produção
de plutônio, é uma etapa preliminar indispensável
para a fabricação de armas nucleares. |
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Chernobyl
pode tornar-se “crise esquecida”, diz membro da ONU
O subsecretário da
Organização das Nações Unidas
(ONU) para assuntos humanitários, Kenzo Oshima, disse
que Chernobyl, local onde há 16 anos ocorreu o pior
desastre nuclear do mundo, ainda precisa de ajuda internacional
e corre o risco de se tornar uma "crise esquecida".
A afirmação de Oshima foi feita após
sua viagem à região contaminada dentro e nas
proximidades da ex-república soviética da
Ucrânia, onde ele lançou uma estratégia
de recuperação de 10 anos.
"A dimensão humana do desastre de Chernobyl
tende a se encaminhar para uma crise esquecida, apesar da
séria natureza dos problemas que persistem e das
dificuldades sofridas por uma grande população",
disse o subsecretário em uma entrevista coletiva
concedida à imprensa.
Em 26 de abril de 1986, um dos reatores na usina nuclear
de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu, liberando uma
nuvem radioativa mortal.
Ucrânia, Belarus e Rússia - países da
ex-União Soviética mais afetados pelo acidente
- querem trabalhar com as agências da ONU para implantar
projetos de recuperação, disseram autoridades
da ONU.
"Nós propusemos uma mudança de atitude
das pessoas que frequentemente recebem ajuda para torná-las
participantes mais ativas em suas próprias vidas",
disse Neil Buhne, coordenador residente da ONU em Minsk.
Entre 50 e 80 milhões de dólares serão
necessários para o atendimento das futuras necessidades
da região, disseram as autoridades.
A maior parte da ajuda para Chernobyl tem sido usada em
remédios, cuidados hospitalares e comida para aqueles
que foram envenenados pela nuvem radioativa. Oshima disse
que futuras assistências serão usadas a longo
prazo em problemas econômicos, sociais e de meio ambiente
da região.
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Greenpeace
alerta: navios com plutônio deixam o Japão
Dois navios com
carregamento de plutônio deixaram o Japão
nesta madrugada em direção à
Inglaterra. O material, na forma de MOX (óxido
misto de urânio e plutônio), foi enviado
em 1999 pela British Nuclear Fuel Ldt. para ser usado
em usinas nucleares japonesas e recusado pelo governo
daquele país, por problemas de segurança
na fabricação do material. Segundo o
Greenpeace, que lidera campanha contra o transporte
de material nuclear pelos oceanos, a rota das embarcações
não foi divulgada.
“Esse carregamento recebeu manifestações
de oposição desde a Ásia Oriental
até o Pacífico Sul. Isso tende a se
intensificar na medida em que os dois navios se moverem
em direção ao ambiente vulnerável
do Pacífico.
Se a rota escolhida for pelo Pacífico Sul,
o mínimo que se espera é que não
violem as 200 milhas da Zona Econômica Exclusiva,
conforme foi pedido por tantos países dessa
região”, disse Tom Clements, um dos ambientalistas
a bordo do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, que
está acompanhando o trajeto dos navios nucleares.
Por Maura Campanili |
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Transporte
de plutônio ameaça os oceanos
Pode até parecer
roteiro de ficção científica, mas é
a mais pura – e preocupante - realidade. O plutônio
é conhecido como uma das substâncias mais perigosas
já manipuladas pelo homem, como uma meia vida (tempo
necessário para que se reduza à metade a radiotividade
de um material) de 24 mil anos.
Um acidente envolvendo esta carga pode causar uma catástrofe
sem precedentes na história: o plutônio pode
se dispensar nos oceanos e costas envenenando as pessoas
e o meio ambiente.
COMÉRCIO INTERNACIONAL
IRRESPONSÁVEL...
E como é possível que, em plena Copa do Mundo,
esse transporte estivesse acontecendo quando toda a segurança
estava voltada para o evento? A resposta está na
irresponsabilidade da indústria nuclear.
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No mundo contemporâneo
globalizado, o resíduo nuclear virou objeto
de um comércio internacional totalmente irresponsável,
onde o interesse de poucos países impõe
terror e ameaça a muitos outros. Ou seja, não
há justificativas consistentes para esse transporte.
Ele só está ocorrendo devido a uma falsificação
praticada pela BNFL (Britsh Nuclear Fuel Ltd.) – a
empresa inglesa que vendeu MOX (óxido misto
de urânio e plutônio) para a japonesa
Kansai Eletric – nas normas de segurança internacionais
que regulam o translado desse tipo de material. O
plutônio, na forma de MOX, foi enviado em 1999
pelos britânicos para ser usado nas usinas nucleares
japonesas.
O QUE O BRASIL TEM A VER COM ISSO?
O Brasil deve ficar preocupado, pois para os navios
seguirem do Japão para a Inglaterra, existem
três opções possíveis:
pelo Oceano Pacífico, via Mar da Tasmânia,
Cabo da Boa Esperança e Oceano Atlântico;
e ainda pelo Oceano Pacífico, via Cabo Horn.
Caso essa última opção seja adotada,
os navios vão atravessar toda a costa brasileira.
É fundamental que o Governo do Brasil diga
não à passagem destes navios pelas nossas
águas, evitando riscos para nosso povo e nossa
natureza.
Após o governo japonês descobrir a falsificação,
a carga ficou retida no Japão. Em 26 de abril
deste ano, os navios partiram da Inglaterra rumo ao
Japão para buscá-la.
A arrogância e a irresponsabilidade da indústria
nuclear ao realizar essa sinistra viagem é
inaceitável, principalmente após o trágico
atentado de 11 de setembro, em Nova York, que demonstrou
o caráter destrutivo e inconseqüente a
que extremistas podem chegar. Por isso, o Greenpeace
pediu não só às autoridades,
mas também à sociedade civil, que se
mobilizassem a fim de impedir mais esse desatino da
indústria nuclear. O Greenpeace contou com
a aparição de todos nas várias
cyberações elaboradas exclusivamente
para este caso. |
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JAPÃO E INGLATERRA:
UMA AMEAÇA À SEGURANÇA GLOBAL...
O Greenpeace realizou, no dia 19 de junho, um protesto em
frente ao Consulado japonês em São Paulo. A
manifestação, em clima de Copa do mundo, consistiu
em um jogo de futebol com jogadores vestidos com as bandeiras
do Japão e da Inglaterra, uma bola com o símbolo
do perigo nuclear e um juiz vestido de morte. O protesto
bem-humorado reuniu cerca de 15 ativistas e terminou com
a entrega de um cartão vermelho e uma carta ao Cônsul
do Japão, Sr. Kyotaka Akasaka, pedindo que o governo
japonês suspendesse o transporte de plutônio.
AS FLOTILHAS...
O navio do Greenpeace Artic Sunrise se preparou para capitanear
flotilhas de protesto contra o transporte nuclear, seja
qual for a rota adotada pelos navios. Caso eles sigam pelo
Mar do Pacífico e da Tasmânia, o carregamento
deverá passar pela zona de protesto. Pelo menos oito
barcos deverão estar se preparando na Austrália,
Vanuatu e Nova Zelândia para formar uma corrente simbólica
de protesto nas águas internacionais do mar do Pacifico
e da Tasmânia.
Já se os navios seguirem pelo cabo Horn, os cinco
barcos que compõem esta flotilha enfrentarão
bravamente o inverno de Horn para enviar suas mensagens
de protesto. E seja qual for a rota escolhida para chegar
ao Reino Unido, o carregamento terá de passar pelo
Mar da Irlanda, onde será recebido por uma grande
flotilha irlandesa.
“O movimento de flotilhas cresceu em apenas um ano”, disse
Bernard Kuczera, da flotilha do Pacífico. “Marinheiros
ao redor de todo o mundo estão se unindo aos estados
costeiros que já estão protestando contra
esses carregamentos absolutamente desnecessários
e perigosos”, completou.
O QUE VOCÊ PODE
FAZER...
Acompanhe no site do Greenpeace os últimos acontecimentos
da campanha. Envie seu protesto aos governos do Japão
e da Inglaterra pedindo que o comércio de plutônio
seja definitivamente interrompido.
Plutônio na minha praia, não!!!!!!!!!
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Transporte
de plutônio chega ao fim
A viagem dos dois navios
carregados de óxido de plutônio (MOX), o Pacific
Pintail e o Pacific Teal, finalmente chegou ao fim. As duas
embarcações partiram do Japão, com
destino à Inglaterra, no dia 04 de julho e seguiram
a rota Pacífico – África do Sul, apesar dos
inúmeros protestos. Esse vergonhoso carregamento
não será facilmente esquecido pela BNFL e
seus clientes japoneses: toda a trajetória dos navios
foi acompanhada e testemunhada por todo o mundo, através
dos protestos realizados. Esse é o trabalho do Greenpeace:
fazer a diferença de maneira global, apontar quem
são os criminosos ambientais e criar condições
para que os governos discutam medidas para um fim nesses
perigosos transportes pelas águas do planeta.
AUSTRÁLIA...
No dia seguinte à partida dos navios da British Nuclear
Fuels Ltd. (BNFL), ativistas protestaram na embaixada japonesa
na Austrália, pedindo o fim dos carregamentos de
plutônio.
MAR DA TASMÂNIA...
Ainda em julho, a Flotilha Anti-Nuclear e o Greenpeace protestaram
em alto mar. Dois ativistas lançaram-se ao mar e
tornaram público o descontentamento e a insegurança
de milhares de pessoas.
CIDADE DO CABO...
Em agosto, as embarcações da BNFL novamente
tentaram fugir dos protestos. Os ativistas a bordo do barco
do Greenpeace, Esperanza, localizaram o Pintail e o Teal
bem distante de sua rota original. Mas a mudança
de rota não conseguiu calar a indignação
do mundo quanto a esse transporte.
MAR DA IRLANDA...
A viagem terminou com dois dias seguidos de protesto em
setembro: mais de 10 barcos, incluindo o Rainbow Warrior,
do Greenpeace, compuseram a Flotilha Anti-Nuclear, e formaram
uma corrente simbólica para protestar contra esse
perigoso e desnecessário transporte.
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Acidente:
vazamento radioativo fecha reator nuclear no Japão
O Japão anunciou
que conseguiu melhorar a segurança em suas usinas
nucleares no ano passado, mas no mesmo dia teve de fechar
um reator por causa do vazamento de vapor radioativo. O
relatório diz que foram 14 acidentes em 2001, 16
a menos que no ano anterior. O documento fala pouco sobre
o temor, surgido depois de 11 de setembro, de atentados
contra usinas nucleares, e não menciona os possíveis
efeitos da desregulamentação da indústria
sobre a segurança.
O reator estatal de Fugen, com capacidade para 165 megawatts,
foi fechado durante a manhã, apenas um dia depois
de ser reaberto - ele ficou 11 meses desativado por causa
de um vazamento de trítio, que não chegou
a atingir o meio ambiente.
Um porta-voz da usina disse que desta vez o vapor também
não chegou a sair das instalações,
e por isso não há risco para a população.
Ainda não se sabe quando o reator voltará
a funcionar.
O relatório divulgado na terça-feira se concentra
no uso do combustível nuclear MOX, uma mistura de
plutônio e urânio reciclados. Por causa da oposição
pública a esse projeto, o país não
conseguiu cumprir o cronograma para começar a usar
o MOX.
O Japão opera 52 reatores nucleares comerciais, que
fornecem cerca de um terço da energia do país.
Menos de 30 por cento do mercado japonês está
aberto à competição, mas o governo
pode decidir neste ano aumentar a desregulamentação.
Mas muitos especialistas acham que a energia nuclear não
será competitiva nesse novo cenário, devido
ao alto custo de construção das usinas e dos
problemas para tratar seus resíduos radioativos.
"Não se pode evitar o gasto de dinheiro se você
quer assegurar a operação segura (das usinas
nucleares)", disse Takamitsu Sawa, do Instituto de
Pesquisas Econômicas da Universidade de Kyoto.
O governo disse que não mencionou a questão
em seu relatório porque ainda não começou
a estudá-la. Os japoneses se tornaram mais conscientes
do problema após um acidente nuclear que matou duas
pessoas em 1999, depois que os funcionários de uma
usina colocaram oito vezes mais urânio do que o recomendado
num contêiner, provocando uma reação
em cadeia que levou 20 horas para ser controlada.
Apesar disso, o Japão quer manter suas usinas nucleares
em funcionamento para reduzir a emissão dos gases
do efeito estufa (resultantes, por exemplo, de usinas termelétricas),
como previsto num acordo internacional firmado em Kyoto.
Relatório
aponta falha em usina nuclear brasileira
Falhas no sistema
de segurança da Usina Nuclear Angra I (litoral
sul do Rio) causaram 11 interrupções
no funcionamento do reator em menos de uma noa.
Índices internacionais de segurança
de reatores consideram aceitável uma interrupção
por trimestre.
A denúncia consta de relatório feito
pelo físico Luiz Pinguelli Rosa, 57, vice-diretor
da Coppe/UFRJ (Coordenação dos Programas
de Pós-Graduação de Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O documento foi encaminhando ao procurador-geral da
República no Rio, Daniel Sarmento.
Segundo Pinguelli, o que mais o preocupa é
o número de panes ocorridas no reator nuclear
nos primeiros três meses do ano – o levantamento
engloba o funcionamento da usina de junho de 98 a
março deste ano.
O relatório diz que as principais causas das
panes são a falta de manutenção
do sistema – os componentes já gastos não
estariam sendo substituídos – e o que Pinguelli
definiu como “evento externo”, ou seja, falhas no
abastecimento de energia elétrica. Cada um
desses fatores corresponde a 36% das panes.
Pinguelli afirma que um dos problemas relacionados
à suposta falta de manutenção
é a corrosão na tubulação
dos geradores de vapor. Segundo ele, 9% da tubulação
já teria sido afetada. A corrosão, de
acordo com o físico, acarreta perda de potência.
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“Nesse caso, o
índice tolerável é de 15%. A
partir daí, o reator não pode mais funcionar.”
Segundo Pinguelli, o mesmo problema ocorreu em reatores
idênticos utilizados na Suécia, Espanha
e na ex-Iugoslávia – mas os equipamentos foram
substituídos, disse o físico.
Outros problemas apontados pelo relatório são
a redução no número de funcionários
qualificados nos quadros da Eletronuclear (operadora
da usina) e a intranqüilidade dos empregados
depois da cisão da antiga operadora (Furnas
Centrais Elétricas).
O físico defendeu a interrupção
das atividades de Angra I para apuração
dos fatos expostos no relatório. Segundo Pinguelli,
o relatório foi elaborado a partir de dados
fornecidos a ele por técnicos e professores
universitários da área de energia nuclear.
O físico afirma que as informações
constam também de relatório de rotina
que a Eletronuclear (empresa que opera a usina) enviou
CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear),
órgão fiscalizador no Brasil, e à
WANO (Associação Mundial de Operação
Nuclear), entidade que controla o funcionamento dos
geradores nucleares no mundo.
O diretor de relações institucionais
da Eletronuclear, Luís Soares, afirmou que
as informações do relatório estão
em uma carta que a empresa enviou à CNEN em
abril, sugerindo melhorias no desempenho de Angra
I. Ele disse que os dados apresentados no relatório
“não são alarmantes” |
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Há
438 unidades em operação no mundo
Renunciar à energia
nuclear parece inaceitável para alguns países,
principalmente os da Ásia. Enquanto o mundo prega
a desativação das unidades existentes, estes
países reforçam seus parques geradores com
a instalação de novos reatores. De acordo
com dados da Agência Internacional de Energia Atômica,
até 2000 existiam 31 usinas em construção,
sendo 15 pertencentes à China, Japão e Coréia
do Sul. Em operação, são 438 unidades
espalhadas pelo mundo, que correspondem a 17% do total da
energia gerada.
Para o pesquisador do instituto de Estudos Avançados
no Centro Técnico Aeroespacial de São José
dos Campos, Yuji Ishiguro, autor do livro a Energia Nuclear
para o Brasil, é praticamente impossível eliminar
a energia nuclear da matriz energética mundial. E
mais, será necessário aumentar a sua utilização
– por conta das pressões para redução
dos gases causadores do efeito estufa -, inclusive no Brasil.
Ele explica que, embora o País seja rico em recursos
hídricos, as ;áreas ainda inexploradas estão
localizadas, principalmente, na Amazônia. Construir
uma usina hidrelétrica nestes locais seria desgastante,
pois os ambientalistas não aceitariam uma possível
devastação da floresta.” O coordenador da
Coppe, Maurício Tolmasquim, entende as dificuldades
para explorar áreas como essas, mas argumenta que
o País possui muitas outras opções,
como o bagaço de cana-de-açúcar, por
exemplo.
Mas, embora seja uma energia limpa, não-poluente,
convencer a população de que as usinas nucleares
são seguras não é uma tarefa fácil,
principalmente após os terríveis acidentes
que abalaram o mundo no passado. O problema está
na radiação do combustível usado, no
caso o urânio, que dá origem ao perigoso plutônio,
altamente radioativo. Além disso, existem outros
materiais, como objetos usados no processo de manutenção,
que são retirados das usinas como rejeitos radioativos.
Daí nasce outro problema, que pesquisadores ainda
não conseguiram solucionar: onde armazenar o lixo
atômico? Em seu livro, Ishiguro explica que este é
o único problema da energia nuclear, que, por sinal,
é suficiente para manter a rejeição
de boa parte da população. Atualmente, os
rejeitos são armazenados em repositórios em
formação geológica estável.
Esse foi um dos principais motivos que ajudaram a convencer
alguns países a desativarem suas unidades nucleares.
Entre eles, estão Suécia, Alemanha, Áustria
e Itália. Algumas, no entanto, já começam
a voltar atrás, segundo Carlos Coutinho, diretor-executivo
da Abdan. A Suécia fechou uma usina e adiou a Segunda;
na Itália, o novo governo vai rever a decisão
anterior; e a Alemanha somente vai desativar dentro de aproximadamente
30 anos, quando a vida útil entre 40 e 60 anos –
das usinas já estiver chegando ao fim.
Segundo Coutinho, como País não possui reservas
suficientes de combustível fóssil, como o
carvão limpo e gás natural, deveria haver
um melhor aproveitamento das reservas nacionais de urânio
– a 6ª do mundo. “Nosso parque hidrelétrico
precisa ser complementado por usinas térmicas, mas
é preciso reconhecer a utilização da
energia nuclear como fonte geradora de eletricidade, já
que é a única que não afeta a camada
de ozônio.
Por Renée Pereira
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Chernobyl
é o acidente mais conhecido
Não é
por acaso que existem tantas polêmicas envolvendo
a energia nuclear. O mundo ainda guarda na memória
as tristes cenas dos acidentes envolvendo usinas atômicas,
que deixaram marcas irreversíveis. O pior desastre
da história foi o da usina de Chernobyl, a
130 quilômetros de Kiev, capital da Ucrânia,
então União Soviética, que se
tornou símbolo dos perigos da energia atômica.
Por volta de 1h30, do dia 26 de abril de 1986, um
dos quatro reatores da central nuclear explodiu, causando
grande incêndio. O acidente contaminou seriamente
uma área de 150 mil quilômetros quadrados
em torno da usina e cerca de 7 milhões de pessoas.
Calcula-se que morreram 22 mil pessoas e mais de 100
mil sofreram danos permanentes. Inicialmente, a nuvem
radioativa liberada pelo acidente atingiu o norte
da Europa, como Polônia, Finlândia, Suécia
e Noruega. E, em menos de uma semana, chegou à
Áustria, Suíça e Alemanha.
O acidente ocorreu durante uma operação
de manutenção, quando explodiu um dos
quatro reatores nucleares. Em vez de apagar o reator
com a inclusão de barras inertes de grafite
entre os elementos de urânio-235 (enriquecido
pelo menos 60%, num total de 135 toneladas de combustível
nuclear, uma manobra equivocada dos técnicos
da usina provocou o reaquecimento do núcleo
ativo do reator, a transformação da
água de esfriamento em vapor e a conseqüentemente
explosão.
De acordo com especialistas, esse foi o maior acidente
da “era nuclear” – que teve início em 1940
com reator experimental de Enrico Fermi na Universidade
de Chicago – e ameaçou levar ao abandono do
uso de energia nuclear para geração
de eletricidade.
Nos Estados Unidos, o maior acidente nuclear foi o
de Three Mile Island, na Pensilvânia, em março
de 1979. O desastre ocorreu por causa de uma válvula
emperrada, que impediu a refrigeração
de um reator.
Durante mais de três semanas técnicos
tentaram furar uma bolha de hidrogênio que se
formou no núcleo, ameaçando derretê-lo.
O problema somente foi solucionado praticamente um
mês depois, em 21 de abril. |
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Ninguém morreu. Outro acidente apontado por
alguns especialistas como um dos piores foi o do complexo
industrial de Kyshtyn, na então União
Soviética, em setembro de 1957, quando houve
uma explosão de um tonel de rejeitos de plutônio.
O acidente liberou uma quantidade maior de estrôncio-90,
substância radioativa de longa duração. |
Por Renée Pereira
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