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Que Energia é Essa?
Energia Nuclear
 
 
 

O que são fontes de energia?

Entende-se por energia a capacidade de realizar trabalho. Fontes de energia, dessa forma, são determinados elementos que podem produzir ou multiplicar o trabalho: os músculos, o sol, o fogo, o vento etc.

Através do uso racional do trabalho, especialmente na atividade industrial, o homem não apenas sobrevive na superfície terrestre – encontrando alimentos, abrigando-se das chuvas ou do frio etc –, mas também domina e transforma a natureza: destrói florestas, muda o curso dos rios, desenvolve novas variedades de plantas, conquista terras ao mar, reduz distâncias (com modernos meios de transporte e comunicação), modifica os climas (com a poluição, as chuvas artificiais etc), domestica certos animais e extermina outros.

As primeiras formas de energia que o homem utilizou forma o esforço muscular (humano e de animais domesticados), a energia eólica (do vento) e a energia hidráulica, obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a Revolução Industrial, na Segunda metade do século XVIII e no século XIX, surgem as modernas máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje funcionam principalmente a energia elétrica. A eletricidade pode ser obtida de várias maneiras: através da queima do carvão e do petróleo (usinas termelétricas), da força das águas (usinas hidrelétricas), da fissão do átomo (usinas nucleares) e de outros processos menos utilizados.

As chamadas modernas fontes de energia, ou seja, as mais importantes, são: o petróleo, o carvão, a água e o átomo. As fontes alternativas, que estão conhecendo um grande desenvolvimento e devem tornar-se mais importantes no futuro, são o sol (energia solar), a biomassa e os biodigestores, o calor proveniente do centro da Terra energia geotérmica), as marés, o xisto betuminoso e outras.

É importante ressaltar que as fontes de energia estão ligadas ao tipo de economia: quanto mais industrializada ela for, maior será o uso de energia. O carvão mineral foi a grande fonte de energia da Primeira Revolução Industrial, e o petróleo foi a principal fonte de energia do século XX e continua a desempenhar esse papel, apesar de um recente e progressivo declínio. Tanto o petróleo como o carvão mineral são recursos não renováveis, isto é, que um dia se esgotarão completamente; eles também são muito poluidores, na medida em que seu uso implica muita poluição do ar. Por esses dois motivos eles estão em declínio atualmente, em especial o petróleo, que foi básico para a era das indústrias automobilísticas e petroquímicas. Vivemos na realidade numa época de transição, de passagem do domínio do petróleo para a supremacia de outras fontes de menos poluidoras e renováveis, ou seja, que não apresentam o problema de esgotamento. Este pensamento está pelo menos na cabeça dos ambientalistas de todo o planeta, mas a realidade ainda é um mundo dominado pelos combustíveis fósseis.

A série “Que energia é essa?” irá trazer as principais fontes de energia usadas em nosso planeta; como surgiram, onde são usadas, qual a dependência humana dessas fontes e muito mais. Neste capítulo conheceremos a fonte de energia chamada “Usinas Nucleares”.

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O átomo – muita discussão em torno de uma hipótese

Há mais de 2.400 anos, o filósofo grego Anaxágoras, trabalhando só com o pensamento e a intuição, pois não tinha obviamente nem os instrumentos nem os conhecimentos da ciência moderna, afirmou que a matéria poderia ser dividida infinitamente.

Sua genial percepção foi contudo contestada por Leucipo e Demócrito, para os quais a matéria só poderia ser dividida até um certo limite. Existiam então partículas infinitesimais, inseparáveis e indestrutíveis que formariam as substâncias. A essas partículas, Demócrito deu o nome de átomo, palavra grega que significa indivisível.

A polêmica estabeleceu-se na Grécia Antiga. E com os argumentos da lógica e às vezes do sofisma, o debate prolongou-se até que Aristóteles, o maior de todos os pensadores gregos, se fixasse na tese de Anaxágoras sobre a divisibilidade infinita da matéria. O conceito do átomo, porém estava definitivamente incorporado ao pensamento ocidental.

Por essa época, os homens já sabiam como combinar alguns elementos, muito embora a noção que tivessem de elementos fosse totalmente equivocada. Aristóteles estabelecera que eram quatro os elementos, isto é, as substâncias das quais derivavam todas as demais: fogo, água, terra e ar.

 
Mas os homens, antes de Aristóteles e depois dele, ainda que sem saber direito o porquê, eram capazes de combinar o cobre e o estanho fazendo o bronze, sabiam como fabricar o vidro e praticavam a metalurgia de ferro. As razões de todos esses feitos, só a química e a física atômica, criações da ciência no século XIX depois de Cristo, poderiam explicar.

Os primeiros passos da ciência moderna foram dados pelo monge franciscano Rogério Bacon, que, no século XVIII, contestou os conhecimentos não apoiados na experiência. Até então, toda a ciência, ou filosofia, como se dizia, só se apoiava na lógica, na razão, chegando até a desdenhar a experimentação. E foi com base numa experiência que Robert Boyle (1627-1691) provou a existência dos átomos, ou “corpúsculos”, como os chamou. Boyle verificou que o gás encerrado num recipiente munido de êmbolo, com o qual se pudesse exercer pressões maiores ou menores, diminuía ou aumentava de volume na proporção em que a pressão fosse exercida, o que provava a teoria de ser a matéria formada por átomos. Logo depois, o pai da ciência moderna, Isaac Newton, estabeleceria, como Demócrito, serem os átomos “a menor parte da matéria”, acrescentando estarem dotados de “certos poderes, virtudes e forças” com os quais uns atuavam sobre os outros. Estava aberto o caminho para a investigação do átomo.

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Mil e uma utilidades

O emprego da radioatividade e da energia nuclear está cada vez mais desenvolvido em todo o mundo. Coisas simples, incorporadas ao nosso dia-a-dia, são possíveis devido à radioatividade. Por exemplo: a seringa descartável de injeção. O que permite a esterilização da seringa dentro de um invólucro no qual será vendida nas farmácias é um tratamento radioativo que elimina todos os germes e impede sua proliferação. A radiografia com emprego de raios X é corriqueiramente usada na identificação de problemas de saúde. E, ainda na medicina, são numerosos os tratamentos – especialmente em casos de câncer – possíveis com o aproveitamento das propriedades dos isótopos radioativos.

Na alimentação, também são importantes as pesquisas possibilitadas pelos radioisótopos. Por um lado, é possível acompanhar toda a trajetória da absorção dos alimentos por uma planta, definindo-se os nutrientes que essa planta melhor absorve, da seguinte forma: misturam-se radioisótopos em adubos que serão dados como alimentos à planta. Depois, ao cientista basta medir a radioatividade existente na planta para calcular as quantidades dos diversos adubos por ela absorvidos. Existem mil e uma aplicações na indústria, gamagrafia, medidores etc.

Mas, depois da bomba atômica, a aplicação mais conhecida da energia nuclear está nos reatores.
O papel dos reatores nucleares é gerar calor. Com esse calor, podem-se mover navios, fundir minério de ferro e, sobretudo, produzir energia elétrica.

Para mover navios ou produzir energia elétrica, o reator nuclear funciona conforme o mesmo princípio de uma caldeira. Só que no lugar do carvão, da lenha ou do petróleo, o que aquece a “caldeira” é a fissão do núcleo do urânio ou outro material físsil. A fissão aquece a água, produzindo vapor, que, sob pressão, vai girar as turbinas, pondo em movimento as hélices do navio ou as pás do gerador de eletricidade.
 
 
Em princípio, nada diferencia uma central elétrica térmica convencional de uma central elétrica nuclear, exceto que a primeira usa petróleo (com suas míseras dez mil quilocalorias por quilo) e a segunda usa urânio (com suas sensacionais 19 milhões de quilocalorias por grama de isótopo físsil) para produzir o vapor que porá o gerador em movimento.

Na siderurgia e mesmo em outras indústrias como a químicas e a petroquímica, que requerem calor para provocar fenômenos químicos em seus processos, a energia nuclear poderá vir a ser largamente utilizada, estando em desenvolvimento reatores específicos para essas aplicações. Esses reatores, chamados HTGR, conseguem elevar a temperatura do fluido arrefecedor – gás neste caso – até 1.000ºC (os demais não chegam nem à metade disso), o que permite a gaseificação do carvão ou a obtenção de hidrogênio puro a partir da água. O carvão gaseificado, o hidrogênio e também o monóxido de carbono, que esses reatores permitem obter, são insumos básicos para a produção de aço, plásticos, papel etc.

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O combustível nuclear – aqui, o urânio

O urânio é um elemento químico de número atômico 92, isto é, tem 92 prótons em seu núcleo. O urânio encontrado na natureza é uma mistura de três isótopos, sendo 99,28% de urânio 238, 0,71% de urânio e 0,00057% de urânio 234. Só o urânio 235 ou U5 é físsil, sendo aliás o único elemento físsil encontrado na natureza, ponto de partida portanto para toda a indústria nuclear.

Entretanto, o U5 pode ser transformado em plutônio físsil, daí ser considerado material fértil. Assim, será físsil aquele material capaz de gerar energia nuclear pela fissão, e fértil, o material capaz de ser transformado em físsil. Além do U8, também o tório é um material fértil, porque poderá se transformar no U físsil.

As pessoas de urânio no Brasil começaram em 1951, em trabalho conjunto do Conselho nacional de Pesquisas e do U.S. Geological Survey. Em 1956, as pesquisas ganharam maior impulso com a criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN - , que continuou trabalhando em convênio com o USGS até 1960.

Na década 60, iniciou-se a cooperação francesa nos trabalhos de pesquisa de urânio no Brasil, por meio do Comissariat à l’ Énergie Atomique, que chegou a ajudar na organização do Departamento de Exploração Mineral da CNEN. A cooperação francesa, que durou até 1966, permitiu a formação de mais de meia centena de técnicos brasileiros na pesquisa de urânio e acabou levando à identificação das primeiras reservas no Planalto de Poços de Caldas (Minas Gerais). Quando foi assinado o Acordo Nuclear com a Alemanha, o Brasil dispunha, nos municípios de Caldas (MG) e Figueira (PR), de 11 mil toneladas de urânio (entre asseguradas e estimadas) passíveis de exploração a preços competitivos. Além disso, sabia-se de outras ocorrências, associadas a outros minérios em Araxá (Minas), Olinda (Pernambuco) e Jacobina (Bahia), cuja exploração entretanto dependia das dimensões da produção dos minérios aos quais o urânio aparece associado. Isto é, por ser muito difícil e caro extrair urânio desses outros minérios (pirocloro em Araxá, ouro em Jacobina), seria necessário explorá-los em grande quantidade para justificar economicamente a extração. Daí por que esta não chegou a ser feita.

O trabalho de encontrar urânio começa com o exame das grandes unidades geológicas favoráveis à existência do minério, tendo em vista identificar as áreas nas quais se deverá executar um trabalho sistemático e metódico.

Selecionadas as áreas, nelas são feitos diversos tipos de levantamentos: aerogeofísicos sob revôos das áreas com aparelhos sensíveis à radioatividade), geoquímica (identificação de alterações no solo e na flora provocadas pela presença de minérios de urânio), radiometria (localização de anomalias por meio do cintilômetro, aparelho que substitui o contador Geiger).
 
 
Uma vez comprovada a existência de indícios de urânio, passa-se à fase de pesquisa, na qual, por meio de sondagens e abertura de galerias, além do continuado emprego dos métodos já descritos anteriomente, medem-se as dimensões da reserva e, finalmente, definem-se as possibilidades e métodos de sua exploração.

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Muitas maneiras de enriquecer

Está visto que o urânio natural tem muito pouco material físsil, o que não impede sua utilização na geração de energia, embora limite sua aplicação geral. É que a taxa de irradiação obtida com o urânio natural – quantidade de energia gerada por quilo de urânio consumido – é baixa. Usa-se elevar a taxa de irradiação enriquecendo o urânio. Daí que urânio enriquecido é todo urânio com mais de 0,7% de U235.

Na maior parte dos reatores comerciais usados atualmente para gerar energia elétrica, utiliza-se urânio com 3 a 5 por centro de U235. Para se fabricar uma bomba atômica, seria necessário urânio com pelo menos 90% de U235 (ou Pu-239 praticamente puro).

Existem quatro processos de enriquecimento do urânio: difusão gasosa, ultracentrifugação, jato centrífugo e um processo aerodinâmico desenvolvido pela África do Sul cujas características básicas são muito semelhantes às do jato centrífugo.

A mais antiga das técnicas é a da difusão gasosa. Projetada inicialmente com finalidades militares, é capaz de enriquecer urânio a 90% sendo por isso considerada monopólio das potências nucleares. Este processo, para se tornar econômico, precisa ter uma capacidade de pelo menos 8.500.000 (oito milhões e quinhentos mil) unidades de trabalho separativo por ano. (Unidade de trabalho separativo ou UTS dá uma idéia do trabalho executado para elevar o teor de U235, ou seja, realizar o chamado enriquecimento em U235).

Para se ter uma idéia do que significa aquele número, basta dizer que 8.500.000 UTS atenderiam a uma demanda de urânio para cerca de 60 usinas nucleares da capacidade de Angra II. Por suas dimensões, pelos investimentos que requer e por seu alcance bélico, só os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Franca, Rússia e China têm usinas de enriquecer urânio por difusão gasosa, embora este seja um dos dois processos totalmente comprovados do ponto de vista técnico e econômico. Essas potências se negam a transferir tecnologia de enriquecimento por difusão, embora aceitem vender serviços de enriquecimentos aos demais países interessados.

Os europeus, os americanos e recentemente os japoneses vêm trabalhando numa Segunda alternativa de enriquecimento, denominada ultracentrifugação. Igualmente considerado segredo militar por permitir também o enriquecimento a 90%, o processo oferece, sobre a difusão gasosa, a vantagem de ter custos operacionais mais baixos e permitir a instalação de usinas de enriquecimento menores. Um consórcio, conhecido pelo nome de Urenco, formado Grã-Bretanha Alemanha e Holanda, tem duas usinas em operação – uma na Inglaterra (Capenhust) e outra na Holanda (Almelo) – produzindo urânio enriquecido por centrifugação. A Urenco está considerando a construção, na Alemanha, de outra usina utilizando o mesmo processo. A nova expansão da capacidade americana de enriquecimento está sendo feita com usinas de centrifugação. O Japão tem em operação uma usina de demonstração que usa o processo de centrifugação.
 
 

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O plutônio

O plutônio não existe na natureza. Ele é criado artificialmente pela transmutação do urânio 238, processada dentro de um reator. Tem vários isótopos, dos quais são físseis os de número de massa ímpar: Pu239 e Pu241. Como elemento gerador de energia, o plutônio é de uma capacidade extraordinária. Os plutônios físseis têm como combustível nuclear, propriedades semelhantes às do U235, podendo substituir este combustível.

Entretanto, o manuseio do plutônio exige severos cuidados. Trata-se de um elemento tóxico: a concentração máxima tolerável é de 0,00003 gramas por metro cúbico de ar. Entretanto ele é menos tóxico que algumas substâncias aceitas naturalmente pela nossa sociedade.

O plutônio gerado em um reator está misturado ao combustível, do qual é retirado por meio de uma operação química denominada reprocessamento. Esta operação não permite a separação dos isótopos físseis dos férteis, daí por que a obtenção de plutônio com alto percentual de isótopos físseis (plutônio de alta qualidade) depende da própria qualidade do plutônio contido no combustível a ser reprocessado. Esta última separação é entretanto desnecessária se a finalidade for usar o plutônio nos reatores nucleares para produção de energia elétrica.

Tanto a composição isotópica como a quantidade de plutônio produzida dependem do tipo de reator e de sua taxa de irradiação. Serão necessários, por exemplo, reatores de baixa taxa de irradiação para produzir plutônio com 96% de teor físsil, único capaz de ser usado em bombas nucleares. Tais reatores contudo são antieconômicos quando postos a operar na geração de energia elétrica e vice-versa. Assim, os reatores comerciais com elevada taxa de irradiação produzem plutônio pobre em material físsil para fins militares mas não para fins energéticos. O que não elimina a possibilidade de, em caso de especial necessidade, eles serem postos a operar com baixa taxa de irradiação de modo a produzir plutônio de alta qualidade, o que seria altamente antieconômico. Para isso, há soluções alternativas mais baratas e mais rápidas.

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Os reatores – reatores para todos os gostos

O reator é um dispositivo complexo no qual a reação nuclear em cadeia é iniciada e controlada visando à obtenção de energia com diversas finalidades. Vários países, centros de pesquisas e empresas vinculadas ao desenvolvimento e fabricação de reatores nucleares têm pesquisado diferentes caminhos tecnológicos na busca do tipo de reatores que possam oferecer mais rentabilidade, produtividade e segurança, conforme as finalidades a que se destinem.

Assim, existem mais de 10 tipos diferentes de reatores, conhecidos pelas iniciais de seus nomes em inglês, e agrupados conforme o tipo de combustível, moderador e arrefecedor usados.

Combustível é o elemento gerador de energia, constituído normalmente por uma mistura de material físsil e material fértil. São usados como combustível, por exemplo, urânio (U235 ou U235 + U238), mistura de urânio e tório (Th232 + U233) e de urânio e plutônio (U238 + Pu239) etc.Moderador é o material utilizado para reduzir a energia dos neutrons de modo a aumentar a ocorrência da fissão controlada. São usadas como moderadores a água comum (denominada tecnicamente água leve), a água pesada (constituída por isótopos pesados de hidrogênio), a grafita.

Arrefecedor é o material que permite o transporte da energia térmica, gerada pela fissão, para sua utilização. São usados como arrefecedores a água leve, a água pesada, o gás carbônico, o hélio, o sódio líquido.

Geralmente é o moderador que serve à classificação dos reatores. Por isso, eles são conhecidos como reatores a água leve, ou água pesada ou grafita.

Além dessa classificação técnica, os reatores podem ser divididos em duas grandes linhas que expressam sua evolução tecnológica: são os reatores comerciais empregados hoje no mundo, originários da primeira linha de reatores desenvolvida nos Estados Unidos, com fins militares, durante a Segunda Guerra Mundial. E os reatores superconversores rápidos, existem operando para demonstração no Reino Unido, França e Rússia. Sua grande vantagem é produzir mais material físsil do que consome, empregando o plutônio como combustível. Não usam materiais moderadores porque funcionam como nêutrons rápidos, de alta energia.
 
 

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Água comum, a preferida

Nenhum reator que tenha água leve como moderador funciona com urânio natural. Todos usam urânio levemente enriquecido, daí por que um programa nuclear baseado em reatores a água deve ter uma usina de enriquecimento de urânio. Atualmente, são os reatores mais comprovados comercialmente no mundo: mais de 80% das usinas nucleares em operação utilizam reatores de água leve, um dos quais o PWR, é também o único tipo usado na propulsão naval. Duas razões explicam essa preferência: os PWR produzem energia a custo mais baixo e foram desenvolvidos nos Estados Unidos, onde se concentra mais da metade da indústria nuclear do mundo ocidental. Essa é a linha de reatores preferida pelos países em que o programa nuclear tem por principal finalidade gerar energia elétrica a custo baixo, ou seja, em que o parâmetro econômico é fundamental para definir a escolha.

Existem duas linhas principais de reatores a água leve, ambas de origem norte-americana: o PWR e o BWR.

O PWR – iniciais da expressão inglesa Pressurized Water Reactor, que significa reator a água pressurizada - , desenvolvido inicialmente pela firma Westinghouse, utiliza água leve pressurizada como moderador e arrefecador. Os reatores em instalação no Brasil são dessa linha. O BWR – iniciais da expressão inglesa Boiling Water Reactor, que significa reator a água fervente - , desenvolvido pela firma General Electric, utiliza água leve como moderador e arrefecedor.
 
 
Tanto a base industrial dos reatores a água leve como sua engenharia estão em constante expansão em relação à dos demais tipos de reatores, o que permite a construção de modelos com capacidades superiores a 1.000 megawatts elétricos. Um dos países que mais avançaram em tecnologia de reator a água leve foi a Alemanha, a partir da absorção dos conhecimentos norte-americanos no assunto. A França e o Japão seguiram o mesmo exemplo: partiram para a assimilação de tecnologia de reatores a água leve e, posteriormente para desenvolvimento próprio.

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A água pesada complica

Existem diversos tipos de reatores a água pesada, conforme o combustível e o arrefecedor que utilizem. Entretanto, só o CANDU (Canadian Deuterium Uranium Reactor) e o PHWR (Pressurized Heavy Water Reactor) alcançaram versões comerciais. Os demais projetos não passaram da fase de protótipos.

Os reatores a água pesada são de maior complexidade tecnológica e de custo operacional mais elevado que os de água leve. Oferecem a vantagem de dispensar o urânio enriquecido, mas, em compensação, o processo de obtenção da água pesada não é o menos complexo tecnologicamente, ainda que menos sujeito a problemas políticos no campo internacional.

A água pesada distingue-se da água comum por ter sua molécula formada por um átomo de oxigênio e dois átomos de deutério (isótopo de hidrogênio de massa 2). O símbolo da água pesada é D2O. A tecnologia de obtenção da água pesada não é sigilosa (como a do enriquecimento do urânio por difusão gasosa) mas é complexa e altamente custosa. Em todo o mundo operam apenas três fábricas comerciais de água pesada: duas nos Estados Unidos e uma no Canadá.

Os reatores CANDU requerem um quilo de água pesada por cada quilowatt elétrico instalado. Está é uma das razões de seu elevado custo operacional. Entretanto, produzem mais plutônio físsil por urânio consumido do que os reatores a água leve, o que é uma vantagem relativa, já que o reprocessamento deste tipo de combustível normalmente não é justificado pois não há urânio residual com teores de enriquecimento que justifiquem o aproveitamento econômico. Daí que, em todo o mundo, os reatores a água pesada tendem a ter desenvolvimento menor.

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Um velho que melhora sempre

Os reatores arrefecidos a gás, conhecidos pelas iniciais GCR – Gas Cooled Reactor, chegaram a ser comercialmente importantes na década de 50 e, até hoje, operam em países como a Grã-Bretanha e a França, mas se tornaram obsoletos e não competitivos com os demais. São filhos diretos dos primeiros reatores construídos, com finalidades bélicas, nos Estados Unidos, Reino Unido e França, utilizando urânio natural como combustível, grafita como moderador e gás carbônico como arrefecedor.

Os reatores a gás são os que mais viveram importantes aperfeiçoamentos tecnológicos. O primeiro deles foi a substituição do urânio natural pelo urânio enriquecido nos AGR – Advanced Gas Cooled Reactors. Depois, num novo estágio, utilizou-se como combustível uma mistura de urânio altamente enriquecido, tório e gás de hélio, em substituição ao gás carbônico.

Outras modificações estruturais foram adotadas no projeto. Neste estágio, sendo o reator denominado High Temperature Gas Reactor (Reator a Gás de Alta Temperatura – HTGR), obteve-se um dispositivo de grande eficiência e menores riscos ecológicos, o que o torna ideal para países desenvolvidos de elevada densidade populacional, além de permitir seu uso não só na geração de energia elétrica como também em processos industriais (na petroquímica, na siderúrgica etc., como fonte térmica). Entretanto, esses reatores usam urânio altamente enriquecido e dependem fundamentalmente do reprocessameno, com todas as implicações políticas daí decorrentes.

Embora, ao contrário do PWR, CANDU ou AGR, não seja considerado um reator comprovado, o HTGR encontra, teoricamente, crescente aceitação nos Estados Unidos, Europa e Japão. Nesse país, inclusive, existe um programa de HTGR em estudo, para atender às necessidades da indústria siderúrgica japonesa.

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O ciclo do combustível

O urânio, desde que é minerado, e até chegar ao reator, passa por um complexo processo de preparação. Após sair do reator, esse combustível “queimado” enfrenta novos processos, nos quais se recuperam urânio e plutônio físseis nele contidos e prepara-se o resto para ser cuidadosamente armazenado como rejeito radioativo, no jargão popular chamado de “lixo atômico”.
Todo esse trabalho é conhecido como ciclo de combustível. Suas principais fases são:

Prospecção – é a procura, a descoberta de ocorrência de jazidas de urânio.
Mineração – o urânio é extraído da terra, onde às vezes se encontra associado a outros minerais de interesse econômico.
Concentração – o urânio é separado dos demais minerais e transformado no produto denominado yellow cake (bolo amarelo).
Conversão – o yellow cake, por meio de processos complexos, é transformado num composto com flúor, conhecido como hexafluoreto de urânio ou UF6 sólido, que, em torno de 60ºC, se transforma num gás.
Enriquecimento – o hexafluoreto de urânio é submetido a processos para elevar seu teor de U235.
Fabricação do elemento combustível – o UF6 enriquecido é transformado em pastilhas de UO2 e condicionado em tubos apropriados formando o elemento combustível.
Irradiação – o combustível é colocado no reator para, através da reação em cadeia, gerar energia.
Reprocessamento – o combustível “queimado” ou irradiado é submetido a processos químicos para nele se recuperar plutônio e urânio físsil.
Eliminação de rejeitos radioativos – após tratamento especial, o material restante é depositado em locais em que sua radioatividade não possa afetar os seres vivos e o meio ambiente.

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A segurança dos reatores

O primeiro receio comum ao geral das pessoas diante de uma central nuclear, refere-se ao risco de explosão. No caso, explosão atômica. Esse é um receio totalmente infundado. Existem razões físicas que tornam impossível a explosão de um reator nuclear, a começar pelo baixo teor de enriquecimento do urânio empregado na reação. O urânio de um reator, como se viu, é enriquecido a apenas 3%. Além disso, o reator dispõe de elementos para controlar e moderar a reação em cadeia que impedem o tipo de reação capaz de levar à explosão.

O fato é que nunca se assistiu à explosão de um reator nuclear nessas três décadas de emprego de energia nuclear para fins pacíficos.

O que pode acontecer realmente é a liberação de elementos radioativos por um reator. Um acidente pode ocasionar a liberação de doses letais de radiações e para preveni-lo, os projetos dos reatores incluem um pesado e complexo esquema de proteção cujo objetivo é evitar que qualquer coisa ocorrida no coração do equipamento possa ter repercussões do lado de fora.

O esquema de proteção começa na seleção de materiais e escolha de terreno para localizar uma usina. Ao longo dos anos, a indústria nuclear foi desenvolvendo e fixando normas de segurança por cuja aplicação zelam comissões nucleares nacionais e internacionais tais como a Comissão Nacional de Energia Atômica – AIEA, o organismo ligado à ONU, com sede em Viena.

A concepção de uma usina nuclear guarda estreita relação com as necessidades de segurança. Tudo é feito para impedir ao máximo a disseminação de radiações. A primeira barreira à liberação de substâncias radioativas é a própria pastilha do combustível nuclear, feita de um material cerâmico que retém parte das radiações. A Segunda barreira são os tubos de zircaloy dentro dos quais são arrumadas as pastilhas de combustível. A terceira barreira é o material refrigerante que envolve o combustível e se encontra hermeticamente fechado no vaso metálico de contenção. Por fim, tudo isso - pastilhas, tubos e vaso – encontram-se dentro do prédio do reator, a quarta barreira, com 75 centímetros de espessura de concreto armado.
 
 
Esses são os sistemas concebidos no projeto de um reator para reduzir ao mínimo a propagação de radiações. Mas não bastam. Para prevenir falhas técnicas e humanas, as usinas são dotadas de inúmeros instrumentos de controle e medição que mantêm os técnicos permanentemente informados sobre suas condições de funcionamento. E se, apesar disso, ocorrerem acidentes sérios, entra em ação uma última linha de defesa composta por equipamentos destinados a provocar imediata paralisação e rápido desaquecimento do reator. Já houve poucos casos em que tais equipamentos foram chamados a intervir – nos casos em que os problemas chegaram às machetes dos jornais – e o fizeram com êxito evitando acidentes com maiores proporções.

Os problemas ligados à segurança de um reator não se limitam porém às medidas destinadas a conter emissões radioativas descontroladas. Assim como qualquer fábrica ou uma usina termelétrica lançam na natureza os seus efluentes industriais, alguns altamente poluidores, a usina nuclear também lança gases na atmosfera e líquidos nos rios e mares. Só que, ao contrário do que fazem muitas indústrias, as usinas nucleares tratam esses restos de forma a torná-los o menos nocivo possível. Esse tratamento é feito em dois sistemas: tratamento de resíduos gasosos e de resíduos líquidos. São completos sistemas de tubos, válvulas, filtros e depósitos que retêm os elementos radioativos contidos nos gases e líquidos a serem lançados na natureza através de uma chaminé ou de um túnel de descarga. Esses resíduos, assim tratados, têm no máximo a metade da radioatividade natural da água comum e representam menos de 2,5% na radioatividade média que um homem suporta anualmente.

Sim, porque as pessoas vivem imersas em radioatividade. A luz solar é uma fonte radioativa natural como a televisão é uma fonte radioativa artificial. Até nos alimentos existe radioatividade. Cada um recebe cerca de 110 a 150 milirem de radiações por ano (o rem é uma medida de radiação), mas a radioatividade de uma central nuclear operando em condições normais não deve ultrapassar a 5 mrem/a.

Assim, tratados os resíduos gasosos e líquidos, resta saber o que será feito com os resíduos sólidos. Trata-se do combustível queimado que, logicamente, é um material perigosamente radioativo. Este é manipulado com todo o cuidado em recipientes próprios através de meios mecânicos (gruas, pinças) que evitam o contato humano. São colocados em tanques de chumbo ou aço cheios de água para que esfriem e percam parte da radioatividade. E, depois, acondicionados em chumbo, são transportados até as usinas de tratamento. Como se viu anteriormente, parte desse combustível pode ser recuperada na foram de urânio enriquecido e plutônio. A parte imprestável é novamente acondicionada e transportada para sítios geológicos apropriados (minas subterrâneas de sal, por exemplo), onde permanecerá para o resto dos tempos.

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Energia nuclear no Brasil – o esforço pioneiro de Álvaro Alberto

A história da política nuclear brasileira está desde o início intimamente ligada a todas as implicações internacionais do poder nuclear, no contexto das quais o Brasil sempre enfrentou dificuldades naturais que as potências atômicas impunham aos países sem tecnologia nuclear original.

Quando os Estados Unidos tentaram, por meio do Plano Baruch, assegurar-se do monopólio da tecnologia e das matérias-primas nucleares no mundo ocidental, o Brasil se opôs a eles, por meio de seu representante na Comissão de Energia Atômica da ONU, Almirante Álvaro Alberto da Mota. Isto foi em meados de 1946.
 
 
Então, o representante brasileiro, pela primeira vez, formulou o princípio das compensações específicas: o Brasil estaria disposto a fornecer matérias-primas nucleares aos países interessados desde que estes fornecessem em troca, ao Brasil, tecnologia e equipamentos para o desenvolvimento de uma indústria nuclear brasileira. Álvaro Alberto, em muitas oportunidades, chegava a ser voto isolado em defesa da autonomia nuclear dos países não nucleares nas sessões daquela Comissão, mas ia conquistando junto ao governo e à opinião pública brasileiros uma posição ímpar de pioneiro na formulação de uma política nuclear independente para o Brasil. Em 15 de janeiro de 1951, pela Lei 1.310, o Presidente Eurico Gaspar Dutra cria o Conselho Nacional de Pesquisas, inspirado pelo Almirante Álvaro Alberto. Entre as atribuições do CNPq estavam “a investigação e a industrialização da energia atômica e suas aplicações”.

Presidido desde sua criação pelo Almirante Álvaro Alberto, o CNPq logo tratou de implementar a política das compensações específicas passando a esbarrar em forte oposição do governo dos Estados Unidos. Tanto que, desesperançado de contar com a colaboração do aliado do Norte, o Almirante Álvaro Alberto voltou-se para a Alemanha, ainda covalescente dos desastrosos efeitos da Segunda Guerra, e, em fins de 1953, conseguiu obter três unidades de enriquecimento de urânio pelo processo ultracentrífugo. Na Alemanha, o almirante entrou em contato com alguns dos mais proeminentes físicos da época, entre eles William Groth, Bayerle e o descobridor da fissão nuclear, Otto Hann, propondo-lhes virem ao Brasil prosseguir nos estudos para os quais enfrentavam muitas limitações pelo fato de estar a Alemanha ocupada pelas quatro potências aliadas.

Os físicos não vieram, e os equipamentos só chegaram aqui após grandes lutas. Os equipamentos tiveram seu embarque proibido a pedido do comissário norte-americano na Alemanha, James Connant, cumprindo ordens do próprio presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, Almirante Lewis Strauss. O presidente do CNPq peregrinou pela Alemanha e Estados Unidos tentando liberar as centrifugadoras, entrevistando-se até com o Almirante Strauss.

Após muita luta, com lances dignos de espionagem, os equipamentos chegaram e estão instalados no IPT de São Paulo. Um maior número de equipamentos, necessário para montar uma usina, entretanto não foi possível obter.
 
 
Após muita luta, com lances dignos de espionagem, os equipamentos chegaram e estão instalados no IPT de São Paulo. Um maior número de equipamentos, necessário para montar uma usina, entretanto não foi possível obter.

Além da Alemanha, o Almirante Álvaro Alberto tentou interessar a França no programa nuclear brasileiro. Em consequência, também no fim de 1953 o governo brasileiro assinou, com representantes da Societé des Produits Chimiques des Terres Rares, contrato de encomenda na França de usinas para obtenção de urânio nuclearmente puro. Tanto esse acordo quanto as negociações do Almirante Álvaro Alberto da presid6encia do CNPq em 13 de janeiro de 1955. Seu sucessor, professor batista Pereira, decidiu desativar o acordo com os franceses já que havia dúvidas sobre o êxito da operação, pois o Brasil não dispunha na época de reservas conhecidas de urânio em volume suficiente para assegurar o suprimento das usinas.

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Os anos da CNEN

Uma resolução do Conselho de Segurança Nacional, de 30 de agosto de 1956, recomendou a criação de uma Comissão Nacional de Energia Nuclear diretamente subordinada à Presidência da República, instituída no dia 10 de outubro do mesmo ano. Também estava explícito nessa resolução a manutenção do princípio das compensações específicas em caso de exportação de materiais físseis.

O Brasil já contava então com alguns físicos nucleares de renome mundial como César Lattes, Mário Shoemberg, José Leite Lopes e Marcel Damy, este o segundo presidente da CNEN. Dispunha, também, de dois institutos de pesquisa: o Instituto de Pesquisas Radioativas de Belo Horizonte – IPR, criado em 1953, e o Instituto de Energia Atômica – IEA, de São Paulo, criado em 31 de agosto de 1956 por inspiração do CNPq.
 
 
Um terceiro instituto seria criado em 1963 no âmbito da Universidade Federal do Rio de Janeiro: o Instituto de Engenharia Nuclear. Em torno desses institutos avançavam os trabalhos de pesquisa no País, buscando identificar soluções nacionais para a tecnologia nuclear diante do bloqueio existente para sua obtenção externa. Em 1956, o IEA instalou um reator de pesquisa do tipo piscina, de 5 megawatts, de origem americana.

O IPR instalou em 1958 seu reator, de 100 quilowatts, também de origem americana. O terceiro reator de pesquisa brasileira viria a entrar em funcionamento só em 1965: o Argonauta do IEN, de 10 quilowatts, construído com técnica e material inteiramente brasileiros. O IPR viria a instalar mais um reator, também inteiramente nacional, funcionando com tório-urânio e água pesada: o Capitu.

Este, no entanto, é subcrítico e só serve para pesquisas em física nuclear. Paralelamente, desenvolveram-se os primeiros trabalhos para melhor definir as reservas brasileiras de minerais nucleares, que, por volta do anos 50, acreditava-se estarem entre as maiores do mundo.

A CNEN aceitou cooperação nessas pesquisas, estabelecendo primeiro um convênio com o governo dos Estados Unidos, executado de 1956 a 1960. Entre 1961 e 1966, os trabalhos de pesquisa mineral da CNEN passaram a ser feitos com a cooperação do governo francês, que enviou ao Brasil técnicos responsáveis inclusive pela organização do Departamento de Exploração Mineral da entidade brasileira. Sem dúvida, esse trabalho mostrou-se proveitoso, seja pela formação dos primeiros técnicos brasileiros em pesquisa de urânio e outros minérios radioativos, seja pela identificação das primeiras reservas brasileiras desses minerais.

O maior evento desse período foi, sem dúvida, a decretação do monopólio estatal sobre minérios e materiais nucleares, por meio da Lei 4.118, de 27 de agosto de 1962. Pela lei, ficou definido que só o Governo brasileiro, através da CNEN, poderia pesquisar, lavrar e processar minerais radioativos no Brasil. Até então, vários organismos e empresas privadas intervinham na questão, dificultando soluções harmônicas, especialmente em relação aos minerais radioativos sobre os quais era grande o interesse das potências nucleares, consumidoras de urânio e tório.

Entretanto, se ficava clara a política que o País seguiria em relação aos seus minerais radioativos, ainda muito se discutia sobre a linha de reatores mais adequada às condições nacionais. E, como nada se definia, cada um dos três mais importantes institutos de pesquisa executavam trabalhos sobre linhas diferentes, sempre no sentido de tornar o Brasil capaz de fabricar um reator de potência. O IEA estudava reatores a gás, o IEN investigava reatores rápidos e o IPR pesquisava os reatores a tório, dando origem ao famoso Grupo do Tório.
 
 
Com a Reforma Administrativa (Decreto-Lei 200) que colocou a CNEN, em 1967, na área do Ministério das Minas e Energia e, principalmente, com as Diretrizes da Política Nuclear, baixadas em dezembro desse mesmo ano, começou um novo período da história nuclear brasileira.

O Brasil voltou a envolver-se em problemas diplomáticos com os Estados Unidos – aliado da Rússia na questão - , que pretenderam do Governo brasileiro adesão ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, aprovado pela ONU em 12 de junho de 1968. O Brasil, assim como a França, a Argentina, a Índia, Israel e outros países, recusou-se a aderir ao acordo porque este só prescrevia as armas nucleares nas nações conceituadas como “não-nucleares”, embora não impusesse qualquer limitação à produção de armas at6omicas pelas potências que até então já haviam explodido artefatos: Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China. Embora a política nuclear brasileira sempre tenha tido objetivos pacíficos, o Brasil considerou que “o Tratado não estabelecia um balanço aceitável entre os direitos e obrigações das nações nucleares e não-nucleares”.

Mais felizes foram os esforços brasileiros para transformar o conjunto da América Latina em zona não-nuclear. Um tratado nesse sentido foi proposto em 1962 pelo Brasil às demais nações do Continente e afinal assinado em 1967. É o Tratado de Tlatelolco.

Pelo acordo, ficavam proibidas as explosões de armas nucleares no Continente, exceto quando para fins pacíficos e sob supervisão internacional. Também era permitida a adesão internacional ao Tratado, implicando às nações aderentes o compromisso de respeitarem a desnuclearização do Continente: Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Holanda aderiram.

Internamente, os trabalhos da CNEN avançavam em dois grupos: na pesquisa mineral e nos estudos técnico-industriais. A criação da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM, em 1969, dotou o setor mineral do governo de um instrumento ágil para a execuç1ao de trabalhos geológicos.

Foi também criada uma companhia para dinamizar as atividades do setor nuclear do País: a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear – CBTN, diretamente subordinada à CNEN. Seu objetivo era dotar a CNEN de uma organização de natureza empresarial capaz de elaborar projetos e executar pesquisas tecnológicas no setor nuclear, além de promover a participação crescente da indústria brasileira na produção de componentes para centrais nucleares.

Criada em 1º de dezembro de 1971, a CBTN, em julho de 1972, incorporou o IPR, o IEN e o Instituto de Dosimetria. A seguir fez pesquisas objetivas sobre as perspectivas mundiais da energia nuclear com fins pacíficos e acabou contratando a firma norte-americana Beechtel Overseas para levantar, com expressiva participação de engenheiros da CBTN, o potencial da indústria nacional em suportar um programa nucleoelétrico. Esse levantamento, concluído em fins de 1973, demonstrou Ter a indústria nacional excelentes condições de atender às necessidades brasileiras no caso da instalação em série de reatores nucleares.

É claro que muitos componentes poderiam ser imediatamente fornecidos, mas outros, mais complexos, exigiriam prazos maiores para adaptação física e tecnológica e garantia de qualidade do parque industrial às encomendas.

A CBTN já adotava então o princípio de que um programa nuclear brasileiro deveria ter condições de viabilizar economicamente uma indústria nuclear nacional. Em 10 de dezembro de 1974, a CBTN foi transformada na NUCLEBRÁS, que iniciou nova etapa da história nuclear brasileira. Já então estavam em pleno andamento na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, Estado do Rio, as obras da primeira central nuclear do País, esforço isolado do setor elétrico.

Na época, supunha-se que o País contava com uma das maiores reservas de tório do mundo. A suposição decorria da confusão que se fazia com os números que indicavam as reservas de monazita. A monazita, mineral que corresponde a um fosfato de terras raras, pode ter ou não em sua estrutura molecular os elementos tório e urânio. As areias monazíticas do litoral brasileiro contêm o elemento tório em percentual que varia de 4% a 6%.

Por ocasião da primeira CPI Nuclear, na década de 50, o DNPM, por meio do depoimento do engenheiro Ernesto Bastos Pouchain, declarava que a avaliação feita pelo Departamento indicava uma reserva de 45.000 toneladas de monazita.

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A primeira usina – o átomo como saída

Em meados da década 60, era cada vez maior a preocupação entre setores técnicos e governamentais com a possibilidade de o Brasil vir a precisar de energia nuclear para suprir suas crescentes necessidades de energia elétrica. O próprio Grupo do Tório nasceu de um trabalho dos engenheiros Jair Carlos Mello e Carlos Werth Urban sobre as Necessidades de Combustível para um Programa Nucleonergético da Região Centro-Sul. Percebia-se que, com o intenso aproveitamento do potencial hídrico da região Centro-Sul, não tardaria a chegar o momento em que deixariam de existir lugares apropriados para a construção de novas hidroelétricas nessa região, onde se concentrava mais da metade do consumo nacional de hidroeletricadade. Dentre as várias soluções possíveis, o florescimento da indústria nuclear em todo o mundo e a importância dessa tecnologia apontavam a instalação de centrais termonucleares como uma das saídas.

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Água leve como opção

Ao começar a administração do Presidente Ernesto Geisel, o Governo brasileiro já tinha certeza sobre a necessidade de instalar usinas nucleares em série para atender ao crescimento da demanda de energia no País. Entretanto, remontava a 1956 a idéia de construção da primeira usina: originou-se nos gabinetes técnicos da American and Foreign Power – Amforp, grupo norte-americano que até meados da década de 60 cuidou da distribuição de energia elétrica em diversos Estados brasileiros, incluindo o Estado do Rio. A Amforp, que o Rio se chamava Cia. Brasileira de Energia Elétrica, pensou em instalar uma pequena usina de 10 megawatts em Cabo Frio. Desistiu ao constatar que o empreendimento custaria US$ 2 mil por quilowatt instalado, a preços da época.

Na CNEN, criada no mesmo ano, também se pensava numa usina nuclear. Em 1959 foi criada a Superintendência do Projeto Mambucaba, cujo objetivo era verificar a viabilidade de uma usina de 150 a 200 megawatts às margens do rio Mambucaba, próximo a Angra dos Reis. O projeto foi logo abandonado, porque certamente não era prioritário na época, mas a CNEN o retomou em 1965, quando criou um Grupo de Trabalho de Reatores de Potência, também de poucos resultados. Dois anos depois, porém, diversos órgãos do Governo começaram a se mostrar mais sensíveis ao problema, o que resultou na formação de uma comissão integrada pelo Conselho de Segurança Nacional, Ministério das Minas e Energia, CNEN e Eletrobrás, que acabou por recomendar a construção de uma usina no Sudeste, com capacidade para 500 megawatts.

Não seria necessariamente uma usina competitiva, mas, principalmente, um empreendimento voltado para a aquisição de conhecimentos técnicos e experiência.
 
 

As conclusões da comissão foram pouco depois avalisadas por um grupo técnico da Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, levando o Governo brasileiro a tomar a decisão definitiva de construir uma usina. Em abril de 1970, Furnas Centrais Elétricas, subsidiária da Eletrobrás e encarregada de executar as obras (e, depois, operar a usina), sob supervisão e fiscalização da CNEN, decidiu fixar o empreendimento na pequena praia de Itaorna, perto de Angra dos Reis. E, em junho do mesmo ano, são expedidos convites às firmas pré-selecionadas para concorrer ao fornecimento do projeto e equipamentos básicos.


Furnas optou por reator do tipo água leve-urânio enriquecido, escapando assim o Brasil ao que já parecida ser uma tendência entre os países em desenvolvimento que, na época, vinham preferindo comprar reatores do tipo urânio natural-água pesada. O maior argumento a favor do reator a água leve era sua confiabilidade operativa e garantia industrial, já que a grande maioria dos reatores em operação no mundo é dessa grande maioria dos reatores em operação no mundo é dessa linha. Na medida em que a usina integraria um sistema de abastecimento de energia elétrica, manifestavam os técnicos do Governo preocupação em evitar problemas no fornecimento de energia em virtude de dificuldades no funcionamento do reator, atrasos na entrega de peças de reposição e sobretudo, suspensões (momentâneas ou não) no suprimento de combustível.


Furnas, que pré-qualificara os fabricantes de reatores a água leve, recebeu as propostas em janeiro de 1971 e, juntamente com a Eletrobrás, indicou, no dia 18 de maio de 1971, a firma norte-americana Westinghouse Eletric Corporation como vencedora. O contrato de Furnas com Westinghouse foi firmado em 7 de abril de 1972 e as obras começaram em 1º de outubro do mesmo ano.

O contrato com a Westinghouse era o tipo que os técnicos chama turn key ou “caixa preta”: a empresa norte-americana era responsável única pelo projeto e pelos equipamentos essenciais, obrigando-se a entregar a usina de Furnas pronta para operar. Pelo contrário, a transfer6encia de tecnologia é mínima, limitando-se o fornecedor a treinar o pessoal que irá operar a usina depois de pronta. Na fase das obras civis, alguns trabalhos que exigem especial competência, devido aos graus de segurança requeridos de uma usina nuclear, também podem ser ensinados e transferidos para os futuros operadores da usina ou outras empresas. Assim, empresas brasileiras de construção e engenharia adquiriram conhecimentos em fundações, estruturas de concreto, sistemas de captação de água de refrigeração, soldagens, serviços de montagem e outros itens indiretamente ligados à própria geração de energia nuclear. O grau de nacionalização de equipamento nessa unidade foi inferior a 10%.

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Assim é Angra I

A primeira unidade de Angra dos reis, que, juntamente com outras duas construídas com tecnologia alemã, forma a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, terá potência líquida de 626 megawatts elétricos. É formada por um reator PWR sistema turbogerador e sistemas auxiliares.

O reator, como já foi dito, é arrefecido e moderado a água leve utilizando urânio levemente enriquecido como combustível. O urânio, em forma de pastilhas, é acondicionado em tubos de zircaloy, liga de zircônio que mais se presta ao revestimento das varetas combustíveis.

O reator PWR é constituído por três circuitos de água: o primário, o secundário e o de água de refrigeração. A água do circuito primário é aquecida pelo calor gerado pela fissão nuclear, atingindo temperaturas da ordem de 300º centrígrados. Através das tubulações apropriadas, essa água, de tal ebulição, é enviada ao gerador de vapor, onde transfere seu calor para a água do circuito secundário, sem, contudo, penetrar neste. Isto é, a água aquecida pela fissão permanece dentro de tubulações próprias sem ser transferida para outros circuitos A transferencia de calor do circuito primário para o secundário se dá através de equipamentos apropriados denominados trocadores de calor.

O vapor gerado no circuito secundário é que vai acionar a turbina e, por conseguinte, movimentar o gerador. A partir daí, a operação é idêntica à de qualquer usina de energia elétrica a carvão ou óleo. Turbina e gerador formam o sistema denominado turbogerador, que, movimentado pelo vapor, gira à velocidade de 1.800 rotações por minuto. A potência bruta de geração de Angra I é de 657 megawatts elétricos mas como parte dessa energia é consumida na própria usina, sobram 626 megawatts (potência líquida) para serem lançados no sistema elétrico. Após movimentar a turbina, o vapor é recolhido no condensador, onde será resfriado pelo circuito de água de circulação. Esta água, que também não entra em contato direto com o vapor, é, no caso da Central Almirante Álvaro Alberto, captada no mar, através de um túnel com cerca de um quilômetro de extensão, ligando Itaorna à praia de Piraguara de Fora. Depois de resfriar o vapor a água de circulação é novamente lançada ao mar numa temperatura de cerca de 24º centígrados, sem qualquer contaminação radioativa.

O reator e os geradores de vapor – conjunto denominado Sistema Nuclear Gerador de Vapor – ficam dentro do edifício do reator, uma construção que, em Angra I, tem 75 metros de altura por 36 de diâmetro e forma cilíndrica. O exterior do edifício do reator é de concreto e o interior , de aço.
Além do edifício do reator, Angra I conta com os seguintes prédios:

  • Edifício de segurança: local em que estão os sistemas de controle e prevenção de acidentes;
  • Edifício de combustível: local em que fica armazenado o combustível e dispõe de equipamentos apropriados para executar a retirada e recarregamento de combustível na usina.
  • Edifício de turbogerador: onde ficam a turbina e o gerador.
  • Edifícios auxiliares: onde ficam as salas de operações, painéis de controle, locais de serviços etc.

Por fim, como qualquer outra usina elétrica, Angra dos Reis terá uma subestação, no caso de 500 quilovolts (kv).

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Usinas nucleares

A energia atômica nasceu com a 2ª Guerra Mundial. Com a necessidade de fabricação de armas cada vez mais potentes, os governantes tentaram mostrar que a energia atômica era uma energia limpa e barata. Tudo mentira! Era só uma desculpa para fabricarem armas e fazerem a gente pagar a conta! A energia nuclear provém da fissão nuclear do urânio, do plutônio, do tório ou da fusão nuclear do hidrogênio. Atualmente utiliza-se quase somente o urânio.

O Brasil possui a 6ª maior reserva mundial de urânio. O processo começa com a inserção de um nêutron em um reator abastecido com urânio 235. O urânio absorve o nêutron, passa a ser urânio 236 e fica instável, isto é, fica com excesso de energia que precisa ser liberada para que volte a ser estável novamente. Para recuperar a estabilidade, ele se quebra em 2 pedaços (fissão nuclear), liberando radioatividade e nêutrons.

Esses nêutrons vão bombardear outros átomos, repetindo todo o processo, que se chama reação em cadeia. Esse tipo de geração de energia é caro e altamente poluente e prejudicial, tanto à natureza, como ao homem.

 
 
Tem um efeito devastador no organismo: destróem as células de dentro para fora, primeiro a camada muscular, depois os vasos sangüíneos, a camada de gordura, a derme e finalmente a epiderme. Apesar de tudo, foi colocado em funcionamento a Usina Angra II, e há planos para terminar as obras em Angra III, sem saber o que farão com os resíduos radioativos...Só em Angra I, existem 91 mil quilos de rejeitos radioativos, com vida de 30 mil anos.

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A energia nuclear

A energia elétrica gerada pelas atuais usinas nucleares baseia-se na fissão (quebra, divisão) do átomo, tendo por matéria-prima o urânio ou o tório, que são dois minérios altamente radioativos*.

Quando os átomos de urânio ou tório são bombardeados por nêutrons, seus núcleos, fragmentam-se, liberando enorme quantidade de energia. Os nêutrons dos átomos fragmentados, por sua vez, vão bombardear outros átomos, que também se quebram, e assim sucessivamente, numa reação em cadeia.

*Radiativos; materiais que emitem radiação (transmissão de energia através de ondas ou de partículas subatômicas). Isso significa que eles estão constantemente libertando energia. Esses materiais, especialmente o urânio U235 – que possui 92 prótons de 143 nêutrons em seu núcleo -, são utilizados na fissão nuclear, que liberta enorme quantidade de energia em fração de segundos. Meio quilo de urânio U235 pode produzir equivalente à queima de 3 milhões de toneladas de carvão.

Nas usinas atômicas, a fissão nuclear é provocada sob controle no reator atômico, o elemento fundamental desse tipo de usina. A energia liberada na fissão produz calor, que vai aquecer uma certa quantidade de água, transformando-a em vapor; a pressão do vapor faz girar um turbina, que aciona um gerador; este converte a energia mecânica proveniente da turbina em energia elétrica. Para entender melhor o processo, observe a figura abaixo:


Um problema que se coloca em relação à atuais usinas nucleares é que possuem, em média , uma duração de apenas 25 anos. Assim, considerando os elevados custos de sua instalação e a pequena quantidade de energia que produzem nesses 25 anos de existência (em comparação com as usinas hidrelétricas e termelétricas), pode-se questionar se elas são de fato uma boa alternativa energética para a futura escassez de petróleo e de carvão.

Em 1995, as usinas atômicas contribuíam com apenas cerca de 20% do total de energia elétrica produzida na superfície terrestre.

No início da década de 50 pensava-se que já nos anos 80 as usinas nucleares contribuiriam com no mínimo 30% do total mundial de energia elétrica.

Como se vê, houve uma superestimação de seu crescimento. No entanto, apesar de seus elevados custos e da oposição que a construção de novas usinas atômicas vem encontrando em vários países (pelos riscos de acidentes e pela contaminação radioativa das áreas vizinhas), observou-se que de 1980 até 1995 houve mais que uma duplicação do número de usinas nucleares existentes no mundo.

Os países onde a energia elétrica gerada em usinas nucleares ocupa melhor posição são a França (60% do total), a Bélgica (55%) e a Suécia (40%). No entanto, o maior desenvolvimento dessa tecnologia e o maior número de usinas construídas encontram-se nos Estados Unidos e no Japão, seguindo-se a Rússia, a Inglaterra, a Alemanha e a França.
 
 

O LIXO ATÔMICO...
Quando ocorre o processo de fissão nuclear, dizemos que o urânio sofreu uma queima. A queima do urânio nos reatores nucleares dá origem ao plutônio, material extremamente tóxico e perigoso (uma única partícula, se aspirada, pode causar câncer do pulmão), utilizado na fabricação de armas nucleares. Um reator comum, com capacidade de produção de 500 000 kW, produz cerca de 120 kg de plutônio anualmente (10 kg são suficientes para produzir uma bomba atômica).

Em 1975, produziram-se no mundo 25 000 kg de plutônio; em 1995, cerca de 160 000 kg. Isso coloca o grave problema do que fazer com esse perigoso material, que é cobiçado por grupos terroristas e por alguns governos militares que querem construir bombas atômicas. Além desse problema, existe outras formas de poluição das usinas nucleares: o aquecimento do meio ambiente ao redor e em especial o lixo atômico.

O aquecimento do meio ambiente ao redor da usina atômica ocorre porque ela se localiza em geral numa área litorânea ou vizinha a um rio ou lago, para ter abastecimento fator de água, e essa água utilizada na usina (para produzir vapor e para esfriar certos equipamentos) é depois devolvida para o lago ou mar, causando um aquecimento e com isso grande mortandade de peixes no local. O lixo atômico são os resíduos produzidos pelas usinas nucleares. Como são materiais radioativos e portanto perigosíssimos, livrar-se deles constitui um enorme problema. Costuma-se colocado em caixas de concreto hermeticamente fechadas, que são enterradas ou jogadas ao mar.

O problema é que hoje em dia nenhuma região quer sediar depósitos subterrâneos de lixo atômico, que podem contaminar essa área e até serem desenterrados por alguém no futuro, por uma falha na segurança.

E nos mares existe o problema da corrosão dessas caixas com o tempo, que um dia poderão se abrir e assim provocar grande contaminação das águas.
 
 
Existem diversos tipos de reatores, já que o desenvolvimento da tecnologia nuclear vem sendo intensamente pesquisado nas últimas décadas, com grandes avanços e mudanças. Os tipos de reatores hoje existentes parecem ser transitórios, ou seja, constituem apenas uma etapa para o surgimento futuro de uma tecnologia mais aprimorada.

Os reatores da próxima geração – chamados de reatores de regeneração – vão utilizar o plutônio como matéria-prima. Eles deverão se basear não mais na fissão de átomo e sim na sua fusão, que é um processo semelhante ao que ocorre no Sol e demais estrelas, onde predominam temperaturas altíssimas. Caso essa tecnologia, que por enquanto é apenas teoria, se desenvolva de fato, então poderemos Ter no futuro usinas nucleares bem mais potentes e talvez até mais seguras, pois produzirão bem menos resíduos (alguns estudiosos afirmam que nenhum) e serão mais protegidas contra acidentes, que foram e ainda são muito comuns nas atuais usinas de fissão.

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Os acidentes nucleares e a militarização da energia

Outro problema, gravíssimo, que se coloca nas usinas nucleares são os acidentes. Na verdade, os acidentes sempre acompanharam o funcionamento dos reatores nucleares. Já ocorreram mais de trezentos acidentes que produziram escape da radioatividade para o meio ambiente, em diversos países. Por coincidência, o mais célebre acidente norte-americano ocorreu duas semanas após o lançamento do filme anti-nuclear Síndrome da China, estrelado por Jane Fonda e Jack Lemon. Quando o filme surgiu, foi imediatamente criticado pela indústria nuclear, por mostrar uma situação que seria improvável.

Porém, em março de 1979, toda uma série de falhas e erros operacionais converteram um defeito normal de funcionamento na central de Three Mile Island, no Estado da Pensilvânia, em um drama no qual muitas cenas de Síndrome da China se repetiram. A partir daí mundo acordou para os perigos de acidentes nas usinas nucleares, que já existiam antes mas eram camuflados.

Mas o maior acidente nuclear até o momento foi o de Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986. Ocorreu uma explosão no reator nuclear da usina, liberando grandes doses de radioatividade para as vizinhanças. Ventos e nuvens radioativas carregavam parte dessa radiação para área longínquas, inclusive na Europa ocidental.
 
 
Além das centenas de pessoas que morreram na hora por estarem na usina nuclear, as doenças e mortes progressivas devido ao recebimento de elevadas doses de radiação. Segundo cálculos realizados por vários cientistas, milhares de pessoas serão vítimas da radiação nos anos e décadas seguintes ao acidente. Devido a ele, provavelmente 10 000 novos casos de câncer surgirão na Ucrânia e pelo menos 1000 no restante da Europa, principalmente na Rússia, embora essas cifras possam até mesmo dobrar. Será contudo quase impossível estimar os efeitos nas gerações futuras. A radiação causa danos genéticos, podendo, portanto, ocasionar defeitos genéticos nas futuras gerações. Esse tipo de problema pode não se manifestar em várias gerações e surgir só nos descendestes de pessoas que já vão estar mortas há séculos.

Após o desastre de Chernobyl, a indústria nuclear passou a enfrentar uma crise de confiabilidade. Segundo alguns, há grandes probabilidades de que, na história da energia nuclear – curta, cheia de altos e baixos -, o desastre de Chernobyl possa ser considerado como o começo do fim. Mas a energia nuclear ainda não está morta, nem agonizando; contudo, as esperanças otimistas que cercam seu nascimento foram aos poucos se esvaindo.

Em Chernobyl, a última delas – a esperança de que a energia nuclear podia ser segura e limpa – morreu em uma arrasadora explosão radioativa. Resta saber se as futuras usinas com base na fusão do átomo, a grande esperança dos defensores da energia nuclear, serão realmente mais seguras contra acidentes e livre do lixo atômico. Caso isso não ocorra, dificilmente a energia nuclear continuará em expansão, sendo que mais provavelmente ela conhecerá um declínio nesta década.
 
 
Finalmente, existe um outro aspecto relacionado com a energia nuclear: ela sempre está ligada ao militarismo, sendo esse motivo principal a ter recebido tantos investimentos desde a Segunda Guerra Mundial. Muito mais verbas foram gastas na pesquisa atômica, nas últimas década, na época da Guerra Fria, do que em todas as outras formas de energia somadas.

Se a energia solar tivesse recebido tantos investimentos quanto a nuclear, certamente hoje teríamos já milhares de carros movidos a bateria solar e talvez até gigantescas usinas para a captação de raios solares e obtenção de eletricidade a partir deles. Desde seus primórdios a energia nuclear esteve ligada aos interesses militares.

As relações entre a indústria nuclear e as forças armadas têm provocado um enorme sigilo ao redor das informações sobre reatores atômicos em funcionamento ou em construção. De fato, o grande entusiasmo suscitado pela descoberta da fissão nuclear deve-se não tanto à possibilidade de produzir eletricidade e sim à construção de armamentos nucleares. Grande parte dos investimentos na pesquisa atômica originaram-se de interesses militares. É por isso que até países pobres, como o Paquistão ou na Coréia do Norte, que poderiam obter eletricidade em outros meios mais seguros e baratos, preferiram investir em energia nuclear, visando obter principalmente a bomba atômica. O controle da energia nuclear, com aposse de um reator e a produção de plutônio, é uma etapa preliminar indispensável para a fabricação de armas nucleares.

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Chernobyl pode tornar-se “crise esquecida”, diz membro da ONU

O subsecretário da Organização das Nações Unidas (ONU) para assuntos humanitários, Kenzo Oshima, disse que Chernobyl, local onde há 16 anos ocorreu o pior desastre nuclear do mundo, ainda precisa de ajuda internacional e corre o risco de se tornar uma "crise esquecida".
A afirmação de Oshima foi feita após sua viagem à região contaminada dentro e nas proximidades da ex-república soviética da Ucrânia, onde ele lançou uma estratégia de recuperação de 10 anos.
"A dimensão humana do desastre de Chernobyl tende a se encaminhar para uma crise esquecida, apesar da séria natureza dos problemas que persistem e das dificuldades sofridas por uma grande população", disse o subsecretário em uma entrevista coletiva concedida à imprensa.
Em 26 de abril de 1986, um dos reatores na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu, liberando uma nuvem radioativa mortal.
Ucrânia, Belarus e Rússia - países da ex-União Soviética mais afetados pelo acidente - querem trabalhar com as agências da ONU para implantar projetos de recuperação, disseram autoridades da ONU.
"Nós propusemos uma mudança de atitude das pessoas que frequentemente recebem ajuda para torná-las participantes mais ativas em suas próprias vidas", disse Neil Buhne, coordenador residente da ONU em Minsk.
Entre 50 e 80 milhões de dólares serão necessários para o atendimento das futuras necessidades da região, disseram as autoridades.
A maior parte da ajuda para Chernobyl tem sido usada em remédios, cuidados hospitalares e comida para aqueles que foram envenenados pela nuvem radioativa. Oshima disse que futuras assistências serão usadas a longo prazo em problemas econômicos, sociais e de meio ambiente da região.

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Greenpeace alerta: navios com plutônio deixam o Japão

Dois navios com carregamento de plutônio deixaram o Japão nesta madrugada em direção à Inglaterra. O material, na forma de MOX (óxido misto de urânio e plutônio), foi enviado em 1999 pela British Nuclear Fuel Ldt. para ser usado em usinas nucleares japonesas e recusado pelo governo daquele país, por problemas de segurança na fabricação do material. Segundo o Greenpeace, que lidera campanha contra o transporte de material nuclear pelos oceanos, a rota das embarcações não foi divulgada.

“Esse carregamento recebeu manifestações de oposição desde a Ásia Oriental até o Pacífico Sul. Isso tende a se intensificar na medida em que os dois navios se moverem em direção ao ambiente vulnerável do Pacífico.

Se a rota escolhida for pelo Pacífico Sul, o mínimo que se espera é que não violem as 200 milhas da Zona Econômica Exclusiva, conforme foi pedido por tantos países dessa região”, disse Tom Clements, um dos ambientalistas a bordo do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, que está acompanhando o trajeto dos navios nucleares.

Por Maura Campanili
 
 

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Transporte de plutônio ameaça os oceanos

Pode até parecer roteiro de ficção científica, mas é a mais pura – e preocupante - realidade. O plutônio é conhecido como uma das substâncias mais perigosas já manipuladas pelo homem, como uma meia vida (tempo necessário para que se reduza à metade a radiotividade de um material) de 24 mil anos.

Um acidente envolvendo esta carga pode causar uma catástrofe sem precedentes na história: o plutônio pode se dispensar nos oceanos e costas envenenando as pessoas e o meio ambiente.

COMÉRCIO INTERNACIONAL IRRESPONSÁVEL...
E como é possível que, em plena Copa do Mundo, esse transporte estivesse acontecendo quando toda a segurança estava voltada para o evento? A resposta está na irresponsabilidade da indústria nuclear.

 
 
No mundo contemporâneo globalizado, o resíduo nuclear virou objeto de um comércio internacional totalmente irresponsável, onde o interesse de poucos países impõe terror e ameaça a muitos outros. Ou seja, não há justificativas consistentes para esse transporte.

Ele só está ocorrendo devido a uma falsificação praticada pela BNFL (Britsh Nuclear Fuel Ltd.) – a empresa inglesa que vendeu MOX (óxido misto de urânio e plutônio) para a japonesa Kansai Eletric – nas normas de segurança internacionais que regulam o translado desse tipo de material. O plutônio, na forma de MOX, foi enviado em 1999 pelos britânicos para ser usado nas usinas nucleares japonesas.


O QUE O BRASIL TEM A VER COM ISSO?

O Brasil deve ficar preocupado, pois para os navios seguirem do Japão para a Inglaterra, existem três opções possíveis: pelo Oceano Pacífico, via Mar da Tasmânia, Cabo da Boa Esperança e Oceano Atlântico; e ainda pelo Oceano Pacífico, via Cabo Horn. Caso essa última opção seja adotada, os navios vão atravessar toda a costa brasileira. É fundamental que o Governo do Brasil diga não à passagem destes navios pelas nossas águas, evitando riscos para nosso povo e nossa natureza.

Após o governo japonês descobrir a falsificação, a carga ficou retida no Japão. Em 26 de abril deste ano, os navios partiram da Inglaterra rumo ao Japão para buscá-la.

A arrogância e a irresponsabilidade da indústria nuclear ao realizar essa sinistra viagem é inaceitável, principalmente após o trágico atentado de 11 de setembro, em Nova York, que demonstrou o caráter destrutivo e inconseqüente a que extremistas podem chegar. Por isso, o Greenpeace pediu não só às autoridades, mas também à sociedade civil, que se mobilizassem a fim de impedir mais esse desatino da indústria nuclear. O Greenpeace contou com a aparição de todos nas várias cyberações elaboradas exclusivamente para este caso.
 
 

JAPÃO E INGLATERRA: UMA AMEAÇA À SEGURANÇA GLOBAL...
O Greenpeace realizou, no dia 19 de junho, um protesto em frente ao Consulado japonês em São Paulo. A manifestação, em clima de Copa do mundo, consistiu em um jogo de futebol com jogadores vestidos com as bandeiras do Japão e da Inglaterra, uma bola com o símbolo do perigo nuclear e um juiz vestido de morte. O protesto bem-humorado reuniu cerca de 15 ativistas e terminou com a entrega de um cartão vermelho e uma carta ao Cônsul do Japão, Sr. Kyotaka Akasaka, pedindo que o governo japonês suspendesse o transporte de plutônio.

AS FLOTILHAS...
O navio do Greenpeace Artic Sunrise se preparou para capitanear flotilhas de protesto contra o transporte nuclear, seja qual for a rota adotada pelos navios. Caso eles sigam pelo Mar do Pacífico e da Tasmânia, o carregamento deverá passar pela zona de protesto. Pelo menos oito barcos deverão estar se preparando na Austrália, Vanuatu e Nova Zelândia para formar uma corrente simbólica de protesto nas águas internacionais do mar do Pacifico e da Tasmânia.

Já se os navios seguirem pelo cabo Horn, os cinco barcos que compõem esta flotilha enfrentarão bravamente o inverno de Horn para enviar suas mensagens de protesto. E seja qual for a rota escolhida para chegar ao Reino Unido, o carregamento terá de passar pelo Mar da Irlanda, onde será recebido por uma grande flotilha irlandesa.

“O movimento de flotilhas cresceu em apenas um ano”, disse Bernard Kuczera, da flotilha do Pacífico. “Marinheiros ao redor de todo o mundo estão se unindo aos estados costeiros que já estão protestando contra esses carregamentos absolutamente desnecessários e perigosos”, completou.

O QUE VOCÊ PODE FAZER...
Acompanhe no site do Greenpeace os últimos acontecimentos da campanha. Envie seu protesto aos governos do Japão e da Inglaterra pedindo que o comércio de plutônio seja definitivamente interrompido.
Plutônio na minha praia, não!!!!!!!!!

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Transporte de plutônio chega ao fim

A viagem dos dois navios carregados de óxido de plutônio (MOX), o Pacific Pintail e o Pacific Teal, finalmente chegou ao fim. As duas embarcações partiram do Japão, com destino à Inglaterra, no dia 04 de julho e seguiram a rota Pacífico – África do Sul, apesar dos inúmeros protestos. Esse vergonhoso carregamento não será facilmente esquecido pela BNFL e seus clientes japoneses: toda a trajetória dos navios foi acompanhada e testemunhada por todo o mundo, através dos protestos realizados. Esse é o trabalho do Greenpeace: fazer a diferença de maneira global, apontar quem são os criminosos ambientais e criar condições para que os governos discutam medidas para um fim nesses perigosos transportes pelas águas do planeta.

AUSTRÁLIA...
No dia seguinte à partida dos navios da British Nuclear Fuels Ltd. (BNFL), ativistas protestaram na embaixada japonesa na Austrália, pedindo o fim dos carregamentos de plutônio.

MAR DA TASMÂNIA...
Ainda em julho, a Flotilha Anti-Nuclear e o Greenpeace protestaram em alto mar. Dois ativistas lançaram-se ao mar e tornaram público o descontentamento e a insegurança de milhares de pessoas.

CIDADE DO CABO...
Em agosto, as embarcações da BNFL novamente tentaram fugir dos protestos. Os ativistas a bordo do barco do Greenpeace, Esperanza, localizaram o Pintail e o Teal bem distante de sua rota original. Mas a mudança de rota não conseguiu calar a indignação do mundo quanto a esse transporte.

MAR DA IRLANDA...
A viagem terminou com dois dias seguidos de protesto em setembro: mais de 10 barcos, incluindo o Rainbow Warrior, do Greenpeace, compuseram a Flotilha Anti-Nuclear, e formaram uma corrente simbólica para protestar contra esse perigoso e desnecessário transporte.

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Acidente: vazamento radioativo fecha reator nuclear no Japão

O Japão anunciou que conseguiu melhorar a segurança em suas usinas nucleares no ano passado, mas no mesmo dia teve de fechar um reator por causa do vazamento de vapor radioativo. O relatório diz que foram 14 acidentes em 2001, 16 a menos que no ano anterior. O documento fala pouco sobre o temor, surgido depois de 11 de setembro, de atentados contra usinas nucleares, e não menciona os possíveis efeitos da desregulamentação da indústria sobre a segurança.

O reator estatal de Fugen, com capacidade para 165 megawatts, foi fechado durante a manhã, apenas um dia depois de ser reaberto - ele ficou 11 meses desativado por causa de um vazamento de trítio, que não chegou a atingir o meio ambiente.

Um porta-voz da usina disse que desta vez o vapor também não chegou a sair das instalações, e por isso não há risco para a população. Ainda não se sabe quando o reator voltará a funcionar.

O relatório divulgado na terça-feira se concentra no uso do combustível nuclear MOX, uma mistura de plutônio e urânio reciclados. Por causa da oposição pública a esse projeto, o país não conseguiu cumprir o cronograma para começar a usar o MOX.
O Japão opera 52 reatores nucleares comerciais, que fornecem cerca de um terço da energia do país. Menos de 30 por cento do mercado japonês está aberto à competição, mas o governo pode decidir neste ano aumentar a desregulamentação.

Mas muitos especialistas acham que a energia nuclear não será competitiva nesse novo cenário, devido ao alto custo de construção das usinas e dos problemas para tratar seus resíduos radioativos. "Não se pode evitar o gasto de dinheiro se você quer assegurar a operação segura (das usinas nucleares)", disse Takamitsu Sawa, do Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de Kyoto.

O governo disse que não mencionou a questão em seu relatório porque ainda não começou a estudá-la. Os japoneses se tornaram mais conscientes do problema após um acidente nuclear que matou duas pessoas em 1999, depois que os funcionários de uma usina colocaram oito vezes mais urânio do que o recomendado num contêiner, provocando uma reação em cadeia que levou 20 horas para ser controlada.

Apesar disso, o Japão quer manter suas usinas nucleares em funcionamento para reduzir a emissão dos gases do efeito estufa (resultantes, por exemplo, de usinas termelétricas), como previsto num acordo internacional firmado em Kyoto.

Relatório aponta falha em usina nuclear brasileira

Falhas no sistema de segurança da Usina Nuclear Angra I (litoral sul do Rio) causaram 11 interrupções no funcionamento do reator em menos de uma noa.

Índices internacionais de segurança de reatores consideram aceitável uma interrupção por trimestre.
A denúncia consta de relatório feito pelo físico Luiz Pinguelli Rosa, 57, vice-diretor da Coppe/UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O documento foi encaminhando ao procurador-geral da República no Rio, Daniel Sarmento.

Segundo Pinguelli, o que mais o preocupa é o número de panes ocorridas no reator nuclear nos primeiros três meses do ano – o levantamento engloba o funcionamento da usina de junho de 98 a março deste ano.

O relatório diz que as principais causas das panes são a falta de manutenção do sistema – os componentes já gastos não estariam sendo substituídos – e o que Pinguelli definiu como “evento externo”, ou seja, falhas no abastecimento de energia elétrica. Cada um desses fatores corresponde a 36% das panes.

Pinguelli afirma que um dos problemas relacionados à suposta falta de manutenção é a corrosão na tubulação dos geradores de vapor. Segundo ele, 9% da tubulação já teria sido afetada. A corrosão, de acordo com o físico, acarreta perda de potência.
 
 
“Nesse caso, o índice tolerável é de 15%. A partir daí, o reator não pode mais funcionar.” Segundo Pinguelli, o mesmo problema ocorreu em reatores idênticos utilizados na Suécia, Espanha e na ex-Iugoslávia – mas os equipamentos foram substituídos, disse o físico.

Outros problemas apontados pelo relatório são a redução no número de funcionários qualificados nos quadros da Eletronuclear (operadora da usina) e a intranqüilidade dos empregados depois da cisão da antiga operadora (Furnas Centrais Elétricas).

O físico defendeu a interrupção das atividades de Angra I para apuração dos fatos expostos no relatório. Segundo Pinguelli, o relatório foi elaborado a partir de dados fornecidos a ele por técnicos e professores universitários da área de energia nuclear.

O físico afirma que as informações constam também de relatório de rotina que a Eletronuclear (empresa que opera a usina) enviou CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), órgão fiscalizador no Brasil, e à WANO (Associação Mundial de Operação Nuclear), entidade que controla o funcionamento dos geradores nucleares no mundo.

O diretor de relações institucionais da Eletronuclear, Luís Soares, afirmou que as informações do relatório estão em uma carta que a empresa enviou à CNEN em abril, sugerindo melhorias no desempenho de Angra I. Ele disse que os dados apresentados no relatório “não são alarmantes”

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Há 438 unidades em operação no mundo

Renunciar à energia nuclear parece inaceitável para alguns países, principalmente os da Ásia. Enquanto o mundo prega a desativação das unidades existentes, estes países reforçam seus parques geradores com a instalação de novos reatores. De acordo com dados da Agência Internacional de Energia Atômica, até 2000 existiam 31 usinas em construção, sendo 15 pertencentes à China, Japão e Coréia do Sul. Em operação, são 438 unidades espalhadas pelo mundo, que correspondem a 17% do total da energia gerada.

Para o pesquisador do instituto de Estudos Avançados no Centro Técnico Aeroespacial de São José dos Campos, Yuji Ishiguro, autor do livro a Energia Nuclear para o Brasil, é praticamente impossível eliminar a energia nuclear da matriz energética mundial. E mais, será necessário aumentar a sua utilização – por conta das pressões para redução dos gases causadores do efeito estufa -, inclusive no Brasil.

Ele explica que, embora o País seja rico em recursos hídricos, as ;áreas ainda inexploradas estão localizadas, principalmente, na Amazônia. Construir uma usina hidrelétrica nestes locais seria desgastante, pois os ambientalistas não aceitariam uma possível devastação da floresta.” O coordenador da Coppe, Maurício Tolmasquim, entende as dificuldades para explorar áreas como essas, mas argumenta que o País possui muitas outras opções, como o bagaço de cana-de-açúcar, por exemplo.

Mas, embora seja uma energia limpa, não-poluente, convencer a população de que as usinas nucleares são seguras não é uma tarefa fácil, principalmente após os terríveis acidentes que abalaram o mundo no passado. O problema está na radiação do combustível usado, no caso o urânio, que dá origem ao perigoso plutônio, altamente radioativo. Além disso, existem outros materiais, como objetos usados no processo de manutenção, que são retirados das usinas como rejeitos radioativos.

Daí nasce outro problema, que pesquisadores ainda não conseguiram solucionar: onde armazenar o lixo atômico? Em seu livro, Ishiguro explica que este é o único problema da energia nuclear, que, por sinal, é suficiente para manter a rejeição de boa parte da população. Atualmente, os rejeitos são armazenados em repositórios em formação geológica estável.

Esse foi um dos principais motivos que ajudaram a convencer alguns países a desativarem suas unidades nucleares. Entre eles, estão Suécia, Alemanha, Áustria e Itália. Algumas, no entanto, já começam a voltar atrás, segundo Carlos Coutinho, diretor-executivo da Abdan. A Suécia fechou uma usina e adiou a Segunda; na Itália, o novo governo vai rever a decisão anterior; e a Alemanha somente vai desativar dentro de aproximadamente 30 anos, quando a vida útil entre 40 e 60 anos – das usinas já estiver chegando ao fim.

Segundo Coutinho, como País não possui reservas suficientes de combustível fóssil, como o carvão limpo e gás natural, deveria haver um melhor aproveitamento das reservas nacionais de urânio – a 6ª do mundo. “Nosso parque hidrelétrico precisa ser complementado por usinas térmicas, mas é preciso reconhecer a utilização da energia nuclear como fonte geradora de eletricidade, já que é a única que não afeta a camada de ozônio.
Por Renée Pereira

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Chernobyl é o acidente mais conhecido

Não é por acaso que existem tantas polêmicas envolvendo a energia nuclear. O mundo ainda guarda na memória as tristes cenas dos acidentes envolvendo usinas atômicas, que deixaram marcas irreversíveis. O pior desastre da história foi o da usina de Chernobyl, a 130 quilômetros de Kiev, capital da Ucrânia, então União Soviética, que se tornou símbolo dos perigos da energia atômica.

Por volta de 1h30, do dia 26 de abril de 1986, um dos quatro reatores da central nuclear explodiu, causando grande incêndio. O acidente contaminou seriamente uma área de 150 mil quilômetros quadrados em torno da usina e cerca de 7 milhões de pessoas. Calcula-se que morreram 22 mil pessoas e mais de 100 mil sofreram danos permanentes. Inicialmente, a nuvem radioativa liberada pelo acidente atingiu o norte da Europa, como Polônia, Finlândia, Suécia e Noruega. E, em menos de uma semana, chegou à Áustria, Suíça e Alemanha.

O acidente ocorreu durante uma operação de manutenção, quando explodiu um dos quatro reatores nucleares. Em vez de apagar o reator com a inclusão de barras inertes de grafite entre os elementos de urânio-235 (enriquecido pelo menos 60%, num total de 135 toneladas de combustível nuclear, uma manobra equivocada dos técnicos da usina provocou o reaquecimento do núcleo ativo do reator, a transformação da água de esfriamento em vapor e a conseqüentemente explosão.

De acordo com especialistas, esse foi o maior acidente da “era nuclear” – que teve início em 1940 com reator experimental de Enrico Fermi na Universidade de Chicago – e ameaçou levar ao abandono do uso de energia nuclear para geração de eletricidade.
Nos Estados Unidos, o maior acidente nuclear foi o de Three Mile Island, na Pensilvânia, em março de 1979. O desastre ocorreu por causa de uma válvula emperrada, que impediu a refrigeração de um reator.

Durante mais de três semanas técnicos tentaram furar uma bolha de hidrogênio que se formou no núcleo, ameaçando derretê-lo. O problema somente foi solucionado praticamente um mês depois, em 21 de abril.
 
 
Ninguém morreu. Outro acidente apontado por alguns especialistas como um dos piores foi o do complexo industrial de Kyshtyn, na então União Soviética, em setembro de 1957, quando houve uma explosão de um tonel de rejeitos de plutônio. O acidente liberou uma quantidade maior de estrôncio-90, substância radioativa de longa duração.

Por Renée Pereira

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Fonte: Geografia do Brasil – Dinâmica e Contrastes/Sociedade e Espaço – Geografia Geral *
Biblioteca Educação é Cultura – Energia Nuclear**
Revista Néz Adventure***
Reuters****
Estado de São Paulo*****
Diário de Bordo Greenpeace ******
Folha de São Paulo*******
Pick-upau – 2003 – São Paulo – Brasil

 
 
 
 

 

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