PALMITO JUÇARA
HISTÓRICO
O palmito proveniente
da palmeira Euterpe edulis Martius (palmiteiro), também
conhecido por ençarova, juçara ou içara,
é um dos mais importantes produtos não
madeiráveis explorados na Floresta Atlântica.
O produto era originalmente utilizado pelos indígenas
residentes na área de Domínio da Floresta
tropical Atlântica. Este produto esteve inclusive
entre os primeiros oferecidos pelos indígenas
aos colonizadores portugueses.
A utilização comercial, contudo, teve
início de forma intensa neste século.
Até a década de 30 e 40 apenas como
produto comercializado em feiras, de forma esporádica
na maioria das cidades e de forma mais intensa nos
maiores mercados consumidores (capitais e grandes
cidades do Sul e Sudeste), conforme relato de consumidores
e cortadores de palmito da região Norte de
Santa Catarina e do Vale do Ribeira/SP.
A partir da década de 40, várias industrias
de conserva se implantaram em Santa Catarina (Litoral
Norte e Vale do Rio Itajaí), no Litoral do
Paraná e no Vale do Ribeira em São Paulo.
Estas empresas alteraram o processo de produção,
funcionando como pólos centralizadores da matéria
prima, estimulando o corte do palmiteiro e intensificando
a comercialização do produto.
Originalmente o palmiteiro era extraído num
processo com retorno a cada área a médio
ou longo prazo. Mas a pressão da produção
industrial de palmito introduziu a extração
intensiva e em larga escala já na década
de trinta. A abundância de palmiteiros na região,
a forte demanda pelo produto, e a facilidade inicial
da exploração e processamento ofereceram
suporte para a rápida proliferação
de fábricas de palmito em conserva. Esse tipo
de exploração teve lugar principalmente
nas grandes propriedades, onde as empresas de produção
de conserva compravam o estoque de palmiteiros existente.
A falta de vínculo com a produção
futura destas florestas trazido por este tipo de exploração
levou à devastação das populações
naturais de palmiteiro, enquanto investimentos em
sua regeneração raramente eram cogitados.
Embora Euterpe edulis seja uma espécie agressiva,
sucessivas extrações na mesma área
eliminaram gradativamente o seu potencial de regeneração
natural, limitando a continuidade da viabilidade econômica
da exploração.
Segundo relato de cortadores de palmito do Vale o
Ribeira este processo praticamente desviou o esforço
da atividade agrícola de subsistência
na região para o processo mais simples e rentável
do corte do palmito. Em Santa Catarina e no Rio Grande
do Sul a estrutura fundiária distinta, tipicamente
de pequenas propriedades rurais implicou em processo
distinto. O estímulo a comercialização
do palmito fez com que a maioria dos pequenos produtores
vendessem as suas reservas (5 a 50 ha) para as empresas.
Criando a princípio uma opção
adicional de obtenção de renda para
estes agricultores.
As empresas por sua vez iam explorando as áreas
com cobertura florestal de forma cíclica, contando
com a regeneração natural intensa da
espécie, em um raio de ação cada
vez maior, função da forte demanda de
mercado. Ao longo da década de 70 a exploração
se tornou tão intensa (com corte das matrizes
e das plantas jovens) que a regeneração
da espécie não mais atendia a necessidade
de matéria prima das empresas, fazendo com
que várias delas quebrassem ou se transferissem
para a região Norte (especialmente na região
do Baixo Amazonas, próximo a Belém,
no Estado do Pará) para explorar o açaí
(Euterpe oleracea Martius).
A lição da Floresta Atlântica,
porém, não foi aprendida e o método
de exploração em nada mudou. O açaí,
uma espécie cespitosa com grande capacidade
de rebrote, poderia ser facilmente manejado sustentavelmente
em condições naturais. Entretanto, novamente
a escolha pelo lucro imediato está dizimando
suas populações.
Na Floresta Atlântica, o alarmante declínio
do palmiteiro motivou a criação, nos
anos setenta, de um programa de incentivo para o enriquecimento
de florestas através de mudas e sementes. O
programa beneficiou os proprietários de grandes
extensões de florestas, o que pode ser constatado
pelos requerimentos de concessão de licença
para exploração ainda vigentes no IBAMA,
principalmente no Paraná. Quanto do dinheiro
emprestado pelo programa foi realmente investido no
plantio de palmito é praticamente impossível
levantar, mas é repetidamente comentado que
só uma pequena parte do total foi utilizado
para o devido fim. A grande dificuldade dos responsáveis
pelas fiscalização (fiscais do extinto
IBDF, atualmente IBAMA) estava em diferenciar áreas
que foram enriquecidas das que tinham apenas regeneração
natural, principalmente nos locais em que esta era
abundante, remanescente das palmeiras adultas antes
existentes na área. Quanto ao retorno econômico
do projeto, a relação custo/benefício
estimada em 0.15 não deixa dúvidas sobre
o seu fracasso. Independentemente desses aspectos,
os proprietários que obtiveram recursos do
programa de incentivo adquiriram o direito de explorar
as respectivas florestas para a produção
de palmito, direito esse que vale até hoje.
Esses proprietários foram novamente beneficiados
com esse direito, pois têm que apresentar apenas
um projeto simplificado de exploração
para ter a licença para extrair o palmito.
Esta super-exploração do palmiteiro,
denunciada desde muito cedo, comprometeu a sua regeneração
natural a ponto de eliminar a espécie em vastas
áreas do Domínio da Mata Atlântica.
Obviamente, várias áreas onde a agricultura
intensiva já havia se estabelecido e, portanto,
a floresta estava suprimida desde o século
passado ou início deste (principalmente nas
formações deciduais ou semidecíduas
nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná
e Santa Catarina) já não mais haviam
populações naturais da espécie,
mesmo antes do início da exploração
intensiva. Assim, também, e principalmente
antes das décadas de 30 e 40, a expansão
da fronteira agrícola na área de Domínio
da Mata Atlântica - com conseqüente desmatamento
- foi responsável pela redução
das populações naturais da espécie.
A grande demanda pela matéria prima, bem como
a redução de disponibilidade da mesma,
decorrente da intensidade predatória de exploração
intensificou um processo já iniciado na década
de 60 de exploração em terras alheias
de forma clandestina. De uma maneira geral assumiram
esse papel os homens e meninos (a partir dos 10 anos)
nas comunidades de baixa renda em toda área
de ocorrência da espécie.
No Rio Grande do Sul; e Santa Catarina, os agricultores
(proprietárias de minifúndio) passaram
a preservar pequenas áreas (1 a 10 ha) com
cobertura florestal e alta densidade de palmiteiros,
como uma reserva financeira, em decorrência
do preço compensador e da facilidade e rapidez
de comercialização. Mais do que um bom
estoque de palmiteiros era também uma espécie
de poupança que o produtor tinha, podendo ser
liquidada a qualquer momento para prover o dinheiro
necessário em situações de emergência.
Para esse objetivo, o palmito era perfeito, já
que não existe época para a sua colheita,
estando o produto sempre disponível, além
da sua liquidez ser imediata. Esta prática,
apesar de ilegal atualmente, continua e ação.
O palmiteiro sempre teve também fortes laços
culturais com os produtores rurais da região
Sul. Em festividades no interior de Santa Catarina,
plantas jovens inteiras de palmiteiro eram usadas,
até pouco tempo, para ornamentar ruas e palcos.
O sucesso de festas familiares, como casamentos e
aniversários, não raro era comentado
não pela elegância dos presentes, mas
pela quantidade e qualidade do palmito oferecido aos
convidados. O tronco e as folhas dessa palmeira também
eram muito utilizados em construções
rústicas. Os colonizadores alemães de
Santa Catarina, por exemplo, utilizaram plantas de
palmiteiro para construir suas primeiras casas.
Embora a possibilidade do seu manejo sustentável
da espécie seja evidente, o corte de todos
os indivíduos das populações
nativas de palmiteiro, incluindo as plantas que produzem
sementes, ainda é a prática mais comum.
Com a redução alarmante da área
com cobertura florestal no âmbito do Domínio
da Mata Atlântica, a necessidade de restrições
legais e do desenvolvimento de tecnologias racionais
e mais eficientes de exploração se intensificou.
Os estudos realizados pelo Instituto Agronômico
de Campinas e Instituto Florestal de São Paulo
desde a década de 70 e os estudos do Núcleo
de Pesquisas em Florestas Tropicais da Universidade
Federal de Santa Catarina, a partir da década
de 80, foram de grande importância para criação
de uma massa crítica que permitisse fundamentar
políticas, ações e legislações,
visando a obtenção mais racional do
produto.
Infelizmente, não só o palmiteiro continuou
sendo devastado na Floresta Atlântica, mas o
ecossistema como um todo continuou a dar lugar a outros
usos para a terra, como mencionado. Em 1990, as áreas
cobertas com remanescentes deste tipo florestal já
somavam menos de 10% da extensão original (Fundação
SOS Mata Atlântica e INPE 1993). Para conter
a destruição iminente do resto da floresta,
o governo federal assinou, em 1990, o Decreto 99.547
declarando uma moratória na exploração
da Floresta Atlântica. Com exceção
dos projetos de manejo autorizados e em andamento,
toda a produção de produtos florestais
deste ecossistema passaria a ser ilegal. Curiosamente,
o palmito, que deveria praticamente desaparecer do
mercado, continuou sendo oferecido sem o menor sinal
de queda de produção.
Com a nova Constituição Federal de 1988,
considerando a Mata Atlântica como Patrimônio
Nacional, iniciou-se a formulação de
legislações com objetivos mais conservacionistas.
Inicialmente totalmente restritivas (p. ex. Decreto
99.547/90 já mencionado) e depois permitindo
a possibilidade de conciliar produção
e conservação, como o DL 759/93. A partir
daí, os dados e experiências sobre o
palmiteiro, acumulados até então, trouxeram
subsídios para normatizar o manejo do palmiteiro.
Assim, a partir de 94 São Paulo e Paraná
normatizaram o manejo do palmiteiro, em 96 Santa Catarina,
em 98 o Rio Grande do Sul e, atualmente, o Rio de
Janeiro está estruturando uma proposta de normatização.
Ao contrario do que mencionam vários relatos
de donos de fábricas de palmito no questionário
do IBAMA/SP/96; a legislação restritiva
não levou o processo de exploração
do palmiteiro para a clandestinidade, apenas tornou
transparente um processo predatório que perdura
por décadas, e tem sido alertado em várias
situações. Além disso, trouxe
base legal para a proteção urgente,
e necessária para maioria da população,
do que resta da Mata Atlântica, cujos argumentos,
e relatos históricos sobre essa necessidade.
Entretanto, o manejo sustentável do palmiteiro
ainda encontra forte obstáculos. A produção
clandestina de palmito, que inclui a exploração
excessiva e o roubo, e o seu posterior processamento
e comercialização ilegais, impõem
fortes restrições à adoção
de práticas de manejo.
O combate à produção clandestina
de palmito, tem se mostrado ineficiente. A falta de
uma política para o uso dos recursos florestais,
agências ambientais mal aparelhadas e a busca
do lucro imediato por parte de indivíduos e
empresários inescrupulosos criaram um contexto
de produção difícil de ser revertido.
A prática da produção clandestina
também consolidou e permitiu o crescimento
da prática do roubo de palmito em propriedades
privadas e em áreas de domínio público
destinadas à preservação florestal.
O palmito é um produto de pouco valor nutritivo.
Portanto, o palmito roubado não tem como destino
a mesa de quem o rouba mas o mercado consumidor. Os
compradores de palmito roubado, portanto patrocinadores
da clandestinidade, são algumas empresas de
fabricação de conservas, restaurantes,
redes de supermercados, hotéis, etc.. Enquanto
houver quem compre o produto haverá palmito
produzido clandestinamente.
A produção de palmito, hoje, enfrenta
uma situação bastante complexa, que
não vai ser resolvida exclusivamente por via
legal. A produção clandestina e os entraves
da produção legal (discutidos adiante)
são obstáculos à adoção
de sistemas de manejo sustentável para a espécie.
Medidas criativas são necessárias para
promover o manejo do palmiteiro e realizar o seu alto
potencial econômico e ecológico.
Atualmente a exploração continua em
áreas relictuais, de forma clandestina e ilegal
na grande maioria das situações. No
entanto, apesar de predatória, a exploração
é a principal fonte de renda para várias
comunidades, especialmente na região do Vale
do Ribeira no Estado de São Paulo, litoral
Norte do Estado do Paraná e Região Nordeste
de Santa Catarina, garantindo o sustento de várias
famílias de baixa renda. Nestas regiões
se concentram também as industrias de processamento
de palmito, bem como a quase totalidade das 'fabriquetas'
clandestinas.
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ORIGEM
E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Área
Original
O palmiteiro (Euterpe edulis Martius) é
uma palmeira nativa (portanto originária)
do Domínio da Floresta Tropical Atlântica
do Brasil. Considerando as principais referências,
sua área de ocorrência se estende
desde o Sul da Bahia até o Norte do
Rio Grande do Sul no litoral, adentrando,
no Sul, até o Leste do Paraguai e Norte
da Argentina. |
|
|
|
Assim,
o palmiteiro apresenta sua distribuição
por quase toda a área de abrangência
do domínio da Floresta Tropical Atlântica,
assumindo originalmente elevados índices
de abundância e freqüência
no estrato médio das formações
Ombrófila Densa e na maior parte das
formações Estacional Decidual
e Estacional Semidecídua. Na formação
Ombrófila Mista tem sua ocorrência
restrita as áreas ciliares, não
ultrapassando altitudes entre 700 e 900 m.
Esta altitude também é limite
nas demais formações florestais
do Domínio da Mata Atlântica
. Observações adicionais indicam
a ocorrência da espécie nas áreas
de veredas do Cerrado |
Disponibilidade
Atual do Recurso
A disponibilidade atual do recurso está restrita
a formação Ombrófila Densa, especialmente
nas encostas da Serra do Mar em reservas (áreas
privadas ou Unidades de Conservação
públicas e privadas) em regiões de mais
difícil acesso.
A espécie é explorada comercialmente,
com significado econômico, legal ou clandestinamente,
nos seguintes Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Rio
de Janeiro e Espírito Santo. Contudo, a maior
parte da atividade está concentrada nos Estados
de São Paulo (especialmente no Vale do Ribeira),
Santa Catarina (especialmente na Região do
Vale do Itajaí e Litoral Norte do Estado) e
Paraná (Litoral Norte), regiões onde
se concentram as reservas expressivas existentes.
No Estado de São Paulo as reservas se localizam
principalmente em grandes propriedades e nas Unidades
de Conservação existentes no Vale do
Ribeira. As principais áreas de reserva e fontes
de matéria prima estão na Fazenda Nova
Trieste (propriedade de 30.000 ha da Agroindustrial
Eldorado), Parque Estadual Intervales, Parque Estadual
Carlos Botelho, Parque Estadual de Jacupiranga, Parque
Estadual Turístico do Alto Ribeira, Parque
Estadual da Serra do Mar, Parque Estadual da Ilha
do Cardoso e APA Cananéia-Iguape-Peruíbe/Juréia.
No Paraná as maiores reservas e áreas
de exploração se concentram no litoral
Norte, na continuidade do Vale do Ribeira, formando
um continuo. Também se caracteriza por ser
uma região com grandes propriedades (mais de
500 ha) e Unidades de Conservação.
Em Santa Catarina as áreas de exploração
estão também concentradas no Litoral
Norte (região de Joinville) e Vale do Itajaí.
As reservas, contudo estão distribuídas
em grandes propriedades (na região de Joinville)
e um grande número de pequenas propriedades
rurais (menores que 50 ha, por toda o Vale do Itajaí
e também na região Litoral Norte), as
quais possuem pequenas áreas com população
densas de palmito remanescentes.
No Rio Grande do Sul, a região de Torres/Osório
e a região de Santa Cruz do Sul (Floresta Estacional
Decidual) possuem reservas. Nestas regiões
predominam pequenas propriedades rurais, com populações
remanescentes de palmiteiro.
No Estado do Rio de Janeiro as reservas se concentram
no Litoral Sul. Não sendo possível obter
informações sobre a estrutura fundiária
predominante nas áreas com remanescentes.
Em todas as situações mencionadas, as
populações remanesces estão localizadas
em áreas de relevo bastante acidentado, impróprias
para agricultura e, em geral, de difícil acesso.
Possivelmente estes sejam os principais motivos de
sua existência.
Nas demais formações florestais (Ombrófila
Mista, Estacional Decidual e Estacional Semidecídua)
a espécie se mostra mais rara, restringindo-se
a pequenos relíctos e Unidades de Conservação,
exceção feita a região de Santa
Cruz do Sul (RS) e em locais que não foram
possíveis de precisar no Mato Grosso. As duas
maiores reservas nas formações Estacionais
são o Parque Nacional do Iguaçu (maior
área contínua ainda com grande densidade
da espécie nestas formações florestais)
e Parque do Morro do Diabo (população
de palmiteiro já bastante alterada).
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ASPECTOS
ECOLÓGICOS DA ESPÉCIE
Descrição
botânica
Dentro do gênero Euterpe, cerca de 28 espécies
se distribuem ao longo das Antilhas e América
do Sul, notadamente nas regiões com florestas
tropicais. Muitas espécies do gênero
apresentam potencial para a produção
de palmito, mas destacam-se Euterpe edulis Martius
com distribuição preferencial ao longo
do litoral brasileiro, na Floresta Tropical Atlântica
e Euterpe oleracea Martius no baixo Rio Amazonas.
Euterpe edulis, é uma palmeira não estolonífera,
ou seja, apresenta estipe única. Suas folhas
são pinadas com cerca de 2 a 2,5 metros de
comprimento, e destacam-se com facilidade da planta.
Inflorescências com ráquis cerca de 70
cm de comprimento, com muitas ráquilas contendo
flores em tríade (uma flor feminina e duas
masculinas). As flores masculinas amadurecem antes
(protrandria) evitando a autofecundação
do indivíduo. Os frutos são globosos,
cerca de um centímetro de diâmetro e
um grama por unidade. Mesocarpo carnoso-fibroso, arroxeado.
Frutos uniseminados, com endosperma não ruminado.
Alguns agricultores (tanto de SC quanto de outros
estados) consideram a existência de um palmito
branco e de outro vermelho ou roxo, contudo, são
variações naturais da espécie.
Em uma mesma população de palmiteiros
aparecem alguns com a cabeça roxa e outros
com a cabeça verde (são variações
na pigmentação - antocianinas - nas
bainhas foliares).
Reprodução
e Interação com a Fauna
A reprodução da espécie e exclusivamente
por via sexual, através de sementes produzidas
por fecundação cruzada.
A espécie apresenta, inflorescências
em forma de panícula, com ráquilas que
apresentam dezenas de tríades florais, compostas
de duas flores masculinas e uma flor feminina. A abertura
das flores se dá com uma forte dicogamia protândrica
na inflorescência. Somente após o encerramento
da florada masculina é que se inicia a abertura
das flores femininas, implicando em garantia de fecundação
cruzada, exceto para os casos em que se desenvolvem
duas ou mais inflorescências por planta, evento
de freqüência reduzida dentro da Floresta
(6,4% das plantas, REIS et al.,1993), e ha coincidência
das floradas masculina e feminina entre as inflorescências,
conforme discutem os autores.
A espécie é preferencialmente alógama,
com uma taxa de cruzamento média de 0,99 (variando
entre 0,94 e 1,04 nas populações). A
inexistência de equilíbrio de endogamia
nas progênies indica a ocorrência de eventos
adicionais envolvidos no sistema reprodutivo. Os resultados
obtidos evidenciam a ocorrência de cruzamentos
não aleatórios, associados à
amplitude do período de florescimento e à
protandria acentuada existente na espécie.
A fenologia da espécie é caracterizada
por um período bastante amplo de floração:
5 meses em uma população de Euterpe
edulis em Floresta Semidecídua (Piracicaba/SP).
Entretanto, a floração não é
sincronizada entre todos os indivíduos, ocorrendo
uma tendência a um período inicial com
poucas plantas floridas, um aumento gradativo até
um máximo e, finalmente, uma redução.
Além disso, os resultados indicam variação
entre anos em relação à quantidade
de indivíduos que se reproduzem anualmente
(Tabela 1).
Tomando por referência o número de indivíduos
que produziram inflorescência (113), a tendência
a uma distribuição normal na população
para o período de florescimento como um todo,
distribuído em 5 meses, e considerando a acentuada
protandria da espécie, com tempo de antese
e receptividade das flores femininas em uma inflorescência
entre 12 e 15 dias não coincidentes, o número
máximo de indivíduos coincidentemente
floridos seria de aproximadamente 26 por hectare;
ficando entre 10 e 15 indivíduos por hectare
na maior parte do tempo; e chegando a 4 indivíduos
por hectare na primeira e última quinzenas.
Tabela 1. Características
reprodutivas de uma população de Euterpe
edulis, no município de Blumenau (SC) em dois
anos de acompanhamento.
Indivíduos
/ órgãos por hectare |
1992 |
1993 |
média |
Plantas Adultas |
117 |
136 |
127 |
Plantas com Inflorescências |
115 |
111 |
113 |
Número de Inflorescências |
189 |
211 |
200 |
Plantas com Infrutescências |
56 |
96 |
76 |
Número de Infrutescências |
69 |
160 |
115 |
Número de Frutos |
228.594 |
531.235 |
379.914 |
Estes aspectos, aliados
às características de microambiente
(relevo, vegetação, etc), favorecem
a possibilidade de ocorrência de cruzamentos
não aleatórios entre os indivíduos,
pois nem todos estarão na mesma fase fenológica
ou terão possibilidade de serem visitados pelos
polinizadores ao mesmo tempo.
Além disso, os resultados obtidos indicam ser
o palmiteiro uma espécie com estratégia
de formação de banco de plântulas,
apresentando em média 12.000 plântulas
(altura da inserção inferior a 10 cm.)
por hectare .
A regeneração natural da espécie
é abundante, contudo o crescimento nesta fase
inicial é lento, refletindo valores reduzidos
de recrutamento (menores que 1%), mas compatíveis
com a estrutura populacional da espécies, em
cinco anos de acompanhamento tanto em formações
primárias como em formações secundárias
(dados não publicados).
A abundante produção de frutos e o amplo
período de fornecimento destes apresentam especial
relevância na manutenção da fauna,
pois grande diversidade de animais, como aves e mamíferos
de médio e grande porte, utilizam estes frutos
na sua dieta básica. Por sua vez, a fauna é
responsável pela dispersão dos frutos,
implicando numa contribuição imprescindível
para a manutenção da dinâmica
demográfica e do fluxo gênico da espécie.
Tal aspecto apresenta especial relevância na
retomada da dinâmica de formações
secundárias, pois a atração de
vetores de dispersão de sementes (fauna) implicará
na vinda de novas sementes, aumentando a diversidade
nestas áreas e dando continuidade ao processo
de sucessão.
Além disso, o pólen produzido em abundância,
os exsudados e as próprias partes da inflorescência
são recursos alimentares procurados por grande
diversidade de insetos, que visitam intensamente as
inflorescências de Euterpe edulis durante o
seu amplo período de florescimento.
Desta forma a espécie apresenta, além
de valor econômico e importância social,
um grande valor ecológico, se aproximando do
conceito de "keystone".
A adequação ao conceito de 'keystone'
foi recentemente questionada, os estudos indicam que
uma ampla oferta de outros recursos na floresta durante
o período de frutificação do
palmiteiro. No entanto a importância da espécie
como recursos alimentar e sua forte interação
com a fauna são confirmadas.
Crescimento
Estimativas de crescimento da espécie
tem sido realizadas em populações
naturais ou a partir de indivíduos
plantados a partir de mudas.
Os resultados obtidos empregando modelos polinomiais
quadráticos, sem constante, em indivíduos
de populações acompanhadas por
4 anos (1985 a 1988), em formações
primárias em Blumenau (SC), indicaram
um incremento corrente anual médio
de 0,55 cm com um DAP médio de 8,8
cm no máximo incremento médio.
O acompanhamento de 626 indivíduos
por um ano (1988 a 1989) mostrou resultados
similares (incremento corrente anual máximo
de 0,46 cm, com um DAP correspondente de 9,1
cm), também trabalhou com plantas de
palmiteiro de populações |
Pequenas mudas de palmeira
juçara. |
naturais
em formações primárias,
no Vale do Ribeira (SP), obtiveram um incremento
corrente anual máximo de 0,40 cm com
um DAP correspondente de 7,0 cm. Estes resultados,
juntamente com outras informações,
subsidiaram a legislação atual
sobre exploração sustentada
de palmito em São Paulo e em Santa
Catarina (Resolução SMA/SP de
16/05/93 e Portaria Interinstitucional n 1
- IBAMA /SEDUMA-SC /FATMA, de 04/06/96, respectivamente).
A maior concentração de indivíduos
nas classes iniciais com taxas de incremento
relativamente inferiores (Tabela 2) se justifica
pela maior competição existente
nesta condição, principalmente
por luz. O engrossamento da estipe tem na
luminosidade seu fator mais importante, pois
ocorre quando a altura da planta permite maior
interceptação da radiação
no estrato médio da floresta. |
Esta maior interceptação é
conseguida pelas plantas pertencentes às
classes de 7 a 9 cm, pois nesta fase já
ocupam o estrato da floresta que recebe luminosidade
compatível com a necessidade da espécie.
Dentro de uma comunidade florestal de desenvolvimento
secundário, em anos sucessivos existe
um incremento permanente da qual participam
todas as espécies. Em cada fase de
sucessão determinadas espécies,
em certo momento, atingem o máximo
de desenvolvimento vegetativo e, com isso,
contribuem com a maior parcela do incremento
da comunidade. Após este pico, seu
potencial de crescimento diminui e outras
espécies atingem seu máximo
potencial de desenvolvimento. Isto pode explicar
parcialmente a variação que
existe de um ano para outro com relação
ao incremento do palmiteiro, onde certas espécies
estariam influenciando de maneira positiva
ou negativa, contribuindo para os resultados
observados. Outro fator que estaria influenciando
no crescimento em área basal pode ser
devido ao clima, pois este pode variar de
maneira significativa de um ano para outro.
Um dos pontos fundamentais do sistema de manejo
em regime de rendimento sustentado para o
palmiteiro (ver item sobre manejo) é
a determinação da relação
funcional entre o DAP e o ICA (incremento
corrente anual) das plantas individualmente.
Esta relação funcional expressa
matematicamente o ICA de cada planta em função
do DAP.
Para identificar as relações
mais estreitas entre o DAP e as variáveis
ICA e AB, utilizamos a análise de regressão
testando-se o modelo polinomial quadrático
para obtenção das relações
funcionais em cada um dos anos avaliados.
Foram testadas equações para
incremento em DAP e AB, com e sem constante,
no sentido de verificar a melhor relação
funcional para expressar o crescimento da
espécie. Os dados de incremento em
DAP e incremento em área basal (AB)
por classe de diâmetro refletem a mesma
tendência de crescimento dos indivíduos
nas populações (Tabela 3). Mesmo
com a grande similaridade dos resultados,
vale ressaltar que as condições
geográficas e ecológicas dos
estudos mencionados eram bastantes distintas
(populações em formações
primárias no Vale do Itajaí
-SC e Vale do Ribeira - SP). |
Tabela 2 - Incremento
de Euterpe edulis em DAP e AB para as diferentes classes
de DAP nos anos de 1994 a 1996, para uma área
de formação secundária na Floresta
Tropical Atlântica, São Pedro de Alcântara,
SC.
Classe
DAP(cm) |
N°
total de
Indivíduos/ha |
N°
Indivíduos Reprodutivos/ha |
Incremento
em DAP(cm) |
Incremento
em AB(cm2) |
- |
1994 |
1995 |
1996 |
1994 |
1995 |
1996 |
1994 |
1995 |
1996 |
1994 |
1995 |
1996 |
2-3 |
0,6 |
4,0 |
5,3 |
0 |
0 |
0 |
0,210 |
0,068 |
0,162 |
1,008 |
0,295 |
0,720 |
3-4 |
66,6 |
70,0 |
84,6 |
0 |
0 |
0 |
0,065 |
0,155 |
0,116 |
0,403 |
0,830 |
0,250 |
4-5 |
75,3 |
68,0 |
76,0 |
0 |
0 |
0 |
0,176 |
0,233 |
0,008 |
1,342 |
1,779 |
0,001 |
5-6 |
50,6 |
51,3 |
50,0 |
0 |
0 |
0 |
0,241 |
0,448 |
0,108 |
2,189 |
4,245 |
1,031 |
6-7 |
42,6 |
42,0 |
49,3 |
0,6 |
0 |
0 |
0,298 |
0,511 |
0,250 |
3,174 |
5,542 |
2,842 |
7-8 |
42,0 |
40,0 |
34,0 |
3,3 |
2,6 |
0,6 |
0,352 |
0,593 |
0,294 |
4,475 |
7,744 |
3,565 |
8-9 |
34,0 |
38,6 |
44,6 |
6,0
|
4,0 |
4,0 |
0,352 |
0,394 |
0,349 |
4,884 |
5,554 |
4,782 |
9-10 |
28,0 |
30,6 |
38,0 |
9,3 |
8,0 |
6,6 |
0,373 |
0,445 |
0,249 |
5,754 |
6,966 |
2,576 |
10-11 |
38,6 |
40,6 |
42,6 |
19,3 |
22,0 |
18,6 |
0,228 |
0,284 |
0,165 |
3,938 |
4,901 |
2,800 |
11-12 |
38,6 |
41,3 |
46,6 |
30,0 |
28,6 |
30,0 |
0,195 |
0,195 |
0,107 |
3,584 |
3,715
|
0,490 |
12-13 |
36,0 |
40,0 |
48,0 |
30,0 |
32,0 |
37,3 |
0,024 |
0,061 |
0,040 |
0,505 |
1,255 |
0,829 |
13-14 |
13,3
|
14,6 |
20,0 |
12,0 |
13,3 |
16,0 |
0,023 |
0,152 |
0,006 |
0,507 |
3,254 |
0,227 |
14-15 |
7,3 |
7,3 |
9,3 |
6,6 |
6,6 |
9,3 |
0,010 |
0,145 |
0,057 |
0,242
|
3,367 |
1,326 |
Tabela 3 - Estimativa
do incremento corrente anual em DAP (cm) para Euterpe
edulis em diferentes situações.
Incremento
corrente anual - São Pedro de Alcântara
(SC) |
Anos
(N) |
DAP
(cm) |
N
+ 1 |
N
+ 2 |
N
+ 3 |
N+4 |
N+5 |
N+6 |
N+7 |
6,50 |
6,92 |
7,34 |
7,77 |
8,19 |
8,61 |
9,01 |
9,40 |
ICADAP= 0.121074DAP
- 0.008588DAP2 (R2 = 0,91) |
Incremento
corrente anual - Blumenau (SC) |
Anos
(N) |
DAP
(cm) |
N
+ 1 |
N
+ 2 |
N
+ 3 |
N+4 |
N+5 |
N+6 |
N+7 |
6,50 |
6,90 |
7,31 |
7,73 |
8,16 |
8,59 |
9,03 |
9,47 |
ICADAP=
0.098DAP - 0.0055DAP2 (R2 = 0,43) (REIS et
al., 1989) |
Incremento
corrente anual - Sete Barras (SP) |
Anos
(N) |
DAP
(cm) |
N
+ 1 |
N
+ 2 |
N
+ 3 |
N+4 |
N+5 |
N+6 |
N+7 |
6,50 |
6,90
|
7,30 |
7,70 |
8,09 |
8,47 |
8,84 |
9,20 |
DAP ano2=0.081751+ 1.09508 DAPano1-0.007195
DAPano12 (R2 = 0,99) (RIBEIRO et al., 1994) |
Aspectos Demográficos
e Fitossociológicos
A grande abundância do palmiteiro na floresta
decorre de ser esta a espécie de maior ocorrência
no extrato médio da Floresta Ombrófila
Densa. Em levantamentos, estudiosos observaram até
1000 indivíduos por hectare com altura superior
a 1,5 m, sendo sempre a espécie com maior freqüência
e abundância no estrato médio (sub-bosque).
Tais dados têm sido confirmados em estudos mais
recentes que apresentam dados relativos a demografia,
mesmo em formações secundárias
ou pequenos relíctos.
Caracteriza o palmiteiro como uma espécie esciófila,
ou seja, de sombra, ocorrendo contudo dentro de diferentes
associações vegetais que lhe proporcionam
sombreamento. Sua maior abundância encontra-se
quando associado a florestas que atingiram o seu clímax.
Sua ocorrência natural em áreas onde
já houve a exploração da madeira
ou mesmo em áreas abandonadas pela agricultura,
inicia quando se estabelecem as primeiras árvores
como o jacatirão (Miconia cinnamomifolia) ou
a caxeta (Psychotria longipes) ou a quaresmeira (Tibouchina
pulchra) ou mesmo as capororocas (Rapanea ferruginea)
e o araçá (Psidium cattleyanum).
Atualmente, após drástica redução
das populações naturais de palmiteiro,
esta espécie volta a representar um papel de
grande importância para a preservação
da floresta. Isto porque o palmiteiro representa um
dos principais suportes para a transformação
de áreas até então consideradas
improdutivas, em florestas altamente produtivas, uma
vez que o palmiteiro é uma das essências
florestais de ciclo relativamente curto (8-10 anos)
e capaz de produzir após um manejo adequado,
uma produção de cunho anual sem implicar
em muitos gastos com insumos.
Com relação à distribuição
demográfica, verificaram uma maior concentração
de plantas nas classes iniciais, com exceção
da classe 2-3 cm que reflete mais a regeneração
natural, diminuindo gradativamente quando se aproxima
das classes superiores. Os indivíduos reprodutivos
são encontrados com baixa freqüência
nas classes entre 6 a 10 cm e sua maior concentração
se dá entre as classes diamétricas de
11 a 13 cm, participando com a maior parcela da freqüência
geral de indivíduos encontrados nestas classes.
Desta forma, percebe-se que as plantas reprodutivas
já ultrapassaram o ponto de máximo crescimento
da espécie, tendo em vista que elas participam
significativamente com as taxas de incremento das
classes superiores.
Tabela 4. Estrutura
demográfica (freqüências de classes
de DAP) de populações de palmiteiro
avaliadas em diferentes locais
Populações
avaliadas / ano |
Classes
de DAP(cm) |
*Blumenau
(SC)/1988 |
**Sete
Barras
(SP)/1993 |
***Ibirama
(SC)/1997 |
2-4 |
85 |
93 |
60 |
4-6 |
169 |
130 |
181 |
6-8 |
144 |
73 |
87 |
8-10 |
86 |
72 |
59 |
10-12 |
53 |
86 |
62 |
12-14 |
43 |
51 |
63 |
14-16 |
41 |
10 |
58 |
16-18 |
13 |
01 |
26 |
19-20 |
04 |
00 |
08 |
20-22 |
00 |
00 |
02 |
Total |
560 |
514 |
609 |
*Fazenda Faxinal
**Parque Estadual Intervales (Saibadela)
***Floresta Nacional de Ibirama / IBAMA
Aspectos Edáficos
e Climáticos
A espécie ocorre em regiões com precipitação
média anual entre 1.000 mm a 2.200 mm, apresentando
melhor desenvolvimento com índices pluviométricos
superiores a 1.500 mm, distribuídos de maneira
uniforme. A espécie ocorre também em
regiões com estacionalidade (florestas estacionais),
tolerando uma estação seca de até
3 meses, com déficit hídrico leve, como
no sul da Bahia e sul de Mato Grosso do Sul.
A temperatura média anual varia entre 17ºC
a 26ºC, com temperatura média do mês
mais frio de 13ºC a 24ºC, tolerando regiões
com até 7 geadas anuais, e temperatura média
do mês mais quente de 20ºC a 27ºC
(CARVALHO, 1993).
Os tipos climáticos (Köppen) de ocorrência
são: Af, Am, Aw, Cfa, Cwa, Cwb.
Em relação ao solo, o palmiteiro ocorre
comumente em solo fértil, com textura arenosa
a argilosa, com drenagem boa a regular. Porém,
desenvolve-se bem em solo de baixa fertilidade Natural,
devendo-se evitar os solos secos. A ausência
de água e solo arenoso, são prejudiciais
ao desenvolvimento da espécie. Os solos encharcados
e os solos de argila pesada também, não
são recomendados para o seu desenvolvimento.
Genética
e Conservação
Aspectos genéticos de Euterpe edulis têm
sido estudados, principalmente, caracterizando a variabilidade
em fases iniciais de desenvolvimento de plântulas
em ensaios de procedência e progênie,
ou estabelecendo bases para programas de seleção
através da caracterização de
correlações entre plantas jovens e adultas.
As características de desenvolvimento de plantas
em progênies de três procedências
distintas do Estado de Santa Catarina, até
os seis anos. Os resultados revelaram herdabilidades
reduzidas em todas as situações analisadas.
Por sua vez, avaliaram as variações
no período germinativo de propágulos
de 25 matrizes, caracterizando comportamentos distintos
entre matrizes, com um período de germinação
superior a um ano, em alguns casos. Os resultados,
apesar de envolverem efeitos maternais, revelaram
uma estratégia adaptativa importante, pois
indicam a possibilidade de formação
de um banco efêmero de sementes, o que permite
a entrada gradual dos indivíduos, a cada geração,
no banco de plântulas.
Os ganhos esperados com seleção precoce,
a partir do acompanhamento de 177 indivíduos
por 10 anos. Os resultados indicaram que o número
de folhas e o diâmetro do caule são as
características de maior relação
com a produção e apresentam estimativas
expressivas de ganho por seleção a partir
do terceiro ano.
Outros trabalhos, procuram caracterizar as relações
entre diversas características das plantas
e o rendimento, visando seleção indireta
e/ou manejo e comercialização da espécie.
Tais trabalhos indicaram as maiores associações
entre o diâmetro das plantas, o número
de folhas e as variáveis relativas à
cabeça do palmito, com o rendimento.
Alguns trabalhos têm sido realizados no sentido
de adequar a espécie ou híbridos interespecíficos
(Euterpe oleraceae x Euterpe edulis) a plantios comerciais
em associação com outras espécies,
especialmente na sua fase inicial de desenvolvimento;
pois a espécie, em condições
naturais, se desenvolve no sub-bosque, portanto, à
sombra das demais, sendo, assim, tipicamente esciófila.
Contudo, os resultados indicam que o híbrido
apresenta variações para algumas características
de interesse, como o afolhamento. Por sua vez, os
plantios comerciais podem apresentar bons resultados,
mas não prescindem de uma cultura para produzir
um sombreamento inicial e necessitam de regeneração
artificial a cada ciclo de corte.
Empregando marcadores alozímicos, foi estudada
8 populações naturais da espécie
em São Paulo e Santa Cataria. Os resultados
indicaram uma reduzida divergência entre as
populações, o grande número de
alelos e a elevada heterozigosidade. Estes resultados
trazem implicações importantes para
o manejo e conservação das populações
naturais da espécie. Inicialmente sugerem,
como estratégia de conservação
in situ, a estruturação de poucas reservas,
mas relativamente grandes. A sugestão de reservas
grandes está especialmente relacionada à
possibilidade de manutenção da fauna
associada em decorrência dos aspectos mencionados
no parágrafo anterior; uma vez que a alta densidade
da espécie implica numa disponibilidade de
grande número de indivíduos em áreas
relativamente pequenas.
O papel ecológico da espécie e sua grande
abundância no estrato médio da Floresta
Tropical Atlântica colocam a mesma numa posição
estratégica para conservação
deste ecossistema. Tal aspecto tem sido discutido
sobre a importância da utilização
do palmiteiro como um possível referencial
de espécie comum, para a definição
de estratégias para conservação
e manejo de ecossistemas tropicais.
Em
reação à conservação
ex situ, os resultados indicam que as coletas
podem ser realizadas em poucos locais, em |
decorrência
da reduzida divergência observada; com
maior intensidade em cada local, devido a
alta diversidade existente na espécie.
Entretanto, o número de indivíduos
necessário pode ser obtido em áreas
relativamente pequenas, como discutido no
parágrafo anterior. A captura de alelos
mais raros (freqüência em torno
de 0,1%) pode ser feita com coletas de sementes
(progênies) em cerca de 160 indivíduos
(Ne * 500, tomando por base a amostragem realizada
neste trabalho), o que pode ser obtido numa
área de até três hectares.
Neste contexto, a região amostrada
em São Paulo (fazenda Intervales) pode
ser considerada como prioritária, pois
apresenta um maior número de alelos
e níveis de heterozigosidade similares
aos de Santa Catarina. Outro aspecto relevante
é a possibilidade melhoramento e/ou
produção de
|
Palmeira juçara
encontrada no Pico do Jaraguá |
sementes visando o enriquecimento de formações
secundárias, especialmente pela possibilidade
de retomada da dinâmica sucessional
nestas formações, em decorrência
da associação do palmiteiro
com a fauna. |
A realidade da Floresta
Tropical Atlântica, atualmente, é a formação
de fragmentos de diferentes tamanhos, em sua grande
maioria cobertos com formações secundárias
em fase inicial ou intermediária de sucessão.
Tal situação implica num valor de uso
extremamente reduzido para a maior parte das áreas
originalmente cobertas por essa formação
florestal, principalmente nas situações
de maior declividade, onde a vocação
de uso é a cobertura permanente. Assim, a reintrodução
do palmiteiro nestas áreas implica numa perspectiva
de valor econômico, a médio prazo, e
retomada ou aceleração da dinâmica
sucessional, pela atração da fauna decorrente
da produção de frutos do palmiteiro.
Assim, a produção de sementes, e estruturação
de programas de melhoramento, para enriquecimento
possui perspectivas econômicas e conservacionistas
expressivas.
Entretanto, a qualidade genética das sementes
é um fator definitivo no processo, pois, conforme
discutido anteriormente, o dinamismo populacional
e a capacidade de adaptação aos microambientes
da floresta estão relacionados à manutenção
dos níveis elevados de heterozigosidade da
espécie. Dessa forma, a estruturação
de uma área de coleta de sementes ou de programas
de melhoramento devem contemplar, prioritariamente,
este aspecto. Iniciativas como a da Fundação
Florestal (SMA-SP), contemplando estes aspectos na
estruturação de uma área de coleta
de sementes na Fazenda Intervales, apresenta grande
relevância e podem ser reeditadas nas reservas
ou nas áreas de entorno da maior parte das
reservas existentes na Floresta Tropical Atlântica.
O fluxo gênico estimado foi coerente com a estrutura
genética e os mecanismos de dispersão
de sementes e polinização descritos
para o palmiteiro. Os valores caracterizados (10,7
indivíduos por geração, em média)
permitiram a obtenção de estimativas
do tamanho de vizinhança para a espécie,
em torno de 67 indivíduos. Abordagens preliminares
indicam uma área de vizinhança entre
18.199 e 8.090 m². Tais resultados permitem recomendar
a manutenção de em média 60 indivíduos
reprodutivos por hectare para populações
naturais sob manejo, visando a manutenção
da estrutura genética e dinamismo demográfico.
Este resultado apresenta grande relevância para
o manejo sustentado da espécie, pois indicam
o número de indivíduos necessários,
em média, para manutenção da
estrutura genética da espécie.
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PRODUTOS
COMERCIALIZADOS E POTENCIAIS
O principal produto
comercializado é o palmito: meristema apical
e folhas jovens em fase de diferenciação
ou recém diferenciadas. O produto é
comercializado em toletes de 8 a 9 cm em vidros de
300 g (peso líquido) e latas de 400 ou 500
g, ou em pedaços maiores em potes com 1.200
g. Além disso, é comercializado o 'picadinho':
aproveitamento de toletes menores que 9 cm, picado
em pequenos fragmentos. Este último é
comercializado em vidros de 300 g, tendo como mercado
principal pastelarias, pizzarias e padarias.
Entre o corte da palmeira e o envazamento para posterior
comercialização do palmito em conserva,
o produto comercializado é a 'cabeça'
ou 'cabeça limpa' do palmito. A 'cabeça
limpa' consiste no palmito ainda envolto em um número
variável de bainhas foliares já diferenciadas,
portanto impróprias para o consumo (tem função
de proteção do palmito no transporte
e contra a sua oxidação). Assim, o rendimento
em palmito de uma planta só é conhecido
após o descascamento da 'cabeça limpa'
e corte dos toletes.
Neste sentido, torna-se de fundamental importância
o estabelecimento de relações funcionais
entre características fenotípicas não
destrutivas do palmiteiro com o seu rendimento industrial.
Tais parâmetros são imprescindíveis
para definir, no campo, o ponto de abate das plantas
de maneira simples e com alta correlação
com a produtividade. Dentre os parâmetros não
destrutivos, o DAP tem apresentado uma alta correlação
com o rendimento em creme do palmito.
Além disso, demostram uma relação
muito estreita entre o rendimento industrial e o diâmetro
central (região que se destaca um dia após
o abate da planta) da cabeça limpa, como é
comercializado o produto, possibilitando boas estimativas
de produção no momento da comercialização.
Este trabalho demonstra ainda que para plantas com
DAP superior a 9 cm praticamente não existem
toletes com diâmetro inferior a 2,5 cm, referencial
empregado para comercialização do palmito
em algumas regiões.
Outros produtos podem ainda ser obtidos e comercializados,
mas têm um significado praticamente desprezível
atualmente, ou potencial, quais sejam: patê
de palmito, folhas para artefatos de palha, uso medicinal
da seiva, caule para produção de ripas,
caibros e lenha, caule para produção
de celulose, e como planta ornamental.
Atualmente, outro produto, de comercio ainda incipiente,
tem se mostrado com grande potencial: suco do fruto.
O suco dos frutos do palmiteiro tem qualidades organolépticas
similares ao suco do açaí, e tem sido
empregado, de forma artesanal para sorvetes e refrescos
no Sul e Sudeste.
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EXPLORAÇÃO
Formas de obtenção
do produto
As possibilidades de utilização da espécie,
como fonte adicional de renda, para proprietários
rurais têm sido ressaltada em vários
trabalhos; evidenciando, assim, a necessidade de aprofundamento
no conhecimento da espécie, especialmente em
relação ao comportamento de suas populações
naturais, devido ao emprego do extrativismo como forma
principal, e quase exclusiva até o início
da década de 90, de exploração
da mesma.
Apesar do caráter predatório da exploração
contribuir para a degradação da Floresta
Tropical Atlântica, Euterpe edulis apresenta
um grande potencial para utilização
como modelo para manejo de suas populações
naturais de forma sustentável. Tal aspecto
se deve a sua grande abundância no sub-bosque
de toda área coberta pelo domínio da
Floresta Tropical Atlântica, grande capacidade
de regeneração natural em suas populações
naturais, fácil comercialização
e intensa interação com a fauna.
Exploração
predatória e o processo clandestino
Como mencionado no item Histórico a exploração
do palmiteiro em sua grande maioria é realizada
de forma predatória. Originalmente os agricultores
ou os cortadores de palmito retiravam as plantas de
maior porte (mais rentáveis) para um processo
de comercialização de pequena escala.
Posteriormente, esse processo aumentou de escala,
de forma que eram retirados grande quantidade de indivíduos,
mas todos de maior porte (plantas com aproximadamente
8 ou m de altura e 9 ou mais cm de DAP). Com o aumento
de demanda por matéria prima, decorrente da
forte demanda de mercado a partir da década
de 60) a intensidade de exploração aumentou,
sendo eliminados mesmos os indivíduos de pequeno
porte. Tal prática praticamente iniciou a inviabilização
da regeneração das áreas de exploração,
pois não ficavam nem matrizes nem indivíduos
jovens para a recomposição das populações,
tal aspecto já vinha sendo alertado.
A
facilidade de extração e comercialização
estão entre os principais responsáveis
pelo processo predatório. |
Coleta ilegal de palmito.
|
Segundo
depoimento de cortadores de palmito e empresários,
um homem é capaz de cortar e transportar
até um ponto de agrupamento em média
70 plantas por dia (podendo chegar a mais
de 200 em alguns casos), empregando apenas
um facão ou uma foice. Com a utilização
de mulas para transporte esse número
pode dobrar ou triplicar. Neste contexto,
faz-se necessário o estabelecimento
de alguns referenciais de produtividade para
uma análise mais apropriada das dimensões
do processo de exploração predatório
e clandestino.
Tomando-se por base os dados das Tabelas 2
e 4 é possível estabelecer um
referencial de número de indivíduos
com estipe maior que 1,3m por hectare, bem
como do número de indivíduos
com DAP superior a 9 cm (diâmetro limite
de corte proposto na legislação
para a maioria das situações)
para populações naturais de
Santa Catarina e para o Vale do Ribeira em
São Paulo: 556 ind./ha e 185 ind./
ha para Santa Catarina e 514 ind./ha e 113
ind./ ha para São Paulo (Tabela 5).
Além disso, empregando as relações
de estimativa do rendimento em palmito com
o DAP é possível, a partir das
distribuições diamétricas
(Tabelas 2 e 4), estabelecer o rendimento
esperado com o corte de todas as plantas (processo
predatório) ou apenas daquelas com
DAP maior do que 9 cm, como previsto na legislação:
195,4 kg/ha e 117,1 kg/ha para Santa Catarina
e 100,7 kg/ha e 55,7 kg/ha para São
Paulo (Tabela 5). Obviamente existem variações
entre locais, como refletem os próprios
dados da Tabela 5, mas estes valores formam
uma referência. |
Adicionalmente, a partir de observações
e relatos de cortadores de palmito, é
possível estabelecer um referencial
para populações de palmiteiros
já exploradas, mas em recuperação.
Nestas situações são
encontrados em torno de 100 a 200 plantas
com altura da estipe superior a 1,3 m e poucas
ou nenhuma planta com DAP superior a 9 cm.
Nestes casos o rendimento esperado com o corte
total das plantas fica em torno de 25 kg de
palmito por hectare. |
Tabela 5. Referencias
de produtividade de palmito para populações
naturais de palmiteiro de Santa Catarina e de São
Paulo.
Local |
Número
de
plantas/ha |
Número
de plantas
DAP > 9cm/ha |
Rendimento*
corte predatório Kg/ha |
Rendimento
sob Manejo Kg/ha |
São
Pedro Alc. (SC) |
500 |
195 |
145,2 |
86,3 |
Ibirama
(SC) |
609 |
202 |
239,6 |
147,7 |
Blumenau
(SC) |
560 |
157 |
201,3 |
117,4 |
Média
SC |
556 |
185 |
195,4 |
117,1 |
Sete
Barras (SP) |
514 |
113 |
100,8 |
55,7 |
Média
SC/ SP |
535 |
149 |
148,1 |
86,4 |
*Rendimento (g) =
4,194 DAP² - para Santa Catarina
Rendimento (g) = 27,249 - 19,015 DAP + 4,454 DAP²
- para São Paulo
Alguns dados já
disponíveis de pesquisas relativas a dimensão
do extrativismo predatório, ainda que algumas
dados possam ser contestados, este levantamento dá
uma idéia da importância da atividade.
Em amostragem em 11 municípios da região
do Vale do Ribeira-SP, aponta a existência de
585 fabriquetas ilegais de palmito, enquanto em todo
o estado de São Paulo, existem somente 31 fábricas
registradas no IBAMA. Estas fabriquetas produzem por
ano cerca de 410 toneladas de palmito em conserva,
o que representa uma área de corte de 4.071
ha de floresta primária e secundária
avançada com uma boa população
de palmiteiros (estimando em 100,7 kg/ ha a média
de rendimento para o Vale do Ribeira, Tabela 5) ou
uma área de até 16.000 ha de populações
menos densas (estimativas de aproximadamente 25 kg/ha
em populações regenerantes de palmiteiro,
a partir de depoimentos de cortadores de palmito de
comunidades quilombolas).
Para se ter uma idéia do que representam essas
estimativas, os dados do IBGE (1991 a 1995) mostram
que todo o estado de São Paulo produziu, entre
1991 e 1995, uma média de 93 toneladas de palmito
por ano, somente 25% do que teria sido produzido nos
onze municípios estudados. No caso de uma fábrica
localizada no Paraná, que anuncia em panfleto
publicitário o processamento de 1,44 milhão
de cabeças por ano (SPVS 1995), se ela realmente
processa em um ano o volume de palmito que diz processar,
que é praticamente equivalente a metade do
volume legalmente produzido nos estados de São
Paulo, Santa Catarina e Paraná entre 96 e 97.
Neste último caso, fica ainda uma questão
que reflete o tamanho da produção clandestina:
de onde vem o palmito para as outras dezenas de fábricas
registradas no IBAMA?
Os números resultantes dos trabalhos de fiscalização
da produção conduzidos pelas agências
ambientais e polícias florestais de SP, PR
e SC, nos anos de 1996 a 1998 (anexo I), também
demonstram como a produção clandestina
de palmito é uma atividade em pleno vigor.
Os dados dos levantamentos realizados nos arquivos
destas instituições são apresentados
na tabela 6. Entre Nos dois anos, foram reportados
491 ocorrências relacionadas com a produção
clandestina de palmito, e apreendidas o equivalente
a 77 toneladas de produto processado.
Nós agrupamos esses casos em cinco categorias,
correspondentes as distintas fases da produção
(Tabela 6). A maior quantidade de casos (45%) estava
relacionada ao processamento do palmito. Na maioria
desses casos, pequenas fabriquetas sem autorização
para funcionamento foram flagradas processando palmito,
geralmente na casa de atravessadores do produto que
compram palmito roubado. Estão incluídos
também nesse numero: unidades de processamento
móveis dentro da floresta (o processo de fabricação
é simples e requer pouco equipamento) e inspeção
de fábricas legalizadas que processavam palmito
sem origem legal comprovada.
A maior eficiência das agências ambientais
e das polícias florestais em flagrar o processamento
ilegal do palmito se deve ao fato de que a fabricação
exige que os produtores clandestinos permaneçam
em um local fixo por certo tempo, ficando mais vulneráveis
à ação da polícia.
Tabela 6 - Ocorrências policiais relacionadas
à produção de palmito nos anos
de 1996/1997.
Estado |
Roubo |
Transporte |
Processamento |
Armazen./comercial |
Total |
Sta.
Catarina |
6 |
27 |
55 |
25 |
113 |
Paraná |
1 |
11 |
11 |
7 |
30 |
São
Paulo |
92 |
90 |
134 |
32 |
348 |
Total |
99 |
128 |
200 |
64 |
491 |
Quantidade
Confiscada (equivalente a kg do produto em
conserva) |
Sta.
Catarina |
342 |
3.300 |
17.590 |
3.216
|
24.448 |
Paraná |
19 |
2.072 |
1.496 |
268
|
3855 |
São
Paulo |
11.553 |
17.940 |
15.656 |
4.081 |
49230 |
Total |
11.914 |
23.312 |
34.742 |
7.565 |
77.533 |
Outra grande percentagem
dos casos de apreensão de produto clandestino
se dá quando o produto é transportado,
quer in natura, quer na forma de conserva. Toda a
sorte de esquemas de transporte é utilizada
pelos produtores clandestinos de palmito, alguns deles
com a sofisticação só vista em
contrabando de mercadorias e de drogas. Bicicletas,
automóveis, caminhões, ônibus,
enfim qualquer meio de transporte é utilizado.
Durante os anos de 1996 e 1997, a inspeção
em rodovias e estradas secundárias resultou
na apreensão do equivalente a 23 toneladas
de palmito em conserva, 30% do total apreendido no
período. O risco do transporte é geralmente
assumido pelo intermediário. O risco de ser
pego em uma operação de fiscalização
varia conforme o tipo de estrada, mas pode chegar
a 25 % em áreas com pequena escolha do caminho
a seguir e com intensa fiscalização.
O intermediário geralmente ganha a metade do
valor de venda de um vidro de palmito, e grande parte
desse valor é devido ao fato de ele assumir
o risco do transporte. O risco maior que ele corre
é, na verdade, o de perder a mercadoria e de
ser multado. É fato conhecido na região
do Vale do Ribeira-SP que os produtores de palmito
não permanecem muito tempo presos pelo corte
ou comércio ilegal de palmito. São logo
soltos sob fiança, resultado de um esquema
de proteção mútua que desenvolveram.
Tarefa mais difícil e arriscada para quem combate
a produção clandestina é flagrar
o ladrão de palmito dentro da floresta. Os
ladrões de palmito percorrem grandes distâncias,
preferentemente à noite e em dias de chuva.
Depoimentos de cortadores de palmito do Vale do Ribeira
indicam que com 7 a 8 horas de caminhada será
possível encontrar e cortar palmitos que produziriam
um vidro por cabeça em média; enquanto
que a 4 a 5 horas de caminhada será possível
encontrar palmiteiros que produziriam um vidro para
cada 4 cabeças. Assim, empregando mulas, para
uma carga equivalente a 4 caixas (cada caixa de vidros
de palmito contem 15 vidros; 4 caixas é a carga
semanal média) seria necessário cortar
240 palmitos para retornar no mesmo dia ou cortar
apenas 60 para retornar no dia seguinte. Mesmo os
esquemas de vigilância dos parques, percorrendo
trilhas sistemática ou aleatoriamente, têm
reduzida chance de encontrar cortadores de palmito
em ação. Mesmo quando interceptados,
os cortadores fogem rapidamente. Há também
situações embaraçosas para os
vigilantes dos parques. Muitas vezes, o cortador ilegal
de palmito flagrado é um membro de sua comunidade,
e prendê-lo seria muito constrangedor. Os vigilantes
sabem da condição de miséria
por que passam alguns cortadores de palmito, e os
apelos humanitários têm freqüentemente
um maior peso na decisão de liberar o infrator.
Por isso, as denúncias de corte ilegal de palmito
são menos freqüentes, e o trabalho de
fiscalização se torna mais difícil
e arriscado.
Uma tendência no negócio de corte clandestino
de palmito são os esquemas de trabalho em equipe,
que têm dificultado ainda mais a ação
da polícia. Conforme depoimentos de cortadores
de palmito, os cortadores mantêm "olheiros"
em pontos estratégicos de observação
e são informados da aproximação
da polícia com bastante antecedência.
O cortadores também estão tornando-se
mais violentos. No início de 1988, um vigilante
foi morto e outro ferido em um confronto entre policiais
e vigilantes do parque e ladrões de palmito
no Parque Carlos Botelho em SP, e um outro caso de
confronto com morte entre proprietário e ladrões
de palmito foi registrado em Santa Catarina.
O menor número de casos envolvendo produção
clandestina de palmito (Tabela 6) se verificou nas
fases de armazenamento/comercialização.
Esse resultado é, provavelmente, devido à
pequena fiscalização realizada em estabelecimentos
que comercializam o produto e, principalmente, em
consumidores como restaurantes e churrascarias, e
não tem relação com a pouca eficiência
da estratégia. A maioria das 7,5 toneladas
de palmito apreendidas estavam armazenadas em casas
de intermediários, prontos para a distribuição.
Os dados dessa análise revelam que a investigação
de denúncias é bastante eficiente e
deveria ser mantida como estratégia importante
para a redução da produção
clandestina de palmito. Mas ainda achamos que a inspeção
em bares, restaurantes e churrascarias, além
de estabelecimentos de revenda de palmito ao consumidor,
deveria ser a ação mais agressiva das
agências ambientais e polícia florestal,
em conjunto com o serviço de fiscalização
sanitária, para conter o consumo de palmito
clandestino. Essa estratégia tem sido apontada
como uma importante alternativa para reduzir a ação
clandestina.
Outras estratégias também têm
sido empregadas pelas fábricas para burlar
o processo legal. Muitas fábricas de palmito
legalmente registradas no IBAMA compram palmito clandestino
juntamente com aquele produzido legalmente. O desafio,
se possível, é estimar quanto do palmito
comprado por elas vem de projetos de manejo devidamente
licenciados e quanto é clandestino. Alguns
proprietários de fábricas de palmito
dizem que a compra de palmito ilegal é essencial
não somente para baixar os seus custos e manter
o seu produto competitivo no mercado, como também
para viabilizar o funcionamento constante da fábrica.
De acordo com a lei, toda a fábrica de palmito,
assim como qualquer empresa que extraia ou beneficie
qualquer produto florestal, deve apresentar mensalmente
ao IBAMA um relatório mostrando a quantidade
de matéria-prima comprada e de produto beneficiado
vendido, bem como apresentar os documentos comprovantes
da origem legal da matéria-prima. A princípio,
esse mecanismo seria suficiente para manter um controle
eficiente sobre a origem do palmito in natura utilizado
pelas fábricas. Contudo, as agências
ambientais não têm pessoal treinado nem
equipamento suficientes para fazer o acompanhamento
da produção e fiscalização
de todas as empresas que produzem e processam produtos
florestais. Em Santa Catarina, por exemplo, a maioria
dos escritórios regionais do IBAMA não
têm sequer um computador, e todo o processamento
de informações de milhares de empresas
deve ser feito manualmente em fichas. O trabalho é
moroso, tedioso e não permite o acesso rápido
às informações das empresas.
Os técnicos dessas agências são
rotineiramente acusados de corrupção
e de conivência com as atividades ilegais.
A
simples existência de uma rede de computadores,
por exemplo, permitiria a criação
de um banco de dados que poderia ser utilizado
simultaneamente pelas agências ambientais
e pelas polícias florestais de todos
os estados. |
Envasamento de palmito.
|
O
cruzamento de informações entre
essas organizações, que ainda
não acontece, daria a situação
de todos os fornecedores, fabricantes e comerciantes
de palmito de forma completa. Essa informação
auxiliaria, por exemplo, a completar o "quebra-cabeça"
da produção clandestina de palmito:
quem é fornecedor e quem é fabricante,
quem é comprador e quem é vendedor,
quanto palmito viaja de um estado para outro,
quem são os indivíduos e empresas
reincidentes na produção ilegal,
entre outras questões que permanecem
nebulosas.
Talvez uma prática ainda mais abominável
que a compra de cabeças de palmito
de origem ilegal é da compra do palmito
já em conserva, sem rótulo.
A empresa, registrada no IBAMA como comercializadora
de palmito, compra o palmito já pronto
em conserva e coloca o seu rótulo.
O truque é utilizado para desobrigar
a empresa, na qualidade de "comercializadora",
de prestar contas ao IBAMA, todo mês,
da quantidade de produto comprado e vendido.
Essas empresas acobertam grande parte do palmito
roubado e, principalmente, produzido sob precárias
condições sanitárias,
que entra no mercado legal de palmito com
nota fiscal e tudo mais.
As falhas na legislação trazem
também problemas decorrentes da existência
de parâmetros inadequados para a fiscalização.
Por exemplo, uma fábrica de palmito
pode registrar a saída de um kg de
palmito em conserva para cada cabeça
de palmito (in natura) que entra, uma relação
que beneficia o fabricante. |
Uma
cabeça de palmito produz em torno de
300 a 550 gramas de palmito. Em um grande
projeto de manejo em Eldorado-SP, por exemplo,
a produtividade média alegada pela
própria fábrica de corta os
palmiteiros é de 540 gramas por cabeça.
Se uma fábrica pode justificar a venda
de um kg de palmito em conserva para cada
cabeça comprada, que na verdade só
produz meio quilo, pode comprar um palmito
clandestino para cada palmito legal.
A existência de referências nas
agências fiscalizadoras é outro
aspecto de grande importância pois pode
maximizar os esforços de fiscalização,
na medida em que poderiam ser priorizadas
as ações de fiscalização
quando as informações fugissem
a esses referênciais. Referências
similares àquelas da Tabela 5 podem
ser facilmente obtidas a partir dos próprios
projetos de manejo que já vem sendo
fiscalizados. |
Alguns fabricantes
usam ainda outros artifícios para zerar o saldo
entre o palmito in natura comprado e o palmito em
conserva vendido. Uma das estratégias é
vender palmito emitindo nota fiscal de venda de pepino
ou outro tipo de conserva, utilizada por fabricantes
que produzem vários tipos de conserva. O palmito
vendido como outro produto acoberta a compra ilegal
de cabeças de palmito.
Outra maneira tradicional de produzir palmito e outros
produtos florestais ilegalmente é através
da utilização indevida das autorizações
de transporte. Quando um projeto de manejo é
aprovado, a produção deve ser escoada
através do equivalente número de autorizações
para transporte. A utilização da mesma
guia de transporte para mais de uma carga é
uma maneira de extrair de uma floresta uma quantidade
maior de produto que a autorizada pelo plano de manejo
aprovado. O documento que autoriza o transporte do
produto (Autorização para Transporte
de Produtos Florestais - ATPF) tem um grande valor
nas regiões produtoras.
Pequenos produtores rurais também encontraram
uma maneira de evitar o custo de um projeto de manejo
e da fiscalização ao mesmo tempo. Eles
vendem os palmiteiros de sua propriedade para cortadores
clandestinos e, após concluído o trabalho,
vão à delegacia informar o "roubo"
de palmito na sua propriedade. Evidentemente, nada
pode ser feito em tal circunstância, e o fato
fica apenas registrado.
O combate à produção clandestina
de palmito, só vai ser realizado eficientemente
quando os governos assumirem, através de suas
agências ambientais, a responsabilidade sobre
a conservação produtiva dos recursos
florestais. Assumir essa responsabilidade significa
dar estrutura adequada e cobrar das agências
uma ação efetiva, envolvendo mudanças
na legislação, estímulo à
produção legal, uso de rede de informações,
e perseguição incansável aos
produtores ilegais.
Em Santa Catarina, entre 1996 e 1997, 20 fábricas
de conserva registraram compra de palmito in natura
no IBAMA, num total de 1.3 milhão de cabeças.
Contudo, apenas 124.743 cabeças estavam legalmente
liberadas no Estado. Considerando também São
Paulo e Paraná, o total nestes dois anos era
de 1.571.019 cabeças legalmente autorizadas.
Mas, talvez o resultado mais contundente dessa análise
seja a quantidade extremamente pequena de palmito
produzida legalmente, provavelmente apenas 10 % do
que a quantidade produzida clandestinamente.
Manejo do Palmiteiro
As potencialidades e possibilidades de manejo sustentado
para o palmiteiro têm sido bastante estudadas
pelo Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais
(NPFT) da Universidade Federal de Santa Catarina.
Tais estudos se fundamentam na necessidade de se conhecer
a autoecologia da espécie, especialmente no
que se refere a dinâmica demográfica
e biologia reprodutiva, para o estabelecimento de
estratégias de intervenção (manejo)
que permitam o estabelecimento de um sistema sustentável.
Adicionalmente, a economicidade do processo tem sido
analisada, de modo a caracterizar as possibilidades
de obtenção de renda para o proprietário
da terra, critério básico para as possibilidades
de utilização efetiva do sistema.
Neste contexto, a manutenção de plantas
matrizes/reprodutivas (porta-sementes) nas áreas
a serem exploradas tem sido o aspecto mais importante
para garantia de manutenção das estruturas
genética e demográfica das populações
naturais, ou seja, garante quantitativa e qualitativamente
a regeneração natural, bem como disponibiliza
alimento para a fauna. O número de matrizes
a ser mantido deve ser entre 50 e 70. A manutenção
das estruturas genética e demográfica
permite a reposição natural dos estoques
a serem explorados, garantindo a perpetuação
do processo de exploração.
Apesar das possibilidades biológicas, tecnológicas
e econômicas da realização de
manejo sustentado de populações da espécie
estarem bem fundamentadas, outros aspectos ainda se
mostram como entraves, como a legislação,
o fator preço e a cultura do extrativismo.
A
retirada de biomassa de uma comunidade representa
a maior ameaça à garantia da
sustentabilidade do processo dinâmico
e produtivo, principalmente em áreas
de formações secundárias.
Entende-se que para o manejo dessas formações,
devido a menor diversidade e ao início
de estruturação das populações
locais, o acompanhamento do processo dinâmico
e a garantia de sua continuidade são
questões imprescindíveis para
a manutenção da sustentabilidade.
É de primordial importância realizar
um amplo estudo ecológico e fitossociológico
das florestas nativas, tanto primárias
quanto secundárias, para que se possa
efetuar um plano concreto sobre seu manejo
e exploração racional. Três
pontos devem ser observados para garantir
a sustentabilidade de um sistema de manejo. |
São eles: avaliação do
estoque disponível através de
inventário florestal, taxas de incremento
e a regeneração natural da espécie.
Esses parâmetros possibilitam a estimativa
do ciclo de exploração em cada
unidade de área e o volume passível
de exploração no período
considerado. Uma atividade inerente a este
tipo de manejo é a determinação
da quantidade de plantas matrizes ou porta-sementes
que deve ser mantida por unidade de área,
este número sofrerá variação
de área para área em função
da fauna local.
O palmiteiro tem se caracterizado como uma
planta com grande potencial para manejo em
regime de rendimento sustentado. Além
de ser uma importante fonte de renda das áreas
florestadas, desempenha um papel ecológico
fundamental no ecossistema, uma
|
Palmeira juçara.
|
vez que mantêm distintos níveis
de interação com a fauna. O
palmito desta espécie se constitui
em um dos principais produtos da Floresta
Tropical Atlântica. O seu potencial
como opção econômica dentro
de sistemas de manejo em regime de rendimento
sustentado é ainda maior, na medida
em que estes sistemas prevêem a sua
exploração, a partir de parâmetros
como o ponto de máximo incremento biológico. |
A utilização
do palmiteiro em regime de rendimento sustentado traz
efeitos ambientais benéficos, uma vez que a
própria característica da espécie
- desenvolver-se no estrato médio, à
sombra das espécies que ocupam o dossel - implica
na necessidade de manejá-la dentro da floresta
original, ou em áreas já perturbadas,
mas que ainda tenham uma cobertura arbórea.
Isto significa que se deva conservar a floresta para
que possa haver produção de palmito.
O manejo deve considerar a necessidade de manutenção
das características demográficas e genéticas
das populações naturais da espécie,
como proposto para Euterpe edulis. Assim, além
de tomar-se em conta a exploração em
níveis que possam ser repostos pelo próprio
comportamento demográfico da espécie,
ha que se manter indivíduos reprodutivos que
possam repor os estoques (regeneração
natural) não só quantitativamente (número
de propágulos), mas também qualitativamente
(características genéticas das sementes).
Desta forma, para que se mantenham os níveis
elevados de heterozigosidade e o grande número
de alelos por loco, de modo a possibilitar a perpetuação
do processo exploratório (premissa básica
do manejo sustentável), torna-se necessária
a manutenção de um grande número
de indivíduos reprodutivos por área.
A estimativa obtida de 67 indivíduos formando
cada deme panmítica entre 18.199 e 8.090 m²,
ou entre 37 e 83 indivíduos/ha, sugere a necessidade
de manutenção de ao menos 60 indivíduos
reprodutivos/ha, em termos médios, nas populações
sob manejo.
Além disso, a manutenção dos
níveis elevados de heterozigosidade também
favorece a manutenção da dinâmica
populacional e a possibilidade de seleção
nas coortes (maior heterozigosidade implicando em
maiores níveis de recombinação),
levando à uma população de adultos
com maior diversidade, a qual poderá gerar
novamente progênies com características
desejáveis de variabilidade, mantendo, portanto,
a dinâmica e estrutura populacional da espécie.
Nesse contexto, a garantia de manutenção
destes processos depende da manutenção
da fauna como elemento imprescindível na movimentação
dos alelos (realização dos cruzamentos,
fluxo de pólen, e dispersão dos propágulos
).
Por outro lado, a manutenção da fauna,
no processo de conservação e manejo,
necessita de espécies vegetais estratégicas
para alimentação e atração
dos animais, onde o palmiteiro apresenta também
grande importância, tanto pela qualidade quanto
pela quantidade de frutos produzidos, bem como pelo
amplo período de oferta. Desta forma, no que
se refere à conservação, o palmiteiro
e a sua fauna associada, de um modo geral, apresentam
uma relação de mútua dependência.
A título de exemplo pode-se tomar por base
a população de plantas da Tabela 2,
da região de São Pedro de Alcântara/SC.
Observou-se uma freqüência de 500 indivíduos
considerados adultos por hectare (DAP superior a 1,30
metros). Se fossem explorados todos os indivíduos
acima de 7,0 cm de DAP (máximo ICA), seriam
passíveis de exploração 257 indivíduos
por hectare. Porém, ha necessidade de manutenção
de 50 a 60 indivíduos reprodutivos por hectare
para garantir a renovação do estoque
e estrutura genética da espécie na floresta.
Desta forma, considerando a permanência de 60
matrizes, obteve-se como disponíveis para exploração
197 plantas por hectare (Tabela 7).
O valor médio de incremento corrente anual
apresentado na Tabela 3 permite a previsão
do número de indivíduos que podem ser
abatidos em cada ciclo de exploração
em projetos de manejo. Isto permite fazermos uma previsão
do diâmetro que os indivíduos que ainda
não haviam atingido o DLC por ocasião
da exploração, poderão atingir
após um intervalo de tempo, ou seja, o intervalo
de corte. Foi estimado o rendimento para 3 diferentes
intervalos de exploração (4, 5 e 6 anos)
com base no incremento das plantas abaixo de 7,0 cm
que restaram da primeira exploração
(Tabela 3).
Tabela 7 - Estimativa
de rendimento de palmito sob condição
de manejo de rendimento sustentado em uma formação
secundária da Floresta Tropical Atlântica,
São Pedro de Alcântara/SC.
Classes
de DAP (cm) |
N°/ha |
P.E
(1) |
N°
de matrizes/ha
Total/Abatidas |
D.E(2)
Ha |
Rendimento
Individual(3) (g) |
Rendimento
p/ classe(3) (kg/ha) |
2-3 |
3 |
- |
- |
- |
- |
- |
3-4 |
73 |
- |
- |
- |
- |
- |
4-5 |
73 |
- |
- |
- |
- |
- |
5-6 |
50 |
- |
- |
- |
- |
- |
6-7 |
44 |
- |
1/0
|
- |
- |
- |
7-8 |
39 |
39 |
2/1 |
38 |
236 |
8,9 |
8-9 |
39 |
39 |
5/2 |
36 |
303 |
10,9 |
9-10 |
32 |
32 |
8/4 |
28 |
379 |
10,6 |
10-11 |
40 |
40 |
20/10 |
30 |
462 |
13,9 |
11-12 |
42 |
42 |
30/15 |
27 |
555 |
15,0 |
12-13 |
41 |
41 |
33/15 |
23 |
655 |
15,0 |
13-14 |
16 |
16 |
14/9 |
10 |
764 |
7,6 |
14-15 |
8 |
8 |
7/4 |
5 |
882 |
4,4 |
TOTAL |
500 |
257 |
120/60 |
197 |
- |
86,3 |
(1): P.E. = Passíveis
de Exploração - DLC = 7,0 cm
(2): D.E. = Disponíveis para Exploração
(Mantendo 60 matrizes/ha)
(3): Rendimento (g) = 4,194DAP2
Através da
estimativa de rendimento, (Rendimento (g) = 4,194DAP2),
obteve-se 86,3 kg/ha de palmito no primeiro ciclo
de exploração. A produtividade dos palmitais
é muito variável, uma vez que esta relacionado
com o estoque de indivíduos e estádio
da floresta em que este ocorre. Em uma Floresta Ombrófila
Densa Montana (Blumenau-SC), de formação
primária, obteve-se um rendimento de 161 kg
por hectare. Da mesma forma, para uma floresta secundária
no município de Ibirama/SC, obteve-se um rendimento
de 147 kg por hectare no primeiro ciclo de exploração,
o que inclusive demostra o potencial de rendimento
da espécie sob manejo.
A Port. Interinstitucional no 1 (IBAMA/SUDES-SC/SEDUMA/FATMA,
de 4 de junho de 1996), regulamenta que em planos
de manejo do palmiteiro, a exploração
só pode ser feita se obedecidos os seguintes
critérios: permanência de 50 matrizes
por hectare, regeneração natural acima
de 10.000 plantas/ha e um DLC das plantas adultas
acima de 9,0 cm. Dessa forma, a legislação
insere sobre todas as regiões do Estado os
mesmos critérios de exploração.
No entanto, em virtude das peculiaridades das populações
remanescentes de palmito, certos parâmetros
podem sofrer alterações e estas só
podem ser identificadas através de estudos
da população específica. Se o
critério DLC, da Legislação Estadual,
fosse seguido para São Pedro de Alcântara,
cerca de 74 plantas deixariam de ser abatidas. Isto
implicaria na diminuição do rendimento
de palmito por unidade de área explorada, mesmo
sabendo-se que essas seriam passíveis para
exploração por terem atingido o ponto
de máximo incremento. A legislação
em vigor para o estado de São Paulo, contempla
essa possibilidade.
Para estimar o rendimento do segundo ciclo de exploração
do palmiteiro, foi estimada a distribuição
diamétrica regulada através de modelos
polinomiais, sendo que o modelo polinomial cúbico
apresentou o coeficiente de determinação
mais significativo (R2 = 0,87). Esta estimativa pressupõe
que os indivíduos remanescentes ocuparão
os espaços deixados por aqueles explorados,
restabelecendo um novo equilíbrio entre as
classes diamétricas (Tabela 8).
Os resultados (Tabela 8) demonstram uma variação
no rendimento de palmito para o segundo ciclo de exploração,
em função do número de palmiteiros
abatidos em cada intervalo de corte. Este comportamento
reflete o incremento das plantas no tempo, tendo em
vista que em intervalos de corte mais prolongados,
um número maior de plantas ultrapassam o diâmetro
limite de corte. Os indivíduos disponíveis
para exploração foram calculados com
base no incremento anual das plantas a partir de 6,5
cm de DAP. Em seis anos o estoque restabelecido, regulado
pela primeira intervenção, chegaria
até a classe 9,0 cm (Tabela 8), com um número
de indivíduos por classe descrito a partir
da relação estimada entre o número
de indivíduos original e as classes diamétricas
(estoque regulado). Cumpre ressaltar que as estimativas
de incremento empregadas foram obtidas sem a intervenção,
de modo que devem ser uma subestimativa do valor real.
Tabela 8 - Estimativa
de rendimento de palmito sob condição
de manejo de Rendimento sustentado para segundo ciclo
(estoque regulado) sob diferentes ciclos de corte
em Floresta Tropical Atlântica, São Pedro
de Alcântara-SC.
Classes
Diamétricas
(cm) |
N(1) |
Matrizes |
Rendimento
por ciclo de corte |
4
anos |
5
anos |
6
anos |
- |
- |
- |
D.E.2
Rend. N (kg) |
D.E.2
Rend. N (kg) |
D.E.2
Rend N (kg) |
2-3 |
105
|
- |
- |
- |
- |
3-4 |
80
|
- |
- |
- |
- |
4-5 |
62 |
- |
- |
- |
- |
5-6 |
50
|
- |
- |
- |
- |
6-7 |
44 |
1 |
- |
- |
- |
7-8 |
41 |
1 |
40
9,5 |
40
9,5 |
40
9,5 |
8-9 |
40 |
3 |
5
1,5 |
21
6,4 |
37
11,2 |
9-10 |
40 |
4 |
- |
- |
- |
10-11 |
40 |
10 |
- |
- |
- |
11-12 |
38 |
15 |
- |
- |
- |
12-13 |
33 |
17 |
- |
- |
- |
13-14 |
24 |
6 |
- |
- |
- |
14-15 |
9 |
3 |
- |
- |
- |
TOTAL |
- |
60 |
45
11,0 |
61
14,9 |
77
20,7 |
(1): Distribuição
diamétrica regulada. N = 210,41 - 55,92DAP
+ 6,09DAP2 - 0,22DAP3 (R2 = 0,87)
(2): D.E. = Disponíveis para exploração.
Rendimento = 4,194DAP2 (kg/classe)
Em projetos de exploração
do palmiteiro, conforme a opção desejada
para o ciclo de corte, a área seria dividida
em talhões de modo a explorar um talhão
anualmente e o retorno à mesma área
seria feito após 4, 5 ou 6 anos, fechando o
ciclo de corte. O rendimento em palmito, obtido na
primeira exploração, seria mais acentuado
e se estabilizaria com valores menores nos próximos
ciclos de corte em função da taxa de
crescimento dos indivíduos remanescentes. Neste
sentido, os próximos ciclos estariam sujeitos
a reavaliações, tendo em vista o impacto
causado à floresta pelas explorações
anteriores.
Realidade do Manejo
Sustentado do Palmiteiro
Todo o palmito produzido no Domínio da Mata
Atlântica deveria ter origem em uma área
manejada de acordo com a legislação
vigente especifica para a espécie, e devidamente
licenciada pela agência ambiental competente.
Nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul já existe legislação
específica, portanto critérios estabelecidos
(ver item Legislação). Em um plano de
manejo, ou um processo simplificado com critérios
mínimos, deve ser elaborado por um engenheiro
florestal ou agrônomo, e em seguida submetido
para aprovação. Somente após
a análise, fiscalização, e aprovação,
uma autorização para manejo da floresta
é expedida.
Nos
Estados mencionados, apesar da existência
de critérios específicos, baseados
em dados e experiências bastantes consistentes,
com fundamentos biológicos conservacionistas,
viabilidade técnica e econômica
comprovada, complicações aparecem
freqüentemente. Vários fatores
contribuem para desestimular o produtor a
percorrer todo o processo legalmente, entre
eles o custo do projeto aprovado e o longo
tempo que toma a sua |
Sementes de palmito juçara.
|
elaboração,
análise, e aprovação.
A partir das entrevistas realizadas e dados
disponíveis, algumas peculiaridades
podem ser apontadas para os Estados de São
Paulo, Paraná e Santa Catarina. O Rio
Grande do Sul, apesar de possuir legislação
específica ainda não tem nenhum
projeto em andamento ou solicitação.
Para o Paraná, apesar de não
ter sido fornecida uma listagem dos projetos
de manejo em andamento pelo IAP. Entre os
anos de 1996 e 1997, foram aprovados 20 projetos,
totalizando uma área de 14.855 ha,
com em média 132 plantas por ha, predominando
projetos com área acima de 400 hectares
(Tabela 9). Em São Paulo, os projetos
aprovados variam de 3 a 1660 ha (Anexo II).
Foram feitas 51 autorizações
de corte, sendo 3 em áreas de cultivo,
14 processos simplificados (áreas menores
que 50 ha; totalizando 167,3 ha), |
27
planos de manejo (totalizando 14.440,5 ha)
e 6 solicitações de corte adicional
em áreas de planos de manejo (4.653
ha). Totalizando uma área de 14.607,5
ha sob manejo (Tabela 9). As autorizações
são de em média 136 plantas
por hectare, compatível com o referencial
de literatura para o Estado (113 plantas -
Tabela 5). |
Vale ressaltar que
uma propriedade (Fazenda Nova Trieste, de propriedade
da Agroindustrial Eldorado SA, com área de
30.000 ha) possui 12.816,8 ha sob manejo, em 14 módulos,
com áreas já em segundo ciclo de produção.
Essa é sem dúvida a maior experiência
de Manejo sustentado com o palmiteiro e provavelmente
também a maior experiência de manejo
sustentado no Domínio da Mata Atlântica.
Em São Paulo não ha uma predominância
em relação ao tamanho dos projetos (Tabela
10), havendo grande diversidade de dimensões:
14 projetos com área inferior a 30 ha; 13 projetos
com área entre 30 e 500 ha e 14 projetos com
área superior a 500 ha). A existência
de projetos com tal diversidade de tamanhos de floresta
sob manejo sugere que a produção de
palmito pode ser uma boa alternativa para o produtor
rural independentemente da escala de produção,
o que normalmente não é verdade para
grande parte das culturas anuais e mesmo perenes.
Tabela 9 - Projetos
de manejo de palmiteiro (Euterpe edulis) autorizados
em 1996 a 1998.
Estado |
Número |
Área
(ha) |
Projeção
da Produção de Palmito |
(cabeças) |
(cabeças
/ ha) |
(kg
conserva) |
1996 |
Santa
Catarina |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
Paraná |
12 |
9.337 |
1.357.640 |
- |
678.820 |
São
Paulo |
11 |
2.550 |
302.908 |
- |
151.494 |
Total |
23 |
11.887 |
1.660.628 |
- |
830.314 |
1997 |
Santa
Catarina |
11 |
1.524 |
249.486 |
164 |
134.743 |
Paraná |
8 |
5.518 |
598.256 |
- |
299.128 |
São
Paulo |
14 |
5.364 |
633.668 |
- |
316.834 |
Total |
33 |
11.762 |
1.481.410 |
- |
740.705 |
1998 |
Santa
Catarina |
25 |
1.189 |
308.566 |
259 |
166.626 |
Paraná |
- |
- |
- |
- |
- |
São
Paulo |
13 |
9.160 |
544.242 |
59 |
293.891 |
Total |
48 |
10.349 |
852.808 |
- |
460.517 |
Total
(3 anos) |
104 |
33.998 |
3.994.846 |
- |
2.031.536 |
Tabela 10. Número,
área e produção dos projetos
de manejo do palmiteiro (Euterpe edulis) aprovados
em 1996 a 1998, em SP e SC por tamanho do projeto.
Tamanho
do projeto (ha) |
São
Paulo |
Santa
Catarina |
<10 |
6 |
15 |
10
- 30 |
8 |
17 |
30
- 100 |
6 |
2 |
100
- 500 |
7 |
1 |
>500 |
14 |
1 |
Apesar da abundância
de dados sobre a espécie no Estado de Santa
Catarina, a legislação que normatiza
o Manejo Sustentado do palmiteiro foi estabelecida
apenas em 1996 (ver item Legislação).
Assim, em SC existe apenas um plano de Manejo para
palmito em execução na região
litoral norte do Estado, numa área da Tupy
Agroenergética SA, sendo explorado pela empresa
de Conservas Juriti (Anexo II). Por outro lado existem
34 autorizações com base em Requerimentos
de Corte Seletivo (um procedimento simplificado previsto
na legislação para propriedades menores
do que 30 ha).
Estes últimos, contudo, tem sido elaborados,
em sua maioria, de forma muito expedita, não
havendo garantias de sustentabilidade conforme prevêem
os princípios da legislação.
A inexistência de uma exigência legal
de levantamentos com uma amostragem suficiente para
um determinado nível de precisão leva
a estimativas de populações de palmiteiros
aparentemente absurdas (com liberação
para corte de até 1400 plantas por ha), obtidas
com até apenas duas parcelas (amostras).
As autorização são em média
de 668,8 plantas por hectare, o que é certamente
um valor absurdo, decorrente da inexistência
de uma amostragem apropriada nos requerimentos de
corte seletivo e da falta de um referencial por parte
do IBAMA. Analisando apenas as duas áreas maiores
(um plano de manejo e uma área de incentivo
fiscal, ambas com amostragem satisfatória),
a média de plantas autorizadas é de
274,5. Também se forem analisados apenas os
projetos com área superior a 20 ha a média
(281,8 plantas) é compatível com o referencial
de literatura para o Estado (185).
Em Santa Catarina, onde caracteristicamente as propriedades
rurais são pequenas, nos anos de 1996 a 1998
os 36 projetos aprovados, dos quais somente um era
um plano de manejo (1.318 ha com 725 ha a serem manejados),
33 tinham áreas menores que 35 ha, e 18 áreas
inferiores a 10 ha.
Um projeto aprovado tem um custo fixo mínimo
de R$ 635,50 (taxas de fiscalização
e liberação do projeto - IBAMA e FATMA)
independentemente do tamanho da área a ser
explorada, e cresce com a área do projeto.
Esse investimento inicial pode ser insignificante
para grandes projetos, mas é uma carga praticamente
insuportável para pequenos produtores. Contudo,
há uma predominância de pequenos projetos
(32 dos 36 - Tabela 10), indicando a viabilidade dos
mesmos, mesmo com o peso dos tributos mencionados
acima.
Um projeto leva pelo menos seis meses para passar
por todo o processo desde a sua elaboração
até a sua aprovação final. A
falta de pessoal para analisar e, principalmente,
fiscalizar os projetos é apontada como o principal
motivo da demora na sua tramitação.
A sobreposição de funções
das agências ambientais também ajuda
a complicar a vida do produtor de palmito. Os projetos
devem ser submetidos inicialmente a FATMA (Fundação
de Amparo a Tecnologia e Meio Ambiente - agência
estadual), que dá a licença ambiental
e posteriormente ao IBAMA, que analisa tecnicamente
o projeto. Submeter um projeto a duas agências
em nada contribui para resolver o problema da exploração
ilegal do palmito, mas certamente ajudar a travar
a tramitação dos projetos.
Custos do Processo
de Manejo Sustentado do Palmiteiro
Uma análise completa dos custos do processo
foi apresentada a partir dos dados de uma Unidade
Demonstrativa de 38 ha na Floresta Nacional de Ibirama
(IBAMA) (FLONA de Ibirama). A Tabela 11 apresenta
a estimativa de rendimento de palmito na área.
Considerando a permanência de 50 matrizes por
hectare obteve-se como disponíveis para exploração,
197 plantas por hectare. Através da estimativa
de rendimento, obteve-se um rendimento de 147, 673
kg (± 13,881 kg) por hectare no primeiro ciclo
de exploração da área, o que
proporciona um rendimento, em peso drenado, de 492
vidros de 300 gramas, (± 46 vidros, de acordo
com o intervalo de confiança).
O estoque de plantas matrizes ou porta-sementes será
formado por 50 indivíduos por hectare. Considerando
um número médio de 131 matrizes por
hectare na área inventariada e tendo em vista
a dificuldade para estabelecer o estoque de matrizes
com distribuição homogênea, no
momento da exploração, para cada três
matrizes encontradas, uma será mantida no primeiro
grupo e duas no segundo grupo, sucessivamente. Dessa
forma, as matrizes do estoque serão etiquetadas
para que no próximo ciclo de corte essas não
venham a ser exploradas.
A área será dividida em 5 talhões
de 7,6 hectares, de modo a explorar um talhão
anualmente, e o retorno à mesma área
será feito após 5 anos para que possa
sofrer uma segunda exploração.
O rendimento em palmito, obtido na primeira exploração,
será mais acentuado em virtude do estoque original
e se estabilizará com valores menores nos próximos
ciclos de corte em função da taxa de
crescimento dos indivíduos remanescentes. Neste
sentido, os próximos ciclos estarão
sujeitos a reavaliações, tendo em vista
o impacto causado à floresta pelas explorações
anteriores.
Os materiais necessários para a exploração
do palmito são; etiquetas para identificação
do estoque de matrizes; foice para abertura das picadas
e favorecer o transporte; facão para o corte
das árvores e a extração das
cabeças de palmito; corda para amarração
dos feixes de cabeças de palmito.
Tabela 11 - Estimativa
de rendimento de palmito por hectare, considerando
o diâmetro limite de corte (DLC) de 9,0 cm e
a permanência de 50 matrizes por hectare, conforme
estabelece a Portaria Interinstitucional nº 1,
de 4 de junho de 1996.
Classes
de DAP (cm) |
N/ha |
AB(m2) |
P.E |
Matrizes |
D.E |
Rendimento
em creme de palmito |
|
|
|
|
|
|
Ind.(g) |
Classe(kg) |
2 |
1 |
0,001
|
- |
- |
- |
- |
- |
3 |
59 |
0,061 |
- |
- |
- |
- |
- |
4 |
113 |
0,175 |
- |
- |
- |
- |
- |
5 |
68 |
0,155 |
- |
- |
- |
- |
- |
6 |
50 |
0,163 |
- |
1 |
- |
- |
- |
7 |
37 |
0,162 |
- |
0 |
- |
- |
- |
8 |
30 |
0,166 |
- |
0 |
- |
- |
- |
9 |
29 |
0,199 |
29 |
2 |
27 |
379 |
10,233 |
10 |
33 |
0,284 |
33 |
3 |
30 |
462 |
13,860 |
11 |
32 |
0,323 |
32 |
5 |
27 |
555 |
14,985 |
12 |
35 |
0,418 |
35 |
5 |
30 |
655 |
19,650 |
13 |
28 |
0,394 |
28 |
7 |
21 |
764 |
16,044 |
14 |
32 |
0,521 |
32 |
8 |
24 |
882 |
21,168 |
15 |
26 |
0,488 |
26 |
9 |
17 |
1.108 |
18,836 |
16 |
17 |
0,352 |
17 |
5 |
12 |
1.142 |
13,704 |
17 |
9 |
0,207 |
9 |
2 |
7 |
1.284 |
8,988 |
18 |
7 |
0,192 |
7 |
1 |
6 |
1.435 |
8,610 |
19 |
1 |
0,045 |
1 |
0 |
1 |
1.595 |
1,595 |
20 |
1 |
0,008 |
1 |
1 |
0 |
1.763 |
0 |
21 |
1 |
0,018 |
1 |
1 |
0 |
1.939 |
0 |
Total/ha |
609 |
4,332 |
251 |
50 |
202 |
147,673
Kg |
[
± 13,881kg] |
AB = Área Basal
P.E. = Passíveis de exploração
D.E. = Disponíveis para exploração
Rendimento (g) = 4,194DAP2
Segundo informações
de empresas ligadas à exploração
de palmito no Estado de São Paulo, a mão-de-obra
de uma pessoa consegue abater em torno de 70 plantas
por dia, juntamente com o transporte até o
pátio de estocagem.
Considerando um ciclo de corte de 5 anos, a área
será dividida em 5 talhões, e cada talhão
terá uma área de 7,6 hectares. De acordo
com a Tabela 2, o número de plantas disponíveis
para exploração no primeiro ciclo é
de 202 plantas por hectare, perfazendo um total de
1.535 plantas na área do talhão. Desta
forma, a mão-de-obra necessária para
exploração de um hectare será
de 2,9 dH (dias Homem) e cada talhão necessitará
de 22 dH .
O transporte do palmito em cabeça da mata até
o pátio de estocagem poderá ser feito
através de carro de boi ou mesmo por veículo.
Primeiramente, foi realizado o planejamento das atividades
que seriam desenvolvidas a campo. Em seguida, a equipe
(6 pessoas) foi reunida para o repasse das informações
necessárias à realização
do inventário florestal, no sentido do dinamismo
do trabalho à campo. Por último, a equipe
permaneceu alojada por um período de 10 dias
na FLONA de Ibirama, onde foi concluída a etapa
de coleta de dados à campo.
Para a dinâmica do trabalho de campo, é
necessário o planejamento prévio das
atividades a serem desenvolvidas para evitar determinados
erros de avaliação e também para
reduzir o tempo de execução das atividades,
que se constitui em um item bastante significativo
para os custos do inventário florestal. Além
disso, uma equipe bem preparada implica na precisão
do levantamento, o que é fundamental para a
caracterização geral da área
de manejo.
Para o processo de amostragem é importante
a presença no grupo de dois componentes capazes
de coordenar as atividades de maneira eficaz, pois
isso torna o trabalho ainda mais dinâmico. No
que diz respeito ao inventário do palmiteiro,
após a montagem das parcelas, o grupo pode
ser dividido em duas equipes, uma para avaliar a regeneração
natural e a outra para avaliação dos
indivíduos adultos. Isso permite a todo grupo
utilizar o tempo da melhor maneira possível
e reduzir com isso os gastos com mão-de-obra.
Desta forma, a experiência mostra que a equipe
de inventário, principalmente para trabalhos
com o palmiteiro, deve ser composta por um profissional
de nível superior, um profissional de nível
médio e três auxiliares de campo competentes.
A amostragem é a etapa mais importante do inventário
florestal, pois é a partir dela que são
feitas as inferências para a área total.
Uma boa amostragem implica na precisão das
estimativas e garante o sucesso do plano de manejo
florestal sustentável.
Os inventários contínuos para planos
de manejo florestal exigem que as amostras na área
sejam permanentes para efeitos de fiscalização
e, também, para que ao longo dos anos se possa
voltar à mesma área para se fazer as
reavaliações. Para que as amostras sejam
permanentes é preciso criar uma estrutura de
parcelas capaz de assegurar a demarcação
tanto das unidades amostrais quanto das árvores
em estudo. Esta estrutura requer tempo e demanda custos
para quem realiza o inventário florestal e,
portanto, implica na viabilidade do sistema de amostragem.
O Art. 16, parágrafo 6o da legislação
florestal de Santa Catarina (Port. Interinstitucional
N. 1), determina que nos levantamentos estatísticos,
devem ser considerados o limite de erro de 10% e a
probabilidade de 5%. Para inventários em áreas
de reflorestamento onde a uniformidade de plantas
é bastante grande, o uso de 10% é completamente
viável porque exigirá poucas unidades
amostrais em função da homogeneidade
de plantas dentro da área. Porém, para
levantamentos em florestas nativas, onde a variabilidade
de ambientes é característica do ecossistema,
o uso do limite de erro de 10% conduz à execução
de um grande número de unidades amostrais em
função da elevada variância de
qualquer um dos parâmetros avaliados, o que
implica no aumento dos custos para a realização
do inventário florestal.
Para o inventário do palmiteiro realizado na
FLONA de Ibirama, utilizou-se o limite de erro de
10% sobre o parâmetro número de plantas
adultas, já que este parâmetro é
utilizado para planos de exploração
de palmito. O cálculo da suficiência
amostral indicou a necessidade de 25 parcelas de 40
x 40 metros, o que corresponde à locação
de uma parcela para cada 1,5 hectares, com uma área
amostrada de 10% em relação à
área total inventariada. Com isso foi estimado
um custo considerando-se a montagem de uma estrutura
para inventário contínuo, bem como o
levantamento de dados e a elaboração
do plano de manejo florestal sustentável, conforme
regulamenta a Port. N. 1 (Tabela 12).
Tabela 12 - Estimativa
de custos para o inventário florestal do palmiteiro
na FLONA de Ibirama- SC - Área de 38 hectares.
Listagem
dos custos |
Unid |
Quantidade |
Valor
R$ |
Profissional Eng. Agrônomo |
dH |
10 |
400,00 |
Profissional Técnico Agropecuária |
dH |
10 |
230,00 |
Auxiliares |
dH |
30 |
300,00 |
Alimentação |
dia |
10 |
300,00 |
Estadia |
dia |
10 |
150,00 |
Combustível |
litro |
60 |
48,00 |
Depreciação de veículo |
dia |
10 |
32,00 |
Manutenção de veículo |
dia |
10 |
16,00 |
Depreciação de equipamentos |
dia |
10 |
5,00 |
Manutenção de equipamentos |
dia |
10 |
5,00 |
Planilhas de campo (Fotocópia) |
un |
425 |
25,00 |
Estacas metálicas + mão-de-obra |
un |
2.800 |
200,00 |
Etiquetas metálicas + mão-de-obra |
un |
15.230 |
7,00 |
Fitas plásticas coloridas |
un |
2.800 |
12,00 |
Pregos |
kg |
0,5 |
0,85 |
Análise dos dados |
dia |
2 |
80,00 |
CUSTO TOTAL |
- |
- |
1.810,85 |
Custo/ha |
- |
- |
47,65 |
Conforme mencionado
anteriormente, a montagem das unidades amostrais e
a coleta de dados foi feita por uma equipe de 4 estudantes
de Agronomia e um Técnico em Agropecuária,
num período de 10 dias, sendo que os custos
foram baseados em uma equipe composta por um Eng.
Agrônomo, um Técnico em Agropecuária
e três auxiliares de campo, sendo esta considerada
uma equipe básica para elaboração
de inventários florestais.
O custo total, incluindo a remuneração
da mão-de-obra dos profissionais e auxiliares
foi de R$ 47,65 por hectare. De acordo com o Sindicato
dos Eng. Agrônomos de Santa Catarina (SEAGRO),
os honorários profissionais para realização
do inventário na área em questão
seria de R$ 50,00 por hectare. Percebe-se, desta forma,
que embora os honorários cubram os custos para
realização do inventário, o lucro
obtido é inferior a um custo de oportunidade
de 6%, o que torna a atividade de elaboração
de planos de manejo florestal pouco atrativa nessas
condições.
Com a legalização do manejo das florestas
catarinenses, uma nova alternativa econômica
foi aberta para as propriedades agrícolas,
trazendo benefícios para os agricultores que
conservaram áreas de floresta nativa. Porém,
as atividades profissionais para elaboração
de planos de manejo são prejudicadas pelas
exigências da lei, pois estas comprometem a
viabilidade econômica do processo de inventário,
conforme foi mostrado no parágrafo anterior.
Diante deste quadro, ressalta-se a necessidade de
mudanças em alguns dispostos da lei, como é
o caso do erro admissível, em virtude da rigorosidade
como é proposto para florestas nativas. Na
região do Vale do Ribeira, SP, a média
de parcelas utilizadas em inventários florestais
do palmiteiro gira em torno de 1 a 2 parcelas para
cada 50 hectares, tendo em vista a utilização
de 20% de erro, conforme estabelece a legislação
florestal vigente naquele Estado. A Tabela 13 apresenta
uma comparação entre os níveis
de erro de 10% a 20%, em relação ao
número de amostras necessárias, bem
como os custos para a realização do
inventário florestal na FLONA de Ibirama.
Tabela 13 - Custos
para elaboração do inventário
florestal, considerando diferentes níveis de
erro sobre o parâmetro plantas adultas, na FLONA
de Ibirama.
Erro
admissível (%) |
Número
de parcelas necessárias |
Custo
total R$ |
Custo/ha
R$ |
10 |
25 |
1.810,85 |
47,65 |
11 |
21 |
1.521,11 |
40,03 |
12 |
18 |
1.303,81 |
34,31 |
13 |
16 |
1.158,94 |
30,49 |
14 |
14 |
1.014,07 |
26,68 |
15 |
12 |
869,20 |
22,87 |
16 |
11 |
796,77 |
20,25 |
17 |
10 |
724,34 |
19,06 |
18 |
9 |
651,90 |
17,15 |
19 |
8 |
579,47 |
15,25 |
20 |
7 |
507,03 |
13,34 |
De acordo com a Tabela
13, na medida em que aumentamos o erro admissível,
no intervalo entre 10% e 20%, o número de amostras
necessárias diminui significativamente. Em
conseqüência, os custos para a realização
do inventário florestal diminuem proporcionalmente,
pois implica em menos mão-de-obra e menos materiais
para montagem da estrutura amostral. Esse baixo custo
torna a atividade de inventário bem mais atrativa,
conforme se observa no Estado de São Paulo,
onde a legislação florestal admite erro
máximo de 20 % para planos de manejo do palmiteiro,
resultando em custos bastante compensadores e beneficiando
os proprietários de áreas florestadas
que necessitam do plano de manejo para legalização
do corte.
Informações obtidas na Atlântica
Assessoria Agro Ambiental Ltda., empresa responsável
pelo maior projeto de manejo sustentado do país,
indicam custos da ordem de R$ 20,00 por hectare, para
a região do Vale do Ribeira.
A Legislação Florestal do Estado de
Santa Catarina (Port. Int. N° 1), estabelece que
para o palmiteiro e para o xaxim, deve ser apresentada
a relação entre as áreas basais
dos indivíduos adultos da espécie de
interesse e da população das demais
espécies arbóreas. Neste caso, seria
realizado um levantamento dendrométrico de
todas as plantas presentes nas unidades amostrais,
identificadas pelo nome comum e nome científico,
com o objetivo de caracterizar toda a população
de plantas da área inventariada. Porém,
essa norma, além de aumentar os custos para
realização do inventário, exige
do profissional o conhecimento para identificação
de todas as espécies florestais, o que é
difícil até mesmo para pesquisadores
conceituados da área florestal.
Para o inventário do palmiteiro na FLONA de
Ibirama, o levantamento das demais espécies
não foi realizado, pois inviabilizaria tecnicamente
o trabalho, no sentido da identificação
das espécies.
Diante deste quadro, ressalta-se que da forma como
foram estabelecidas as normas da legislação
para manejo do palmiteiro em Santa Catarina, os parâmetros
técnicos e econômicos se constituem em
pontos de estrangulamento, os quais comprometem a
viabilidade do processo de inventário florestal.
Dessa forma, a legalização do manejo
do palmiteiro deixa de cumprir os seus objetivos,
pois conforme será mostrado a seguir, a floresta
se constitui em uma fonte potencial de renda para
o agricultor.
Cultivo
Caracteriza-se o palmiteiro como uma espécie
esciófila, ou seja, de sombra, principalmente
na sua fase jovem, necessitando de cobertura
florestal para o seu desenvolvimento. Conforme
já mencionado, a espécie ocorre
naturalmente como dominante no sub-bosque
dentro de diferentes formações
florestais.
Assim, considerando as características
ecológicas da espécie, a idéia
de cultivo mais convencional (como sistema
agrícola, a pleno sol) fica inviabilizada.
Resultados obtidos ou observações
concluem ou sugerem a inviabilidade |
Raras
palmeiras encontradas na Mata Atlântica.
|
desta
estratégia. Desta forma, duas estratégias
básicas têm sido recomendadas
ou propostas: o enriquecimento florestal e
o cultivo consorciado a sombra.
Neste sentido, vários trabalhos têm
sido realizados no sentido de caracterizar
o desenvolvimento do palmiteiro sob diferentes
intensidade de sombreamento. Tais trabalhos
têm estudado este aspecto visando o
potencial da espécie para cultivo consorciado
ou enriquecimento de formações
florestais secundárias. Os resultados
indicam um melhor desenvolvimento em níveis
entre 20% e 40% de sombreamento, ou níveis
intermediários de sombreamento nos
plantios em consorcio indicando grande potencial
para enriquecimento de formações
secundárias. Sugerem, inclusive que
sombreamentos inferiores a 20% poderiam ser
favoráveis à espécie.
A existência de grande quantidade de
formações secundárias
em diferentes estágios sucessionais
e adequação da legislação
para o manejo sustentado, oportunizam a viabilização
do adensamento ou enriquecimento florestal,
especialmente em fases sucessionais iniciais.
Para tal, ha a necessidade de identificar
não só espécies de importância
econômica e ecológica, mas também
o estádio em que a introdução
artificial de sementes ou mudas tenha o maior
sucesso. Apesar da necessidade de um ambiente
umbrófilo no seu desenvolvimento inicial
as plantas de palmiteiro respondem, substancialmente,
à disponibilidade de luminosidade,
porém com desenvolvimento inferior
em condições extremas. |
Com base nas características
altura da inserção, altura total, diâmetro
do colo e número de folhas, as mudas de palmiteiro
apresentaram um maior desenvolvimento no nível
de 50% de sombreamento. Experimentalmente comprovou-se
o que se observa nas condições de ocorrência
natural desta espécie e adicionalmente foram
obtidos dados sobre o crescimento de plantas até
o terceiro ano após a semeadura.
Os resultados obtidos em um experimento com condições
semi-controladas e de maior duração
indicaram que a ausência de sombreamento (pleno
sol) não só implicou em maior mortalidade
como também provocou o menor crescimento nas
características avaliadas comparativamente
aos tratamentos com sombra. Desta forma, é
possível inferir que o palmiteiro é
uma espécie esciófila, necessitando
de uma cobertura vegetal para seu estabelecimento,
na fase inicial de desenvolvimento. Adicionalmente,
os resultados indicaram que a densidade de plantas
foi um fator importante nas condições
de 50% sombreamento, onde ficou caracterizada a competição
intraespecífica como um fator determinante
no crescimento das plântulas. Este aspecto apresenta
grande relevância no entendimento do processo
de recrutamento em populações naturais
da espécie.
O fato de que as plantas submetidas à 18% de
sombreamento, apresentaram alta sobrevivência
e um crescimento razoável, evidencia o potencial
de utilização da espécie para
o enriquecimento de florestas secundárias em
fases iniciais da sucessão. Porém faz-se
necessários estudos relacionados com o crescimento
após o terceiro ano e com outros componentes
ambientais.
O palmiteiro produz anualmente, uma safra abundante
de sementes, tendo uma relevante função
ecológica, pois atrai um grande número
de dispersores. Desta maneira, o processo sucessional
de Florestas Secundárias pode ser dinamizado
à medida que o palmiteiro seja introduzido
e a fauna encontre abrigo e alimento para poder promover
a dispersão de espécies na floresta.
Quando em áreas florestais em estádio
sucessional inicial onde os indivíduos de palmiteiro
não estejam em número suficiente, ou
até mesmo ausentes, para manter um banco de
plântulas permanente, é necessário
a recomposição do mesmo. Neste sentido,
recomendam a distribuição de sementes
(frutos despolpados) na superfície do solo,
para implantação de palmitais, por ser
um método eficiente e de baixo custo.
Em locais onde suas populações tenham
sido totalmente destruídas, caracteriza-se
a necessidade da recomposição do banco
de plântulas do palmiteiro. Para tanto, sugere-se
que esta ação seja implementada em várias
etapas, ao longo de vários anos. Assim, poderia
se distribuir uma determinada quantidade de frutos
anualmente, o que favoreceria a formação
de populações inequiâneas, além
de evitar um prejuízo total do trabalho caso
ocorra um ano com condições climáticas
adversas para a germinação das sementes.
Experimentos realizados nos últimos 20 anos
apontam para uma sobrevivência de 30 % para
frutos jogados na superfície do solo. O número
médio de frutos por quilograma é de
1000. Se fosse o objetivo colocar na floresta cerca
de 3000 plântulas por hectare por ano, seriam
necessários 10 kg de fruto por hectare nesse
período. Esta semeadura seria repetida mais
duas vezes, com intervalos de dois anos. Seria esperado
que após o sexto ano do início da implantação
do palmital houvesse uma população inequiânea
de palmiteiro da ordem de 9000 plântulas por
hectare. Estas quantidades poderão, eventualmente,
ser redefinidas a partir da avaliação
da sobrevivência da plântulas ao longos
dos anos de implantação.
Consideram basicamente três formas de cultivo:
sombreamento definitivo (mata nativa ou arborização);
sombreamento temporário e consócio com
outras plantas.
O cultivo em mata nativa é recomendado para
áreas de ocorrência de E. edulis, sendo
realizado um enriquecimento da mata, utilizando o
sistema de semeadura direta, remanejamento de mudas
e plantio de mudas formadas em viveiros. Foi observado
um maior rendimento de palmito por área com
espaçamento de 1,5/1,0 e 1,0/1,0 m entre plantas,
com 2905 e 2496 Kg/ha, respectivamente.
No sistema de arborização utilizam-se
espécies de rápido crescimento, boa
fitossanidade e conformação da copa
como por exemplo a espécie Pithecelobium edwalii,
o espaçamento do palmiteiro segue as recomendações
anteriores
O sistema de sombreamento temporário, normalmente
é feito com bananeiras ou leguminosas arbustivas,
de preferência utilizando-se cultivares de porte
baixo, que serão eliminadas gradativamente
deixando as palmeiras a pleno sol a partir do terceiro
ano de plantio. Em experimentos realizados em Pariquera-Açu-SP,
destacaram-se três espécies de Crotalaria
e a Mimosa scabrella e em Ubatuba-SP, o guandú
e a Gmelina arbórea. Os maiores rendimentos
de palmito por área foram obtidos com espaçamento
de 2,0/1,0 m entre plantas.
Na forma de cultivo consorciado só foram estudadas
a consorciação do palmiteiro e do açaizeiro
com seringueiras (Hevia brasiliensis), onde apresentaram
viabilidade em regiões com baixa deficiência
hídrica. O espaçamento utilizado entre
os palmiteiros, segue as recomendações
anteriores, ressaltando que os maiores rendimentos
por planta são obtidos nos maiores espaçamentos
e, os maiores rendimentos por área são
obtidos com os menores espaçamentos.
Contudo, existe palmito (produto, também chamado
creme) proveniente de várias palmeiras. Além
do Euterpe edulis (juçara), vêm sendo
empregado, a partir de cultivos o Euterpe oleracea
(açaí) (proveniente da floresta amazônica),
o Bactris gassipaes (pupunha) (domesticada pelos índios
da Amazônia, mas plantada no ES, BA, SP e norte
do PR. Em SC as possibilidade de sucesso no cultivo
são pequenos devido ao frio), Arcantophoenix
alexandrae (palmeira real) (originária da Austrália,
tem mostrado bom potencial no estado, mas ainda faltam
muitas pesquisas) e outras palmeiras. Nos supermercados,
a maior parte do palmito existente é proveniente
do açaí, vinda da Amazônia. Em
termos de sabor Euterpe edulis é superior a
todos os outros, aparentemente a palmeira real é
a que mais se aproxima e a pupunha que tem as maiores
diferenças.
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ASPECTOS
SOCIAIS
Cortadores de palmito
(também chamados de palmiteiros)
Realizam o corte das plantas, 'limpeza da cabeça"
(retirada da maioria das bainhas foliares) e transporte
das cabeças até um pátio de estocagem
(situações de manejo legal) ou até
um ponto próximo a estrada para o transporte
no corte clandestino.
Podem agir de forma independente, repassando o produto
a um intermediário, pelo que recebem em torno
de R$ 60,00 por carga equivalente a 4 caixas de 15
vidros de 300 g cada, ou seja em torno de R$ 1,00
por cabeça de palmito.
Podem agir de forma conjunta, contratos por um intermediário
que 'distribui' um gripo de cortadores em uma dada
região e os 'recolhe' após um tempo
determinado (uma noite, um dia ou dois dias), juntamente
com o produto. Neste caso o pagamento é feito
por produtividade, pagando-se em geral R$ 1,00 por
cabeça.
Podem ser contratados para uma empreitada por uma
empresa ou produtor, recebendo também por produtividade,
em geral pagando R$ 0,50 a 0,70 por cabeça.
É a situação empregada nos projetos
legalizados.
A situação social dos cortadores é
em geral de miséria, sendo em sua totalidade
homens ou meninos (iniciando em torno dos 10 anos
como ajudantes dos pais no caso de ação
independente, segundo depoimentos de cortadores).
Em geral não possuem propriedades rurais ou
são posseiros, sem uma atividade fixa, atuando
como cortadores para complementar a renda familiar
ou, em muitos casos, como única opção
de renda.
No Vale do Ribeira, por exemplo, muitos são
membros de comunidades quilombolas, praticando agricultura
de subsistência em escala muito reduzida e não
possuem outra opção de obtenção
de renda na região. Em regiões mais
ao litoral tanto em São Paulo, como no RJ em
SC ou no Paraná, são pequenos pescadores
que complementam sua renda com o roubo do palmito.
Em Santa Catarina são em geral empregados de
pequenas propriedades rurais ou despossuídos
que encontram nessa atividade uma opção
para obtenção de renda.
Na maioria das situações a causa alegada
por estar na atividade é a falta de uma opção
de renda ou de uma opção mais rentável.
Em algumas situações a causa alegada
foi a de esta era a atividade principal do pai e portanto
o único ofício aprendido. Em todos os
casos fica claro que é uma opção
rentável e de pouco esforço (em média
um ou dois dias de trabalho semanal rendem R$ 60,00).
Contudo fica claro também que a situação
de miséria e falta de opção de
renda é o principal motivo que leva à
atividade.
Alguns cortadores de comunidades quilombolas do Vale
do Ribeira trouxeram um depoimento interessante e
bastante ilustrativo: A atividade de corte de palmito
era eventual, visando comercio em feiras, na época
dos seus avós, sendo a agricultura de subsistência
(com mandioca arroz e feijão) a atividade principal.
Na época dos seus pais (coincidindo isto com
a década de 40) a atividade intensificou-se,
especialmente com o aumento do número e da
demanda (volume de produção) das empresas
que industrializavam o palmito, assim, a atividade
principal foi passando a ser o corte do palmito (naquela
época só clandestina quando em propriedade
alheia), exatamente por ser mais rentável e
de menor esforço do que a agricultura de subsistência.
Assim, os atuais cortadores e seus filhos (muitos
também cortadores) cresceram atuando e tendo
esta como principal atividade. Segundo estes, a grande
mudança recente é a repressão,
a partir do final da década de 80. Mais a atividade
continua como principal para a maioria dos homens
nos quilombos do Vale do Ribeira.
Estes depoimentos podem ser estendidos para boa parte
das regiões com maiores áreas de cobertura
florestal no litoral do RJ, SP, PR e SC, onde as comunidades
tradicionais e/ou comunidades onde predominavam atividades
de subsistência e atualmente predomina a miséria
e o êxodo para as grandes cidades. Em todas
estas regiões a extração do palmito
da floresta passou a ser uma atividade mais rentável
e de menor esforço. Também em todas
estas regiões as fronteiras das propriedades
foram sendo desconsideradas (em muitos casos sequer
eram ou são bem estabelecidas, ou são
de Unidades de Conservação) e atividade
clandestina (no sentido da exploração
em propriedade alheia) vem predominando desde aproximadamente
a década de 60. Na maioria das situações
as características culturais e necessidades
básicas destas comunidades nunca foi considerada
quer pelos 'empregadores' quer pelo governo. Assim,
a atividade legal inicialmente (e em alguns casos
atualmente) ilegal e clandestina na sua maioria atualmente,
se institucionalizou nestas comunidades e regiões.
Atualmente, quando a preocupação maior
dos cidadãos é com a urgente conservação
do que resta da Mata Atlântica, faz-se necessário
opções de atividade rentáveis
e atrativas a estas comunidades.
Cortadores Envasadores
Agem de forma similar aos anteriores, contudo, processam
o produto dentro da floresta ou em 'fundos-de-quintal'.
Normalmente associados diretamente com intermediários,
os quais fornecem os vidros e o equipamento. Já
levam o produto pronto para ser rotulado ou fazem
o comércio sem rotulo.
Intermediários
ou contratantes
São os elementos centralizados do produto,
fazem a ligação entre os cortadores
e as fábricas. Em geral cada intermediário
recepta o produto de 10 cortadores, com um fluxo de
mais de 200 caixas por mês.
Agricultores
Nas regiões onde a estrutura fundiária
é predominantemente de minifúndios,
são os próprios agricultores que fazem
o papel de cortadores e intermediários. Em
Santa Catarina é comum os agricultores manterem
uma reserva de palmito como 'poupança'. São
também detentores do produto.
Proprietários
de Terra
São os detentores do produto. Em alguns casos
sendo coniventes e estimulando a clandestinidade,
em outros procuram proteger as suas propriedades com
sistema de vigilância ou então buscam
o processamento legal.
Fábricas
Fazem o beneficiamento do produto. Em geral são
registradas no IBAMA, mas adquirem, na sua maioria,
palmito legalizado apenas como fachada.
Algumas fábricas funcionam como centralizadoras
do produto não apenas das fabriquetas, mas
também de outra fábricas menores ou
de abrangência mais regional. Esta fábricas
têm atuação nacional (ou interestadual)
com maior volume de produção e poder
de barganha, conseguem bons mercados. Em muitas situações
funcionam como atacadistas.
Fabriquetas
Pequenas fábricas clandestinas ou mesmo apenas
o equipamento para beneficiamento do produto na própria
floresta. Além de fazerem o processamento clandestino,
não respeitam normas de higiene e segurança
necessárias.
Empresários
São, em geral, os proprietários das
fábricas. Sempre alegam que estão totalmente
legalizados e não compram produto clandestino,
como pode ser visto nos relatos dos levantamentos
realizados junto a empresas de Santa Catarina (anexo
III) e no questionário aplicado pelo IBAMA
no Vale do Ribeira (anexo IV)
Descascadores
São geralmente homens, eventualmente mulheres,
e têm a função básica na
fábrica de retirar as bainhas da 'cabeça'
do palmito antes do corte em toletes.
Cortadeiras
São geralmente mulheres, sendo o trabalho mais
especializado da fábrica. Elas cortam o palmito
em toletes e envasam os mesmos. O trabalho é
especializado no sentido de 'sentir' a textura do
palmito para evitar toletes fibrosos e ao mesmo tempo
não desperdiçar o produto.
Donos de Restaurantes
e Pizzarias
Adquirem o palmito clandestino, em geral sem rótulo,
procurando garantir qualidade e fartura do produto
no seu estabelecimento.
Redes de Supermercado
Geralmente adquirem o seu produto diretamente das
empresas, contudo procuram barganhar preço,
sem preocupação com a origem.
Polícia
Florestal
Faz o trabalho de repressão e educação.
Tem apresentado atuação mais intensa
no campo e na industria de conservas.
Fiscais das agências
ambientais
Fazem a análise, orientação e
vistoriam e fiscalizam os projetos de manejo. Também
têm ação na repressão e
educação. Geralmente tem um volume de
atividades e campo de atuação superior
a sua capacidade.
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ASPECTOS
ECONÔMICOS
Características
de mercado
O produto obtido, palmito, é facilmente comercializado,
sendo integralmente absorvido pela grande demanda
existente no mercado interno, mais exigente quanto
à qualidade. O mercado externo também
apresenta uma razoável demanda, contudo, o
palmito destinado a exportação é
procedente, na sua quase totalidade, da região
Amazônica, obtido a partir de Euterpe oleracea.
Esta aspecto mostra-se bastante evidente pelos dados
da Tabela 14, com a participação expressiva
do Estado do Pará na produção.
O mercado internacional está estimado em US$
500 milhões segundo dados da Associação
Brasileira dos Produtores de Palmito (ABRAPALM) .
O Brasil é o maior exportador de palmito do
mundo, detendo 85% do mercado mundial. Entre os principais
compradores estão: Argentina, França
e Estados Unidos (Tabela 15). Os principais concorrentes
no mercado mundial são a Costa Rica (13% do
mercado mundial, com a produção anual
de 3.600 toneladas métricas de palmito cultivado),
Bolívia, Venezuela e Peru. As principais dificuldades
encontradas para conquistar o mercado externo dizem
respeito a falta de padronização, de
constância de fornecimento, qualidade e marketing.
Em função destas dificuldades o Brasil
vem apresentando flutuações nas exportações.
Tabela 14 - Evolução
da produção extrativista de palmito,
por estado e total do Brasil, 1980/1995 (em toneladas).
Região |
1980 |
1981 |
1982 |
1983 |
1984 |
1985 |
1986 |
1987 |
1988 |
1989 |
1990 |
Norte |
110.125 |
82.617 |
95.084 |
95.397 |
94.594 |
126.040 |
124.314 |
138.744 |
189.228 |
201.395 |
25.995 |
RO |
- |
- |
- |
- |
- |
30 |
102 |
77 |
129 |
102 |
69 |
AM |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
PA |
108.759 |
76.597 |
92.804 |
92.778 |
92.739 |
116.860 |
115.067 |
130.785 |
182.027 |
195.132 |
21.957 |
AP |
1.366 |
6.020 |
2.280 |
2.619 |
1.855 |
9.150 |
9.145 |
7.882 |
7.072 |
6.161 |
3.969 |
Nordeste |
106 |
170 |
117 |
120 |
100 |
102 |
89 |
92 |
48 |
35 |
30 |
BA |
106 |
170 |
117 |
120 |
100 |
102 |
89 |
92 |
48 |
35 |
30 |
Sudeste |
2.431 |
2.274 |
1.777 |
1.968 |
9.446 |
4.689 |
5.539 |
2.269 |
169 |
120 |
213 |
MG |
41 |
34 |
132 |
162 |
109 |
66 |
47 |
45 |
51 |
43 |
41 |
ES |
77 |
83 |
76 |
57 |
42 |
35 |
33 |
30 |
24 |
20 |
7 |
RJ |
25 |
17 |
16 |
229 |
91 |
91 |
70 |
60 |
12 |
10 |
8 |
SP |
2.288 |
2.140 |
1.553 |
1.520 |
9.204 |
4.497 |
5.389 |
2.134 |
82 |
47 |
157 |
Sul |
1.710 |
5.455 |
2.709 |
1.035 |
1.057 |
1.232 |
108 |
875 |
805 |
818 |
684 |
PR |
640 |
4.297 |
1.548 |
123 |
176 |
170 |
108 |
20 |
11 |
88 |
83 |
SC |
1.070 |
1.146 |
1.150 |
902 |
872 |
1.055 |
899 |
850 |
791 |
728 |
599 |
RS |
- |
12 |
11 |
10 |
9 |
7 |
7 |
5 |
3 |
2 |
2 |
C.
Oeste |
35 |
25 |
18 |
29 |
29 |
42 |
57 |
80 |
66 |
72 |
108 |
MT |
9 |
9 |
3 |
6 |
6 |
12 |
22 |
36 |
41 |
43 |
81 |
GO |
26 |
16 |
15 |
23 |
23 |
30 |
35 |
44 |
25 |
29 |
27 |
Brasil |
114.407 |
90.541 |
99.705 |
98.549 |
105.226 |
132.105 |
130.107 |
142.060 |
190.316 |
202.440 |
27.030 |
Região |
1990 |
1991 |
1992 |
1993 |
1994 |
1995 |
Norte |
25.995 |
22.791 |
19.883 |
20.881 |
21.136 |
19.299 |
RO |
69 |
51 |
43 |
56 |
58 |
64 |
AM |
- |
- |
6 |
- |
- |
- |
PA |
21.957 |
19.349 |
17.086 |
18.016 |
18.586 |
17.001 |
AP |
3.969 |
3.391 |
2.748 |
2.809 |
2.492 |
2.234 |
Nordeste |
30 |
30 |
31 |
30 |
25 |
25 |
BA |
30 |
30 |
31 |
30 |
25 |
25 |
Sudeste |
213 |
44 |
130 |
62 |
62 |
269 |
MG |
41 |
23 |
17 |
16 |
14 |
23 |
ES |
7 |
4 |
2 |
1 |
1 |
1 |
RJ |
8 |
0 |
0 |
- |
- |
- |
SP |
157 |
17 |
111 |
45 |
47 |
245 |
Sul |
684 |
526 |
353 |
218 |
140 |
142 |
PR |
83 |
85 |
267 |
143 |
128 |
141 |
SC |
599 |
439 |
81 |
61 |
11 |
- |
RS |
2 |
2 |
5 |
14 |
1 |
1 |
C.
Oeste |
108 |
296 |
606 |
406 |
539 |
919 |
MT |
81 |
282 |
593 |
397 |
527 |
907 |
GO |
27 |
14 |
13 |
9 |
12 |
12 |
Brasil |
27.030 |
23.687 |
21.003 |
21.597 |
21.902 |
20.654 |
OBS: A diferença
encontrada entre 1989 e 1990, no estado do Pará,
não podem ser explicada apenas pela redução
da oferta de palmito. Provavelmente devem existir
outros fatores (que infelizmente não puderam
ser levantados) que estão causando esta queda.
Fonte dos dados: IBGE, vários anos
* Valores de 1997
são referentes até o mês de junho.
Fonte dos dados: FNP, 1998.
Tabela 16 - Consumo
anual "per capita" de palmito em conserva,
principais centros urbanos.
Região |
Consumo
(kg) |
Consumo
Total da região |
População
urbana metropolitana |
Belém |
0,004 |
4.565,92 |
1.141.481 |
Fortaleza |
0,015 |
29.679,78 |
1.978.652 |
Recife |
0,002 |
5.220,58 |
2.610.291 |
Salvador |
0,006 |
13141,78 |
2.190.296 |
B.
Horizonte |
0,032 |
105.034,78 |
3.282.337 |
R.
Janeiro |
0,021 |
222.627,47 |
10.601.308 |
São
Paulo |
0,159 |
2.495.059,01 |
15.692.195 |
Curitiba |
0,085 |
165.483,36 |
1.946.863 |
P.
Alegre |
0,034 |
93.000,44 |
2.735.307 |
Goiânia |
0,044 |
72.595,47 |
1.649.897 |
Brasília |
0,049 |
46433,14 |
947.615 |
Fonte dos dados: POF
1987/1988 - IBGE.
O perfil do consumidor
de palmito é representado por famílias
de alto poder aquisitivo, devido ao alto preço
do produto, como mostra a Pesquisa de Orçamentos
Familiares do Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE).
Segundo dados desta pesquisa, cada família
paulistana gasta em média R$ 0,47/mês
com palmito, ou seja, uma gasto anual de R$ 5,64.
O número de famílias estimados para
São Paulo durante a realização
desta pesquisa era de 2.856.213, portanto o gasto
mensal total para o município era de R$ 1.342.420,00
(R$ 16.109.041,00 anuais). Deste total cerca de 70%
refere-se ao consumo do extrato 3 (Tabela 17).
Tabela 17 - Gastos
(R$) com palmito por faixa de rendimento - Município
de São Paulo.
Extratos |
Gasto mensal
por domicílio |
Gasto
anual
por domicílio |
Gasto
mensal
total do extrato |
Gasto
anual
total do extrato |
1 - Gasto médio mensal
de R$ 400,17 |
0,06 |
0,72 |
54.252 |
651.027 |
2 - Gasto médio mensal
de R$ 747,39 |
0,34 |
4,08 |
307.429 |
3.689.156 |
3 - Gasto médio mensal
de R$ 1.674,98 |
1,04 |
12,48 |
940.377 |
11.284.478 |
Fonte dos dados: POF
94/95 - DIEESE.
É interessante
observar que ao comparar as duas estimativas (IBGE
1987/88 e DIEESE 1994/95) o consumo "per capita"
caiu de 159 gr para 75 gr. Isto é facilmente
explicado se compararmos os preços de cada
época: US$ 1,57 para 1988 e US$ 7,44 para 1995,
ou seja, houve um aumento de cerca de 470%. Consequentemente,
o consumo diminuiu uma vez que o palmito não
é considerado um gênero de primeira necessidade.
O consumo de palmito não se restringe apenas
aos domicílios. O consumo em restaurantes,
pizzarias, churrascarias, etc. é bastante elevado.
Se tomarmos como exemplo a cidade de São Paulo,
o consumo estimado pela ABIA era de 6.736 toneladas
(em 1994), sendo que o consumo doméstico foi
responsável apenas por 880 toneladas (em 1995),
segundo dados do DIEESE. Portanto torna-se claro que
estes estabelecimentos devem responder por uma parcela
significativa do consumo .
Consumo e preço
do palmito de Euterpe edulis
Os dados oficiais sobre a produção e
o consumo de palmito no Brasil são escassos
e pouco confiáveis. A existência da produção
e comercialização clandestina de palmito
praticamente inviabilizam uma contabilidade precisa
dos números oficiais da produção.
As estimativas realizadas a partir de pesquisas apontam
para um consumo interno de 40 mil toneladas anuais,
correspondentes a um mercado interno de mais de 400
milhões de dólares, uma cifra alcançada
por poucos produtos no Brasil. Apesar de que somente
10% desse total é produzido a partir de Euterpe
edulis, essa estimativa é um bom indicativo
do potencial quase ilimitado para a colocação
do palmito da Floresta Atlântica.
Considerando esta estimativa de 4 mil toneladas anuais,
e que apenas recentemente (1993 em diante) estão
em andamento projetos de manejo sustentado, é
possível estimar a área de corte anual
de palmiteiros entre 27.009 ha (supondo populações
pouco alteradas da espécie, com rendimento
média em torno de 148,1 kg de palmito por hectare
- Tabela 5) e 160.000 ha (considerando populações
já alteradas, com rendimento médio em
torno de 25 kg por hectare).
O volume comercializado somente na capital de São
Paulo é estimado em mais de seis mil toneladas
por ano, em termos totais, ou supondo 10% proveniente
de Euterpe edulis, 600 toneladas ano (o que representa
o corte de uma área entre 4.051 e 24.000 ha,
apenas para atender a capital paulista) sendo este
o maior mercado consumidor. Outros 500 mil kg são
consumidos em Curitiba, ou aproximadamente 50 mil
kg de Euterpe edulis, eqüivalendo ao corte de
uma área entre 340 e 2.000 por ano.
Para Santa Catarina, poucos dados são disponíveis.
Uma pesquisa de mercado no início de 1998 em
Florianópolis, foi realizada para entender
o padrão de consumo na região. A cidade
tem 271 mil habitantes, ou 6% da população
do estado. Foram amostrados vários tipos de
compradores de palmito, desde supermercados até
restaurantes e pastelarias. Um supermercado vende,
em média, 8,7 mil quilos de palmito por ano,
o que daria uma quantidade total vendida em Florianópolis
de, pelo menos, 200 mil quilos por ano. Deste total,
62% é palmito de Euterpe edulis, sendo o complemento
palmito de açaí, vindo da Amazônia.
Para os padrões de produtividade de populações
naturais da espécie em Santa Catarina (195,4
kg/ha) isto representaria o corte de uma área
entre 634 e 4.960 ha anuais para abastecimento da
cidade.
O preço médio de venda do palmito no
varejo em Florianópolis é de US$4,97
por vidro de 300g, com variação entre
US$3,47 e US$8,41 por vidro. O açaí
é vendido em média por US$3,75 por vidro,
variando entre US$2,96 e US$4,24. Nas feiras-livres
ainda é possível encontrar palmito produzido
pelo próprio agricultor, ao preço médio
de US$2,47 por vidro (todos os preços com base
no palmito em toletes, em vidros de 300 gramas).
No caso do palmito, é interessante notar que
a grande variação no preço não
reflete necessariamente uma variação
na qualidade do produto. Os fatores determinantes
do preço ao consumidor seriam então
uma função dos custos de produção
e das estratégias de venda. Os custos de produção
podem variar imensamente já que os sistemas
de produção variam desde o roubo e a
exploração predatória, onde os
custos são apenas corte, transporte e processamento,
até o sistema de manejo que emprega as mais
recentes técnicas de manejo para garantir uma
produção sustentável. Apesar
de que a eficiente administração do
processo produtivo certamente contribui para a manutenção
de baixos custos, é licito suspeitar de produtos
com preço muito baixo. Muitas empresas de conserva
compram palmito roubado para baixar o custo da sua
matéria-prima. Muitos restaurantes também
compram palmito clandestino para oferecer o produto
em abundância aos clientes. Essa é, por
exemplo, uma estratégia de "marketing"
utilizada pelas churrascarias em São Paulo,
conforme depoimentos de empresários do setor,
como já mencionado.
Assim, o palmito produzido clandestinamente força
para baixo o preço do produto no varejo. O
mesmo papel tem o açaí trazido da Amazônia.
Chegando ao mercado do Sul do país com preços
bem mais baixos que o palmito (em torno de US$1,00
o vidro), o açaí se torna uma alternativa
para o consumidor de mais baixa renda. Para manter
o palmito competitivo em relação ao
açaí, os produtores de palmito tem que
reduzir sua margem de lucro ou reduzir os custos de
produção, ou seja, menos investimento
em produção sustentável.
O açaí também exerce uma pressão
sobre o preço do palmito vendido aos restaurantes.
Normalmente, o palmito chega ao restaurante por um
preço inferior ao do açaí no
supermercado. Do contrário, o proprietário
do restaurante pode optar pela compra do açaí.
O palmito clandestino é vendido para os restaurantes
por um preço médio de US$2,00 por vidro
de 300 gramas, com uma variação muito
pequena. Uma outra vantagem na compra do palmito clandestino
é que o proprietário do restaurante
normalmente tem o direito de devolver ao fornecedor
lotes de palmito de baixa qualidade, traduzida por
produto muito fibroso. A maioria dos restaurantes
têm um fornecedor fixo, só mudando de
fornecedor quando outra oferta tem preço muito
mais vantajoso. A venda de palmito para os restaurantes
ainda é vantajosa para o produtor. Enquanto
ele pode ganhar US$2,00 por vidro vendendo para o
restaurante, o fabricante pagaria apenas US$1,50 por
vidro, para o palmito já envasado.
A pesquisa realizada envolveu 65 estabelecimentos
de vários tipos em Florianópolis em
1998. A média de consumo anual por restaurante
é de 500 kg, e um total estimado de 100 mil
quilos para o município, ou uma área
entre 512 e 4.000 ha anuais. Diferentemente do padrão
de consumo apontado por uma pesquisa realizada em
São Paulo, onde o maior consumo se dá
em restaurantes e pizzarias, o maior consumo de palmito
na região se dá a nível domiciliar.
Entre os estabelecimentos consultados, 71% tem palmito
no cardápio. Dentre estes, 64% compram palmito
clandestino. Alguns proprietários de restaurantes
afirmam abertamente que compram palmito clandestino,
e o que lhes interessa é o preço e a
qualidade do produto. Outros se mostram mais reticentes
em admitir a compra de produto clandestino. É
preocupante observar que fatores como a incerteza
sobre a qualidade sanitária do produto clandestino
jamais foi mencionada por qualquer empresário
como sendo relevante.
Comercialização
Existem duas formas de comercialização
de palmito quando o processamento não é
realizado na propriedade. A primeira é a venda
do palmito na planta, ou seja, é estabelecido
um valor de venda para cada dúzia de plantas
extraídas da floresta. A segunda é a
venda por produtividade na fábrica. Neste caso,
o agricultor acompanha o rendimento de palmito, transformado
em número de latas ou vidros de palmito em
conserva.
A segunda forma de comercialização é
a mais difundida entre as indústrias de conserva,
pois permite uma remuneração mais justa
para ambas as partes, tendo em vista a obtenção
da produtividade de palmito. Em muitos casos, especialmente
em Santa Catarina, o agricultor é o responsável
pelo transporte do produto até a indústria
de conserva. Em outras situações a empresa
se responsabiliza pelo processo de corte e transporte,
nestes casos os custos ficam imbutidos no preço
pago pela empresa.
Análise
Econômica de um Projeto: Custo da Produção
Sustentada
A análise econômica do Plano de Manejo
foi realizada por meio de instrumentos tradicionais
de análises de projetos, para a Unidade Demonstrativa
da FLONA de Ibirama (IBAMA) (ver Tabelas 11 e 12).
Os dados relativos aos custos e receitas foram distribuídos
numa tabela de fluxo de caixa, com fluxo líquido
anual esperado e atualizado para uma taxa de 6% ao
ano. A relação benefício/custo
foi elaborada através da operação
Receita Total/Custo Total, com valores atualizados
no final de 5 anos. Um outro método consistiu
no cálculo da Taxa Interna de Retorno, considerando
o projeto viável se sua TIR for igual ou maior
que um custo de oportunidade de 6% ao ano.
Custos do projeto
Os custos inerentes ao projeto de exploração
de palmito foram divididos nas seguintes etapas:
1) Elaboração do plano de manejo florestal
sustentável por um profissional da área;
2) Taxa de liberação para manejo estabelecido
pelo Órgão Estadual do Meio Ambiente
(FATMA);
3) Taxa de fiscalização do manejo estabelecida
pelo IBAMA;
4) Mão-de-obra para a extração
do palmito da floresta;
5) Gastos com o transporte do palmito no interior
da propriedade;
6) Gastos de transporte do palmito até a indústria;
7) Juros sobre a terra;
8) Depreciação, manutenção
e gastos com materiais utilizados para o processo
exploratório.
A tabela 17 apresenta os custos relativos aos honorários
profissionais para elaboração do PMFS,
de acordo com o sindicato dos Engenheiros Agrônomos
de Santa Catarina, e as taxas de liberação
e fiscalização de áreas sob manejo
estabelecidas pela FATMA e IBAMA, respectivamente.
As despesas do inventário representam o investimento
inicial necessário para avaliação
do potencial existente, enquanto as taxas representam
o investimento inicial para legalização
do manejo florestal.
Tabela
17 - Custos relativos aos honorários profissionais
para elaboração do Plano de Manejo Florestal
e taxas de liberação e fiscalização
de áreas de manejo.
Descrição
dos custos |
Custo
p/38 ha R$ |
Custo/ha
R$ |
Área de 25 ha: 1.849,00
UFIR*, acresce 1% por hectare sobre o valor
básico para áreas maiores. |
1.900,00
|
50,00 |
Taxa de liberação
para exploração de palmito: 400
UFIR |
364,00 |
9,57 |
Taxa de fiscalização:
R$ 271,50 para áreas de até 250
ha; acresce R$ 0,50/ha sobre o valor básico
para áreas maiores. |
271,50 |
7,14 |
TOTAL (custo inicial) |
2.535,50 |
66,72 |
*: UFIR agosto de
1997: R$ 0,91
A Tabela 18 apresenta uma descrição
dos custos de exploração de palmito
por hectare para o primeiro ciclo de exploração.
Tabela 18 - Custos
para exploração de um hectare de palmito
na FLONA de Ibirama.
Descrição |
Unid. |
Quantidade |
Valor
R$ |
Honorários
para elaboração de projeto |
UFIR |
54,9 |
50,00 |
Taxa
de liberação para exploração
(FATMA) |
UFIR |
10,5 |
9,57 |
Taxa
de fiscalização (IBAMA) |
- |
- |
7,14 |
Mão-de-obra
para exploração de palmito |
dH |
2,9 |
43,50 |
Transporte
interno |
dia |
1 |
25,00 |
Transporte
externo |
ton |
0,5 |
10,00 |
Remuneração
da terra (6% a.a) |
ano |
1 |
60,00 |
Outros
(Depreciação, manutenção) |
- |
- |
25,00 |
CUSTO
TOTAL/ha |
- |
- |
230,21 |
Receitas e fluxo
de caixa
Com relação à receita, procurou-se
informações confiáveis sobre
o preço pago ao produtor junto a indústrias
de conserva de palmito do Estado de Santa Catarina,
nas regiões de Brusque e Guaramirim. De acordo
com o levantamento realizado, a remuneração
ao produtor é feita por produtividade na fábrica,
sendo que o valor pago por vidro de 300 gramas gira
em torno de R$ 1,20. A Tabela 19 apresenta a expectativa
do fluxo de caixa anual para um período de
5 anos, que corresponde ao primeiro ciclo de exploração
da área sob manejo, considerando uma produtividade
de 492 vidros de 300 gramas por hectare.
Tabela 19 - Fluxo
de caixa anual (R$), com atualização
dos valores, para o primeiro ciclo de exploração
de palmito na FLONA de Ibirama.
Ano |
Custos
talhão |
Custo
inicial |
Receita
talhão |
Fluxo
Líquido talhão |
Taxa
6% |
Valores
atualizados R$
Receita / Custo |
Fluxo
líquido
atualizado talhão |
0 |
- |
2.535,50 |
- |
-2.535,50 |
1 |
- |
2.535,50 |
-2.535,50 |
1 |
1.242,60 |
- |
4.487,04 |
3.244,44 |
.943 |
4.231,27 |
1.171,77 |
3.059,50 |
2 |
1.242,60 |
- |
4.487,04 |
3.244,44 |
.889 |
3.988,97 |
1.104,67 |
2.884,30 |
3 |
1.242,60 |
- |
4.487,04 |
3.244,44 |
.839 |
3.764,62 |
1.042,54 |
2.722,08 |
4 |
1.242,60 |
- |
4.487,04 |
3.244,44 |
.792 |
3.553,73 |
984,13 |
2.569,59 |
5 |
1.242,60 |
- |
4.487,04 |
3.244,44 |
.747 |
3.351,81 |
928,22 |
2.423,59 |
Total |
6.213,00 |
2.535,50 |
22.435,20 |
13.686,70 |
- |
18.890,40 |
7.766,83 |
11.123,56 |
Relação
R$/U$ = 1,09
Taxa interna de retorno (TIR)
Tabela 20 - Taxa interna
de retorno, considerando-se os 5 anos para exploração
do primeiro ciclo de corte na FLONA de Ibirama.
Ano |
Receitas |
Custos |
Fluxo |
Multiplicadores
Resultados |
120% |
130%
|
120% |
130% |
0 |
- |
2.535,50 |
-2.535,50 |
1 |
1 |
-2.535,50 |
-2.535,50 |
1 |
4.487,04 |
1.242,60 |
3.244,44 |
0,4545 |
0,4347 |
1.474,74 |
1.410,62 |
2 |
4.487,04 |
1.242,60 |
3.244,44 |
0,2066 |
0,1890 |
670,33 |
613,31 |
3 |
4.487,04 |
1.242,60 |
3.244,44 |
0,0939 |
0,0821 |
304,69 |
266,65 |
4 |
4.487,04 |
1.242,60 |
3.244,44 |
0,0426 |
0,0357 |
138,49 |
115,93 |
5 |
4.487,04 |
1.242,60 |
3.244,44 |
0,0194 |
0,0155 |
62,95 |
50,41 |
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
115,73 |
-78,55 |
TIR = (Taxa menor
+ Diferença entre taxas(Fluxo positivo/Diferença
entre fluxos))
TIR = (120% + 10%(115,73/194,28))
TIR = 126%
Relação Benefício/Custo
= Receita total/Custo total
=18.890,40/7.766,83
= 2,43
voltar
VIABILIDADE
ECONÔMICA
De acordo com a análise
econômica, a exploração de palmito
na área sob manejo da FLONA é altamente
viável. O retorno ao investimento acontece
no primeiro ano, com um saldo líquido de R$
708,94, sendo que nos anos seguintes do ciclo de corte
a atividade exploratória proporciona um renda
líquida anual de R$ 3.244,44, o que corresponde
a 2,25 salários mínimos mensais. Esta
remuneração é bastante significativa
quando comparada com uma atividade agrícola,
tendo em vista que a renda está sendo proporcionada
por apenas um dos recursos potenciais que a floresta
pode proporcionar.
A TIR do capital investido no projeto para o primeiro
ciclo de exploração é de 126%,
o que viabiliza o projeto considerando um custo de
oportunidade de 6%. Além disso, durante o primeiro
ciclo, para cada real investido, são recuperados
R$ 2,43 considerando-se um custo de oportunidade de
6% ao ano.
A análise econômica de projetos sempre
prevê a estabilização da atividade
desenvolvida. No caso da exploração
de palmito, no momento da elaboração
do Plano de Manejo é possível fazer
uma previsão até o período considerado
como ciclo de corte, tendo em vista o não conhecimento
do comportamento da espécie em termos de crescimento
nas condições locais. Neste caso, a
produtividade e, em conseqüência, a rentabilidade
para os demais ciclos de exploração
só serão conhecidas com a caracterização
do crescimento, através de uma reavaliação
pós exploratória. Isto evidencia a necessidade
do inventário contínuo da área
sob manejo, tendo em vista o impacto causado à
floresta pelo processo exploratório.
Rentabilidade do
manejo do palmiteiro
A análise econômica do Plano de Manejo
Florestal Sustentável, demonstra que o manejo
sustentável do palmiteiro na FLONA de Ibirama
é altamente rentável. A produtividade
de palmito, estimada 147,6 kg por hectare, é
bastante elevada considerando que a floresta se encontra
em estádio de sucessão secundário.
É claro que esta produtividade diz respeito
ao primeiro ciclo de exploração da área,
sendo que a estimativa para o segundo ciclo só
será possível através da caracterização
do incremento daquela população, obtida
após uma segunda avaliação.
A produtividade dos palmitais é muito variável,
uma vez que o número de plantas e também
o seu desenvolvimento está muito relacionado
com o tipo e estádio da floresta em que este
ocorre. Em uma Floresta Ombrófila Densa Montana
(Blumenau/SC), de formação primária,
obteve-se um rendimento de 161 kg por hectare, para
um diâmetro limite (DLC) de corte de 8,6 cm.
Por outro lado, para uma floresta secundária
no município de São Pedro de Alcântara/SC,
obteve-se um rendimento de 86,3 kg por hectare no
primeiro ciclo de exploração, com um
DLC de 7,0 cm.
A rentabilidade proporcionada pela exploração
de palmito na FLONA de Ibirama é bastante superior
à maioria das culturas anuais. A taxa de rentabilidade
do dinheiro empregado no projeto de exploração
(TIR) é de 139,59%, durante os cinco anos correspondentes
ao primeiro ciclo de exploração, o que
demonstra a sua viabilidade considerando um custo
de oportunidade de 6%. A relação Benefício/Custo
é de 2,39, sendo que o projeto de exploração
se paga ainda no primeiro ano.
Considerando que a floresta apresentava um rendimento
zero, devido a intocabilidade da área, com
o manejo começa a significar um rendimento
econômico para a propriedade rural. Esse rendimento,
chamado por alguns autores de juro florestal, implica
para o agricultor usufruir do manejo correto da floresta,
sem comprometer a biodiversidade do ambiente.
Neste contexto, o palmiteiro, na área de sua
abrangência, se constitui em uma fonte potencial
para o desenvolvimento sustentável de regiões
com áreas de florestas nativas passíveis
de serem manejadas. O custo de conservação
dessas áreas florestadas é retribuído
substancialmente se o proprietário manejar
corretamente este recurso.
voltar
LEGISLAÇÃO
Com o advento do Decreto
Lei 750, prevendo a exploração sustentada
das espécies da Floresta Atlântica, alguns
Estados normatizaram a exploração da
espécie com base em estratégias de manejo
sustentado.
São Paulo
Em São Paulo, primeiro Estado a apresentar
uma legislação para manejo sustentado
após o DL750, a Resolução SMA
16 de 16/05/94 prevê a exploração
da palmeira juçara (Euterpe edulis) com base
no Plano de Manejo Sustentado (PMS), com autorização
do órgão estadual, o Departamento de
Proteção dos Recursos Naturais (DEPRN).
A Resolução SMA 16 é específica
para o palmiteiro.
O PMS deve conter planta planialtimétrica da
propriedade, dados de inventário (distribuição
diamétrica das plantas, regeneração
natural, número de matrizes, planilha de campo,
lay-out das parcelas permanentes, etc.) e deve prever
a exploração somente de plantas com
DAP acima de 9 cm ( ou com diâmetro limite estabelecido
a partir de uma curva de incremento gerada na propriedade),
manutenção de ao menos 50 indivíduos
reprodutivos por hectare e no mínimo uma regeneração
natural (plantas com altura da estipe exposta menor
que 1,3 m) de 5.000 plantas por hectare. O inventário
deve admitir um erro máximo de 20 %.
O plano de corte deve ser estabelecido com um ciclo
mínimo de 5 anos, contemplando um corte máximo
de 20% da área por ano ou 50 ha, o que for
maior.
Para propriedades com área inferior a 50 hectares
a resolução prevê um processo
simplificado e a proposta de exploração
pode ser feita com estimativas realizadas pelo próprio
interessado, com orientação do órgão
licenciador (DEPRN).
voltar
CERTIFICAÇÃO
As possibilidades
de certificação para projetos de manejo
de palmiteiro são bastante favoráveis.
Três questões são especialmente
relevantes neste sentido: os critérios técnicos
estabelecidos na legislação para o manejo
da espécie são fundamentados em conhecimento
da autoecologia da espécie e/ou experiências
consistentes; o reduzido impacto (comparativamente
a espécies de dossel e/ou produtoras de madeira)
da exploração e o mercado (inclusive
o internacional) de alta demanda.
Contudo, aparentemente o mercado não tem sinalizado
com a possibilidade de ganhos devido a certificação.
Atualmente nenhuma empresa ou produtor envolvido com
o palmito tem buscado a certificação
florestal.
O mercado interno, ainda que apresente uma alta demanda,
posse uma concorrência desleal, em termos de
preço e processos de comercialização,
com o produto proveniente da clandestinidade. O produto
proveniente deste processo (já descrito em
itens anteriores) chega ao comércio com qualidade
aparentemente similar e preço bastante inferior
ao legalizado.
Entretanto, a alta demanda do mercado interno implica
em espaço para um produto diferenciado (estratégia
já empregada por algumas empresas: rótulo
com o selo "palmito proveniente de manejo sustentado").
Possivelmente estratégias de marketing e/ou
educação ambiental poderiam ampliar
este mercado diferenciado.
O mercado internacional, também com uma boa
demanda, tem sido suprido com o açaí
ou com a pupunha. Contudo, mercados mais exigentes
começado a se abrir (especialmente Alemanha
e Japão, segundo alguns empresários)
e, nestes casos, o processo de certificação
pode ser de grande valia, conforme posição
explicitada por alguns empresários.
Um caso bastante interessante é o da Indústria
e Comércio de Conservas Juriti Ltda., sediada
no município de Guaramirim (entre o Vale do
Itajaí e a Região Litoral Norte de Santa
Catarina). A empresa está envolvida a 36 anos
com a exploração de palmito e outras
conservas; o palmito representa 50 % do faturamento
e cerca de 30 % do volume de produção.
Nos últimos anos, entretanto, intensificou
um investimento em qualidade visando não apenas
o mercado nacional, mas especialmente o mercado japonês.
A empresa iniciou a implantação de um
programa de Sistema de Gestão Ambiental, visando
a certificação ISO 14000 (especialmente
visando o tratamento dos efluentes da indústria
e os padrões de higiene no processamento industrial).
Paralelamente investiu na aquisição
de matéria prima proveniente de planos de manejo
sustentado, adquirindo palmito do litoral do Paraná,
do Litoral Norte de Santa Catarina (maior área
com plano de manejo em Santa Catarina - Anexo I -
Tupy Energética) e do Vale do Ribeira (maior
área com manejo sustentado do país -
Anexo I - Agroindustrial Eldorado), o que permite
um bom fluxo de produção. Atualmente
mantém um fluxo de exportação
trimestral para o Japão, além do seu
mercado tradicional em São Paulo (redes de
supermercados, restaurantes, hotéis e atacadistas).
A empresa mantém ainda uma reserva de 3.300
ha de floresta com palmiteiros no município
(com intenções de ampliá-la)
e uma área de 134 ha onde iniciou o cultivo
de palmeira real (Arcontophenix alexandrae) para produção
de palmito em 1997.
Iniciativas como esta demostram o potencial de mercado
e certificação da espécie.
Além disso, a maioria das empresas/propriedades
que comercializam o produto a partir de um plano de
manejo bem conduzido (considerando a legislação
de qualquer um dos 4 estados que a possuem), apresentam
características desejáveis para a certificação
e poderiam, com pequenos ou até nenhum ajuste
se candidatarem a certificação.
Neste contexto, e seguindo as recomendações
dos documentos "FSC - princípios e critérios
para o manejo de florestas" e "Padrão
para certificação da caixeta na Mata
Atlântica", os seguintes aspectos/ critérios
devem ser considerados para o palmito:
a) Respeito e Legislação
Nacional e acordos Internacionais
De uma maneira geral as legislações
estaduais em vigor respeitam (ou ao menos não
ferem) as legislação federais e acordos
internacionais, de modo que este aspecto fica contemplando
na maior parte dos planos de manejo.
Adicionalmente, as legislações estaduais
são bem aceitas pelos proprietários,
técnicos e demais agentes envolvidos, no que
tange as questões de ordem técnica (definição
de um DAP limite para o corte, 9 cm, manutenção
de matrizes, avaliação da regeneração,
etc.). Os pontos de discordância (e eventual
desrespeito) estão relacionados ao excesso
de burocracia e taxas cobradas, especialmente para
as pequenas propriedades. Outro ponto de conflito,
especialmente nas pequenas propriedades é a
exigência de averbação da reserva
legal.
Como comentado no item legislação, os
principais pontos de estrangulamento têm sido
discutidos e encaminhadas propostas de normatização
completar, flexibilização ou alteração
visando atender a exequibilidade do manejo e a necessidade
de conservação dos recursos.
b) Manejo do Recurso
na Floresta
Conforme mencionado anteriormente, as legislações
estaduais, no que se refere ao palmiteiro, têm
incorporado critérios bastantes consistentes
de sustentabilidade, fundamentados em farta literatura,
de um modo geral. Os planos de manejo necessariamente
incorporam não apenas critérios de sustentabilidade
(manutenção de porta sementes, manutenção
da estrutura demográfica e estoque de regeneração),
mas implicam também em reavaliações
periódicas, com possibilidade de redefinição
da intensidade de extração e ciclos
de corte.
Assim, as questões imprescindíveis (manutenção
da estrutura genética - diversidade da espécie
e fluxo gênico - e demográfica e previsão
de reavaliações periódicas) estão
previstas nas legislações.
Por outro lado, sendo o palmiteiro uma árvore
de (comparativamente) pequeno porte, sem ramos e de
sub-bosque, o impacto do abate é de pequena
monta; além disso, apenas a 'cabeça
limpa' é retirada da floresta, implicando inexistência
de danos por araste de troncos e uma reduzida extração
de nutrientes da floresta.
Um critério adicional que pode representar
um diferencial importante é a exigência
de mecanismos de garantia de continuidade de uso da
área sob manejo sustentado. Na maioria dos
casos as legislações solicitam uma declaração
de manutenção da floresta manejada,
contudo, a área sob manejo poderia ser averbada
em cartório, comprometendo o proprietário
(atual e/ou possíveis futuros proprietários)
a cumprir os planos de manejo.
Também parece razoável exigir que sejam
especificadas formas de integração com
Instituições de pesquisa (Universidades
e Institutos) de maneira a estimular a incorporação
de avanços envolvendo não só
estratégias de manejo sustentado mais eficientes,
como também aspectos relativos à conservação.
Algumas empresas vem adotando esta estratégia
com vantagens: Atlântica Assessoria Agro Ambiental
S/ C Ltda., Agroindustrial Eldorado S.A. e Industria
e Comércio de Conservas Juriti Ltda. O recolhimento
de uma taxa sobre a renda líquida (1 a 2%)
estimularia esta integração e retroalimentaria
o processo de geração e uso do conhecimento.
c) Direitos e Responsabilidade
Sociais
No que se refere aos benefícios e responsabilidades
sociais as legislações estaduais apresentam
poucos ou nenhum aspectos relacionados. Assim, alguns
critérios adicionais podem ser arrolados.
Populações tradicionais e/ou locais
devem ter prioridade na ocupação de
empregos, oportunidade de treinamento e realização
de serviços eventuais. Na maioria dos casos
as empresas e/ou proprietários contratam pessoal
da região (especialmente nas operações
de vigilância, corte, transporte e processamento
industrial do palmito), entretanto isto acontece mais
por facilidade operacional do que por questões
intencionais. Algumas industrias de conserva têm
equipe de corte própria que se desloca inclusive
para outros estados. Nos casos de pequenas propriedades
é usual o emprego de mão de obra familiar.
Sendo uma condição básica, as
condições de trabalho devem ser saudáveis
e seguras, seguindo normas e leis trabalhistas. Em
muitas situações as condições
de trabalho dos cortadores e de vigilantes são
bastante precárias, tanto em termos de segurança
como em termos de salubridade. Adicionalmente os salários
devem ser condizentes com os padrões locais.
d) Qualidade Ambiental
Nas áreas de preservação permanente
as matrizes existentes não devem ser exploradas,
no entrando, mantidos os demais critérios de
manejo, as demais plantas podem ser exploradas, devido
ao reduzido impacto do processo.
A exploração predatória, bem
como a caça e outras atividades degradativas
devem ser prevenidas, mantendo-se um intenso sistema
de vigilância.
e) Monitoramento
e Avaliação
Devem ser realizadas reavaliações um
ano após o corte e bianuais, posteriormente,
visando o estabelecimento de práticas corretivas
e/ou a redefinição da intensidade e
ciclo de corte.
Devem ser incorporados os avanços tecnológicos
decorrentes de estudos científicos ao longo
do processo.
Os resultados das avaliações periódicas
devem ser de domínio público, visando
aprimorar o processo de manejo a partir das experiências
desenvolvidas.
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CONCLUSÕES,
PERSPECTIVAS E RECOMENDAÇÕES
Três conclusões
principais podem ser estabelecidas:
a) O palmito é o mais importante produto atualmente
extraído da Mata Atlântica. A importância
está relacionada não só a questões
econômicas (que por si só já são
expressivas), mas às questões sociais
envolvidas e ao papel ecológico da espécie.
b) A espécie tem um grande potencial de uso
sustentado, com boa fundamentação teórica,
viabilidade econômica e inclusive amparo legal,
sendo uma realidade em várias situações.
c) O maior problema está associado a exploração
predatória e clandestina, institucionalizada
a décadas. Este processo compete de forma desigual
com o produto proveniente do manejo sustentado, sustenta
especuladores e gera inúmeros problemas sociais.
Além disso, está levando ao esgotamento
as populações naturais da espécie
e, consequentemente, comprometendo o futuro da atividade.
Várias frentes de ação devem
ser implementadas simultaneamente com o objetivo de
trazer a produção de palmito da clandestinidade
para a produção legal. Mudanças
na política de atuação das agências
ambientais é provavelmente a medida mais urgente
para a necessária adaptação do
setor florestal brasileiro que lida com florestas
nativas aos novos tempos.
A aproximação de agências governamentais,
universidades, e ONG's tem um enorme potencial para
o desenvolvimento de programas dessa natureza no Brasil.
Os programas poderiam ser iniciados a nível
local, em pequenas comunidades de produtores. Membros
da ONG trabalhariam em contato direto com os produtores,
com assessoria de pesquisadores de universidades,
e com apoio das agências ambientais. Os produtores
de palmito em larga escala também poderiam
participar de programas de conservação
florestal. Como proprietários de florestas
de grande extensão, poderiam ser engajados
em programas regionais de conservação,
envolvendo a formação de grandes ilhas
de florestas, bem como de corredores para a sua conexão
com as florestas das unidades de conservação
já existentes.
Propostas de emissão de certificados de conservação
ambiental poderiam ser estudadas e conduzidas em conjunto
com ONG's e agências ambientais locais. O palmito
produzido com certificado de origem (selo verde, ou
outra forma de identificação) poderia
ter uma campanha publicitária favorável
e disputar uma boa fatia do mercado com preços
melhores.
Além de estimular o produtor a adotar medidas
mais conservacionistas de produção,
um programa de combate à produção
clandestina de palmito deve atacar o problema do roubo.
E a forma mais eficiente de combater essa prática
é restringir o mercado para o palmito roubado.
Com este objetivo, as polícias florestais,
juntamente com as agências ambientais, têm
desenvolvido um bom trabalho nos últimos anos,
haja vista a quantidade de palmito clandestino que
apreenderam. Entretanto, esses resultados ainda não
são suficientes para pôr fim à
clandestinidade.
Os recursos existentes para a sua atuação
deveriam ser canalizados prioritariamente para as
operações efetivas. O atendimento de
denúncias sobre a fabricação
clandestina de palmito é uma das formas efetivas
de atuação destes profissionais e deveria
ser priorizada. Entretanto, outras ações
como a incursão aleatória em unidades
de conservação e a perseguição
de ladrões de palmito tem uma relação
custo/benefício menor do que as outras estratégias,
além de ser arriscada. Os recursos aplicados
nesse tipo de operação deveriam ser
canalizados para as outras estratégias de ação.
A fiscalização com aplicação
de multas pesadas para fábricas, restaurantes
e churrascarias que compram palmito de origem ilegal
ainda é uma das medida com maior potencial
de sucesso. Uma equipe de vigilantes ou policiais
que gasta todo um dia para percorrer uma grande distância
na floresta poderia visitar uma dezena de restaurantes
no mesmo período de tempo e ser mais efetiva
no seu trabalho. Um dos grandes problemas da fiscalização,
segundo alguns funcionários de agências
ambientais, é a falta de pessoal e de equipamento
para fazer a apreensão do produto clandestino,
quando encontrado. Em um supermercado ou grande churrascaria,
por exemplo, o volume da mercadoria pode ser enorme,
e o próprio agente da fiscalização
teria que remover todo o produto, muitas vezes sozinho.
Essa preocupação poderia ser eliminada
se a multa sobre a infração fosse muito
alta, tornando o valor do estoque do produto ilegal
proporcionalmente irrisório. Nesse caso, a
mercadoria poderia ser mesmo deixada com o próprio
infrator, que estaria desestimulado a efetuar novas
compras de palmito roubado, enquanto o fiscal teria
mais tempo para efetuar novas operações.
A criação de um banco de dados que possa
ser utilizado pelas agências ambientais e polícias
florestais de todos os estados é uma necessidade
imediata. O cruzamento de informações
entre estas instituições e entre os
estados agilizará a identificação
dos produtores clandestinos de palmito e facilitará
a tomada de decisão por parte das autoridades.
Uma simples página na Internet, sob a responsabilidade
dessas instituições, e com dados sobre
os produtores, fabricantes e comerciantes de palmito
permitiria ao proprietário de um supermercado,
por exemplo, verificar a idoneidade dos seus fornecedores,
boicotando os picaretas e as empresas fantasmas.
Pequenas alterações na legislação
também terão um grande impacto
no combate à produção
clandestina de palmito. A prática da
compra de palmito em conserva de terceiros,
para colocação apenas do rótulo,
deve ser banida. Outra medida de grande eficiência
para acompanhar a produção de
palmito e para gerar estatísticas mais
confiáveis sobre a produção
seria estender, a todas as empresas que de
alguma forma compram ou vendem palmito, a
obrigação de enviar relatório
mensal ao IBAMA sobre a quantidade, tipo de
palmito (in natura, conserva, espécie,
etc.) e origem do produto comercializado.
Além disso, nenhuma empresa poderia
realizar qualquer transação
comercial de palmito antes de ter o seu registro
permanente no IBAMA, e todo palmito comercializado
deveria especificar no rótulo a espécie
a partir da qual foi produzido.
A produção clandestina de palmito
deve ser atacada em várias frentes.
Mas, fundamentalmente, é preciso que
haja interesse do produtor em participar de
um programa de produção sustentada,
não só do palmiteiro, mas do
ecossistema como um todo. Muitas das medidas
aqui sugeridas podem ser tomadas facilmente.
Para resolver o problema, entretanto, é
preciso que os governos também assumam
a responsabilidade a que sempre se esquivaram,
de desenvolver uma política para o
uso sustentável dos recursos florestais
no Brasil. |
|
Somente fazer leis
não corresponde ao verdadeiro compromisso de
preservar esses recursos para as gerações
futuras. Objetivos e metas de curto, médio
e longo prazo têm que ser traçados para
que todos os segmentos da sociedade possam entender,
apoiar ou contestar, e fiscalizar a utilização
desses recursos.
Um forte programa de aquisição de sementes
para enriquecimento de áreas secundárias
e recuperação das áreas já
exploradas nas Unidades de Conservação.
Este programa inicialmente poderia envolver toda a
comunidade, em especial os cortadores de palmito,
pois o estímulo a compra de sementes obtidas
por estes últimos reduziria a pressão
de corte clandestino sobre as matrizes, permitindo
continuidade da produção de sementes.
As sementes deveriam ser redistribuídas (enriquecimento)
imediatamente, assim, não haveria prejuízo
à regeneração da espécie
nem a alimentação da fauna. Neste programa
poderiam atuar os próprios policiais florestais,
com recursos dos municípios (especialmente
em São Paulo, onde as Unidades de Conservação
são as principais fontes de roubo de palmito)
ou de programas específicos.
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ENTREVISTA
Confira abaixo entrevista
com o Dr. Marcos Malta Migliano, idealizador de uma
das únicas fazendas de manejo sustentável
de palmito Juçara do Estado de São Paulo,
concedida a revista Eco Turismo.
Pergunta - Como
surgiu a idéia de implantar um sistema de manejo
sustentável de palmito Juçara no Vale
do Ribeira?
Migliano - Ha muito tempo eu tenho terras no
Vale, e desde então acompanhei inúmeras
tentativas de plantio e criação de diferentes
espécies vegetais e animais que resultaram
em fracasso, devido às condições
pouco favoráveis da região. O pior é
que tais tentativas eram feitas sempre em detrimento
da Mata Atlântica, que ainda hoje continua sendo
severamente devastada. Assim, percebi que a saída
seria encontrar um produto proveniente da floresta
nativa, que tivesse um bom valor comercial para servir
como fonte de renda para a população
local, e utilizá-lo de maneira sustentável,
de modo que a floresta fosse preservada.
Acredito que a escolha da espécie de palmito
Juçara foi muito feliz, pois os locais de floresta
aonde foram implantados o sistema de corte seletivo
já apresentam adensamento vegetal comprovado.
Pergunta - Como
é feito este sistema de corte seletivo?
Migliano - Primeiro, escolhemos uma área
de floresta nativa. Nesta área é feito
um levantamento do número de palmeiras existentes
- jovens e adultas. A partir deste número,
é feito um planejamento onde são selecionadas
para corte, apenas algumas palmeiras adultas (com
10 anos ou mais), que já se reproduziram, preservando
as mais frondosas como "matrizes" - que
futuramente irão gerar descendentes com as
mesmas características. Uma vez executado o
corte, esta região só será visitada
novamente para outro corte no ano seguinte, respeitando
sempre o mesmo critério de seleção
de palmeiras. Acredito assim que tal sistema de corte
seletivo contribui não só para a preservação
da espécie como também da Floresta Atlântica.
Pergunta - Ao
seu ver, qual é a atual situação
desta espécie de palmito na Mata Atlântica?
Migliano - Do ponto de vista da exploração
industrial, o palmito Juçara está extinto,
as matas estão estéreis, as matrizes
(palmeiras adultas reprodutoras) inexistem assim como
as plântulas (mudas), e pior, atualmente na
Mata só encontramos indivíduos entre
2 e 4 anos de idade que provavelmente serão
cortados indevidamente e ilegalmente nos próximos
2 anos. Do ponto de vista ecológico, o palmito
que faz parte da cadeia alimentar de várias
espécies animais da Mata Atlântica, como
a jacutinga, tucanos, catetos e queixadas, ao ser
dizimada, estará dificultando a sobrevivência
destas espécies.
Pergunta - O
que levou a este processo predatório acentuado
da espécie?
Migliano - Podemos atribuir ao fato de que
inicialmente o palmito era exclusivamente processado
nas fábricas, ou seja, só elas detinham
a tecnologia para processá-lo. No início
dos anos 80, com a proibição da extração
de palmito na Mata Atlântica, a fiscalização
tornou-se extremamente rigorosa com quem portava palmito
in natura, mas não quando este já se
encontrava envasado. Tal situação levou
os fabricantes a enviar os seus funcionários
para as matas munidos de vidros, solução
e rótulos com o objetivo de processá-los
ainda dentro da mata, onde a fiscalização
praticamente inexiste. Assim, em pouco tempo, a tecnologia
de processamento de palmito permeou para muitos funcionários,
que tinham agora condições para produzir
seu próprio palmito envasado.
Hoje em dia, no Vale da Ribeira, a maior parte da
população sabe como processar palmito,
pior, pensam que sabem, gerando ocorrências
fatais por butolismo devido à falta de higiene
no processamento.
Pergunta - Então,
podemos afirmar que foi a legislação
que levou a esta situação atual da espécie?
Migliano - Infelizmente, sim. A proibição
levou ao surgimento de inúmeras fábricas
clandestinas, corrupção de alguns órgãos
fiscalizados e ao atual colapso da atividade, que
em pouco tempo resultará em um grande problema
social na região.
Pergunta - Como
forma de evitar o fim desta atividade como fonte de
renda para a população local e reduzir
a pressão de corte sobre a espécie Juçara
surgiram propostas de plantio de palmeiras alternativas.
Qual sua impressão sobre a proposta de plantar
a pupunha, o chamado "palmito ecológico
ou cultivado?
Migliano - Tal opção de plantio
é um tanto quanto dispendiosa e ainda necessita
de certa tecnologia, o que a torna menos acessível
para o pequeno agricultor local. Além disso,
o plantio de pupunha só é válido
em áreas de pastagens, visto que esta espécie
exótica não admite cobertura vegetal,
ou seja, só deve ser conduzido em áreas
desmatadas. Ao estimular seu plantio, estamos estimulando
o desmatamento, como já visto em algumas áreas
de Mata Atlântica que se encontram em regeneração
intermediária e que estão sendo derrubadas
para o plantio da pupunha.
Pergunta - Como
podemos atribuir o título de "palmito
ecológico" para uma espécie que
não admite a Mata Atlântica ao seu redor?
Migliano - Para piorar o status de ecológico,
já foi constatada a incidência de uma
praga - Dynamis peropacus - que só ocorria
da Amazônia até o norte do Espírito
Santo, atacando o palmito Juçara no Vale do
Ribeira.
Pergunta - Quanto
ao açaí, como o senhor enxerga a prática
de seu plantio?
Migliano - Apesar da vantagem do açaí
admitir a cobertura vegetal natural de Mata Atlântica
e apresentar perfilhação, esta espécie
por ser do mesmo gênero que o Juçara
- Euterpe - possibilita o cruzamento indesejado entre
elas, alterando assim o código genético
da palmeira nativa, a Juçara, levando inclusive
a esterilidade da espécie. Do ponto de vista
comercial, o híbrido açaí-juçara
ao contrário do que se pensa, em condições
de mata fechada, ou seja, fora das estufas, demora
o mesmo tempo para o corte que o Juçara. Quanto
a palatabilidade, o açaí é mais
fibroso e menos macio que o Juçara, o que reforça
minha convicção em acreditar no manejo
sustentável do palmito Juçara.
Pergunta - Como
consumidores, o que podemos fazer para evitar a extinção
do Juçara da Mata Atlântica?
Migliano - Acredito que a viabilidade econômica
de qualquer produto está nas mãos do
consumidor final. Ao escolher um determinado produto
na prateleira de um supermercado, o consumidor deve
exigir as especificações deste produto,
que se não forem satisfatórias, deve
ser evitado. O termo "Produto Bioeconomicamente
Viável" será constante nesta década,
e no caso do palmito envasado, devemos ficar atentos
à:
Nunca comprar palmito picado, somente em rodelas ou
toletes. Estes devem ter o diâmetro acima de
três centímetros, pois esta característica
demonstra que a palmeira cortada já atingiu
a idade de deixar seus descendentes na mata;
Evitar consumir palmitos com comprimento acima de
15 centímetros. Tal comprimento dificulta a
acidificação correta da parte central,
havendo possibilidade de estar contaminado, por butolismo;
No supermercado verificar se no rótulo do produto
consta o número do IBAMA, Ministério
da Saúde, o tipo de palmeira envazada, o número
do lote e a validade. Existem muitos rótulos
falsificados, portanto, se possível confirmar
a idoneidade do produto pelos telefones:
IBAMA-SP 881-1300
- ramal 224, Vigilância Sanitária (11)
257-7611 - ramal 152;
Denunciar palmitos envasados em vidros sem rótulos
para a polícia florestal e/ou IBAMA.
Proprietário
da Kazita, Marcos Migliano faz manejo de palmito Juçara
ha 20 anos, na região de Sete Barras, vizinha
ao Parque da Serra do Mar. Ele tem aproximadamente
200 mil pés, com uma retirada média
anual de apenas 10% ou 20 mil palmitos.
A Kazita produz os palmitos Mata Atlântica e
Onça Parda de acordo com um plano de manejo
sustentável, totalmente aprovado e legalizado
pelas autoridades ecológicas e governamentais.
DENÚNCIA
Palmiteiros atacam
o Parque Nacional de Itatiaia, derrubam árvores
com mais de 40 anos que rendem no mínimo um
vidro de palmito, e abrem clareiras no meio da primeira
área de preservação criada no
país. É o que está acontecendo
na reserva do parque, criada em 1937. Depois de praticamente
extinguir o palmito da Serra da Bocaina, de Paraty
e Angra dos Reis, agora é a vez de Itatiaia,
onde foram abertas clareiras na mata, abatendo árvores
de 10 metros de altura e 50 centímetros de
diâmetro. De cada dez árvores do parque,
quatro são da palmeira Juçara.
O ataque começou ha cerca de seis anos, primeiramente
em volta do parque, de um ano para cá, os palmiteiros
estão atacando dentro dele, aonde a mata é
mais densa.
O parque possuiu 30 mil hectares, e abrange os municípios
de Itatiaia e Resende (no Rio de Janeiro), e Alagoas,
Itamonte e Bocaina de Minas (em Minas Gerais). O Ibama
(Instituto Brasileiro e dos Recursos Renováveis)
é responsável pela proteção
do parque, e 10 quilômetros do seu entorno.
Em janeiro deste ano, foram realizadas várias
"batidas" na mata, com o auxílio
do Batalhão Florestal da Polícia Militar,
e fiscais do Ibama, porém só encontraram
as árvores cortadas e os barracos dos palmiteiros.
Os fiscais entram na mata armados, pois os palmiteiros
não se intimidam com a presença deles.
Em dezembro de 2000, o Ibama apreendeu 3 toneladas
de palmito e fechou duas indústrias clandestinas
em Volta Redonda/RJ. Acusados pelos donos de hotéis
e restaurantes de não resolverem o conflito,
o Ibama propôs um acordo de cavalheiros, em
que os restaurantes de Itatiaia, tiraram o palmito
do cardápio. Foram entregues impressos aos
turistas, pedindo para que não comam palmito.
O Presidente do Ibama, convocou prefeituras, organizações
não-governamentais e universidades para a luta.
Numa ação de dez dias no mato, os palmiteiros
chegaram a derrubar mil palmeiras para extrair o seu
caule.
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