Apesar
de termos a impressão de que a água está
"acabando", a quantidade de água na Terra
é praticamente invariável há 500 milhões
de anos. O que muda é a sua distribuição,
pois a água não permanece imóvel. Ela
se recicla através de um processo chamado Ciclo Hidrológico,
através do qual as águas do mar e dos continentes
se evaporam, formam nuvens e voltam a cair na terra sob
a forma de chuva, neblina e neve. Depois escorrem para rios,
lagos ou para o subsolo e aos poucos correm de novo para
o mar mantendo o equilíbrio no sistema hidrológico
do planeta.
As eventuais "perdas" de água se devem
mais à poluição e à contaminação,
que podem chegar a inviabilizar a reutilização,
do que à redução do volume de água
da Terra. A existência do Ciclo Hidrológico
é uma das provas de que o gerenciamento adequado
dos recursos hídricos, e não a "falta
d'água", é o maior problema a ser enfrentado
pela humanidade.
Dos 1.386 milhões de km³ de água presentes
na Terra (mais de três quartos de sua superfície),
apenas 2,5% consistem em água doce, fundamental para
a sobrevivência do ser humano, sendo o restante impróprio
ao consumo. Porém, águas doces, salobras e
salgadas estão em constante permuta entre si através
da evaporação, precipitação
(chuva, neve, granizo, orvalho etc) e transporte de água
por rios e correntes subterrâneas e marítimas.
A figura acima ilustra esquematicamente os vários
fenômenos envolvidos.
A água é transferida dos depósitos
de água líquida (oceanos, mares, lagos, rios)
para a atmosfera através da evaporação.
A biosfera tem um papel determinante, pois retém
uma parte da água, que de outra forma escoaria para
os oceanos, e devolve-a à atmosfera pela transpiração.
Simultaneamente, o vapor d'água atmosférico
é transferido por precipitação para
os reservatórios líquidos e sólidos
(calotas polares, geleiras, glaciares e neves eternas).
A infiltração de água no solo alimenta
os depósitos do subsolo, como os aqüíferos.
O fluxo de água que evapora dos oceanos é
cerca de 47.000 km³/ano maior que o fluxo que nele
cai em forma de precipitação. Esse excedente
indica a quantidade de água que é transferida
dos oceanos para os continentes nos processos de evaporação
e precipitação. A água retorna aos
oceanos através do escoamento pelos leitos dos rios
e pelos fluxos subterrâneos de água. O tempo
de residência da água nos oceanos, definido
como o quociente entre o volume total de água e a
parte transferida dos oceanos para os continentes, é
de cerca de 20 a 30 mil anos. Porém, toda a água
que sai dos oceanos é para ele devolvida, sob a forma
de precipitação ou de fluxos de água
líquida. A quantidade total de água na Terra
permanece constante.
Todo esse processo está integrado com o desenvolvimento
da biosfera e com o fluxo de calor e luz que vem do Sol
e do interior da Terra. A forma líquida da água
existe graças à temperatura adequada de nosso
planeta, que é mantida em parte pela radiação
solar e em parte pelo calor gerado pelas substâncias
radioativas nas camadas profundas do nosso planeta. A atmosfera
exerce um papel fundamental na manutenção
da temperatura, através do efeito estufa. A biosfera
tem grande responsabilidade nesse efeito, porque a atmosfera
terrestre evoluiu para a composição atual
(nitrogênio, oxigênio, vapor d'água e
outros gases) graças à ação
dos seres vivos durante cerca de 3,5 bilhões de anos.
Também as correntes marítimas e os regimes
de ventos determinam e são determinados pelo regime
de temperaturas das diversas regiões terrestres.
A própria rotação da Terra é
fundamental na manutenção da temperatura,
não só porque evita que o lado do nosso planeta
voltado para o Sol fique tórrido e o outro lado fique
gelado, mas também porque tem forte influência
na distribuição das correntes marítimas
e dos ventos.
Finalmente, todo o processo só pode ocorrer graças
à ação da gravidade terrestre, que
mantém a água líquida nos reservatórios
e permite a precipitação. A humanidade se
insere nesse ciclo não apenas consumindo água,
mas também através de sua retenção
em represas, da influência nos climas regionais (que
altera o regime das chuvas e da evapo-transpiração),
da ação na vegetação (que resulta
na alteração na absorção de
água pelo solo e no fluxo de água na calha
dos rios, bem como na quantidade de transpiração
da biosfera), da irrigação de solos secos
e da poluição.
Todos esses processos - evaporação, precipitações,
fluxos de rios e correntes subterrâneas, regimes de
ventos, correntes marinhas, rotação da Terra,
radiação solar, calor do interior da Terra,
gravitação e ação humana - integram-se
num processo cíclico dinâmico que se estende
por todo o planeta. Para que ele subsista, é necessário
que haja suprimento de energia proveniente do Sol e do interior
da Terra. |