Marluza
Mattos - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, lançou
o Relatório de Gestão do ministério,
período de 2003 a 2006, com o título Política
Ambiental Integrada para o Desenvolvimento Sustentável,
durante a abertura da 86ª Reunião Ordinária
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Nas 133
páginas da publicação, são
apresentadas as ações, medidas, projetos,
programas e demais iniciativas que traduzem a atuação
do Ministério do Meio Ambiente (MMA) nesses quatro
anos.
"É
uma ferramenta importante e reflete um processo cumulativo",
salientou Marina Silva. Segundo ela, desde que assumiu
o ministério sua equipe preocupou-se em dar encaminhamento
às boas idéias encontradas na gestão
pública, em buscar soluções para
os problemas e, ao mesmo tempo, em avançar nas
políticas para o setor. "Esse relatório
representa uma oportunidade para que não se perca
de vista aquilo que precisa ser aperfeiçoado e
corrigido e aquilo que deve ser estimulado", acrescentou.
O
documento abrange as ações de todos os organismos
que compõem o MMA, como Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do
Rio de Janeiro, Agência Nacional de Águas
(ANA) e Serviço Florestal Brasileiro. Ele foi estruturado
a partir das quatro diretrizes que orientaram a política
ambiental na gestão e foram definidas no início
de 2003.
Desenvolvimento
sustentável, a primeira delas, é o tema
principal do capítulo que abre a publicação,
o mais longo dos três que compõem o documento
e cuja introdução aborda a relação
entre conservação da biodiversidade e uso
sustentável dos recursos da natureza. A exemplo
da primeira, outras duas diretrizes, de participação
social e de fortalecimento do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (Sisnama), receberam abordagem especial em capítulos
específicos. Apenas a última delas, o princípio
da transversalidade - que prevê o envolvimento de
todos os setores do governo nas decisões sobre
meio ambiente -, foi tratada de modo diferenciado no documento.
Ela permeia o relatório do início ao fim
e aparece nas parcerias firmadas pelo MMA para viabilizar
cada uma das iniciativas adotadas.
Desenvolvimento
Sustentável
No
primeiro capítulo, o documento descreve as estratégias
adotadas por bioma. Começa com Cerrado e segue
pela Caatinga, Pantanal, Pampa, Zona Costeira e Marinha,
Mata Atlântica e Amazônia. É nesse
trecho que constam informações sobre a Lei
da Mata Atlântica, sancionada em dezembro de 2006,
e a queda estimada de 52% na taxa de desmatamento da Amazônia,
considerando os dados de 2004-2005 e de 2005-2006 - um
dos resultados do Plano de Ação para a Prevenção
e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal.
O
capítulo ainda destaca as principais publicações
e mapeamentos lançados pelo ministério nesse
período e seus esforços para ampliar o conhecimento
sobre a diversidade biológica do País. O
Mapa de Áreas Prioritárias, que aponta regiões
para a conservação, o Mapa da Cobertura
Vegetal Nativa dos Biomas Brasileiros e as informações
geradas a partir do Programa de Avaliação
do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos na
Zona Econômica Exclusiva (Revizee) são alguns
dos assuntos tratados no relatório de gestão,
assim como as inovações feitas no Instituto
de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro -,
tema que recebeu um título específico no
capítulo.
O
aumento de 41% da área protegida por unidades de
conservação (UCs) no Brasil, o que corresponde
a cerca de 20 milhões de hectares, também
é detalhado no documento. O trecho sobre UCs inclui
informações sobre o Plano Nacional de Áreas
Protegidas, o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação,
o Projeto de Conservação nos Sítios
do Patrimônio Mundial Natural do Brasil, o Projeto
de Conservação e Uso Sustentável
da Biodiversidade em Terras Indígenas no Brasil,
o Programa Áreas Protegidas da Amazônia e
outras iniciativas igualmente importantes nessa área.
Há também um boxe que informa como os recursos
do sistema de compensação ambiental financiam
e mantêm unidades de conservação no
País.
Também
são abordados no documento assuntos como turismo
ecológico, com destaque para o Programa Nacional
de Ecoturismo, e o uso sustentável das florestas,
com destaque para o Programa Nacional de Florestas e os
novos instrumentos da gestão florestal, entre eles,
a Lei de Gestão de Florestas Públicas. Nesse
segundo caso, especialmente, há informações
sobre a área de floresta plantada, que aumentou
de 320 mil hectares anuais, em 2002, para 627 mil em 2006,
com participação significativa de pequenos
produtores. Também há dados sobre o manejo
florestal certificado, que passou de 383 mil hectares,
em 2002, para 2,8 milhões de hectares depois de
quatro anos. O primeiro Distrito Florestal Sustentável
do país, criado na área de abrangência
da BR-163, que liga Cuiabá , no Mato Grosso, a
Santarém, no Pará, merece um boxe à
parte.
Os
inúmeros projetos de inclusão produtiva
desenvolvidos pelo ministério é o tema de
outro texto desse primeiro capítulo. Nele, constam
informações sobre a Política Nacional
de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades
Tradicionais, discutida nos últimos quatro anos
e instituída por meio de decreto em fevereiro deste
ano. Com ela, o País reconhece a sua identidade
nas comunidades tradicionais. E mais: reconhece as comunidades
tradicionais como sujeitos de direito.
As
medidas para consolidar o sistema e regular o acesso aos
recursos genéticos e a repartição
de benefícios gerados também foram incluídas
no relatório. O assunto foi considerado prioridade
pelo MMA entre 2003 e 2006. O texto que se refere a essa
área apresenta também as iniciativas adotadas
para proteger os conhecimentos tradicionais no Brasil,
as ações de combate à biopirataria
e informações sobre o desempenho do País
nas negociações internacionais. A 8ª
Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica, a COP-8, evento da
Organização das Nações Unidas
realizado na região metropolitana de Curitiba,
em março de 2006, e organizado pelo governo brasileiro,
recebe destaque nesse contexto.
O
primeiro capítulo do relatório ainda descreve
os projetos e programas desenvolvidos para promover o
uso racional da água e, ao mesmo tempo, ampliar
o universo de pessoas com acesso a ela. O Plano Nacional
de Recursos Hídricos, lançado em março
de 2006, é o carro-chefe desse trecho do documento.
Afinal, o Brasil foi o primeiro país da América
Latina a concluir seu planejamento estratégico
para a gestão da água até 2020.
A
atuação do ministério na área
de qualidade ambiental e na busca de respostas à
mudança do clima também são relatadas
no documento. Nesse trecho, a queda estimada no desmatamento
da Amazônia ganha novamente espaço o desmatamento
é responsável por ¾ das emissões
na atmosfera de dióxido de carbono (CO2), substância
cujo potencial de efeito estufa é amplamente reconhecido.
Também há informações sobre
a matriz energética limpa brasileira, os biocombustíveis,
os esforços do País com projetos voltados
para Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), as medidas
adotadas para eliminar o consumo de clorofluorcarbonos
(CFCs), que destroem a camada de ozônio, o Programa
de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores (Proconve), as iniciativas para prevenir problemas
ambientais com produtos químicos, a proposta para
a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
entre outros assuntos.
As
mudanças no processo de licenciamento ambiental
encerram o primeiro capítulo. O documento dá
destaque ao aumento de 145 para 220 na média de
licenciamentos emitidos no âmbito do governo federal,
entre 2003 e 2006. Descreve também os reforços
na equipe técnica do Ibama envolvida com essa área,
e a definição de regras mais claras para
os procedimentos de solicitação, análise
e emissão de licenças para usinas hidrelétricas.
O relatório apresenta dados como o número
de licenças emitidas no período para hidrelétricas:
21 - o que significa um aumento de mais de 4.690 MW.
Participação
Social
O
segundo capítulo do Relatório de Gestão,
período de 2003 a 2006, é dedicado aos conselhos
e comissões que existem no âmbito do MMA
e que permitem à sociedade participar efetivamente
das decisões sobre a Política Ambiental
Integrada. Nele, também está detalhado o
papel dos novos espaços criados para ampliar essa
participação.
A
Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA) é
reconhecida como a mais importante iniciativa da gestão
para atender à mobilização da sociedade
no documento. Nos últimos quatro anos, foram realizadas
duas edições da CNMA e duas versões
infanto-juvenis. Ao todo, 150 mil pessoas estiveram envolvidas
nesses eventos. O ministério transformou 70% das
decisões da conferência em ações.
É o caso do Plano de Ação para a
Prevenção e Controle do Desmatamento na
Amazônia, do Programa Nacional de Capacitação
de Gestores Ambientais e Conselheiros do Sisnama, da consolidação
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
do fortalecimento das iniciativas para a revitalização
da Bacia do Rio São Francisco, do desenvolvimento
sustentável da BR-163. A sanção da
Lei de Gestão de Florestas Públicas e a
posição favorável do governo brasileiro
à rotulagem de produtos que contêm organismos
geneticamente modificados, os transgênicos, também
deram respaldo a propostas da CNMA.
O
Conselho Nacional do Meio Ambiente, Conama, recebe tratamento
especial num texto específico nesse capítulo.
Ele foi fortalecido nesse período e aprovou resoluções
importantes que tramitavam há muito tempo nas suas
câmaras técnicas. Exemplo disso são
as resoluções sobre compensação
ambiental (371/06), uso excepcional de áreas de
preservação permanente - APPs (441/03 e
369/06), classificação de corpos d'água
(375/05), tratamento e disposição final
de resíduos de serviço de saúde (358/05),
entre outras.
O
Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),
o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
(CGEN), a Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio),
a Comissão de Política de Desenvolvimento
Sustentável e da Agenda 21 (CPDS), a Comissão
Nacional de Florestas (Conaflor), o Conselho Gestor Nacional
(Congen) do Programa de Desenvolvimento Socioambiental
da Produção Familiar Rural na Amazônia,
a Comissão de Gestão de Florestas Públicas
(CGFLOP), o Conselho do Fundo Nacional do Meio Ambiente
(FNMA) e os fóruns criados na área de educação
ambiental também garantiram que os desejos dos
diferentes segmentos sociais fossem transformados em políticas
públicas. Por isso, estão relacionados minuciosamente
nessa parte do relatório.
Fortalecimento
do Sistema Nacional do Meio Ambiente
Com
a descentralização das responsabilidades
pela gestão entre União, estados, Distrito
Federal e municípios, a Política Ambiental
Integrada aproximou as organizações estaduais
e municipais de meio ambiente e a sociedade civil, fortalecendo
e consolidando o Sisnama. Para isso, o MMA adotou várias
medidas que constam do terceiro e último capítulo
do Relatório de Gestão, período de
2003 a 2006.
Entre
elas, estão a revitalização da Comissão
Tripartite Nacional, que reúne representantes das
três esferas de governo, e a criação
das 26 comissões tripartites estaduais e a bipartite
do Distrito Federal. Também recebe destaque a articulação
do ministério para apressar a regulamentação
do artigo 23 da Constituição Federal, que
trata das competências de cada ente federado e cujo
projeto de lei complementar foi encaminhado ao Congresso
Nacional pela Casa Civil, e a instalação
do Programa Nacional de Capacitação de Gestores
Ambientais e Conselheiros do Sisnama.
Outras
ações importantes abordadas nesse terceiro
capítulo são: a implementação
do Sistema Nacional de Informações sobre
o Meio Ambiente (Sinima), o Programa Nacional do Meio
Ambiente II (PNMA II), que contribui para o fortalecimento
da infra-estrutura organizacional e de regulamentação
do poder público no exercício da gestão
ambiental, os resultados dos investimentos do Fundo Nacional
do Meio Ambiente (FNMA) e a criação do Serviço
Florestal Brasileiro.
A
reestruturação organizacional e da política
de recursos humanos do próprio ministério,
do Ibama, da Agência Nacional de Águas e
do JBRJ para adaptá-los a novas diretrizes da política
ambiental é outro assunto abordado na parte final
do relatório. Nesse trecho, estão incluídos:
novos concursos públicos, aumento no salário
de servidores e melhorias nas condições
de trabalho.
O
documento encerra com um relato dos efeitos positivos
da nova política ambiental no orçamento,
com destaque para os instrumentos que trouxeram investimentos
de outros ministérios para o meio ambiente. Vários
exemplos são citados, entre eles: os recursos dos
ministérios do Desenvolvimento Social e da Integração
Nacional, na ordem de R$ 29 milhões, que permitiram
a construção de 143 mil cisternas no semi-árido;
a retomada dos financiamentos em saneamento, com a contratação
de R$ 11 bilhões; os investimentos de R$ 191 milhões
do Ministério da Integração Nacional
na revitalização do São Francisco.
Tabelas mostram ainda uma evolução nos valores
destinados ao orçamento do próprio MMA
-
Veja
o relatório completo