Kuarup
Spensy
Pimentel - Enviado especial -Alto Xingu – Durante todo
o dia, os Kuikuro, junto com seus aliados Kalapalo, prepararam
a recepção para os convidados das demais
aldeias do Xingu, com beiju, mingau de farinha de mandioca
e peixe moqueado (assado e defumado sobre uma grelha).
Esse processo envolve centenas de pessoas. A mandioca
é fornecida pelo familiar mais importante do principal
morto homenageado – no Kuarup que terminou ontem, era
Jakalo, um dos chefes kuikuro, filho de Nahu e Sesuaká,
que morreram recentemente.
Enquanto
isso, os xamãs e familiares dos mortos homenageados
trouxeram do mato os troncos cortados da árvore
de uma determinada espécie (é chamada de
kuarup pelos Kamayurá, um dos 14 povos do Alto
Xingu). Segundo a mitologia xinguana, foi dessa árvore
que o criador dos homens "fez as mulheres e as enviou
para se casarem com o jaguar (onça)", como
explica texto na página do Instituto Sócio-Ambiental
na internet.
Os
troncos foram fincados abaixo de uma pequena cobertura
de taquara, ao lado da casa dos homens (ela guarda as
flautas rituais, que não podem ser vistas pelas
mulheres e fica no centro do pátio da aldeia).
Depois, foram pintados e enfeitados como um xinguano.
Há uma decoração para os homens e
outra para as mulheres, dependendo do morto que representam.
Enquanto
acontece a preparação da festa, homens portando
as flautas duplas conhecidas como atanga, segundo o antropólogo
Carlos Fausto, iam de maloca em maloca na aldeia em companhia
das adolescentes que saem da reclusão ritual no
final da festa. A reclusão das moças acontece
na época em que elas têm a primeira menstruação
e marca a passagem entre a infância e a vida adulta
– ao final do ritual, elas estão prontas para casar-se.
Depois
que os troncos foram preparados, no início da noite,
os familiares dos mortos sentaram-se ao redor deles e
começaram a chorar por eles, o que durou toda a
madrugada. Enquanto isso, uma dupla de xamãs permanecia
rezando e tocando seus maracás. As comunidades
convidadas para o Kuarup acamparam na mata próxima
à aldeia. À noite, um grupo por vez, os
homens convidados iam chegando à aldeia fazendo
barulho e cantando para pegar tições de
pequenas fogueiras rituais produzidas pelos anfitriões
no pátio central da aldeia, ao lado dos troncos.
Ontem
pela manhã, uma ou duas horas depois que o sol
raiou, as comunidades convidadas começaram a chegar
ao pátio da aldeia. Muitos vieram de caminhão
ou em bicicletas, que deixavam ao lado das bolsas em torno
da região central do pátio de Ipatse. Logo
depois, começou a disputa do huka-huka, competição
tradicional entre os xinguanos. O nome, segundo o texto
do ISA, é de origem kamayurá e "lembra
os gritos dos lutadores ao se defrontarem imitando o rugido
da onça".
Para
a luta, os homens se untam com óleo de copaíba,
pasta de urucum e pequi. Eles também se submetem
previamente a arranhões feitos nos braços
com o dente de um peixe chamado "cachorrinha"
e dizem tomar eméticos e se untar com ervas que
aumentam sua força. As lutas aconteceram entre
representantes das diversas aldeias presentes ao Kuarup
hoje, como Aweti, Kamayurá, Waurá e Mehinaku.
Após
as lutas, as moças que estavam em reclusão
na aldeia foram apresentadas aos visitantes. Uma delas
chegou a se casar, no início da tarde. Acompanhada
do tio do noivo, ela seguiu até a casa dele, para
pegar sua rede e levá-la até a casa da família
dela, onde ele passa a morar.
-
Saiba
mais sobre o Kuarup
Veja também:
-
Os
índios na Constituição
- Diretrizes
da Funai
- Povos
Indígenas
- Índios
do Brasil – Kuarup (Índios Guarani)