Poluição
altera as características da Amazônia
05/03/2004 – Brasília
(DF) - A alta concentração de gás
carbônico na atmosfera, gerada pelo uso de combustíveis
fósseis, como os derivados do petróleo,
está dando uma nova cara à floresta amazônica.
De acordo com um estudo publicado ontem na revista científica
Nature, a poluição atmosférica
está alterando o ritmo de crescimento das árvores,
mesmo em áreas remotas da floresta. O estudo
é parte do Experimento em Larga Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA) e é realizado pelo Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) em parceria
com instituições de pesquisa americanas
e européias.
Pesquisadores do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do
Smithsonian Tropical Research Institute, do Panamá,
analisaram, durante 15 anos, uma área de cerca
de 300 quilômetros quadrados da Amazônia,
ao norte de Manaus.
Neste período
pudemos observar uma ampla modificação
na composição das árvores",
conta o professor Alexandre Adalardo de Oliveira, do
Departamento de Ecologia Geral do Instituto de Biociências
(IB) da USP. "Percebemos que algumas espécies
de árvores de porte menor, que habitam o interior
da floresta, têm suas populações
diminuindo em detrimento das mais altas, que crescem
mais rapidamente e tem suas copas a pleno sol. E isso
pode estar relacionado ao aumento do gás carbônico
na atmosfera."
A pesquisa constatou
que as árvores estão morrendo mais cedo
e sendo substituídas por árvores jovens
mais rapidamente. A longo prazo, isso pode indicar que
a floresta corre o risco de perder biodiversidade. A
predominância de árvores jovens pode significar,
ainda, a redução da capacidade da floresta
de retirar dióxido de carbono da atmosfera.
Segundo o artigo na
Nature, a causa mais provável dessas mudanças
é a concentração de gás
carbônico na atmosfera. Os pesquisadores acreditam
que esse excesso de gás carbônico está
aumentando a competição por luz, água
e nutrientes do solo, beneficiando as espécies
com ritmo de crescimento acelerado.
"Está
claro que a variação não é
aleatória. A dinâmica da floresta está
mudando , disse à Nature o coordenador da pesquisa,
William Laurance, do Instituto Smithsonian de Pesquisas
Tropicais dos Estados Unidos, que tem sede no Panamá.
Os cientistas acreditam que essa inesperada mudança
no padrão de crescimento das árvores pode
ser um indício de modificações
mais profundas não só no ecossistema da
Floresta Amazônica, mas também em florestas
tropicais de outras partes do mundo. (Nature e USP)