Água, recurso
infinito e abundante. Era o que se pensava até
pouco tempo. Hoje mais que sabemos, temos provas diárias,
de que a água no planeta está cada vez
mais escassa.
O mundo chora a cada dia a sede de crianças
na África, de sertanejos no nordeste brasileiro,
e chora também com a destruição
de nossos rios, com o descaso de autoridades e do
desperdício da própria sociedade.
Recursos hídricos
Em São Thomé
das Letras, este recurso é abundante, apesar
da aparência seca de boa parte de sua vegetação.
E igualmente à abundância é o
risco que rios, riachos, cachoeiras e, principalmente,
nascentes correm na região. Com o aumento no
número de visitantes e, principalmente o avanço
predatório e indiscriminado da exploração
da pedra-mineira, matéria-prima comum e muito
requisitada na construção civil, para
dar acabamento em pisos, paredes e decks, a água
torna-se um bem ainda mais ameaçado na região.
Em São Thomé,
existem cachoeiras para todos os gostos, pequenas,
grandes, profundas, rasas, de fácil ou difícil
acesso, mas todas igualmente belas em suas características.
Da imensa e imponente Véu de Noiva à
sua vizinha Dama de Honra e à incrivelmente
gelada cachoeira do Paraíso, passando pelas
convidativas Eubiose e do Flávio, o visitante
escolhe em banhar-se e contemplar sua força
e forma.
Impacto
ambiental
Durante a visita
da equipe de reportagem da Agência Ambiental
Pick-upau pela cidade de São Thomé das
Letras, verificou-se uma boa estrutura nas cachoeiras
e não foi visto qualquer tipo de lixo ou resíduo
em seu entorno.
No entanto, em cachoeiras, como a de Sobradinho e
da Lua, já podem ser vistos os reflexos do
alto impacto ambiental, devido a proximidade da estrada
e de instalações como bares, onde é
comum a venda de bebidas alcoólicas que, muitas
vezes , têm seus recipientes deixados pela trilha.
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Impacto ambiental na cachoeira
da Lua |
A cachoeira do Sobradinho,
que fica no fim da gruta que também leva o
nome do vilarejo, é bela e muito frágil;
a quantidade de água é bem pequena em
épocas de seca e uma edificação
na cabeceira da queda compromete ainda mais sua existência.
Este é um ponto turístico da região
que deve receber atenção redobrada das
autoridades (Ibama, Secretaria de Meio Ambiente ou
prefeitura de São Thomé). Já
a cachoeira da Lua sofre com excesso de visitantes
e um assoreamento em seu deck. Durante nossa passagem
pela cachoeira, registramos uma comunidade alternativa,
que mora à cerca de 800 metros da queda, trabalhar
na criação de uma espécie de
“arquibancada”, feita com pedras típicas da
região (foto). Um reflexo do impacto e da interferência
humana no local.
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Vale das Borboletas sofre
com assoreamento |
Outro caso é
o Vale das Borboletas, localizado na base da rodovia
que dá acesso a cidade. A pequena quantidade
de água que cai de sua laje levou a uma publicação
turística, em formato de guia, “decretar” o
fim do que eles chamaram de cachoeira, devido ao assoreamento
de sua cabeceira, que vale ressaltar, é uma
imensa laje de pedra maciça.
As pessoas que hoje
fizeram parte da equipe de reportagem do Pick-upau,
conhecem São Thomé das Letras e suas
belezas naturais desde 1994, e,já nesta época,
o Vale das Borboletas era como hoje. A quantidade
de água de sua queda varia de acordo com a
época do ano.
Fato é que o local é extremamente frágil
e também deve ter atenção das
autoridades, apesar de estar localizado em uma propriedade
particular. Sobretudo, por sua nascente, ou boa parte
do percurso que a água faz até chegar
ao vale, que vem de locais claramente degradados por
conta da extração de pedras (como mostra
a imagem) e que há cinco anos está sob
a suspeita de irregularidades por parte da população
da cidade.
Segundo
dois artesãos e um comerciante que está
na cidade há cerca de 13 anos, as águas
do Vale das Borboletas ficaram, durante um período,
com uma coloração negra, devido a terra
que desceu até sua laje.
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Vale das Borboletas corre
risco de desaparecer |
As corredeiras de
Shangri-lá, um dos lugares mais bonitos da
região, e que por acaso fica no caminho de
uma base militar, onde inclusive, o visitante é
obrigado a passar por um posto de fiscalização
do exército para identificação,
também corre sério risco.
Apesar deste suposto controle e da distância
do centro da cidade, cerca de vinte quilômetros,
Shangri-lá corre perigo. Além disso,
pessoas acampam em local proibido, o que torna um
fato incompreensível, afinal o visitante ao
cruzar a base militar é abrigado a registrar
data e horário de sua entrada. E o fato mais
importante, as pedreiras já estão a
pouco metros do curso d’água (foto). Um claro
descaso das autoridades, para não dizer complacência,
o que configuraria um crime ainda maior. Fato é
que as pedreiras estão avançando ferozmente
sobre as águas de São Thomé das
Letras e podem causar um dano realmente irreparável
a todo o ecossistema da região.
Por isso, é importante a cooperação
de todos.
Em uma cidade onde
lendas, histórias e crenças são
levadas tão a sério, a água deve
ser sagrada.
Veja, a seguir, as
belas cachoeiras de São Thomé das Letras. |