Dia
Mundial da Água: 20% dos rios da Mata Atlântica
estão impróprios para consumo, diz relatório
Levantamento de SOS Mata Atlântica
analisa água em 18 unidades da Federação.
Só 12 dos 294 rios têm água boa.
Por Marília Marques,
G1 DF - 22/03/2018 15h01 Atualizado 22/03/2018 15h01 - A
cada cinco rios, córregos e lagos presentes na Mata
Atlântica brasileira, pelo menos um está contaminado
e impróprio para consumo. O levantamento é
da Fundação SOS Mata Atlântica, que
avaliou a qualidade da água em 102 municípios
e 17 estados abrangidos por esse bioma, além do Distrito
Federal. O estudo foi divulgado nesta quarta-feira (21)
durante o 8º Fórum Mundial da Água, em
Brasília.
De acordo com a pesquisa,
20% (60) dos 294 pontos de coletas estão com a qualidade
da água classificada como “ruim ou péssima”.
Apenas 4,1% (12) possuem qualidade de água boa, enquanto
75,5% (222) estão em situação regular.
Em 2015, o percentual dos rios avaliados com água
de boa qualidade correspondia a 15%.
Para a coordenadora do programa
de águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro,
isso significa que “em 96% dos pontos monitorados
a qualidade da água não é boa e está
longe do que a sociedade quer para os rios”. Nenhum
dos pontos analisados foi avaliado como ótimo.
O levantamento foi realizado
entre março de 2017 e fevereiro de 2018. Os dados
foram obtidos por meio de coletas e análises mensais
de água durante o período classificado como
“ciclo hidrológico”. O objetivo, segundo
a especialista, é “avaliar se rios e bacias
têm condições de minimizar os impactos
[como erosão e contaminação por partículas],
evitando novas crises hídricas no futuro.”
Crise e alívio
Dentre os 17 estados analisados – mais o DF –,
o Rio de Janeiro se destacou como a região mais “crítica”.
O motivo, conforme avaliou a pesquisadora, é a “crise
institucional” vivida no estado e, com isso, a geração
de problemas no saneamento básico da região
fluminense.
Dentre os 12 rios que tiveram a qualidade da água
considerada “boa” pelo estudo, estão
5 afluentes do estado de São Paulo: trechos do Rio
Tietê no município de Biritiba-Mirim e de Salesópolis,
além do Ribeirão Caulim, Água Preta
e Córrego das Corujas – na cidade de São
Paulo.
No Distrito Federal foram
coletadas amostras em dois pontos do Córrego do Urubu,
na bacia do Lago Paranoá. A totalidade foi classificada
como de qualidade “regular”.
O documento não detalha
quais tipos de contaminantes foram encontradas em cada região.
Na metodologia da pesquisa são considerados como
poluentes tanto fatores químicos, quanto os físicos
e biológicos.
No entendimento da pesquisadora
da fundação Malu Ribeiro, os resultados do
estudo apontam a “fragilidade da condição
ambiental dos principais rios da Mata Atlântica”.
Com o resultado, conta, “se confirma a urgência
de incluir a água na agenda estratégica do
Brasil”.
Comparativo
O estudo comparou os novos resultados do monitoramento com
os obtidos no ciclo hidrológico de março de
2016 a fevereiro de 2017. Como conclusão, os pesquisadores
avaliaram que a qualidade da água dos rios das bacias
da Mata Atlântica permaneceu “estável”
nesse período.
O comparativo permitiu também
que os especialistas relacionassem os níveis de qualidade
da água com as regiões onde estão localizadas.
De acordo com o documento, todos os pontos de coleta onde
a água foi considerada “boa” estão
localizados em áreas protegidas da Mata Atlântica.
Já em 16 pontos de
coleta sem proteção de mata nativa os dados
demonstraram “impacto significativo”, com perda
de qualidade da água.
E agora?
Após os resultados insatisfatórios sobre a
qualidade da água nas regiões de Mata Atlântica,
os pesquisadores da fundação disseram que,
ainda sim, é possível retirar algo de positivo
desta situação.
Além das recomendações
aos governos para uma melhor gestão dos recursos
hídricos, os pesquisadores destacam também
o papel da população no cuidado com a água.
“Divulgar desses resultados
é uma forma de engajar a sociedade na gestão
da água, além de empoderar essas comunidades
para que ajudem e construam os indicadores que o Brasil
precisa ter para garantir o acesso à água
de qualidade para todos”, explica Malu.
“Sem informação,
é impossível tomar decisões efetivas,
como no momento da construção de um reservatório
de água ou na construção de um plano
diretor da cidade. Sem essas informações a
população fica sujeita às decisões
dos setores econômicos”, conclui.
Do G1