Fórum
Mundial da Água: 1 em cada 6 cidades do Brasil corre
risco hídrico
'Escassez e insegurança
hídrica não se reportam mais somente ao Nordeste',
afirmou Helder
Por Marília Marques,
G1 DF - 20/03/2018 14h17 Atualizado há 21 horas -
Pelo menos 917 municípios brasileiros apresentam
algum risco relacionado à seca e à falta d’água.
O número corresponde a 16% do total de cidades do
país, ou uma a cada seis. O dado foi apresentado
nesta terça-feira (20), pelo ministro da Integração
Nacional Helder Barbalho, no segundo dia do Fórum
Mundial da Água, em Brasília.
“A escassez e a insegurança
hídrica não se reportam mais somente ao Nordeste.
É fundamental que as intervenções passem
para um nível federal, de maneira estruturante para
todas as regiões do Brasil.”
O levantamento se refere
aos municípios que tiveram situação
de emergência reconhecida pelo governo federal nos
últimos 180 dias, até esta terça (20).
Isso significa que essas prefeituras pediram ajuda à
União para lidar com a estiagem – e que o número
real pode ser maior, já que nem todos os gestores
locais tomam essa atitude.
O número foi citado
no painel “Crise Hídrica no Brasil”,
que mostrou a representantes de mais de 170 países,
as soluções inovadores aplicadas pelos governos
do Distrito Federal e São Paulo no enfrentamento
à crise hídrica.
Como exemplo de boas práticas
na superação da crise, o governador do Distrito
Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), citou o programa Produtor
de Água – que concede incentivos financeiros
a produtores rurais -, a revitalização de
canais do DF que “têm ajudado a aumentar o volume
de água da bacia do Descoberto”, além
de investimentos em obras de drenagem e saneamento.
Na mesa assistida pelo príncipe
herdeiro do Japão, Naruhito, Rollemberg afirmou que,
apesar da crise financeira enfrentada pelo GDF, “o
governo conseguiu liberar financiamento de R$ 20 milhões
destinados ao saneamento, obras de tratamento de agua e
infraestrutura urbana de drenagem pluvial”.
“Estamos numa situação
muito melhor do que estávamos no mesmo período
do ano passado. O volume do Descoberto é bastante
superior à média histórica.”
A fala do governador se
refere à crise hídrica enfrentada há
pouco mais de um ano pelo Distrito Federal, considerada
uma das piores da história desde a criação
de Brasília, em 1960. Os moradores da capital enfrentam
rodízio de água desde janeiro de 2017.
Na última medição,
na segunda-feira (9), o reservatório do Descoberto
atingiu 67,8% da capacidade; o de Santa Maria alcançou
46,5%. No pior momento, eles atingiram volume de 5,3% e
21,8%, respectivamente.
Ainda sobre à escassez
de água, o representante do Buriti voltou a afirmar
que o racionamento no DF pode chegar ao fim ainda neste
ano. A previsão, segundo ele, poderá ser precisada
a partir de “meados de maio”, quando chega ao
fim o período de chuvas na região.
“Vai depender da estabilização
das barragens do Descoberto e de Santa Maria. Tendo uma
previsão mais próxima, poderemos vislumbrar,
com segurança, uma data para saída do racionamento.”
Esta é, pelo menos,
a terceira vez que o governador Rollemberg faz previsões
sobre o fim do rodízio de água na capital
do país.
No mesmo painel, o governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), falou como
o estado superou a escassez de água em 2014. Há
quatro anos, choveu na região metade do volume de
chuvas que foi registrado em 1953. Até então,
o ano era considerado o de maior seca do último século.
Na época, a Sabesp,
companhia paulista de abastecimento, passou a puxar a água
que ficava abaixo dos canos de captação, no
chamado "volume morto", e reduziu a pressão
nas bombas - o que fez com que partes da cidade ficassem
desabastecidas. Também houve campanhas para a redução
do consumo.
Em dezembro de 2015, com
a volta das chuvas, o Cantareira saiu finalmente do "volume
morto". O governo paulista atribuiu a crise à
forte seca que atingiu a região, mas uma missão
da ONU criticou as autoridades estaduais por "falta
de investimentos e planejamento adequados".
A crise hídrica acabou
em SP? Veja opiniões do governo e especialistas
Nos últimos anos, a situação das represas
melhorou, mas especialistas afirmam que a possibilidade
de uma nova crise segue presente.
Como medidas inovadoras
para superação das dificuldades, Alckmin citou
a redução da perda física de água,
conseguida a partir de um financiamento ofertado pelo governo
japonês. O valor foi aplicado na substituição
da tubulação das cidades. “Com a mudança,
SP está chegando ao nível europeu de perda
d’água”, pontuou.
Fim da tributação
Sobre saneamento, Alckmin propôs o fim da tributação
sobre a água e esgotamento sanitário. “Não
tem sentido, governar é escolher”.
“A minha proposta
é que não haja tributação sobre
saneamento básico, para que esses recursos ajudassem
no investimento de garantia da segurança hídrica
e saneamento.”
Na segunda (19), primeiro dia do Fórum Mundial da
Água, o presidente Michel Temer afirmou que o governo
federal trabalha em um projeto de lei cujo objetivo é
"modernizar" o marco regulatório do saneamento
básico. O presidente não detalhou a proposta
nem informou quando pretende enviá-la ao Congresso
Nacional.
Governo trabalha em marco
regulatório do saneamento, diz Temer na abertura
do Fórum
"Nossa atenção volta-se com muita naturalidade
para o saneamento, em que tanto ainda resta por fazer. Nós
estamos ultimando projeto de lei com vistas a modernizar
nosso marco regulatório de saneamento e incentivar
novos investimentos, o que nos move naturalmente a busca
da universalização desse serviço básico",
disse Temer.
Fórum Mundial da
Água
Esta é a oitava edição do Fórum
Mundial da Água, realizado a cada três anos
em um país diferente. A primeira edição
ocorreu em 1997, em Marrakesh, no Marrocos, e a última
em 2015, em Daegu, na Coreia do Sul.
O encontro deste ano traz
o tema "Compartilhando Água". O objetivo,
segundo os organizadores, é estabelecer compromissos
políticos e incentivar o uso racional, a conservação,
a proteção, o planejamento e a gestão
da água em todos os setores da sociedade.
Em Brasília, o 8ª
Fórum Mundial da Água reúne representantes
de 175 países, entre cientistas, governantes, parlamentares,
juízes, pesquisadores e demais cidadãos. A
programação segue até sexta-feira (23).
Do G1