Garantir
o acesso sustentável à água e ao saneamento
ainda é desafio entre países
Quanto custa realizar ações
financeiras sustentáveis em sistemas de água
e saneamento levando em conta o contexto das populações
mais vulneráveis? Esse foi o tema da sessão
“Água como direito humano: implementação
de ferramentas e estratégias institucionais e de
financiamento sustentável”, realizada na manhã
dessa terça (20), durante o 8º Fórum
Mundial da Água, em Brasília.
No painel, foi destacado
que, apesar do acesso à água limpa e segura
e ao saneamento básico ter sido declarado, em 2010,
como direito fundamental pela Organização
das Nações Unidas (ONU), ainda existem desafios
locais e globais para que esse acesso seja universalizado.
Segundo a representante
da Associação Nacional dos Serviços
Municipais de Saneamento (Assamae), Ana Carolina Figur,
a universalização desses serviços no
Brasil é ainda um desafio. “São quase
35 milhões de pessoas sem acesso à água
potável no país”, destacou.
Figur mostrou ainda a necessidade
de equilibrar a sustentabilidade financeira dos sistemas
com a proteção das populações
de baixa renda. Um dos instrumentos que o Brasil tem a sua
disposição é a tarifa social, que segundo
ela, “é o benefício concedido exclusivamente
a imóveis de baixa renda, quando a água for
destinada ao uso doméstico e higiênico”.
Johanna Sjodin, do SIWI
(Instituto Internacional Água de Estocolmo), trouxe
um olhar global sobre a questão e mostrou alguns
exemplos exitosos. Ela citou a Bósnia e Herzegovina,
onde a redução de custos operacionais foi
utilizada para melhorar a universalização
dos serviços.
O representante do Conselho
Árabe para a Água, Mahmoud Abu Zeid, ressaltou
que a região Árabe é a que mais sofre
com mais escassez de água no mundo. Aliada a essa
pouca disponibilidade entram questões como conflitos
políticos, refugiados e reconstrução
da infraestrutura hídrica destruída pelas
guerras, "o que torna a garantia de acesso à
água e ao saneamento algo ainda mais desafiador".
Anupkamal Bishwakarma, representante
da Organização Dalit Welfare, do Nepal, falou
sobre a relação dos poderes em seu país
e como isso afeta o direito de acesso aos recursos hídricos.
“No Nepal, a água
é distribuída de forma desigual, e isso está
muito relacionado ao sistema de castas”, disse ao
explicar que os Dalit, trabalhadores braçais considerados
intocáveis, possuem dificuldades para ter acesso
aos benefícios sociais. “Água é
vida e é necessária para a continuidade dos
seres, não é uma fonte de negócios”,
alertou Bishwakarma.
O relator especial da ONU
sobre os direitos humanos à água potável
e ao saneamento básico, Léo Heller, que moderou
a sessão, defendeu que o “custo” para
garantir os direitos humanos passa pela mudança de
comportamento e de visão. Além disso, destacou
que a população de baixa renda não
deve ter acesso negado à água devido a sua
incapacidade de pagar por ela.
Posted on terça-feira,
Março 20, 2018