Unesco
propõe 'solução verde' para melhorar
gestão da água no mundo
Relatório de boas práticas será lançado
no 8º Fórum Mundial da Água. Documento
defende potencial das ações baseadas na natureza
para reduzir risco hídrico.
Por Marília Marques,
G1 DF - 19/03/2018 04h00 - As soluções baseadas
na natureza podem ter um papel importante na melhoria do
abastecimento e na redução do impacto dos
desastres naturais. Esta é a conclusão do
Relatório Mundial das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos.
O estudo, lançado
às 14h30 desta segunda-feira (19), em Brasília,
será apresentado ao mundo, pela primeira vez, no
8º Fórum Mundial da Água (veja mais abaixo).
A programação do evento começou no
sábado (17), mas a abertura oficial do fórum
ocorre às 9h desta segunda-feira, com a presença
de chefes de estado e do presidente Michel Temer. Os debates,
palestras e exposições sobre a gestão
dos recursos hídricos do planeta ocorrem até
sexta-feira (23).
O relatório a ser lançado nesta tarde defende
que reservatórios, canais de irrigação
e estações de tratamento de água não
sejam os únicos instrumentos de gestão hídrica
à disposição. Para estes mesmos fins,
a Unesco recomenda a chamada "infraestrutura verde",
ou seja, soluções baseadas na natureza (SbN).
Caesb suspende racionamento
nas sedes do Fórum Mundial
Na prática, as sugestões para ampliar a qualidade,
quantidade e o acesso a água seriam a extensão
da cobertura vegetal – para pastagens, zonas úmidas
e florestas – a recomposição de solos,
jardins suspensos e, principalmente, a proteção
das bacias hidrográficas.
A oficial de projetos de avaliação dos recursos
hídricos da Unesco, Ângela Ortigara, explicou
ao G1 o porquê desses mecanimos precisarem ser "mais
valorizados". No entendimento da pesquisadora que participou
da elaboração do relatório, as soluções
baseadas na natureza podem "melhorar a segurança
hídrica, reduzir riscos de desastres e gerar benefícios
aos envolvidos".
Apesar dos benefícios,
o relatório aponta que o mecanismo verde ainda é
"subutilizado" em comparação com
as "tecnologias cinzas", como barragens e cisternas,
por exemplo. "O relatório quer dizer que tem
que se buscar o equilíbrio correto entre a duas infraestruturas.
Um exemplo citado pela pesquisadora brasileira é
o programa federal Produtor de Água, que oferece
estímulo financeiro a agricultores que adotaram mecanismos
de preservação ambiental. Em uso no Distrito
Federal, a iniciativa é referência da Unesco
de priorização das SbNs.
Boas práticas no mundo
Na esfera mundial, como exemplo de "práticas
recomendáveis", o relatório cita o exemplo
do estado do Rajastão, na Índia. Em 1986 a
região passou por uma das piores secas de sua história.
Durante os anos seguintes,
uma ONG trabalhou junto com as comunidades locais para estabelecer
estruturas de coleta de água e regenerar solos e
florestas na região. A iniciativa levou a um aumento
de 30% na cobertura florestal, os níveis das águas
subterrâneas subiram em alguns metros e a produtividade
das terras de cultivo aumentou.
Outro "case" citado
no texto é o da China. Recentemente, o país
asiático iniciou um projeto chamado Cidade Esponja,
para melhorar a disponibilidade de água em aglomerados
urbanos. Até 2020, a previsão, segundo o levantamento
da Unesco, é de que serão construídas
16 cidades-esponjas pelo país.
"O objetivo é
reciclar 70% da água da chuva por meio de uma maior
permeação do solo, por retenção
e armazenamento, e pela purificação da água
e restauração de zonas úmidas adjacentes",
explica o documento.
O verde nas cidades
Apesar do nome, as soluções baseadas na natureza
não se referem apenas às práticas que
poderiam ser adotadas em áreas rurais ou de grande
extensão vegetal. A proposta do relatório
da Unesco, segundo Ângela Ortigara, é mostrar
como é possível preservar as funções
dos ecossistemas, tanto naturais quanto artificiais, também
nas grandes cidades.
Um exemplo urbano dado pela
pesquisadora é o de coleta da água da chuva
em cidades."Se, ao invés de coletar a água
da chuva diretamente dos telhados, usássemos mais
'telhados verdes' [com plantas] teríamos como benefício
a redução das ilhas de calor".
Outros exemplos urbanos incluem medidas para reciclar e
coletar água, reservatórios para a recarga
de águas subterrâneas e proteção
de bacias hidrográficas que abastecem cidades.
Custa caro?
Dados apresentados no relatório estimam que serão
necessários, aproximadamente, U$$ 10 trihões
para a infrestrutura de recursos hídricos no mundo,
entre 2013 e 2030.
Como as SbNs não
requerem, necessariamente, aportes financeiros adicionais,
os organizadores do estudo dizem esperar, portanto, que
as soluções baseadas na natureza contribuam
para reduzir esses investimentos por meio de melhor eficiência
econômica, ambiental e social.
Como estimativa de gastos,
o relatório cita exemplos das quantias investidas
em situações em que as tecnologias verdes
foram utilizadas. De acordo com o portal Ecosystem Marketplace,
governos, companhias de água e saneamento, empresas
e comunidades gastaram U$$ 25 bilhões para o pagamento
desse tipo de infraestrutura ecológica voltada para
água. Mais de 480 milhões de hectares de terra
foram afetadas, positivamente, pelas mudanças. Ou
seja, em uma conta rápida, é possível
perceber que o investimento compensa.
Embora os valores ainda
não sejam exatos, a Unesco propõe que cidades
e empresas adotem, cada vez mais, esse tipo de solução
para a gestão da água. Apesar dos investimentos
em SbNs serem considerados "crescentes", os exemplos
de uso correspondem a apenas 1% das cidades do mundo. (Veja
abaixo)
Fórum Mundial da Água
O documento da Unesco será lançado nesta segunda
(19), em uma sessão especial do Fórum Mundial
da Água. A apresentação está
prevista para as 14h30, no Centro de Convenções
Ulysses Guimarães, em Brasília.
Ao longo do dia, o evento
vai debater estratégias para, segundo or organizadores,
estabelecer compromissos políticos relacionados aos
recursos hídricos. A proposta desta edição
é "incentivar o uso racional, a conservação,
a proteção, o planejamento e a gestão
da água em todos os setores da sociedade".
Para participar das mesas de discussão, é
necessário fazer a inscrição pela internet.
Os inscritos poderão participar de atividades e discussões
sobre temas como água e energia, economia, alimentos,
cidades e ecossistemas, debates políticos entre autoridades
governamentais e parlamentares, grupo focal de sustentabilidade.
Do G1