Alterações
no clima potencializam ocorrência de desastres naturais
02/12/2009
- A prevenção de desastres naturais constitui
um tema que ganha evidência nos meses chuvosos, que
se estendem de novembro a março, período que
concentra grande parte dos episódios de inundações
e escorregamentos, deixando milhares de vítimas entre
mortos e desalojados. Segundo dados da Coordenadoria de
Defesa Civil do Estado – CEDEC, foram registrados
de 2000 a 2008 um total de 1.861 acidentes, dos quais 367
referem-se a escorregamentos, 944 a inundações,
transbordamentos e alagamentos, 65 a raios e 485 a ocorrências
diversas, como chuvas fortes, vendavais, desabamentos de
casas e muros, que resultaram em 225 registros de óbitos
e 50.347 pessoas afetadas, entre desabrigados e desalojados.
Esses
dados, segundo especialistas reunidos no Seminário
Situação e Estratégias para Redução
de Desastres Naturais no Estado de São Paulo, realizado
hoje, 02.12, no auditório da Secretaria Estadual
do Meio Ambiente, devem merecer ainda mais atenção
por conta do aquecimento da temperatura global, que deverá
promover alterações climáticas radicais,
como o aumento dos índices pluviométricos
e a elevação do nível do mar.
O
evento foi organizado pelo Instituto Geológico –
IG, órgão ligado à Secretaria do Meio
Ambiente – SMA, e contou com a participação
de especialistas de diversos setores como as áreas
de defesa civil dos governos federal e estadual, e representantes
de prefeituras, que discutiram ações e estratégias
governamentais e o papel da pesquisa na gestão de
desastres naturais.
O secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, afirmou
que “as previsões para os próximos 50
anos são duras, e os desastres climáticos
deverão se tornar mais freqüentes por conta
do aquecimento global”. Por esse motivo, salientou
que os conhecimentos científicos da área de
geologia devem ser discutidos de forma a torná-los
acessíveis à população, para
que ela entenda a gravidade do problema representado pelas
mudanças climáticas.
O Governo do Estado de São Paulo apresentou em novembro
a sua Política de Mudanças Climáticas,
com ações mitigatórias para reduzir
as emissões de gases de efeito estufa. “Se
fizermos a lição de casa nos próximos
trinta anos, talvez consigamos amenizar os impactos da elevação
da temperatura do planeta, mas precisamos avançar
para garantir a qualidade de vida das gerações
futuras”, disse.
O
evento contou, ainda, com a presença do coronel Luiz
Massao Kita, secretário da Casa Militar do Estado
de São Paulo, à qual a CEDEC está vinculada.
Graziano e Kita, além de Ricardo Vedovello, diretor
geral do IG, assinaram termos de compromisso para a implementação
do Plano Preventivo de Defesa Civil para o atendimento de
emergências no período de 1º de dezembro
a 31 de março do próximo ano.
Segundo Vedovello, os termos de compromisso preveem também
a realização de mapeamentos de novas áreas
de risco em nove localidades, em várias regiões
do Estado, ampliando o número de 31 municípios
mapeados nos últimos anos. O diretor do IG lembrou
ainda que a instituição comemora 20 anos de
participação em ações de defesa
civil. Essa efeméride motivou o lançamento
do livro “O Instituto Geológico na Prevenção
de Desastres Naturais”. Foram lançados ainda
o livro “Desastres naturais – conhecer para
prevenir” e marcadores de livros com textos sobre
o mesmo tema.
Clima
O pesquisador da Divisão de Aeronomia, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Jonas Rodrigues
de Souza, fez uma exposição mostrando as alterações
que ocorrem no ambiente espacial em decorrência das
atividades do Sol. “A cada onze anos, ocorre um ciclo
que altera o campo magnético do Sol fazendo surgir
fenômenos que afetam a Terra”, explicou. As
partículas de energia e radiação solar
acabam atingindo o nosso planeta, inicialmente pelas regiões
polares.
Países como o Canadá são mais suscetíveis
a essas partículas, que geram correntes elétricas
intensas causando interferências nos sistemas de telecomunicações,
sendo responsável, inclusive, segundo o pesquisador,
pelo apagão em agosto de 2003 que afetou esse país
e os Estados Unidos.
Souza enfatiza que a questão demanda ainda muitos
estudos, mas afirma que a atividade do Sol pode afetar a
formação de nuvens. Os raios cósmicos
estão alcançando a Terra de forma mais intensa,
influindo na formação de vapores d’água,
embora não se possa ainda relacioná-los com
as previsões de chuva.
A pesquisadora Célia Regina de Gouvêa Souza,
do IG, afirma que a concentração atmosférica
de gases de efeito estufa é a mais elevada dos últimos
42 mil anos. Disse ainda que a concentração
de dióxido de carbono – CO2 , hoje, é
33% maior do que na época da Revolução
Industrial, por volta do ano de 1850. O CO2, que é
responsável por 80% do aquecimento global, permanece
na atmosfera por período de aproximadamente 200 anos.
Outro dado apresentado pela pesquisadora é de que
no período de 1850 a 2005 foi registrado um aumento
de 0,76º C na temperatura global, tendo a década
de 1990 sido considerada como a mais quente do século
XX. Como consequência houve, no período de
1961 a 2003, a elevação do nível do
mar de 0,18 metros, sendo que no período de 1953
a 2003 essa elevação foi de 0,31 m.
Célia alerta que as previsões mais pessimistas
apontam uma elevação da temperatura planetária
de até 4º C. Citando dados da National Research
Council – NRC, dos Estados Unidos, disse que estudos
apontam elevação de 1,5 m do nível
do mar no decorrer do atual século.
A pesquisadora salienta que uma entre cada três pessoas,
no mundo, vive a menos de 100 km do litoral e 13 das 19
megacidades encontram-se próximas à zona costeira.
No Brasil, que tem 17 Estados costeiros, 36,5 milhões
de pessoas, que correspondem a 25% da população,
vivem próximas ao mar. “Com o aquecimento global
aumenta os riscos de desastres naturais, pois a ampliação
da superfície do mar promoverá maior evaporação
e, portanto, mais chuvas”, alertou.
Texto: Newton Miura Fotografia: José Jorge
Da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo