Publicação
divulga na COP-15 ações do governo contra
o desmatamento
10/12/2009
- A política de controle e prevenção
do desmatamento na Amazônia, empreendida pelo governo
federal desde 2004, é tema principal de uma publicação
que o Ministério do Meio Ambiente leva à COP-15,
iniciada esta semana em Copenhague (Dinamarca).
Em
28 páginas, a publicação detalha os
esforços bem-sucedidos empreendidos pelo governo
brasileiro para enfrentar as causas do desmatamento na região,
o que propiciou ao país alcançar a menor taxa
de desmatamento anual da história no período
de agosto de 2008 a julho de 2009, de 7 mil km2.
A
publicação também destaca outras iniciativas,
como o Plano Nacional de Mudança do Clima (PNMC),
a meta voluntária de reduzir em 80% o desmamento
do bioma Amazônia até 2020 e a implementação
do Fundo Amazônia que, juntos, compõem a estratégia
brasileira para mitigar as emissões de gases de efeito
estufa oriundas da mudança do uso do solo.
Entrevista: Tasso Azevedo, consultor sênior do Ministério
do Meio Ambiente
"O
Brasil tem um modelo vencedor para combate ao desmatamento"
Tasso
Azevedo, consultor sênior do Ministério do
Meio Ambiente para Floresta e Clima, afirma que o Brasil
possui tecnologia e governança necessárias
para o sucesso de projetos de Redução de Emissões
por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD)
Quais
são as bases que estão em discussão
no âmbito da Convenção-Quadro sobre
Clima para ações REDD?
REDD
é a palavra que usamos no âmbito da Convenção
para falar de Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação Florestal. Ou seja,
todas as ações que implementamos que ajudem
a promover direta ou indiretamente a redução
do desmatamento e da degradação das florestas
e que resultam em reduções das emissões.
O Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia (PPCDAM) é um exemplo de ação
de REDD bem como todos os seus componentes.
Porém,
o que está de fato em debate na Conferência
do Clima é o mecanismo de incentivo para que REDD
aconteça no contexto de um acordo climático
global. Como será financiado e de qual maneira os
países poderão utilizar esses projetos para
atingir suas metas obrigatórias de redução
de gases estufa. Isso tudo, levando em consideração
as populações locais, que devem ter a oportunidade
de se desenvolverem social e economicamente cuidando da
floresta.
"O
Brasil tem um modelo vencedor para combate ao desmatamento"
Tasso
Azevedo
Vale lembrar que as iniciativas REDD estão incluídas
no que se chama de Ações de Mitigação
Nacionalmente Apropriadas (Namas, da sigla em inglês),
que são compromissos dos países em desenvolvimento
com a mudança da trajetória de emissões
de gases de efeito estufa. Por exemplo, o Brasil está
crescendo e ele deve adotar um modelo de desenvolvimento
que não gere um aumento expressivo de gases na atmosfera.
Para isso, ele tem que diminuir o ritmo de suas emissões
por meio de ações nacionais. Para isso, pode
reduzir o metano na pecuária em escala nacional,
pode aumentar o uso do etanol como combustível limpo
e, no caso do REDD, reduzir o desmatamento. Então
REDD é Nama, mas por ter características mais
específicas já bem discutidas e avançadas
tem um tratamento diferenciado na negociação.
No
cerne de tudo isso está o financiamento. Os países
ricos devem fornecer suporte financeiro para que os países
em desenvolvimento possam executar seus Namas e assim mudar
seu modelo de desenvolvimento sem perder a oportunidade
de crescer.
Qual
é o posicionamento brasileiro sobre financiamento
desse mecanismo REDD?
O
Brasil acredita que existe espaço para as três
opções existentes: dinheiro do Tesouro dos
países (doações), recursos dos mercados
não compensatórios e compensatórios.
O
mercado não-compensatório é o que deverá
ter mais volume no começo. Por essa proposta, quando
é feita uma venda da permissão de emissão,
esse recurso vai para o tesouro dos países e assim,
parte desse dinheiro pode ser destinada aos países
em desenvolvimento para serem aplicados nos Namas, e, claro,
em projetos REED.
O
Brasil também aceita discutir a opção
de mercado compensatório. Porém, desde que
tenhamos garantia de que, no final, a conta geral de redução
de emissões globais seja suficiente para garantir
que a temperatura do planeta não aumente mais de
2º C. É fundamental definir que os países
desenvolvidos só poderão compensar suas emissões
se cumprirem com parte de sua meta de corte doméstica,
em outros setores vitais, como o de energia.
Cada
país tem uma realidade e o desafio é justamente
fechar um acordo para que esse mecanismo contemple o que
cada um deles deseja. Quais particularidades brasileiras
são consideradas nesse debate?
Com
certeza todos os países estão colocando na
mesa suas prioridades. No caso do Brasil, temos como principal
desafio superar a realidade de que a floresta vale mais
no chão do que em pé. Para resolver esse problema
queremos que sejam implementados mecanismos de financiamento
que incentivem o uso sustentável da floresta. Para
que isso ocorra existem várias ações
possíveis, como diminuir a taxa de juros para investimentos
na área florestal, estimular a atividade de manejo
que utilize as técnicas corretas e menos agressivas
de retirar árvores, garantir preço mínimo
para os produtos florestais e o estímulo a integração
lavoura-pecuária para evitar abrir novas áreas
de pastagem.
Além
disso, os projetos REDD do Brasil também devem contribuir
para ampliar ações de monitoramento e controle.
Não apenas da Amazônia, mas de todos os biomas.
O Cerrado, também apresenta altas taxas de desmatamento.
O bioma perde uma área de 15 mil quilômetros
quadrados de mata a cada ano.
Em
uma terceira frente, o País quer resolver sua questão
fundiária. O governo deve definir claramente quem
é dono em cada área da Amazônia. Com
essa resposta em mãos, se pode definir o uso da terra.
Será Unidade de Conservação, Terra
Indígena ou área com atividade econômica?
O
Brasil também defende que o mecanismo REDD a ser
aprovado em Copenhague inclua ações já
existentes e não apenas aquelas que irão começar
a ser executadas após o acordo internacional. Quais
são os argumentos para essa posição?
Essa
é uma questão-chave para o Brasil. Esse instrumento
deve incorporar quem nunca desmatou e também quem
já não desmata mais. Afinal, temos muitas
ações e resultados concretos, frutos de um
grande esforço que começou em 2004 com a criação
de políticas públicas transversais para combater
o desmatamento na Amazônia.
É
preciso entender que manter a redução do desmatamento
tem um custo. Não é apenas uma questão
de ter recurso para reduzir, mas também para dar
continuidade ao trabalho.
"O
Brasil montou uma estrutura muito importante que vem sendo
trabalhada desde 2004, quando foi lançado o Plano
de Ação para a Preservação e
o Controle dos Desmatamentos na Amazônia Legal (PPCDAM)"
Por isso, defendemos que as “early actions”,
que são essas ações pioneiras, executadas
antes mesmo do acordo internacional, sejam reconhecidas
e recebam recursos.
Para
lidar com essa situação, o Brasil criou o
Fundo Amazônia, que tem uma característica
pioneira e reconhecida em todo o mundo. Cada vez que se
reduz emissão proveniente do desmatamento, mais condições
de receber recursos esse fundo tem.
É
um fundo privado, mas é soberano. A Noruega, que
fez uma contribuição muito importante de um
bilhão de dólares, tem o seguinte raciocínio:
“Se vocês estão reduzindo o desmatamento,
significa que vocês foram eficientes e que estão
prestando um serviço para o mundo. Nós queremos
contribuir com a continuidade desse esforço”.
Qual
é o modelo de implementação de REDD
que o Brasil considera o mais adequado?
Os
países estão em estágios e condições
bem diferentes, e por isso acreditamos que o mecanismo deve
ser implementado em três fases.
Na
primeira, os países receberão recursos para
se prepararem por meio de projetos-piloto. Na segunda fase,
alguns resultados já devem ser apresentados, mesmo
que não exista uma quantificação e
nem um sistema de monitoramento e verificação
detalhado que informe com precisão exatamente quantas
toneladas de carbono foram reduzidas.
Já
na terceira fase, os países receberão incentivos
e devem comprovar que através de monitoramento, reporte
e verificação a quantidade exata de carbono
esta sendo reduzida. O País recebe pelo que comprova
a redução. Pelos nossos esforços e
resultados concretos, o Brasil já pode entrar nesta
fase.
Qual
é o diferencial do Brasil em termos tecnológicos
e de governança para implementar projetos REDD?
Primeiro,
temos o melhor sistema de monitoramento de floresta tropicais
do mundo. Temos informações mensais e anuais.
Essa tecnologia está, inclusive, sendo repassada
a outros países. Para se ter uma idéia, 20%
do recurso do Fundo Amazônia são disponibilizados
para ajudar a outros países a criarem um sistema
de monitoramento.
No
que se refere à governança, o Brasil montou
uma estrutura muito importante que vem sendo trabalhada
desde 2004, quando foi lançado o Plano de Ação
para a Preservação e o Controle dos Desmatamentos
na Amazônia Legal (PPCDAM). O Governo Federal envolveu
vários ministérios e outras esferas de governo
Tudo isso contribui para termos um modelo vencedor e capaz
de gerar reduções expressivas do desmatamento.
Do Ministério do Meio Ambiente