Exploradora
de árvores se oferece para salvar floresta na indonésia
13/12/09
- A península de Kampar, na Indonésia se estende
por vários quilômetros de densas florestas
de árvores e arbustos. Além de uma das maiores
florestas de turfa também é um dos maiores
depósitos de dióxido de carbono, o que a torna
potencialmente lucrativa à medida que os governos
de todo o mundo tentam traçar um tratado climático
global, uma moeda de troca. O depósito de carbono,
porém, está vazando.
Canais
– legais e ilegais – percorrem desde rios próximos
até quase o centro inatingível da península.
Ao drenar e secar a turfa lentamente, tais canais contribuem
para tornar a Indonésia uma das maiores emissoras
de gases de efeito estufa, atrás somente da China
e Estados Unidos.
Para
uma família de pescadores desta aldeia, os vazamentos
eram evidentes. Enquanto remavam em uma canoa, Amiruddin,
31 anos afirmava: "Sei que a turfeira está vazando
porque a água aqui está ficando mais barrenta
e ácida", enquanto sua mulher, Delima, 29 anos,
pegava no riacho água com coloração
de café para beber.
Variados
profissionais e setores, envolvendo governos, cientistas,
empresários e ambientalistas discutem sobre que tipo
de florestas deveria se qualificar como redutoras de carbono
e que tipo de projeto deve receber recompensas financeiras.
Além
da questão ecológica, discussões sobre
Kampar se tornaram particularmente acaloradas, principalmente
porque até o momento o plano mais detalhado para
impedir os vazamentos de turfa vem de uma fonte um tanto
quanto polêmica: uma grande empresa de papel e celulose
que, conforme seus críticos tem sido uma das forças
motoras do desmatamento na Indonésia.
A
empresa, a Asia Pacific Resources International Limited,
APRIL, quer criar um anel de plantações de
árvores industriais em torno da península,
a fim de preservá-la. Além disso, a empresa
espera receber créditos de carbono para isso, de
acordo com um programa das Nações Unidas para
recompensar países por conservar florestas e reflorestar
áreas degradadas. O programa, chamado Redução
de Emissões de Desmatamento e Degradação
Florestal (REDD, em inglês), deve fazer parte do novo
tratado do clima.
Controvérsia
Grupos ambientalistas afirmam que as empresas, após
anos degradando a Indonésia, não devem ser
recompensadas pelo programa.
"Foram
elas que causaram os danos", disse Michael Stuewe,
especialista em Indonésia do World Wildlife Fund.
"Agora estão dizendo: 'Éramos os maus,
agora somos do bem. Então nos deem dinheiro'".
O
posicionamento das empresas contraria o que dizem os ambientalistas,
segundo as quais argumentam que o programa da ONU poderia
lhes oferecer incentivos financeiros para preservar florestas,
mesmo enquanto elas expandem suas operações,
um objetivo apoiado pelo governo indonésio, que vê
a indústria de papel e celulose como um pilar para
o desenvolvimento econômico do país .
"Talvez nós possamos reduzir as emissões
anuais da Indonésia em 5% apenas com este projeto",
afirmou Jouko Virta, presidente do fornecimento de fibra
da APRIL, referindo-se ao plano da empresa de cercar o centro
da península. "É tão significativo.
Um único projeto."
A
maior parte da península continua desabitada por
seres humanos, apesar de pequenos acampamentos de pescadores
serem encontrados em seus riachos. Mais significativos são
os madeireiros ilegais vistos operando em bases ao longo
de alguns canais e rios. E a leste daqui, perto da aldeia
de Pulau Muda, mais de uma dúzia de casas ladeiam
um longo canal que vai dar na península, no que parece
ser o maior assentamento em Kampar.
Florestas
de Turfa e sua importância: a terra encharcada de
árvores e plantas decompostas algumas vezes tem até
15 metros de profundidade e armazena bilhões de toneladas
de dióxido de carbono. Uma vez seca ou desmatada,
a turfeira libera muito mais dióxido de carbono do
que as florestas úmidas; o fogo em uma turfeira queima
por semanas e é a principal causa da nuvem que cobre
periodicamente partes da Indonésia. A maioria dos
especialistas acredita que, como as florestas úmidas,
a proteção das florestas pantanosas de turfas
será elegível para créditos de carbono
pelo programa da ONU.
A
península de Kampar é um dos últimos
trechos de verde remanescentes na Sumatra central, onde
as florestas foram derrubadas para dar lugar a plantações
de dendê e de árvores para fins industriais,
especialmente as da APRIL e de sua principal rival, a Asia
Pulp and Paper, ambas pertencentes a conglomerados indonésios.
De acordo com o World Wildlife Fund, aqui em Riau, a província
onde as duas empresas têm seus principais moinhos
e plantações, dois terços das florestas
desapareceram nos últimos 25 anos.
Purnomo,
do conselho de mudança climática do país,
afirmou que membros do governo temiam que a posição
da Indonésia, como terceiro maior emissor de gases
de efeito estufa, pudesse aumentar a pressão para
reduzir emissões.
"Vamos continuar subdesenvolvidos por causa disso?"
perguntou.
Da
Redação
Com G1/Reuters