Ministra
Chefe da Casa Civil diz que países emergentes podem
contribuir para fundo de combate ao aquecimento global
Copenhague
(Dinamarca) - A ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,
admitiu hoje (13) que já está sobre a mesa
de negociação dos chefes das delegações
dos 192 países que participam da Conferência
das Nações Unidas sobres Mudanças Climáticas
uma proposta para que os países emergentes contribuam
para o fundo de combate ao aquecimento global.
“Podem
haver contribuições voluntárias de
quem acha que pode contribuir para este fundo. É
como um objetivo. A gente não tem objetivo obrigatório.
Quem quiser contribuir, pode”, afirmou.
A
chefe da delegação brasileira ressaltou, no
entanto, que o Brasil não deseja aplicar dinheiro
no fundo, já que a premissa, definida pelo protocolo
de Quioto, criado em 1997, indica que a responsabilidade
histórica pelas emissões é dos países
ricos, com obrigação de financiar as ações
do mundo em desenvolvimento para frear as emissões
projetadas para os próximos anos.
“Contribuição
mesmo é dos países desenvolvidos. Isso é
claro. Está previsto na convenção:
as ações mitigatórias dos países
em desenvolvimento dependem do financiamento dos países
desenvolvidos”, lembrou. A proposta de incluir os
países em desenvolvimento no fundo foi apresentada
pelo México e apoiada oficialmente pela Noruega.
Hoje,
mais de 50 chefes de delegações estiveram
reunidos com a presidente da conferência, a ministra
de Energia e Clima da Dinamarca, Connie Hedegaard, para
tratar dos pontos que serão levados para a derradeira
negociação dos chefes de Estado, entre quinta
e sexta-feira.
Cerca
de 110 chefes de Estado e de governo já confirmaram
presença na última etapa da COP-15, entre
eles, o norte-americano Barak Obama, o primeiro-ministro
da Inglaterra, Gordon Brown, e o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, além dos líderes da China,
Austrália, Japão e Canadá.
Segundo
Dilma, mais importante do que discutir a participação
dos emergentes no fundo é saber se os países
ricos estão dispostos a adotar metas mais ousadas
do que as anunciadas até agora para atingir o objetivo
da convenção: reduzir as emissões globais
de gases de efeito estufa entre 25% e 40%, até 2020.
A
estratégia do Brasil é trabalhada em conjunto
com outros três grandes países emergentes:
China, Índia e África do Sul. Os países
ricos, porém, ainda não entraram nesse tipo
de detalhe para firmar um acordo até sexta-feira,
data marcada para o encerramento da conferência. “Eles
contornam essa questão”, disse a ministra.
A
Chefe da Casa Civil explicou que um dos principais entraves
da negociação é que os países
ricos querem “inverter” o debate e colocar em
condições iguais os países ricos e
as grandes nações emergentes.
O
ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, também já
está na Dinamarca para participar da última
etapa da conferência do clima. O presidente Luis Inácio
Lula da Silva chega na noite de terça-feira (15/12).
Acordo
climático não pode rasgar Convenção
do Clima nem Protocolo de Quioto
"O
Brasil tem a melhor e mais detalhada proposta de redução
de emissões de gases do efeito estufa entre todas
as trazidas para Copenhague (Dinamarca) pelos países
que buscam fechar um novo acordo climático global
e não rasgará a Convenção do
Clima nem jogará fora o Protocolo de Quioto para
atender aos interesses dos países desenvolvidos",
disso a ministra Dilma Roussef (Casa Civil), que participou
neste domingo (13/12) de reunião na sede do Ministério
e Assuntos Exteriores dinamarquês em Copenhague com
cerca de 60 ministros e representantes de países
envolvidos nas negociações na Conferência
da ONU sobre Clima (COP 15). A Ministra disse ainda que
não haverá acordo se os mais desenvolvidos
não assumirem sua responsabilidade, que inclui números
mais consistentes de redução de suas emissões
e financiamento às nações em desenvolvimento.
“Temos
vários pontos de vista, todos legítimos em
cada parte, mas temos que ter aqui um acerto com legitimidade
global”, afirmou Dilma, em entrevista coletiva realizada
no Hotel Island, em Copenhague. “Para haver o acordo
que queremos, não podemos desfigurar tudo. Podemos
sim abrir mão de algumas coisas, mas não rasgar
a Convenção do Clima nem jogar fora o Protocolo
de Quioto.”
Dilma
Roussef reafirmou que a proposta brasileira levada a Copenhague
foi elaborada atendendo aos interesses do País, mostrando
que o desenvolvimento é perfeitamente compatível
com a proteção do meio ambiente. Além
disso, a proposta traz um nível de detalhamento que
nenhum outro país fez.
É
justamente esse detalhamento que agora os negociadores buscam,
principalmente em relação as propostas apresentadas
pelos países desenvolvidos. Segundo a ministra Dilma,
uma nova reunião será realizada nesta segunda-feira
(14/12) para discutir os dois principais temas – mitigação
e financiamento -, com o objetivo de se chegar a um denominador
comum a ser apresentado aos presidentes e primeiros-ministros
na quinta-feira (17/12). Dilma afirmou que está otimista
de que vai haver acordo.
Os
ministros Carlos Minc (Meio Ambiente) e Dilma Roussef (Casa
Civil) e o embaixador Luis Alberto Figueiredo, negociador-chefe
do Brasil na reunião da ONU sobre clima (COP 15),
em Copenhague, em entrevista coletiva realizada no Hotel
Island, na capital dinamarquesa.
Foto: Jorge Cordeiro/PR
Responsabilidades
A
ministra Dilma Roussef deixou claro que as responsabilidade
sobre o clima no planeta são comuns a todos, mas
devem ser diferenciadas, levando-se em conta principalmente
o PIB per capital e o estoque de CO2 já emitido.
Os países em desenvolvimento têm emissões
per capita e estoque de CO2 muito menores do que os países
desenvolvidos. Por isso a obrigatoriedade em reduzir emissões
é das nações mais ricas. Além
disso, os países desenvolvidos têm que se comprometer
com o financiamento de ações futuras de mitigação
em países em desenvolvimento.
São
dois “trilhos” de negociações,
afirmou Dilma, fundamentais para o sucesso da reunião
climática de Copenhague. O trilho do Protocolo de
Quioto exige uma redução obrigatória
de emissões por parte das nações desenvolvidas
e voluntárias dos em desenvolvimento. Já o
trilho da Convenção do Clima, de longo prazo,
prevê fundos de investimento para que os países
mais pobres possam desenvolver sem poluir.
A
posição brasileira, afirmou a ministra, é
clara: assumir ações voluntárias de
peso, como a redução significativa do desmatamento
na Amazônia, a produção sustentável
de biodiesel e produção de energia por meio
de fontes limpas como a hidrelétrica, e ter fundos
próprios, como o da Amazônia e o recém
criado de Mudanças Climáticas, para desenvolver
ações futuras de mitigação e
proteção ambiental/climática.
A
questão de se estabelecer um fundo com financiamento
externo ainda não avançou muito, lembrou Dilma,
porque novamente os países desenvolvidos evitam falar
concretamente em números – ou seja, quanto
dinheiro estariam dispostos a disponibilizar para financiar
o desenvolvimento sustentável das nações
mais pobres.
“Se
tivermos fundos com recursos externos, iremos numa velocidade,
mas se não houver esses recursos internacionais,
a velocidade será menor”, disse, criticando
o estágio atual das negociações, em
que os países em desenvolvimento têm proposto
o financiamento de suas próprias medidas mitigatórias
e os desenvolvidos em nada contribuem. “É uma
inversão de responsabilidades. Se os maiores emissores
não colocarem dinheiro algum, não conseguiremos
a redução almejada nas emissões. A
conta não fechará”, afirmou a ministra.
Da MMA