Nova
investida de países ricos gera retrocesso na negociação
do clima
15
de Dezembro de 2009 - Roberto Maltchik - Enviado Especial
- Copenhague - Novo documento, supostamente produzido por
um grupo de países ricos, teve impacto negativo nas
negociações para garantir a assinatura de
um acordo para combater o aquecimento global. Esta é
a segunda vez que um esboço de acordo atribuído
principalmente à Dinarmarca aparece em meio às
negociações desde o início da conferência,
em 7 de dezembro.
O
documento foi vazado para negociadores africanos na manhã
de segunda-feira (14) e se transformou no principal motivo
para os africanos deixarem temporariamente a mesa de negociações.
Em
entrevista coletiva, a chefe da delegação
brasileira, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,
admitiu fortes rumores de que uma propota apresentada pela
Dinarmarca extraoficialmente teria dificultado ainda mais
as negociações. No entanto, ela negou que
a delegação brasileira tenha tido acesso ao
documento. "Não acredito que haja ma-fé.
Espero que haja boa fé. Devemos lembrar que esta
conferência necessita de consenso para ter acordo.
Não pode haver imposição."
Segundo
representante do G-77, grupo de países pobres e em
desenvolvimento do qual o Brasil faz parte, o rascunho,
que sequer chegou a entrar na negociação oficial,
tinha como premissa a adoção de "compromissos
legais" de redução das emissões
para os países em desenvolvimento, tais como os exigidos
dos países ricos, conforme estabelece o Protocolo
de Quioto, assinado em 1997. “Eles querem para nós
exatamente o que a conferência e o protocolo exigem
deles”, afirmou um dos negociadores brasileiros, que
prefere não se identificar.
Oficialmente,
os países ricos negam a existência de qualquer
documento paralelo que seria apresentado durante as negociações
envolvendo os chefes de Estado.
O
objetivo da Conferência do Clima é reduzir
as emissões globais de gases que provocam o efeito
estufa em, pelo menos, 25% até 2020, considerando
1990 como ano base.
Os
países da África já voltaram a negociar,
no entanto, o principal tema das conversas entre as delegações
hoje (15) já não é mais a criação
do fundo de longo prazo para frear as emissões de
gases que provocam o efeito estufa no mundo pobre e em desenvolvimento
ou a adoção de metas mais ousadas pelos países
ricos para reduzir as próprias emissões.
As
tratativas estão focadas agora no formato de negociação
para garantir transparência na última e decisiva
etapa da Conferência das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas, que inicia amanhã
(16), com a chegada de 110 chefes de Estado a Copenhague.
A
chefe da delegação brasileira afirmou que
a única proposta que será aceita como documento
de negociação é a que será elaborada
até amanhã (16) pelos grupos de trabalhos
que discutem o Protocolo de Quioto e um novo acordo que
incluiria metas para redução de gases de efeito
estufa pelos Estados Unidos.
A
preocupação com a transparência é
manifestada repetidamente pela presidente da conferência,
a ministra do clima da Dinamarca, Connie Heddegard.
O
clima de desconfiança é um dos principais
entraves para o avanço das negociações,
admitiu o embaixador Sérgio Serra, um dos negociadores
brasileiros na COP-15. Ele acredita que as tratativas já
deveriam estar menos nebulosas. “É normal que
a negociação seja assim. O preocupante é
que esteja tão nebuloso a esta altura”, ressaltou.
O encerramento da conferência está previsto
para a tarde de sexta-feira (18).
Do Agência Brasil