Entenda
os impasses na conferência do clima de Copenhague
16/12/2009
- da Folha Online – Terminam nesta sexta-feira (18)
os impasses para a conferência climática da
ONU em Copenhague, que giram especialmente em torno do jogo
de empurra de responsabilidades entre países ricos
e pobres.
O
Protocolo de Kyoto, de 1997, deu obrigações
de diminuições de emissões somente
aos países ricos. Porém, os mesmos querem
responsabilidades também para os países em
desenvolvimento, por exemplo no que diz respeito à
contribuições para a criação
de um fundo climático. O resultado: dificuldades
na redação de um texto final que defina as
regras e um acordo entre os países participantes,
ricos e pobres.
Entre
os emergentes, Brasil, China, Bolívia, Sudão
e outros representando o grupo G77, até mesmo atrasaram
nesta quarta-feira (16) o início dos discursos dos
líderes políticos para protestar contra nova
minuta dinamarquesa de acordo, a qual acusaram ter "saído
do nada".
As
delegações desses países em desenvolvimento
criticaram que a Presidência dinamarquesa impusesse
um novo texto, depois que 130 países negociaram durante
toda a madrugada para alcançar acordos.
Lars
Lokke Rasmussen, primeiro-ministro dinamarquês, solicitou
às delegações que evitassem criticar
um texto que ainda não havia sido apresentado formalmente
e salientou que a proposta dinamarquesa "reúne
os resultados" alcançados pelos dois grupos
de trabalho da cúpula.
Protocolo
de Kyoto
O
objetivo principal da conferência é fechar
um acordo para suceder o Protocolo de Kyoto. Os países
em desenvolvimento querem sua prorrogação,
que obriga os países ricos, exceto os Estados Unidos,
a reduzir a emissão de gases-estufa até 2012
e, ao mesmo tempo, confeccionar outro acordo para as nações
em desenvolvimento.
Mas
a maioria dos países ricos querem unir o Protocolo
de Kyoto, de 1997, com um novo acordo com obrigações
para todos no combate ao aquecimento global.
Os
ricos preferem uma solução de via única,
principalmente porque os Estados Unidos, segundo maior emissor
mundial de gases-estufa, estão fora do Protocolo
de Kyoto. Há o temor de que uma solução
de duas vias faça com que os Estados Unidos fiquem
num regime menos rígido, ao lado de grandes países
em desenvolvimento.
De
acordo com o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 no Japão,
e em vigor a partir de 2005, 37 nações industrializadas
se comprometem a reduzir suas emissões de seis gases-estufa
em 5,5% em relação aos níveis de 1990
até 2012. Os países em desenvolvimento são
desobrigados de reduções de emissões
de gases-estufa.
Os
Estados Unidos, que não assinaram o acordo, dizem
que ele é injusto por não obrigar a metas
vinculantes países em desenvolvimento que já
são grandes emissores de gases-estufa.
Financiamento
Outra
das questões-chave é o financiamento para
políticas de mitigação das emissões
para os países pobres.
A
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, declarou nesta quarta-feira
(16) que os países ricos tentam aprovar uma proposta
que fixa a participação dos países
emergentes no fundo em 20% do total dos recursos e a das
nações desenvolvidas, em 25%, que seriam responsabilidades
muito parecidas.
"Somos
a favor de compromissos comuns, mas diferenciados. Esses
países [ricos] têm 200 anos de desenvolvimento
e de acúmulo de riqueza, por isso não concordamos",
afirmou Dilma. A proposta, que aumenta ainda mais o impasse
na conferência, é rechaçada pela China,
Índia e África do Sul, além do Brasil.
De todo modo, o Japão deve oferecer US$ 10 bilhões
para o período de três anos entre 2010 e 2012.
A
União Europeia prometeu US$ 10,6 bilhões para
o período. Mas esperava que o valor iniciasse um
fundo que crescesse até US$ 100 bilhões ou
mais anualmente.
Depois,
a avaliação caiu para um fundo de financiamento
climático de cerca de US$ 30 bilhões, mas
muitos dos países pobres afirmam que esse valor é
insuficiente. Os Estados Unidos disseram que vão
colaborar, mas ainda não prometeram mais que US$
1,2 bilhão.
Corte
de emissões
O
maior país emissor de gás-estufa por habitante,
Estados Unidos, informou nesta terça-feira (15) que
não pretende aumentar na conferência do clima,
suas ainda tímidas metas de redução
de emissões de gases-estufa até 2020. É
o que havia informado nesta terça-feira (15) o enviado
norte-americano para as mudanças climáticas,
Todd Stern.
O
bloco europeu já havia anunciado desde outubro sua
disposição de, até 2020, alcançar
uma redução de 20% a 30% na liberação
de gases causadores do efeito estufa em relação
a 1990, o que é uma proposta bem mais ambiciosa que
a norte-americana.
Barack
Obama havia oferecido corte nas emissões de 17% até
2020, frente aos níveis de 2005, o que significa
uma redução de 3% em relação
a 1990. A meta brasileira é de entre 36,1% e 38,9%
"em relação ao cenário tendencial
para 2020", o que cálculos da Folha de S. Paulo
traduzem em uma redução absoluta de cerca
de 25% em relação a 2005. Isso resultaria
em corte ainda maior que o dos EUA.
A
China, maior emissor global de dióxido de carbono,
empenhou-se a reduzir entre 40% e 45% de sua intensidade
carbônica --emissões de dióxido de carbono
de um país dividas pelo PIB-- até 2020. Mas
isso não equivale a necessariamente uma diminuição
absoluta dos poluentes, mas apenas em sua desaceleração
comparada com a economia chinesa. EUA e China somados contribuem
com cerca de 40% das emissões globais de gases-estufa.
Renúncia
A
situação chegou a tal nível de dificuldade
que a presidente da conferência, Connie Hedegaard,
decidiu renunciar nesta quarta-feira, dando lugar ao primeiro-ministro
dinamarquês.
Ela
havia admitido no dia anterior que ainda havia "muitos
obstáculos" nas negociações. Mas
seu motivo oficial foi que o grande número de líderes
políticos presentes na cúpula necessitava
da condução do premiê dinamarquês.
Da
Redação
Com Folha