Brasil quer confinar
CO2 debaixo da terra
17/12/09
- O posicionamento do Brasil durante a COP 15 tem chamado
a atenção de lideres de grandes países,
por se tratar de proposta ousada e que parece estar além
de um posicionamento defensivo. Tal posicionamento tem levantado
questões sobre o que e como os países ricos
podem fazer para reduzir o aquecimento global. O protocolo
de Kyoto estabelece que os países ricos são
obrigados a apresentar metas de cortes de emissão
de gases de efeito estufa. E não responsabiliza os
países pobres da mesma maneira. Nesse sentido, o
Brasil se posicionou pelo cumprimento de tais metas de forma
voluntária. A meta do Brasil é deixar de liberar
na atmosfera algo entre 36,1% e 38,9% dos gases emitidos
em 2020, caso nada seja feito.
Nesta
quarta-feira (16), em Copenhague, a comitiva brasileira
afirmou que, para cumprir essa proposta, vai precisar de
US$ 166 bilhões, nos próximos dez anos. A
maior parte desse dinheiro seria para construção
de hidrelétricas. A conta é alta para o setor
de energia, mas em outras áreas pode ser diferente.
“Vários
estudos estão mostrando que o Brasil tem um grande
potencial de redução de emissão de
gases de efeito estufa a custos ou negativos ou muito baixos.
O que esses estudos têm mostrado é que o maior
custo para a economia brasileira virá das mudanças
climáticas, virá de não fazer nada”,
explica Roberto Schaeffer, professor da Coppe/UFRJ.
O
principal vilão é o desmatamento que o governo
promete diminuir drasticamente. “Essa nossa meta de
cortar 80% do desmatamento da Amazônia até
2020 representa metade do esforço brasileiro de redução
das emissões”, afirma o ministro do Meio Ambiente
Carlos Minc.
A outra metade virá do trabalho de cientistas que
pesquisam formas de produzir mais e emitir menos, para abastecer
a frota de carros a álcool, por exemplo.
O
biocombustível é limpo, mas esse benefício
não pode virar fumaça. Quando a palha da cana
é queimada antes do corte, cada hectare libera sete
toneladas de CO2 para atmosfera. A solução
é simples: adotar a colheita mecânica. Sem
a queima, a palha que cai no chão entra em decomposição
lentamente, e pelo menos uma das sete toneladas de CO2 estocados
nela vai para o solo. É o que se chama sequestro
de carbono. “Isso é um ganho muito grande para
o ambiente, se considerarmos que temos sete milhões
de hectares de cana-de-açúcar e que há
necessidade de expandir essa cultura por uma quantidade
talvez o dobro do que exista hoje”, diz Carlos Cerri,
professor da Esalq/USP.
Impedir
que o gás metano seja liberado na atmosfera, deixou
de ser uma obrigação cara e se transformou
numa oportunidade de negócios. Um projeto instalado
num dos maiores aterros sanitários de São
Paulo é um exemplo ainda raro do Brasil, de como
o gás que poluía e provocava o efeito estufa
passou a ser combustível para gerar energia elétrica.
O gás metano liberado por 29 milhões de toneladas
de lixo soterrados no aterro São João são
capturados e transportados por canos para uma usina termoelétrica.
Ela gera eletricidade suficiente para abastecer uma cidade
de 400 mil habitantes.
A
emissão de gases do efeito estufa não é
um problema que a humanidade possa varrer para debaixo do
tapete, agora, guardar gás carbônico debaixo
da terra, essa sim pode ser uma boa ideia, e é exatamente
isso que um laboratório no Rio Grande do Sul faz.
Estudar a melhor forma de guardar o CO2 dentro de rochas
de onde, por exemplo, petróleo é extraído.
O
petróleo do pré-sal está impregnado
de CO2, mas o Brasil pretende armazenar todo o gás
carbônico que encontrar. As reservas de petróleo,
enterradas há milhões de anos, são
como buchas encharcadas. Imensos bolsões subterrâneos
de rochas porosas com óleo em cada fenda milimétrica.
À medida que ele é sugado poço acima,
esses espaços ficam vazios e podem guardar gás
carbônico durante milhões de anos com segurança.
“O petróleo só sai de um campo através
de um poço. Então se não tivermos um
poço para extrair esse CO2 que vamos colocar lá
embaixo, nunca mais vamos tirar ele lá de baixo”,
afirma João Marcelo Ketzer, coordenador do Cepac/PUC-RS.
Da
Redação
Com G1/Jornal da Globo