Perguntas
e resposta sobre a política estadual sobre mudanças
climáticas de São Paulo
Perguntas
e respostas sobre a política estadual sobre mudanças
climáticas de São Paulo
O governador José Serra sancionou, nesta segunda-feira,
9, a Política Estadual de Mudanças Climáticas
(PEMC). O principal avanço com a nova legislação
é a meta de redução, em todos os setores
da economia, de 20% da emissão de gases de efeito
estufa até 2020, tendo por base o ano de 2005. Com
a meta ambiciosa, São Paulo trabalha para construir
uma nova economia verde. Saiba como vai funcionar e esclareça
suas dúvidas.
1.
Quais as principais propostas da PEMC?
•
A principal é o objetivo geral da Política,
convergente com os da Convenção do Clima:
contribuir efetivamente para estabilizar as concentrações
dos gases estufa na atmosfera em níveis seguros e
preparar-se para os eventos climáticos extremos que
já se tornaram irreversíveis .
•
Essa proposta se materializa principalmente através
da assunção de metas de redução
de emissões, um compromisso forte e importante que
muitos países já adotaram e que diversos pretendem
adotar .
•
A meta global paulista é a de reduzir suas emissões
em 20% até o ano 2020, tendo por base os resultados
do inventário para o ano 2005.
•
Tal inventário, juntamente com demais planos de enfrentamento
da questão (Avaliação Ambiental Estratégica
e Zoneamento Ecológico-Econômico), farão
parte de um documento geral chamado Comunicação
Estadual.
•
Outra proposta importante é o Plano de Transporte
Sustentável, setor que em muito contribui para as
emissões de gases de efeito estufa em São
Paulo.
2.
Quando ficarão prontos os inventários?
•
A PEMC estabelece o prazo de dezembro de 2010 para o inventário
de emissões .
•
Outros planos, como mapa de vulnerabilidades aos efeitos
climáticos, também são de certa forma
inventários, ainda que não de emissões.
Tais planos são dinâmicos, isto é, requerem
constantes atualizações. Há ainda prazos
para a Comunicação Estadual (1 ano da publicação)
3.
Como os setores irão atingir a meta?
•
Importante frisar que a meta de 20% é global, abrangendo
todos os setores da economia.
•
Não portanto é uma meta aplicável igualmente
a todos. Alguns setores poderão até aumentar
suas emissões, pois já atingiram seus limiares
tecnológicos. Outros terão de reduzir mais
de 20%. Isso requer políticas integradas. O setor
de transporte, por exemplo, requer incentivos a modais eficientes
- e desestímulo ao transporte que consome muita energia
e emite muito gás de efeito estufa. As termelétricas
a óleo e carvão são inadmissíveis,
as a gás requerem regulamentação. Muitas
indústrias já são eficientes, outras
têm "gordura para queimar" - é preciso
conhecer esses perfis. Em resíduos, temos o aproveitamento
energético do gás metano e o uso do bagaço
de cana na cogeração. A recomposição
florestal é uma importante aliada, recuperando o
carbono da atmosfera.
4.
Qual será a ajuda dada pelo Governo?
•
São previstos incentivos econômicos aos setores
mais limpos, bem como desincentivos aos mais poluentes.
•
Incentivos podem ser dados de diversas formas: subsídios,
desonerações, financiamentos.
•
Desincentivos podem ser feitos por meio de regulamentações
e até eventuais taxações.
•
Esse assunto será bastante discutido e analisado
internamente, pois envolve aspectos orçamentários.
5.
Por que adotar uma meta para o Estado?
•
Meta é um compromisso tangível, verificável,
reportável, que permite avaliar o desempenho ao longo
do tempo. Empresas, pessoas físicas e governos trabalham
com metas todos os dias. Por que não assumir uma
meta climática?
•
São Paulo inova com a meta e com outros dispositivos
da política. A meta é um importante precedente
para economias emergentes e demais países em desenvolvimento.
Mostra também a responsabilidade de nosso Estado
perante o resto do mundo - e por isso será apresentada
emCopenhague como um exemplo a seguir.
•
A Política é bastante detalhada e acima de
tudo é lei. Não é Plano, algo que pode
ser mudado de gestão para gestão.
•
A PEMC firma o primeiro marco regulatório nacional
sobre Avaliação Ambiental Estratégica
e sobre o Zoneamento Ecológico-Econômico, algo
extremamente importante para um país de dimensões
continentais com tantos problemas de exploração
desordenada de seus recursos. É disso que o Brasil
precisa para conter o desmatamento da Amazônia.
6.
O que acontecerá caso o governo federal resolva adotar
metas?
•
O Brasil está sendo muito pressionado a adotar metas,
por ser um grande emissor (graças ao desmatamento),
uma economia emergente e um país democrático.
O Brasil há muito tempo se recusa a assumir tal meta.
A meta brasileira que está sendo discutida para ser
levada para Copenhague é muito diferente da paulista.
•
O Governo Federal deverá adotar metas, mas serão
metas setoriais (por exemplo, somente para o desmatamento)
e relativas a linhas tendenciais (o chamado "business-as-usual").
•
A meta brasileira se apóia em uma linha tendencial
de crescimento das emissões no futuro, o que acaba
se tornando um artifício matemático para "prever"
o que deveria acontecer se nada fosse feito. Como previsões
são subjetivas, basta inflar a linha de base para
se propor uma meta teoricamente ambiciosa. Tentativas de
inflar essa base incluem (i) não considerar o Programa
do Álcool, como se todos os automóveis rodassem
exclusivamente a gasolina; (ii) projetar o PIB "lá
em cima" (algo como 6% de crescimento ao ano) e um
consumo de energia sem nenhuma ação de eficiência;
(iii) considerar um desmatamento sem controle.
•
Por exemplo, se o Brasil emitia 10 unidades de gases estufa
em 2005 e tiver um aumento "planejado" de 4 vezes
em suas emissões até 2020, emitirá
50 unidades. Assumir uma meta de 50% sobre esse crescimento
significaria no final das contas "apenas" duplicar
as emissões, isto é, emitir 20 unidades.
•
Matematicamente é possível mascarar os fatos.
Ambientalmente isso é inaceitável. Se os chineses,
indianos e demais economias emergentes fizerem o mesmo,
as mudanças climáticas trarão um ônus
muito elevado à economia do planeta. Já se
estimam em mais de 1% do PIB os custos climáticos
absorvidos pela sociedade.
•
A meta de São Paulo é absoluta e se refere
a uma efetiva redução de emissões.
Assim, se São Paulo emitia 10 unidades em 2005, terá
de emitir 8 unidades em 2020. Por isso, pode ser chamada
ao mesmo tempo de realista e ambiciosa.
7.
As metas impedirão o crescimento econômico?
•
Muito pelo contrário. Metas sinalizam a transição
para uma economia verde, eficiente no uso de recursos, baseada
em tecnologia, ciência e informação.
Essa é a economia que compatível com o século
XXI.
•
Alguns exemplos de crescimento econômico com preservação
ambiental são a Califórnia (EUA), a Coréia
do Sul e a Alemanha. A opção desses países
e Estado foi produzir bens e serviços de ponta, agregando
alto valor e emitindo pouco.
•
Com a crise, a Alemanha investiu EUR 2 bilhões somente
em ferrovias. A Coréia do Sul investiu US$ 36 bilhões
em seu pacote "verde" de estímulos. São
grandes exportadores de tecnologia de ponta.
•
A União Européia anunciou que subsidiará
programas e infraestrutura "verdes" com EUR 105
bilhões, para conseguir reduzir suas emissões
de gases estufa em 20% até 2020, tendo por base o
ano 1990.
•
Mesmo sem os Estados Unidos ratificarem o Protocolo de Kyoto,
o maior Estado do país, a Califórnia, assumiu
metas ambiciosas de redução de gases de efeito
estufa: reduzir as emissões em 2010 aos níveis
de 2000; reduzir as emissões em 2020 aos níveis
de 1990; reduzir as emissões em 2050 em 80% relativamente
aos níveis de 1990. O PIB da Califórnia tem
o tamanho do PIB do Brasil.
•
O PIB de São Paulo tem o porte do PIB da Argentina.
Somos um grande mercado consumidor e grandes produtores
de bens e serviços. O discurso de que proteger o
meio ambiente impede o crescimento econômico é
anacrônico e já foi superado há pelo
menos 3 décadas. A opção de produzir
commodities altamente intensivas em energia e emissões
de carbono é uma opção que deve ser
descartada em nossa economia.
Da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo