Na
16ª Conferência de Clima da ONU, que
acontece em Cancun, de 29 de novembro a 10 de dezembro,
é preciso desatar nós que entravam
um futuro acordo global do clima.
Quase
um ano se passou desde que, neste mesmo espaço,
o Greenpeace anunciou que resgatar o planeta de
um colapso climático, a despeito das piores
previsões da ciência, era possível.
Bastava vontade política dos líderes
mundiais, reunidos então na 15ª Conferência
de Clima da ONU (COP15), em Copenhague, em chegar
a um acordo global para reduzir as emissões
de gases do efeito estufa. Os governos, infelizmente,
não cumpriram seu dever.
De
lá pra cá, os termômetros não
deram trégua. Assistimos a eventos climáticos
extremos, como secas, tempestades, ondas de calor
e invernos atípicos. A comunidade científica
trouxe novos alertas da perda da nossa biodiversidade,
da morte dos corais nos mares, do derretimento das
geleiras e do aumento do nível das águas,
o que já coloca em risco a vida de milhares.
O mundo, enquanto isso continuou a investir em energias
poluentes, destruir nossas florestas e poluir os
mares.
A
partir do dia 29 de novembro, representantes de
193 países terão nova chance de reverter
este quadro, reunidos em Cancun, no México,
para a próxima Conferência de Clima,
a COP16. Marcada pela ressaca do fracasso em Copenhague,
a COP16 reunirá menos líderes e não
alimenta esperança de um acordo mundial definitivo.
Por outro lado, tem como desafio – e obrigação
– desatar uma série de nós deixados
para trás no fechar das portas da reunião
anterior.
“Existem
entraves sérios na negociação
sobre um acordo climático global que precisam
ser resolvidos em Cancun e que simplesmente não
podem esperar até a próxima Conferência
(na África do Sul, em 2011)”, diz Nicole
Figueiredo, coordenadora da Campanha de Clima do
Greenpeace no Brasil.
A
principal lição de casa continua a
ser estabelecer metas globais ambiciosas de redução
de emissão de gases do efeito estufa. Para
isso, é preciso que os países finalmente
deixem de lado suas preocupações domésticas
em prol de um bem comum – o que não
tem sido feito inclusive pelo Brasil.
Pendengas
Na agenda de discussão está o futuro
do Protocolo de Kyoto, com prazo até 2012.
Entre os cenários possíveis estão
a revisão das metas até 2020, ou a
criação de um novo acordo, com outro
nome e novos prazos.
“Não
podemos continuar à espera dos Estados Unidos,
que não ratificaram Kyoto, aderirem a um
acordo global”, diz Nicole. Isso porque muitos
países, de China aos europeus, com freqüência
usam a ausência americana para justificar
suas próprias omissões.
China,
assim como Brasil e Índia, figuram entre
os maiores emissores de gases-estufa e, por isso,
precisam fazer parte ativa do jogo, apesar de serem
nações em desenvolvimento. “O
Brasil tem metas de redução tímidas
e poderia fazer muito mais. É um país
com potencial de energia renovável imenso,
mas investe em combustível fóssil
e nuclear. Além disso, corre o risco de aprovar
alterações drásticas em sua
legislação florestal, abrindo portas
para mais desmatamento”, conclui Nicole, referindo-se
às propostas de mudança no Código
Florestal, articuladas pela bancada ruralista no
Congresso.
Entre
os outros gargalos está o estabelecimento
de um fundo climático, idealizado na COP15
para financiar medidas de adaptação
nos países mais pobres, que já sofrem
com as consequências das mudanças climáticas.
Ele prevê ainda recursos para mitigação
das emissões e transferência de tecnologia
entre países.
Apesar
de os países ricos, que doarão o dinheiro,
concordarem com a teoria, o fundo nunca saiu do
papel. É como escrever um cheque, mas não
o assinar. O imbróglio está em quem
vai comandar este fundo e definir quem vai receber
o dinheiro e quando.
Também
precisam avançar as discussões sobre
REDD (Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação), mecanismo
de proteção de nossas florestas nativas
que estabelece um mercado de carbono para compensar
a manutenção das matas em pé.
Para isso, é preciso que as regras deste
mercado sejam definidas, para garantir que o recurso
chegue à mão de quem precisa, com
transparência no processo.
“A
COP16 será um momento de resolver pendências
e burocracias, pavimentando o caminho para, o quanto
antes, fecharmos um acordo global. O burocrata que
viajar até Cancun e não conseguir
resolver ao menos os pontos básicos não
deve ter direito nem de pegar o avião de
volta pra casa”, diz Nicole.