26/11/2010
- Daniela Mendes - A ministra Izabella Teixeira,
do Meio Ambiente, defende que o Brasil tenha um
papel de ''facilitador e agregador'' das propostas
em discussão na 16ª Conferência
das Partes da Convenção da Organização
das Nações Unidas para Mudança
do Clima, a COP 16, que será realizada em
Cancún, no México, de 29 de novembro
a 10 de dezembro.
''O
Brasil está fazendo o dever de casa. Isso
nos dá condições políticas
de cobrar (dos demais países) resultados
e credenciamento político para recepcionarmos
as divergências e estimularmos uma convergência'',
disse a ministra em coletiva de imprensa no final
da manhã desta sexta-feira (26).
Do
encontro em Cancún, o País espera
a aprovação de um pacote balanceado
de decisões que signifique um avanço
nas negociações e a pavimentação
para um futuro acordo global a ser concluído
nas próximas convenções, quem
sabe em 2012, na Rio+20.
''Não
teremos (na COP16) o acordo legalmente vinculante
que a gente deseja. A engenharia político-institucional
ainda não está suficientemente amadurecida,
mas podemos dar continuidade ao que foi acordado
em Copenhagen'', afirmou Izabella Teixeira.
A
visão para Cancún é evoluir
em etapas e fechar acordos específicos, mas
em conjunto. O Brasil quer um pacote equilibrado
com ações de mitigação,
adaptação, financiamento, transferência
de tecnologia, Redução de Emissões
por Desmatamento e Degradação Florestal
(REDD+), além da visão compartilhada.
Em
termos de negociação internacional,
o Brasil tem feito um esforço para que se
tenha um resultado positivo em Cancún. O
trabalho do País é puxar os demais
para a negociação, buscando avanços
e evitando que os países recuem em discussões
que já estão bem desenvolvidas.
A
aprovação da segunda etapa do Protocolo
de Kyoto, na avaliação da ministra,
já seria um grande passo. Esse segundo período,
até 2020, demandaria uma redução
de 20% a 40% nas emissões dos países
desenvolvidos em relação às
emissões de 1990. Esses valores são
os previstos pelo IPCC para a manutenção
do aquecimento em dois graus até 2020.
O
Brasil chega a Cancún com o Fundo Clima regulamentado
e R$ 226 milhões de orçamento inicial
para 2011; os primeiros cinco planos setoriais da
Política do Clima para redução
das emissões e adaptações elaborados,
incluindo as políticas de incentivo à
agricultura de baixo carbono e o fortalecimento
de uma matriz energética limpa e renovável;
a redução sistemática do desmatamento
da Amazônia, com o menor índice registrado
nos últimos 21 anos; a entrega da segunda
comunicação nacional do País
à Convenção do Clima, o que
inclui o segundo inventário de emissões
do Brasil e oferece um quadro detalhado das emissões
brasileiras para ajudar a tornar o monitoramento
ainda mais eficiente.
A
ministra chamou atenção para as dificuldades
de negociação na área de mitigação
envolvendo principalmente os Estados Unidos, que
não são signatários do Protocolo
de Kyoto, e discutem, em paralelo, na Convenção
do Clima, a possibilidade de redução
das emissões de gases de efeito estufa.
Há
também um entrave envolvendo a China, que,
apesar de ser signatária do Protocolo de
Kyoto, tem tido dificuldades em aceitar mecanismos
de controle e transparência (MRV-medir, revisar
e revisar) das metas nacionais de redução
de emissões. Para a China, esses mecanismos
podem invadir a autonomia do governo chinês.
REDD+
- As negociações de REDD+ entre os
países já estão avançadas
e o texto que está na mesa já está
suficientemente maduro. O consenso é de que
o REDD+ será implantado em três fases:
a primeira de produção de conhecimento
e de estratégias, englobando a estrutura
institucional, o monitoramento e o inventário
florestal; a segunda de implementação
de políticas e medidas; e a terceira de pagamento
pelo desempenho com base na quantificação
das emissões e remoções por
florestas em relação aos níveis
de referência acordados.
Essa
última, mais polêmica, é a única
fase em que se poderá admitir a presença
do mercado, desde que sejam atendidas salvaguardas
que serão regulamentadas posteriormente.
No entanto, o nível de detalhamento da proposta
de REDD+ vai depender do andamento das negociações
em relação às outras propostas
para que sejam consideradas e balanceadas com REDD+.
Dos
acordos que podem sair de Cancún, o de REDD+
é um dos que irá gerar grande estímulo
para o Brasil. Ele será a base para começar
a valorização dos produtos da floresta,
condição essencial para manter a floresta
em pé. O Brasil já discute internamente
a regulamentação do REDD+ que inclui
a integridade ambiental e os critérios para
repartição de benefícios.
''Queremos
um sistema que tenha benefícios para o clima,
para as populações, para a biodiversidade
e que estimule a economia da floresta'', ressalta
Branca Americano, secretária de Mudanças
Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA.
Código
Florestal - Durante a coletiva de imprensa, a ministra
também defendeu um debate mais amplo sobre
a proposta de revisão do Código Florestal
em tramitação no Congresso Nacional.
Ela reconhece que o texto do código em vigor
precisa ser modernizado, mas alerta para a votação
de uma matéria insuficientemente discutida
com os demais setores da sociedade. ''Temos que
considerar a questão urbana e a inclusão
de mecanismos de baixo carbono. Não podemos
ter uma ação (de governo) que gere
contradições'', disse a ministra referindo-se
às metas de redução das emissões
de gases de efeito estufa que podem ser impactadas
com a aprovação do texto que está
no congresso.
Segundo
a ministra, a exemplo de outros segmentos da sociedade
civil, como a Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), o MMA já concluiu
estudos técnicos que podem contribuir para
o aperfeiçoamento da proposta.