15/06/2012
- 13h53 - Rio+20 - Thais Leitão - Enviada
Especial - Rio de Janeiro - Cobrar aceleração
no processo de demarcação das terras
indígenas no país e fazer um contraponto
ao modelo econômico e ao conceito de economia
verde – discutidos na Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20) – são os
principais objetivos dos povos indígenas
que se reuniram hoje (15) na tenda do Acampamento
Terra Livre, na Cúpula dos Povos, no Aterro
do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro.
Em
meio a muitas manifestações culturais
– como a das mulheres das etnias Macuxi e
Wapichama, de Roraima, que apresentaram um tipo
de música típica conhecida como parixara
–, eles reclamaram da violação
ao seu direito à terra.
De
acordo com a diretora nacional da Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia
Guajajara, os indígenas podem mostrar ao
mundo o que é ser sustentável por
meio de suas práticas de uso da terra sem
destruí-la.
“Estamos
aqui para fazer um contraponto à Rio+20,
para mostrar o nosso jeito indígena de ser
sustentável. Muitas vezes o que se define
como Economia Verde não é o que entendemos
que representa a real harmonia com a natureza”,
disse, durante uma coletiva de imprensa na manhã
de hoje (15).
A
representante da Articulação dos Povos
e Organizações Indígenas do
Nordeste, de Minas Gerais e do Espírito Santo
(Apoinme), Ceiça Pitaguary, destacou que
a lentidão na demarcação dos
territórios indígenas leva muitas
lideranças a serem criminalizadas por causa
da retomada de terras tradicionais.
“Somente
em Pernambuco, em apenas um povo, há 35 lideranças
no banco dos réus por terem retomado suas
terras. Primeiro nós queremos o direito à
terra, e só depois as outras políticas
públicas”, enfatizou.
A
mesma preocupação foi manifestada
pelo representante da Articulação
dos Povos Indígenas da Região Sul
(Arpinsul), Otoniel Ricardo. Segundo ele, mais de
200 lideranças indígenas morreram
desde o ano passado por causa de conflitos ligados
à terra no Sul. “Nossos líderes
estão morrendo e eu posso ser o próximo.”
O
representante do Conselho Continental da Nação
Guarani, que reúne indígenas da Bolívia,
do Paraguai, da Argentina e do Brasil, Celso Padilha,
convocou os povos de todas as etnias, independentemente
do país onde vivem, para que unam forças
e lutem pela preservação de seus territórios,
de sua cultura e de seus costumes.
“Não
podemos falar em desenvolvimento sustentável
se não tivermos terra e autonomia. Temos
que unir nossas mãos e dizer que não
queremos esse modelo de economia verde. Não
podemos negociar nossos costumes, nossas tradições,
nossas terras”, ressaltou.
O
líder indígena conhecido internacionalmente
por sua luta pela preservação da Amazônia,
Cacique Raoni, da etnia Caiapó, também
conclamou a união dos povos indígenas,
principalmente dos jovens, na defesa de seus interesses
coletivos.
“Temos
que lutar e falar dos nossos problemas. Não
podemos aceitar o que o homem branco tem feito ao
nosso povo. Precisamos lutar pelos nossos direitos,
pelas nossas terras. Enquanto eu estiver vivo, vou
lutar”, enfatizou, sendo aplaudido por diversos
participantes da cúpula.
O
líder também criticou a construção
de grande empreendimentos que trazem prejuízos
aos territórios indígenas, como a
Usina de Belo Monte.
+
Mais
Atual
modelo econômico representa entrave para desenvolvimento
sustentável, criticam ambientalistas
15/06/2012
- 7h21 - Meio Ambiente Rio+20 - Wellton Máximo
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
– A receita para garantir o crescimento do
país tem sido a mesma nos últimos
anos: estimular o mercado interno, principalmente
em momentos de dificuldade da economia. No entanto,
as desonerações e o crédito
fácil que aquecem o consumo trazem impactos
ao meio ambiente. Da poluição dos
carros novos com impostos reduzidos ao lixo despejado
pelos compradores que trocam de eletrodomésticos
e celulares, as medidas de estímulo deixam
um passivo ambiental.
Segundo ambientalistas ouvidos pela Agência
Brasil, o modelo econômico em vigor representa
um entrave para o desenvolvimento sustentável
do país. E é justamente o modelo econômico
baseado no consumo um dos pontos em maior evidência
nas discussões da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20), que prossegue até o dia 22 no capital
fluminense.
O principal problema, dizem os ambientalistas, consiste
na falta de visão de longo prazo, que leve
em conta a disponibilidade dos recursos naturais
no futuro e assegure a diminuição
das emissões de gás carbônico
nos próximos anos.
“É
fundamental para o Brasil agregar renda e superar
a pobreza, mas tudo isso deve ser feito sem consumir
possibilidades futuras”, avalia o diretor
sênior de Políticas da organização
não governamental Conservação
Internacional, Valmir Ortega. “No modelo atual,
estamos gastando o dinheiro do jantar no almoço
e corremos o risco de sofrer sérios problemas
no futuro.”
Para o professor Gustavo Souto Maior, do Núcleo
de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília
(UnB), as políticas adotadas no Brasil vão
na contramão de medidas adotadas por outros
países, que têm criado restrições
ao transporte individual e estimulado o transporte
coletivo. “Na Dinamarca, o governo desestimula
a compra de carros por meio de um imposto altíssimo,
mas o Brasil continua apostando no transporte individual
falido, que compromete a mobilidade urbana e aumenta
o consumo de combustível”, ressalta.
Secretária executiva do Instituto Socioambiental
(ISA), Adriana Ramos considera importantes as reduções
de impostos, mas diz que as desonerações
devem contemplar setores que investem em inovações
tecnológicas e no respeito ao meio ambiente.
“Se é para reduzir impostos, que o
governo olhe a economia de forma mais ampla e estimule
novas cadeias produtivas que promovam o desenvolvimento
sustentável”, declara.
Ortega, da Conservação Internacional,
diz que os incentivos à economia verde até
existem, mas em volume insuficiente. “O governo
criou uma linha de crédito para plantios
de baixo carbono, mas o orçamento não
chega a ser um décimo do Plano Safra, que
financia toda a agricultura. O que hoje é
nicho deveria ser o foco principal das políticas
públicas”, diz.
Os especialistas destacam que a mudança de
prioridades poderia ser feita sem aumento dos gastos
públicos. “Basta reorientar os incentivos
fiscais e monetários existentes”, opina
Souto Maior. Para ele, os próprios conceitos
econômicos contribuem para a falta de prioridade
do meio ambiente na formulação de
políticas. “Pelos critérios
tradicionais, quanto mais árvores se cortam,
mais o PIB [Produto Interno Bruto, a soma da produção
de um país] aumenta”, critica.
Entre os novos setores que podem ser beneficiados
com incentivos fiscais, os especialistas citam o
turismo nos parques nacionais, o transporte público,
o saneamento básico e as compensações
ambientais para obras de infraestrutura. “Não
queremos abrir mão do crescimento, só
fazer o país pensar no longo prazo. O pré-sal
pode ser explorado, desde que as receitas do petróleo
financiem o desenvolvimento de novas tecnologias”,
acrescenta Ortega.
Fonte: Agência Brasil