17/06/2012
- 10h06 - Rio+20 - Renata Giraldi e Carolina Gonçalves
- Enviadas especiais da Agência Brasil - Rio
de Janeiro – A última versão
preliminar do documento final da Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20), a que a Agência
Brasil teve acesso, mostra que os temas controvertidos,
como definições de recursos e metas
pontuais, foram excluídos. O texto é
amplo e generalista, mas ressalta aspectos sociais,
como as parcerias para a erradicação
da pobreza, a melhoria na qualidade de vida nos
assentamentos, transportes e educação,
além do combate à discriminação
por gênero.
O
rascunho foi negociado até a noite de ontem
(16), sendo que só as delegações
dos 193 países, organizações
não governamentais e alguns movimentos da
sociedade civil tiveram acesso ao texto. Nele, há
50 páginas, indicando que pelo menos 30 das
propostas iniciais foram retiradas. No começo
da conferência, o documento apresentado tinha
80 páginas e, anteriormente, chegou a ter
200 páginas.
No
texto, não há menção
sobre a criação do fundo anual de
US$ 30 bilhões, a partir de 2013, e que alcançaria
US$ 100 bilhões em 2018. A proposta defendida
pelo Brasil e por países de economias em
desenvolvimento foi rejeitada pelas nações
mais ricas.
Em
substituição à proposta de
criação do fundo, há o compromisso
de ser criado um fórum para apreciar o assunto
a partir de nomeações da Assembleia
Geral das Nações Unidas. O documento
preliminar está dividido em seis capítulos
e 287 itens. Os capítulos mais relevantes
são os que tratam de financiamentos e meios
de implementação (relacionados às
metas e compromissos que devem ser cumpridos).
O
texto destaca também a necessidade de os
países fortalecerem as parcerias para a transferência
de tecnologia limpa. Mas não há detalhamento,
pois a questão divide os países desenvolvidos
e os em desenvolvimento. Nas situações
de impasse, o rascunho apela para os mais ricos
contribuírem para o desenvolvimento sustentável,
ação que vale também para as
questões relativas à capacitação
e ao comércio.
Questões
sociais
Houve
ainda preocupação de ressaltar as
questões sociais em praticamente todos os
capítulos. “Reconhecemos que a erradicação
da pobreza em conjunto com a mudança insustentável
e promoção de padrões sustentáveis
de consumo e produção e a proteção
e gestão da base de recursos naturais do
desenvolvimento econômico e social são
os objetivos fundamentais e requisitos essenciais
para o desenvolvimento sustentável”,
diz o texto no capítulo Visão Comum.
Há,
ainda, destaque para reafirmar todos os compromissos
assumidos anteriormente. “Reafirmamos ainda
nossos respectivos compromissos de outros relevantes
objetivos acordados internacionalmente nos domínios
econômico, social e ambiental desde 1992.”
A
África recebeu atenção diferenciada
por parte dos negociadores da Rio+20. Em vários
capítulos, o continente é mencionado
como aquele que deve ser alvo de parcerias, ações
conjuntas e propostas comuns. “Mais atenção
deve ser dada à África”, ressalta
o documento preliminar.
Economia
verde
Um
dos itens mais polêmicos debatidos ao longo
dos últimos dias foi o conceito de economia
verde - para os países desenvolvidos, é
um; para os em desenvolvimento, outro. A preocupação
dos países ricos refere-se às questões
relativas à produção, ao consumo
e à comercialização de mercadorias.
Para evitar controvérsias, foram colocadas
recomendações gerais.
“A
economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável
e a erradicação da pobreza
existem diferentes abordagens, visões, modelos
e ferramentas disponíveis para cada país,
de acordo com suas circunstâncias e prioridades
nacionais para alcançar o desenvolvimento
sustentável nas suas três dimensões
que é o nosso objetivo primordial”,
diz o rascunho.
No
entanto, há 15 sugestões sobre economia
verde relacionada à soberania nacional e
ao desenvolvimento sustentável. Há
referências sobre aumentar o “bem-estar
dos povos indígenas em suas comunidades”,
assim como para mulheres, crianças, jovens
e pessoas com deficiência. Também há
recomendações sobre a produção
de alimentos voltada para a erradicação
da pobreza.
Temas
específicos
No
capítulo sobre temas específicos,
são mencionados erradicação
da pobreza; segurança alimentar e nutricional
e agricultura sustentável; energia; turismo
sustentável; transporte sustentável;
cidades sustentáveis e assentamentos humanos;
saúde e população; promoção
de emprego pleno e produtivo e do trabalho digno
para todos com garantias de proteções
sociais e oceanos, além de estados insulares.
Há,
também, um capítulo destinado à
redução de riscos de desastres, que
se refere às medidas a serem adotadas para
alertar sobre as perdas de vidas e os danos econômicos
e sociais causados por essas situações.
No ano passado, o Japão viveu um dos piores
terremotos da sua história, enquanto Haiti
e Chile ainda tentam se recuperar dos tremores de
terra recentes.
No
capítulo sobre mudança climática,
a preocupação é evidente, mas
não há recomendações
pontuais sobre o mínimo e o máximo,
por exemplo, permitidos de emissão de gases
de efeito estufa. “Reafirmamos que a mudança
climática é um dos maiores desafios
do nosso tempo, e nós expressamos profunda
preocupação que as emissões
de gases com efeito de estufa continuam a crescer
globalmente”, diz o texto.
Na
parte final do rascunho estão os capítulos
sobre biodiversidade, mineração, educação,
consumo e produção sustentáveis,
além de desertificação, degradação
do solo, seca, montanhas e produtos químicos
e resíduos. No que se refere aos produtos
químicos, a recomendação é
cooperar com os países que não têm
condições de gestão do assunto,
citando os menos desenvolvidos.
+
Mais
Por
dez dias, Riocentro vira uma cidade atípica
e com segurança reforçada
17/06/2012
- 16h30 - Rio+20 - Renata Giraldi e Carolina Gonçalves
- Enviadas especiais da Agência Brasil - Rio
de Janeiro - O Riocentro, que é um centro
de convenções localizado em uma área
isolada da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio
de Janeiro, transformou-se nos últimos quatro
dias em uma espécie de cidade. O local é
uma das regiões mais vigiadas e seguras da
cidade. A Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20) provocou mudanças radicais na região
– com alterações no trânsito,
no policiamento e na criação de uma
infraestrutura própria.
Somente
ontem (16), um sábado de sol no Rio, a Organização
das Nações Unidas (ONU) informou que
mais de 32,8 mil pessoas passaram pelo Riocentro
para participar, direta ou indiretamente, da conferência.
A estimativa é que os números aumentem
nos próximos dias, quando mais autoridades
participarão da Rio+20 e com a cúpula
dos chefes de Estado e de Governo.
Ao
redor do Riocentro, com instalações
de 100 mil metros quadrados e estrutura montada
para receber as autoridades, as delegações
dos 193 países e os participantes das discussões,
está proibido estacionar e demorar no desembarque
de passageiros. Há policiais militares, agentes
da Polícia Municipal e soldados do Exército
fazendo a segurança.
Na
área interna do Riocentro, além dos
policiais e militares brasileiros, há também
os agentes de segurança da ONU. Criteriosos,
os agentes estrangeiros não fazem concessões.
Todos que têm acesso ao evento, por meio de
crachás, devem respeitar as normas –
cada crachá dá acesso a um pavilhão
do centro de convenções, do total
de cinco.
A
imprensa deve ficar no Pavilhão 3 e só
pode circular para deixar o local quando há
autorização e em direção
ao setor de transportes. Dos dias 20 a 22 são
esperados os 115 chefes de Estado e de Governo,
entre eles a presidenta Dilma Rousseff e os presidentes
François Hollande (França), Raúl
Castro (Cuba) e Mahmoud Ahmadinejad (Irã).
Segundo policiais, haverá reforço
no sistema de segurança.
Assim
como as salas dos pavilhões são tomadas
por reuniões com discussões sobre
o documento final do evento, os corredores também
guardam verdadeiras passarelas de diversidades de
trajes, línguas e costumes.
No
Pavilhão 2, no qual estão os restaurantes,
quiosques de alimentação e um mercado,
há opções para agradar um leque
significativo de paladares. Durante as refeições,
num palco montado entre estandes gastronômicos,
grupos de diversas origens apresentam um pouco da
música e costumes tradicionais de alguns
países presentes na Rio+20.
No
Pavilhão 1, que é a entrada principal
para a conferência, há manifestações
em forma de desenhos e produções artesanais,
que estão expostas na área. A voz
da sociedade civil ganha traços e cores no
registro de mensagens universalmente compreendidas
sobre o que esperam do mundo.
Fonte: Agência Brasil