19/06/2012
- 21h06 - Rio+20 - Alana Gandra - Repórter
da Agência Brasil - Rio de Janeiro –
O alto comissário das Nações
Unidas para Refugiados, Antonio Guterres, chamou
a atenção hoje (19) das lideranças
mundiais para a necessidade de terem um olhar mais
humanitário para as populações
que se veem obrigadas a sair de suas regiões,
seja por conflitos políticos, por crises
econômicas e financeiras ou por desastres
naturais. Guterres está no Rio de Janeiro
para participar da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
a Rio+20.
“Nós
vivemos em um mundo em que não só
assistimos a uma multiplicação de
conflitos – nos últimos meses, Síria,
Sudão – mas, também, ao fato
de os velhos conflitos não terminarem, o
que tem feito aumentar o número de refugiados
e, cada vez mais, por períodos mais longos”,
comentou o alto comissário da ONU. “Isso
é dramático”.
De
acordo com relatório divulgado ontem (18),
pelo Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur), o ano passado registrou
o recorde de 800 mil deslocamentos forçados
entre fronteiras internacionais, ampliando o número
de refugiados desde o ano 2000. Em todo o mundo,
42,5 milhões de pessoas chegaram ao final
de 2011 em uma situação de deslocamento,
dos quais 15,42 milhões como refugiados.
A
esses se somam as pessoas que hoje são obrigadas
a deixar suas comunidades e países porque
já não há condições
de vida. Segundo Guterres, isso ocorre devido à
conjugação das condições
climáticas com os desastres naturais, insegurança
alimentar, escassez de água, desertificação
em várias regiões. Ele observou ainda
que, para essas pessoas, não existe um regime
internacional de proteção, como há
para os refugiados de guerras e perseguição.
O
problema foi exposto às lideranças
mundiais no ano passado, em conferência intergovernamental
da ONU. “É necessário encontrar
resposta para essa lacuna de proteção
que existe na comunidade internacional”, apontou.
De
acordo com o alto comissário, países
como o México, a Costa Rica, Noruega, Alemanha
e Suíça aceitaram liderar um debate
mundial para encontrar novas formas de mobilização
global para responder a esse novo desafio. Na falta
de uma convenção tão forte
como a dos refugiados, Guterres disse que gostaria
de ver aprovadas, pelo menos, linhas que orientassem
o comportamento dos países, ainda que de
forma não obrigatória, como a ONU
aprovou no caso dos deslocamentos internos.
Guterres
citou como soluções possíveis
o exemplo do visto humanitário, concedido
pelo Brasil aos imigrantes do Haiti, ou regimes
de proteção temporária, no
caso de desastres naturais, adotados por alguns
países. “Importaria, de alguma forma,
criar um enquadramento de todas essas situações
em um todo harmônico e colocá-lo como
uma orientação geral dada aos estados
para melhor proteger as pessoas”. Segundo
ele, poderia ser um misto de reconhecimento de direitos
e de ação humanitária para
resolver as necessidades básicas dessas populações.
A
Acnur pretende, na Rio+20, alertar os governos e
a opinião pública que os problemas
de sustentabilidade, se não forem resolvidos,
levarão, cada vez mais, pessoas a fugirem
em razão de conflitos por causa dos impactos
das mudanças climáticas. “Fala-se
pouco dos impactos das alterações
climáticas no movimento forçado das
pessoas”, observou.
Em
visita na tarde desta terça-feira ao arcebispo
do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta,
Guterres destacou o apoio que a Acnur recebe da
organização Caritas no Brasil e de
todo o conjunto de organizações da
sociedade civil ligadas à Igreja. “São
um pilar fundamental na proteção aos
refugiados e na assistência a eles e na sua
reintegração à sociedade brasileira.
Sem esse trabalho, nós não poderíamos
exercer o nosso mandato”.
Amanhã
(20), Dia Mundial do Refugiado, Guterres e o diretor-geral
da Organização Internacional para
Migrações (OIM), William Swing, promovem,
no Riocentro, o evento paralelo à Rio+20
Vulnerabilidade de Migrantes Urbanos: Desafios e
Respostas.
+
Mais
Ministra
de Direitos Humanos diz que pediu afastamento da
Marinha de área quilombola na Bahia
19/06/2012
- 18h52 - Rio+20 - Isabela Vieira - Repórter
da Agência Brasil - Rio de Janeiro –
A ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos,
Maria do Rosário, revelou hoje (19) que pediu
ao Ministério da Defesa para impedir o contato
da Marinha com a comunidade quilombola do Rio dos
Macacos (BA). Os militares foram acusados de atos
de violência contra os moradores, recentemente,
segundo denúncias encaminhadas ao Poder Público.
“Articulamos
com o Celso Amorim [ministro da Defesa] para que
exista um respeito e se tenha um afastamento dos
quadros das Forças Armadas, da Marinha, dos
moradores do quilombo”, disse a ministra,
em entrevista na Cúpula dos Povos, evento
da sociedade paralelo à Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, Rio+20.
A
demarcação de terras quilombolas é
um dos temas prioritários do movimento negro
na cúpula e deve constar do documento final
que será divulgado no último dia da
conferência (22). Hoje, várias entidades
ligadas à causa se encontram em uma plenária
e marcaram uma passeata para amanhã (20),
às 15h, partindo do Aterro do Flamengo em
direção ao centro do Rio.
Sobre
a questão do Rio dos Macacos, vizinha a uma
base da Marinha, Maria do Rosário acrescentou
que aguarda relatório técnico de identificação
e de delimitação da comunidade, a
cargo do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra). “Enquanto
isso não ocorre, acompanhamos para que não
exista essa interação [Marinha e quilombolas].
Eles têm o direito de estar ali com tranquilidade”,
completou.
Antes
de participar de debate na Arena Socioambiental,
ao lado do Museu de Arte Moderna (MAM), a ministra
disse que aposta na conferência da ONU para
encontrar soluções para o planeta,
mas destacou que a mobilização da
sociedade civil também é importante.
“A
Rio+20 não é só um documento
final. É a movimentação em
torno da cidade, a Cúpula dos Povos, a atenção
da sociedade às questões ambientais
com inclusão social. É uma estratégia
da ONU que pode oferecer muito, mas o principal
é a festa democrática do povo”,
concluiu.
Fonte: Agência Brasil