19/06/2012
- 12h26 - Vitor Abdala e Renata Giraldi - Repórteres
da Agência Brasil - Rio de Janeiro - A versão
preliminar do documento final da Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, à qual a Agência
Brasil teve acesso, aponta que os temas polêmicos
e sem consenso ficarão para uma próxima
cúpula. O documento, concluído na
madrugada de hoje (19), tenta apaziguar o impasse
com uma redação generalista sobre
investimentos e metas. O texto ainda pode ser modificado
na reunião plenária marcada para hoje
(19) com intuito de discutir o detalhamento técnico.
No
texto amplo, os aspectos sociais são destacados,
ressaltando o esforço conjunto para a erradicação
da pobreza, a melhoria na qualidade de vida e o
ser humano no centro das preocupações.
O documento tem 49 páginas, uma a menos que
o texto anterior concluído no sábado
(16). Inicialmente, o material chegou a ter 200
páginas, depois foi reduzido a 80, em seguida
para 50 e agora para 49.
O
documento está dividido em seis capítulos
e 283 itens (o anterior tinha quatro a mais). Os
capítulos mais relevantes são os que
tratam de financiamentos e meios de implementação
(relacionados às metas e compromissos que
devem ser cumpridos).
A
última versão do texto foi negociada
até as 2h20 desta manhã. De um total
de 193 delegações, apenas os representantes
dos países desenvolvidos, liderados pelos
Estados Unidos e pela União Europeia, resistiam
a fechar o rascunho em nível técnico.
Os europeus insistiam em levar a discussão
para os ministros de Estado.
Financiamentos
e Tecnologia
Exatamente
como queriam os países ricos, foram excluídos
os detalhes sobre repasses financeiros, a imposição
de cifras, a criação do fundo para
o desenvolvimento sustentável, especificações
sobre economia verde e transferência de tecnologia
limpa. O Brasil e vários países em
desenvolvimento defendiam a criação
do fundo anual de US$ 30 bilhões, a partir
de 2013, e que alcançaria US$ 100 bilhões,
em 2018. Mas os países desenvolvidos rejeitaram
a proposta.
A
proposta do fundo foi substituída por vários
parágrafos, nos quais são estabelecidos
compromissos conjuntos, como a criação
de um fórum para apreciar o tema a partir
de nomeações da Assembleia Geral e
da parceria com as agências da Organização
das Nações Unidas (ONU).
No
texto há, ainda, seis itens com recomendações
para os países fortalecerem as parcerias
para a transferência de tecnologia limpa.
Mas sem impor normas, pois a questão divide
os países desenvolvidos e os em desenvolvimento.
Em situações de impasse, o documento
sugere que os ricos colaborem para o desenvolvimento
sustentável, ação que vale
também para as questões relativas
à capacitação e ao comércio.
Preocupação
Social
Em
praticamente todo o texto, há uma preocupação
clara e explícita com as questões
sociais o que, para os negociadores brasileiros,
indica um avanço. Ao longo do documento,
há a recomendação pelo esforço
de erradicar a pobreza e garantir o desenvolvimento
sustentável com inclusão social. No
primeiro capítulo a ordem é explícita.
“Reafirmamos
também a necessidade de se alcançar
o desenvolvimento sustentável: a promoção
sustentada, inclusiva e justa do crescimento econômico,
criando maiores oportunidades para todos, reduzindo
as desigualdades, elevar os padrões básicos
de vida, promoção do desenvolvimento
social equitativo e inclusão, e promover
a gestão integrada e sustentável dos
recursos naturais recursos e dos ecossistemas que
suportam nomeadamente econômico, desenvolvimento
social e humano, facilitando a conservação
do ecossistema, regeneração e recuperação
e resistência em face de novos desafios e
emergentes”, diz o texto.
Exatamente
como no rascunho anterior, concluído no fim
de semana, o texto dá atenção
privilegiada à África. A recomendação
é que todos se unam na tentativa de ajudar
os países africanos, embora ressalte que
isso já ocorre. “Notamos que a ajuda
à África tem aumentado nos últimos
anos. No entanto, ela ainda está aquém
em compromissos que foram feitos anteriormente.
Ressaltamos a prioridade fundamental para a comunidade
internacional de apoiar os esforços sustentáveis
de desenvolvimento de África”, diz
o documento.
Economia
Verde
Um
dos itens mais polêmicos debatidos ao longo
dos últimos dias foi o conceito de economia
verde. Há divergências de interpretação
e compreensão entre países desenvolvidos
e os em desenvolvimento. No caso dos países
ricos, a preocupação está relacionada
com as questões relativas à produção,
ao consumo e à comercialização
de mercadorias. Para evitar controvérsias,
foram colocadas recomendações gerais.
“Afirmamos
que existem diferentes abordagens, visões,
modelos e ferramentas disponíveis para cada
país, de acordo com suas circunstâncias
e prioridades nacionais, para alcançar o
desenvolvimento sustentável nas suas três
dimensões que é o nosso objetivo primordial”,
diz o texto.
Em
seguida, há 16 recomendações
(antes eram 15) sobre como inserir o conceito de
economia verde nos esforços pelo desenvolvimento
sustentável e pela inclusão social,
respeitando a soberania nacional.
Há
menções para os esforços conjuntos
para transformar o mundo em uma sociedade equitativa
e com oportunidades para todos, assim como aumentar
o “bem-estar dos povos indígenas em
suas comunidades” , assim como para mulheres,
crianças, jovens e pessoas com deficiência.
No
capítulo sobre temas específicos,
são mencionados erradicação
da pobreza; segurança alimentar e nutricional
e agricultura sustentável; energia; turismo
sustentável; transporte sustentável;
cidades sustentáveis e assentamentos humanos;
saúde e população; promoção
de emprego pleno e produtivo e do trabalho digno
para todos com garantias de proteções
sociais e oceanos, além de estados insulares.
Na
parte final do documento, há recomendações
sobre os esforços para reduzir os riscos
de desastres que se refere à medidas que
devem ser adotadas para alertar sobre perdas de
vidas e os danos econômicos e sociais causados
por essas situações. No ano passado,
o Japão viveu um dos piores terremotos da
sua história, enquanto Haiti e Chile ainda
tentam se recuperar dos tremores de terra recentes.
No
capítulo sobre mudança climática,
a preocupação é evidente, mas
não há recomendações
pontuais sobre o mínimo e o máximo,
por exemplo, permitidos de emissão de gases
de efeito estufa.
“Estamos
profundamente preocupados que todos os países,
particularmente os países em desenvolvimento,
que são vulneráveis aos impactos adversos
das alterações climáticas e
estão experimentando os impactos aumento
incluindo a seca persistente e eventos climáticos
extremos, elevação do nível
do mar, erosão costeira e acidificação
dos oceanos, ameaçando ainda mais a segurança
alimentar e os esforços para erradicar a
pobreza e alcançar o desenvolvimento sustentável”,
diz o documento.
+
Mais
Diversidade
toma conta do Aterro do Flamengo com o comércio
paralelo da Cúpula dos Povos
19/06/2012
- 17h59 - Rio+20 - Isabela Vieira - Repórter
da Agência Brasil - Rio de Janeiro –
Bem longe dos debates da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
Rio+20, a Cúpula dos Povos, no Aterro do
Flamengo, tem reunido milhares de pessoas, entre
brasileiros e estrangeiros, desde a última
sexta-feira (15). São vários os eventos
da Cúpula, mas a mistura fica mesmo perceptível
na feira informal de produtos ao ar livre.
À
margem da principal passagem que corta a cúpula,
vários grupos e artesãos estenderam
tendas ou lonas onde expõem uma diversidade
de produtos no chão. É possível
ver de tudo: brincos e colares de pedras, de penas,
de sizal, utensílios para cozinha, pinturas
para quadros, além de livros de diversos
grupos religiosos como os de Hare-Khrishna e de
comunidades alternativas.
Os
mais exóticos, que chamam mais a atenção,
são os produtos indígenas, que dominam
a área próxima à Plenária
2. Dezenas de índios pataxós, da Bahia,
expõem colares de sementes coloridas, arcos
e flechas, cocares, apitos e uma série de
outros produtos que variam entre R$ 10 e R$ 400.
Cobras em potes com formol e até pássaros
também fazem parte do que é comercializado.
Em
uma pequena lona estendida no chão, o índio
responsável pelos potes, pajé Tobi,
identificado como sendo da etnia Tupi-Guarani, da
Amazônia, também vende infusões
para emagrecer, para má circulação
e inchaço nas pernas, que, curiosamente,
são embaladas em Guapamirim, no Rio. Segundo
o pajé, ele é um “índio
andarilho”, que vive da venda de seus produtos
pelo Brasil.
Outro
grupo que chama a atenção é
o da organização não governamental
(ONG) Green Collar, de Taiwan. À beira da
calçada, eles trocam suas camisetas com a
de instituições brasileiras. Em cinco
dias, já se foram 150. “Mas não
é só a troca pela troca, queremos
pegar contatos e trabalhar junto com outras ONGs”,
explica o representante da Green Collar, Juju Wang.
Fazendo
bastante barulho, um grupo de estudantes da Universidade
de Brasília (UnB) usa um jingle próprio
para vender picolé de frutas do cerrado.
“Os mais pedidos são de cajuzinho do
cerrado, cagaita e bacuri”, conta a estudante
de pedagogia Marcela Nunes. O grupo, de cerca de
100 pessoas, quer cobrir os custos do translado
do Alto da Boa Vista e alimentação,
com a venda dos picolés.
Às
margens da Praia do Flamengo, com vista para um
dos principais cartões-postais da cidade,
o Pão de Açúcar, na Cúpula
dos Povos também não é difícil
encontrar índios encantados com a paisagem.
Kawire, da etnia Ikpeng, de Mato Grosso, conta que
não resistiu e, mesmo sabendo que a praia
não tinha a melhor balneabilidade da cidade,
arriscou um mergulho.
“É,
tem muito lixo. Mas é diferente. A gente
fica mais pesado, não afunda e deixa a gente
com sal”, revelou sobre seu primeiro banho
de mar. “Tô acostumado a ver isso aqui
pela TV. Agora que estou aqui, mesmo vendo a sujeira,
quis entrar”, completou Ikpeng.
Quem
ainda não se atreveu ao mergulho no mar foi
um grupo de Angola. Chefiando uma delegação
de cerca de dez educadores ambientais, Januario
Augusto diz que está feliz só de olhar
para as belezas da orla do Rio. “De manhãzinha,
todo os dias, eu faço aqui [no calçadão]
uma caminhada, um treinamento, para ajudar na manutenção
[da boa forma]”, relatou.
Fonte: Agência Brasil