Organizações
ambientalistas discutem sobre Jureia-Itatins com SMA-SP
Estação ecológica foi tema do 2°
Café Ambiental
Representantes
de onze entidades ambientalistas se reuniram com o secretário
estadual do Meio Ambiente de São Paulo para discutir
a situação do Mosaico de Jureia-Itatins. Considerada
uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta, a
região do litoral sul do estado, abriga núcleos
do Parque Estadual da Serra do Mar e a Estação
Ecológica de Jureia-Itatins, onde ainda vivem comunidades
tradicionais como caiçaras e caboclos.
Pedro
Calado/SMA-SP |
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Ambientalistas
participam de Café Ambiental. |
O
tema principal do debate foi em torno da regularização
fundiária destas famílias tradicionais, a
conservação dos recursos naturais e o interesse
e potencial turístico da região. O impasse
sobre a questão fundiária do local levou a
Secretaria Estadual de Meio Ambiente a repensar um novo
modelo de gestão da região, criando um Mosaico
de Áreas Protegidas e alterando a categoria de algumas
áreas para Parque Estadual e Reserva de Desenvolvimento
Sustentável (RDS), além da criação
de novas Unidades de Conservação. “Estamos
diante de uma discussão que tem duas visões:
a preservacionista e a socioambiental, o que nós
queremos é preservar, mas também pensar nessas
comunidades tradicionais que já vivem na região
há muito tempo”, declarou o secretário
Xico Graziano aos ambientalistas presentes, entre eles dois
membros do Pick-upau.
Pedro
Calado/SMA-SP |
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ONGs
se manifestam a respeito da EE Jureia-Itatins. |
A
doutora e bióloga Heloisa Candia Hollnagel, do Pick-upau,
apoiou a ideia da criação de novas unidades
de conservação e a alteração
de algumas dessas classes, mas afirmou que a organização
não é a favor do rebaixamento dessas categorias.
Segundo ela, essas mudanças, se forem feitas, devem
ser para cima e não para baixo, uma unidade de conservação
não pode receber uma nova classificação
que seja menos restritiva, como foi sugerido por uma vereadora
que participou do encontro.
A região também sofre, como em toda a extensão
do Parque Estadual da Serra do Mar, a especulação
imobiliária, que por muitas vezes se vale de prerrogativas
de comunidades tradicionais para se beneficiarem e permanecerem
em áreas consideradas, por lei, como Unidades de
Conservação. A respeito disso, Graziano anunciou
que vai publicar um decreto definindo melhor o que são
comunidades tradicionais, como elas se configuram e quais
direitos elas têm. “Uma coisa é pertencer
à comunidade tradicional que já estava instalada
lá muito antes da Estação existir.
Outra coisa é quem invadiu a região sabendo
que ali era uma área de preservação.
Mas hoje não temos suporte legal para definir quem
é quem e este decreto vai auxiliar nessa questão”,
explicou o secretário, que ainda afirmou que o Plano
de Manejo da área está em elaboração
e vai auxiliar na tomada das próximas decisões.
Pedro
Calado/SMA-SP |
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Secretário
anuncia novas medidas para a região. |
Durante
o Café Ambiental, o secretário informou que
uma equipe da Fundação Florestal estará
na Jureia, nos próximos dias para apresentar um novo
projeto de composição do Mosaico. Foi sugerido
ainda a criação de um grupo de trabalho composto
por representantes de ONGs, da sociedade civil, do governo
e da Assembleia Legislativa do Estado para debater e acompanhar
a criação do Mosaico.
Saiba
mais sobre a Estação Ecológica Jureia-Itatins
Sua criação
Foi criada em 1986, através do Decreto Estadual n°
26.646, de 20 de janeiro, após um longo processo
de mobilização da opinião pública
em favor de sua preservação. Por três
décadas ela foi objeto de diversos instrumentos legais,
que procuravam atender aos mais variados interesses, nem
sempre e proteção ambiental. A primeira media
em prol de sua proteção ocorreu em 1958, quando
foi promulgado o Decreto Estadual n° 31.650, de 8 de
abril, que criou a Reserva Estadual de Itatins, abrangendo
12.058 hectares de terras consideradas devolutas, na vertente
atlântica da Serra do Itatins.
Divulgação |
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Estação
Ecológica Jureia-Itatins. |
Em
12 de dezembro de 1977, como registra a ata n° 359 que
oficializa a Resolução n° 11 do Conselho
de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), da Secretaria
de Estado da Cultura e declarou o tombamento do Maciço
da Jureia, por se tratar de bem cultural de interesse paisagístico
e científico, e o Rio Verde, desde as cabeceiras
até sua foz.
Em
25 de julho de 1979, através de um contrato comodato,
a então Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
órgão federal, adquiriu o direito de instalar
a EE. Essa iniciativa não se concretizou naquele
momento, pois no ano seguinte a Empresa Nuclebras Brasileira
S/A escolheu a região para construir as usinas nucleares
Iguape 4 e 5. Por esse motivo, através do Decreto
Federal n° 84.771, de 4 e junho de 1980, a EE foi declarada
de utilidade pública, com a finalidade de abrigar
a construção das usinas, numa área
de 23.600 hectares, incluindo todo o Maciço da Jureia.
Reprodução/Instituto
Florestal |
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Mosaico
de Jureia-Itatins. |
Esse
fato somado à possibilidade de construção
de um grande condomínio residencial, gerou polêmica
tanto local com regionalmente, dando início a uma
intensa movimentação por parte de ambientalistas
com o propósito de frear o inevitável processo
de degradação ambiental que se descortinava.
Ainda em 1980, o governo federal curiosamente decretou a
localização das usinas nucleares no interior
de Estações Ecológicas pelo Decreto
n° 84.973, de 29 de julho de 1980. A região de
Jureia-Itatins estava incluída nesse decreto. Houve
assim a sua legitimação legal como Estação
Ecológica com abordagem voltada para a proteção
do meio ambiente e ecossistemas associados.
Reprodução/Instituto
Florestal |
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Estação
Ecológica Jureia-Itatins. |
Na
sequencia desse processo, a SEMA decidiu criar novas UCs,
como a ARIE da Ilha (fluvial) do Ameixal e a ASPE da Jureia,
reforçando, no plano federal, o aparato legal de
conservação das áreas abrangidas por
essas novas categorias de proteção. Em 20
de janeiro de 1986, o Governo do Estado de São Paulo
definitivamente editou o Decreto n° 24.646, para a criação
da unidade, com cerca de 79.270 hectares, e, em 1987, foi
homologada a Lei n° 5.649, de 28 de abril, ratificando
a criação da EE.
A
origem do nome
Originado da língua tupi-guarani, seu nome traduz
nitidamente a forma do maciço que avança sobre
o mar, juntamente com os vários afloramentos rochosos
que marcam a paisagem local. Jureia significa ponta saliente
(promontório) e Itatins, nariz-de-pedra (afloramentos
rochosos).
Reprodução/SMA-SP |
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Estação
Ecológica Jureia-Itatins. |
Sua
ocupação
A ocupação humana na área remonta ao
século XVIII, iniciada por grupos de negros, índios
e descendentes de europeus. No período da colonização,
os portugueses, em busca de ouro, utilizavam-se da conhecida
Trilha do Imperador, que ligava a cidade de São Vicente
à Vila de Cananeia, passando pela região.
Literatura recomendada.
Acesse o Projeto Outono – Folhas do Conhecimento e
saiba mais:
- Atlas
das Unidades de Conservação Ambiental do Estado
de São Paulo
- Estação
Ecológica Jureia-Itatins (Ambiente físico,
flora e fauna), Otavio A. V. Marques e Wânia Duleba,
Editora Holos
Sobre o Pick-upau
O Pick-upau é uma organização não-governamental
sem fins lucrativos de caráter ambientalista 100%
brasileira dedicada a preservação e a manutenção
da biodiversidade do planeta. Fundada em 1999, por três
ex-integrantes do Greenpeace-Brasil e originalmente criada
no Cerrado brasileiro, tem sua base, próxima a uma
das últimas e mais importantes reservas de mata atlântica
da cidade São Paulo, a maior metrópole da
América Latina. Por tratar-se de uma organização
sobre Meio Ambiente, sem uma bandeira única, o Pick-upau
possui e desenvolve projetos em diversas áreas ambientais.
Saiba mais: www.pick-upau.org.br
Da Redação
Com colaboração Evelyn Araripe/SMA-SP