Aldo
Rebelo ameaça florestas brasileiras com novo código
Quais são os verdadeiros interesses do deputado
13/09/2010
– O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), em comissão
especial da Câmara, propôs mudanças no
Código Florestal Brasileiro, alegando ser um pacote
de flexibilização das regras atuais dedicado
aos “agricultores brasileiros”. Rebelo disse
também que o atual código é uma sobrecarga
tributária e as restrições obrigam
os ruralistas a abrir mão de áreas de cultivo,
a procurarem advogados e enfrentar a dificuldade estrutural
e a interferência de outros países com taxações
que geram perda de lucro aos agricultores.
Muitos
ativistas de Organizações Não-Governamentais
(ONGs) ambientalistas foram ao plenário acompanhar
a apresentação do deputado e protestaram levantando
cartões vermelhos cada vez que Rebelo divulgava alguma
proposta nociva ao meio ambiente.
O
atual código, com mais de 45 anos de idade reserva
uma parcela entre 20% e 80% das propriedades rurais como
área de proteção ambiental e deixa
cerca de 90% dos produtores rurais fora da lei, segundo
a Confederação de Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA).
Dentre
as mudanças mais relevantes anunciadas por Rebelo
são que as pequenas propriedades rurais (inferior
a quatro módulos fiscais) sejam dispensadas da Reserva
Legal, já que no antigo código, a porcentagem
de área protegida em cada propriedade deveria ser
de 20% na Mata Atlântica e na Caatinga; 35% no Cerrado
e 80% na Floresta Amazônica. Assim os médios
e grandes proprietários poderão, quando não
cumprirem a lei, compensarem em áreas de preservação
coletiva, a serem definidas pelo Estado, legalizando assim
a situação de 90% dos produtores rurais que
hoje estão na ilegalidade.
Com
o novo pacote de leis caberá a cada Estado definir
quais áreas devem ser preservadas, incluindo as margens
dos rios, que passarão de 30 metros para 7,5 metros
de preservação ambiental. O intuito é
ocupar as áreas com produtos alimentícios,
reduzindo as áreas de preservação permanente
e ampliando as áreas de desmatamento. Também
caberá a cada Estado decidir quais áreas desmatadas
devem ser recuperadas, até mesmo com o uso espécies
exóticas.
Para
estudiosos do assunto as Áreas de Proteção
Permanente são de suma importância para a manutenção
da biodiversidade e reduzi-las é um retrocesso.
Além
disso, o novo código prevê o uso livremente
de solos de encostas e dá estímulos aos produtores
rurais que preservarem suas propriedades, convertendo as
áreas protegidas em Cotas de Reserva Ambiental, que
poderá ser comercializada como um título público,
a fim de equilibrar a Reserva legal no bioma.
Em
virtude de que cada Estado ser responsável por suas
áreas, a medida variará de município
para município e as propriedades nas regiões
Sul e Sudeste ficarão praticamente isentas da preservação
ambiental, já na Amazônia, onde a proteção
é maior, o percentual de áreas protegidas
nas propriedades poderá cair de 80% para 20%.
Outras
medidas mencionadas por Rebelo é que os produtores
rurais que descumpriram a lei terão cinco anos para
se enquadrarem e durante esse período, os mesmos
não poderão ser multados, ficando liberado
o uso de áreas que foram desmatadas até 22
de julho de 2008, sem risco de sanções. Se
o novo código for aprovado em 2011, as penalidades
serão feitas somente em 2016. Havendo até
a possibilidade de anistia plena dos desmatadores, porém
ficam suspensos novos desmatamentos, a não ser aqueles
já tenham sido autorizados.
Os
ruralistas já tinham conseguido do presidente Lula
que as multas por falta de documentação, registro
ou desmatamento das áreas de preservação
fossem suspensas até 2011.
"É mais fácil
desagradar que agradar a gregos e a troianos. O maior problema
não está na Amazônia, mas em São
Paulo e no Rio Grande do Sul", disse Rebelo. Segundo
o deputado, ele procurou manter as atuais exigências
da Reserva legal, sem prejudicar a agricultura.
O
Código Florestal põe ambientalistas e proprietários
rurais em uma disputa que se arrasta por anos.
O
parlamentar, na sua apresentação a Câmara,
voltou a criticar as organizações ambientais
dizendo que há uma relação entre essas
organizações e os interesses internacionais.
Afirmou também que as organizações
ambientais internacionais que atuam na Amazônia Legal
impedem o desenvolvimento de infra-estrutura, como a construção
de rodovias que beneficiariam os produtores rurais. Além
de alegar que questionamentos sobre o aquecimento global
não contestaria o modelo de produção
dos países ricos.
"Fiz
o relatório com os consultores da Câmara e
ouvi muita gente, grandes e pequenos proprietários
rurais até ONGs”, disse Rebelo. Porém
o deputado Ivan Valente (PSOL) apontou Samanta Piñeda,
advogada da frente do agronegócio, a “prestar
consultoria” e ser responsável pelas mudanças
apresentadas por Rebelo no novo Código Florestal,
como foi descrito no Jornal o Estado de São Paulo.
Piñeda
por sua vez disse não haver incompatibilidade na
sua ajuda, já que é uma especialista no assunto
e classificou sua participação como intensa,
dizendo. Samanta teria recebido 10 mil reais pelo trabalho
e Rebelo afirma que ela teve uma participação
restrita a um histórico da questão ambiental
no campo e à legislação.
O
dinheiro pago a Piñeda veio de uma verba indenizatória
que os deputados têm direito para o funcionamento
de seus gabinetes e foram feitos em parcelas iguais de 5
mil reais, por Rebelo e, Moacir Micheletto (PMDB-PR) Presidente
da Comissão, no mês de março. Não
consta o pagamento de outros consultores na área
jurídica e tão pouco na área ambiental.
Micheletto disse ainda que “Samanta é competente
e deve ser remunerada".
Em
2008 Piñeda escreveu um artigo dizendo que o decreto
do Presidente Lula que punia os produtores que não
respeitassem as áreas protegidas era “incumprível
e inconseqüente”.
A
proposta de Rebelo tem 309 páginas, mas ele se ateu
a ler apenas as 50 primeiras páginas, dando o resto
como lida e deixando um clima tenso entre a bancada ruralista
e a ambientalista.
Moacir
Micheletto (PMDB-SP), presidente da Comissão terminou
a sessão convocando uma nova reunião para
uma nova votação. O representante da bancada
ambientalista, Ivan Valente deputado do PSOL-SP, protestou
dizendo que vai pedir vista.
Da Redação
Foto: Agência Brasil