OAB
foi palco de mais um debate sobre o Código Florestal
Mais uma vez o deputado Aldo Rebelo não conseguiu
convencer
O
seminário promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil
– OABSP, trouxe mais luz ao acirrado debate sobre
as mudanças do novo Código Florestal, sugerido
pelo relator e deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Mas também apresentou mais do mesmo. O presidente
nacional da OAB Ophir Cavalcante, participou da abertura
do evento e demonstrou preocupação com o equilíbrio
nas discussões sobre o novo código.
"O
Código Florestal precisa incorporar uma tomada de
consciência que coloque o futuro do País -
e por que não dizer da Humanidade - dependente da
proteção ecológica", disse Ophir
durante o seminário, ao recomendar uma discussão
desapaixonada, sem ódios nem rancores, em torno do
futuro Código. Ele defendeu necessidade de um ordenamento
jurídico, nesse campo, "que reflita as preocupações
básicas de não inviabilizar a produção
de alimentos e, ao mesmo tempo, não transformar a
terra em deserto".
Divulgação/Pick-upau
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Mata
Atlântica no Estado de São Paulo. |
Um
equilíbrio nas discussões do Congresso Nacional
em torno da elaboração do novo Código
Florestal, que leve em conta uma tomada de posição
que permita o desenvolvimento econômico sem provocar
a destruição da natureza, foi defendido hoje
(18) pelo presidente nacional da Ordem dos Advogados do
Brasil, Ophir Cavalcante. Ele participou na Seccional da
OAB de São Paulo da abertura do Seminário
"Código Florestal e Perspectivas para a Proteção
ao Meio Ambiente", promovido pela Comissão Nacional
de Direito Ambiental da OAB e Comissão de Sustentabilidade
e Meio Ambiente da OAB-SP.
A
seguir, principais tópicos do discurso do presidente
nacional da OAB durante o seminário sobre o Código
Florestal:
"Enquanto
o mundo inteiro está chocado com a catástrofe
natural no Japão, com o futuro da energia nuclear,
com o aquecimento do planeta e com a elevação
do nível do mar, o Brasil se debruça sobre
um novo Código Florestal, destinado a substituir
uma legislação esparsa de 46 anos de idade
e que não evitou a perda de importantes sítios
ecológicos, como a Mata Atlântica e parte da
floresta amazônica.
O
debate tem sido travado de forma apaixonada, colocando,
de um lado, os proprietários de terras, e, de outro,
os ambientalistas insatisfeitos com o projeto relatado na
Câmara dos Deputados pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB).
Os ruralistas acham que o projeto, com algumas correções
pontuais, ajuda a salvar o agronegócio, e consolidar
a posição do Brasil como uma dos maiores produtores
de alimentos do mundo. Mas os ambientalistas reagem com
outros argumentos, sendo o principal deles o de que o desmatamento
vai avançar.
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
por exemplo, aderiu a essa tese, inclusive em nota oficial,
ao escolher o lema "Fraternidade e Vida para o Planeta"
para a Campanha da Fraternidade deste ano.
Nem
ao céu nem ao inferno. Ao longo das décadas,
o Código não impediu o desmatamento, mas sem
ele teria sido muito pior. Talvez nem florestas tivéssemos
mais. As discussões em torno da atualização
do Código Florestal devem obrigatoriamente incorporar
a ideia de sustentabilidade ambiental para o desenvolvimento
sócio-econômico.
A
consciência ambiental deve levar também em
conta as necessidades internas (e externas) de alimentos.
Por
seu lado, os produtores rurais e as empresas precisam ter
em mente que o avanço predatório equivale
a um suicídio em massa. Os recursos naturais não
são renováveis, se esgotam, mas sendo administrados
com a devida parcimônia, cuidado e zelo podem ajudar
a Humanidade por muito tempo ainda.
É
preciso que haja um equilíbrio nas discussões
e uma tomada de posição com vistas a permitir
o desenvolvimento sem provocar destruição
em massa.
Os
efeitos da ação predatória da Humanidade
sobre a natureza deixou de ser uma especulação,
os avanços tecnológicos nos permitem auferir
isso de forma bem clara.
Em
apenas 5 anos, por exemplo, o mundo perdeu 36 milhões
de hectares de florestas. Mais de 16 mil espécies
de animais entraram na lista de risco de extinção.
Em
nosso quintal, temos um triste legado para as futuras gerações:
as florestas brasileiras e todas as suas riquezas naturais
estão a perigo. Da Mata Atlântica, por exemplo,
que alcança esta região do Brasil, só
resta 8% de sua área original. Entre os primatas
brasileiros estão relacionadas cerca de 25 espécies
ameaçadas de extinção e alguns deles
são típicos da Floresta Atlântica.
A
Amazônia, em que pese se encontrar em sua maior parte
conservada, requer muito cuidado. Segundo o Inpe, a Amazônia
sofreu uma perda de mais de 520 mil quilômetros quadrados
de florestas de 1978 a 1998.
Pesquisas
realizadas pelo próprio governo apontaram que o desmatamento
anual da Amazônia cresceu 34% de 1992 a 1994. A taxa
anual, que era de pouco mais de 11.000 km2 em 1991, já
ultrapassou 14.800 km2.
Os
grandes causadores da degradação progressiva
são a atividade agrícola de forma não-sustentável
e a extração madeireira, que tende a aumentar
na medida em que os estoques da Ásia se esgotam.
De
acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República, 80% da produção
madeireira da Amazônia provém da exploração
ilegal.
Oficialmente,
hoje existem 22 madeireiras estrangeiras operando na Amazônia.
A falta de controle por parte das autoridades e órgãos
competentes, o que abre caminho para atividades altamente
destrutivas para a floresta, é demonstrada, por exemplo,
com o número de desperdício da madeira extraída
(leia-se árvores derrubadas que não têm
uso nenhum): ele gira em torno de 60 e 70%.
Por
sua vez, um cenário de calamidade ambiental que vem
se instalando na região do Cerrado brasileiro desde
a década de 1970. Entre 2002 e 2008, o desmatamento
do errado foi o dobro do ocorrido na Floresta Amazônica,
representando a supressão vegetal de 127,5 mil quilômetros
quadrados em seis anos, ou 21 mil quilômetros quadrados
por ano.
A
degradação desse importante bioma ocupado
por dez Estados mais o Distrito Federal já é
responsável pelo mesmo nível de emissões
de gás carbônico da Amazônia. Mais ainda:
12 mil espécies teriam simplesmente desaparecido
do Cerrado, enquanto a desertificação e o
avanço de culturas agressivas como a da cana de açúcar,
só aumentaram.
É
preciso ter consciência crítica acerca das
principais conseqüências do desmatamento, que
resumidamente são: destruição da biodiversidade;
genocídio e etnocídio das nações
indígenas; erosão e empobrecimento dos solos;
enchente e assoreamento dos rios; diminuição
dos índices pluviométricos; elevação
das temperaturas; desertificação; e proliferação
de pragas e doenças.
São
dados para reflexão, não para disseminar ódios
e rancores. O Código Florestal precisa incorporar
uma tomada de consciência que coloque o futuro do
País (e por que não da Humanidade) dependente
da proteção ecológica.
Necessitamos
de um ordenamento jurídico nesse campo que reflita
essas preocupações básicas, sem inviabilizar
a produção de alimentos e, ao mesmo tempo,
sem transformar a terra em deserto".
Ativistas
do Pick-upau estiveram no encontro e avaliaram como positiva
a primeira impressão sobre o posicionamento da OAB
às mudanças propostas para o novo código
florestal. Segundo o diretor-executivo da Agência
Ambiental Pick-upau, J. Andrade, há um cenário
positivo nas considerações da OAB através
de seus presidentes e também um bom censo nas declarações.
“O seminário foi importante, vi posicionamentos
claros de ambas as partes, o que no meu modo de entender,
expõe ainda mais as fragilidades propostas pelo deputado
Aldo Rebelo.”
“Avaliamos
o posicionamento da OAB como positivo, pois ele é
baseado no bom censo, algo que não está contido
nos pontos mais controversos da proposta apresentada pelo
deputado.”, disse Andrade.
Estiveram
no seminário o presidente da OABSP, Dr. Luiz Flávio
Borges D’Urso; Dr. Carlos Sanseverino, presidente
da Comissão de Sustentabilidade e Meio Ambiente da
OAB; Dra. Eloisa de Souza Arruda, secretária da Justiça
e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo;
Dr. Eduardo Jorge, secretário do Verde e Meio Ambiente
de São Paulo; os deputados federais Aldo Rebelo e
Ricardo Tripoli; o ex-deputado constituinte Fábio
Feldman, entre outros convidados.
Da
Redação
Com informações da OABSP
Divulgação/Pick-upau