Kátia
Abreu e CNA querem aprovar Código a qualquer preço
Senadora apela até para o aumento da inflação
Kátia
Abreu, senadora (DEM) e presidente da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse
que a falta de financiamento rural pode aumentar o preço
dos alimentos e a inflação nas próximas
safras, caso a flexibilização do Código
Florestal não seja aprovada.
O
Banco do Brasil (BB) a partir de junho não emprestará
mais dinheiro aos produtores que não se enquadrarem
na legislação. Eles deverão apresentar
a averbação da reserva legal ou aderirem ao
Programa Mais Ambiente. Porém, de acordo com a senadora,
a regularização não está disponível
para os produtores. “Não existe forma de aderir
a essas duas normas. Só existem no papel”.
Divulgação/ABR
|
|
Senadora
Kátia Abreu. |
A
maior parte do financiamento da produção agropecuária
vem do BB (cerca de 20%), de acordo com a CNA, portanto
se o banco não financiar mais os produtores, a produção
diminuirá. “Se não houver financiamento
vamos ter inflação. Se o financiamento demorar,
vamos ter aumento do custo de produção, que
também vai gerar inflação”, disse
Abreu.
De
acordo com a senadora, a melhor opção é
‘regularizar’ (entenda anistiar) as áreas
que hoje são consideradas ilegais pela legislação
ambiental. “Só há uma forma de reverter
essa situação. Tirando a insegurança
jurídica e votando as alterações do
Código Florestal. Se não validarmos as modificações
necessárias do código, teremos um grande e
grave risco de diminuir a produção de alimentos
no Brasil e pressionar a inflação”.
A
proposta do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) de flexibilização
do código, que já foi aprovada em comissão
especial, ajudaria muitos produtores a saírem da
ilegalidade, segundo a CNA. Agora a votação
do código é prioridade na pauta do Congresso
Nacional.
Divulgação/Pick-upau
|
|
Mata
Atlântica, um dos biomas mais ameaçados
do planeta. |
Kátia
Abreu falou que os agricultores estão dispostos a
cumprir a lei, mas apenas se ela não punir quem desmatou
quando a lei ainda permitia. “Essa anistia que ONGs
[organizações não governamentais] radicais
(o Pick-upau provalvemente é uma delas, no conceito
da senadora) dizem que vai existir não é verdadeira:
é para corrigir um erro, porque o produtor não
cometeu um crime”.
A
CNA está disposta a discutir os pontos polêmicos
da proposta de Rebelo, porém só negociará
se aparecerem dados científicos, como foi dito por
Kátia Abreu. “Queremos combater a teoria ideológica,
o fundamentalismo ambiental. Estamos abertos a flexibilizar
todos os pontos, mas de ideologismo xiita estamos fartos.
Se os argumentos técnicos mostrarem que estamos fazendo
mal ao meio ambiente, vamos recuar”.
Na
Câmara, Aldo Rebelo, faz reunião paralela aos
cientistas
Enquanto
era exposto um estudo científico sobre as fatídicas
consequências das alterações no Código
Florestal, pela Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência – SBPC e a Academia Brasileira de Ciências
(ABC), em outro auditório, parlamentares (maioria
ruralista), convidados pelo PDT, se aliaram ao Rebelo para
elogiar o seu trabalho como relator.
Giovani
Queiroz, líder do PDT, foi quem organizou a reunião
paralela e disse que o objetivo não era esvaziar
o seminário dos técnicos da bancada ambientalista.
“Foi mera coincidência. A nossa reunião
foi agendada há 15 dias e faz parte de um processo
de discussão do partido sobre os mais importantes
temas do país, como a reforma política, reforma
tributária e, hoje, a reforma do Código Florestal.”
Aldo
Rebelo, justificou seu relatório dizendo que o atual
Código Florestal deixa 100% dos agropecuaristas na
ilegalidade. Esse argumento ele já tinha utilizado
na Comissão Especial que aconteceu em junho. Ele
ainda criticou as organizações ambientalistas
definindo-as como representantes de interesses econômicos
estrangeiros e disse que seu trabalho foi de acordo com
cientistas.
Para
finalizar, Rebelo criticou também os deputados ambientalistas,
afirmando que eles não participaram das audiências
para a discussão da questão nem quando aconteciam
nos seus estados. Depois de falar e ser muito aplaudido
pelos deputados do PDT e alguns do DEM e do PMDB, Aldo deu
uma entrevista aos jornalistas. Veja alguns trechos a seguir:
O seu relatório
está sendo criticado no plenário 2, onde cientistas
fazem palestras a deputados sobre as consequências
das suas propostas, caso elas sejam aprovadas. O senhor
foi convidado para participar daquele seminário?
Aldo
Rebelo – Não, nunca. Aliás, a Frente
Ambientalista não costuma realizar debates democráticos
sobre os seus pontos de vista.
A
informação é que todos os deputados
foram convidados. E o senhor não acha que teria sido
importante estar lá para defender o seu relatório?
Aldo
– Acho importante que haja democracia e que todas
as opiniões sejam ouvidas e levadas em conta, como
aconteceu na Comissão Especial.
Quais
os principais pontos divergentes?
Aldo
– Eu creio que não há divergências
incontornáveis. A divergência só é
incontornável com aqueles que acham que não
deve haver nenhuma adequação da lei e que
não tem nenhum problema 100% dos agricultores brasileiros
estarem na ilegalidade.
O
senhor concorda em rever as questões da anistia a
quem desmatou até 2008 e a recomposição
das APPs? Parece que estes são alguns dos pontos
de maior discórdia.
Aldo
– A anistia está no decreto do presidente Lula
e do ministro Minc, no decreto 2.079. É uma conversão
para aqueles que se adequarem ao programa de regularização
ambiental. Acho que isso é um benefício para
o meio ambiente, já que as pessoas vão refazer
aquilo que foi motivo do auto de infração
e ao mesmo tempo elas vão se legalizar. Aqueles que
desmataram ilegalmente, que façam o reflorestamento.
A anistia do decreto 2.079 tem um prazo mais amplo do que
o meu. Meu prazo é para 3 junho de 2008. O prazo
do decreto do presidente Lula e do ministro Minc é
para dezembro de 2009. Propõe anistia nos mesmos
termos que eu apresento. Acho que isso tem de ser discutido,
se o Ministério do Meio Ambiente quiser. E eu mostro
que o Programa Mais Ambiente é muito parecido com
aquilo que eu proponho, oferecendo melhores condições
para essa regularização.
O
senhor concorda em aumentar APPs de margem de rio, voltar
aos 30 ou ficar em 20 metros?
Aldo
– Não vejo quem esteja propondo isso, porque
isso é uma negociação com o MMA. A
minha proposta era voltar ao velho Código que fixava
em cinco metros. Outros queriam manter em 30. Nós
chegamos a um acordo de 15 metros, para viabilizar principalmente
os pequenos proprietários.
Uma
das críticas é que as mudanças propostas
pelo seu relatório podem provocar aumento no desmatamento
e que o Brasil não poderá cumprir seus compromissos
de reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
Aldo
– É com a atual legislação que
o Brasil conheceu os maiores índices de desmatamento
da sua história. Qualquer cidadão brasileiro
que adquirir uma propriedade está autorizado a desmatar
80% na Mata Atlântica, 65% no Cerrado e 20% na Amazônia,
pela lei atual. Eu proponho uma moratória de 5 anos
para abertura de novas áreas para a agricultura e
pecuária, enquanto se faz o zoneamento econômico
e ecológico.
Parece
que haverá uma retomada de discussão, de negociação,
antes da votação em plenário. O que
o senhor antevê como possibilidade de consenso?
Aldo
– Não posso antever nada, porque o processo
de negociação que está sendo instituído
pelo presidente da Câmara, Marco Maia, ainda não
foi aberto. Mas sempre fui e serei aberto ao diálogo
e à negociação porque sei que o que
for aprovado aqui tem que ser a expressão da vontade
da maioria. E não se aprova nada com a maioria se
você não estiver aberto a negociar.
O
seminário no plenário 2 pretende demonstrar
que a bancada ambientalista busca uma base científica
para a modernização do Código Florestal.
O senhor ouviu técnicos e cientistas? O senhor ouviu
a SBPC?
Aldo
– Nós ouvimos dezenas de cientistas. Participei
de reuniões com a SBPC. O problema é que os
integrantes da bancada do meio ambiente não participaram
de nenhuma audiência pública. Não foram
nem aos Estados dos quais eles são representantes.
Ouvi as universidades, a Embrapa, técnicos agrícolas,
pesquisadores... Quem quiser consultar o relatório
de 287 páginas, vai encontrar os nomes e as opiniões
desses pesquisadores. Agora, eles teriam de ter participado
das audiências públicas e ter visto como foi
negociada redução da mata ciliar com o Ministério
do Meio Ambiente, redução para córregos
de até cinco metros, de 30 para 15 metros. Toda a
demais mata ciliar continuará na lei, mesmo não
existindo em nenhum lugar do mundo. No Código antigo,
que eles dizem defender, a mata ciliar começava em
cinco metros e ia até 100 metros. Houve essa alteração
recente que passou de cinco para 30 e de 30 para 500 metros.
Agora eles vendem isso como se fosse coisa do Código.
Não é, é de uma alteração
no Código. Na Austrália, a mata ciliar começa
em cinco metros e termina em 20. Nos EUA, em boa parte dos
estados, ela nem existe. Em boa parte da Europa não
consta da legislação, como a Reserva Legal
não consta de nenhuma legislação europeia.
Quer
dizer que se eles desmataram lá, então, deve
ser permitido também desmatar aqui?
Aldo
– Não. Nós vamos desmatar até
o limite das nossas necessidades. Como já desmatamos,
para plantar arroz, para plantar feijão. Infelizmente
você não constrói uma cidade, você
não planta, você não cria se não
remover a vegetação nativa. Temos que encontrar
o equilíbrio entre nossas necessidades de proteção
do meio ambiente. Sem meio ambiente você também
não tem nada, nem agricultura. Você não
produz nada assoreando rios, destruindo solo frágil,
isso é uma tragédia que não podemos
permitir que aconteça, mas ao mesmo tempo as terras
viáveis, propícias para a agricultura, nós
vamos usar. Precisamos ter equilíbrio, porque temos
ainda 70% do nosso território coberto de vegetação
nativa, enquanto o europeu não tem sequer 1%. Temos
de ter equilíbrio entre produzir e proteger.
Até
que ponto o senhor estaria aberto a negociações?
Aldo
– Até o ponto razoável, o que depende
da apresentação das sugestões daqueles
que acham que o meu relatório deve ser modificado.
Meu relatório não é o ponto final de
nada. Mas ele só pode ser discutido à luz
de propostas que ajudem a solucionar os problemas que eu
procurei resolver.
O
Ministério do Meio Ambiente está acenando
com a apresentação de uma proposta alternativa.
O que acontecerá com o seu relatório se isso
acontecer?
Aldo
– Eu precisaria primeiramente entender o que é
uma proposta alternativa. Constitucionalmente, regimentalmente,
a proposta alternativa não existe. O que existe é
algo que venha do Executivo, como um projeto de lei, como
uma medida provisória ou algo que seja da iniciativa
do próprio Congresso. Não acredito que o Ministério
do Meio Ambiente vá enviar alguma proposta porque
o Ministério sempre teve e terá as portas
abertas para discutir e fazer sugestões diretamente
ao relator.
Cientistas
reagem à flexibilização do Código
Florestal
A
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) apresentaram
um resumo executivo de um estudo científico, reagindo
aos argumentos ruralistas para a aprovação
flexibilização do Código Florestal,
propostos por Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
O
estudo, que foi reproduzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos
- INESC tem o intuito de provar cientificamente que as mudanças
propostas no relatório de Rebelo comprometem o futuro
das florestas do país.
Os
principais pontos de discórdia são: a redução
da área de preservação permanente (APP)
nas margens de rios, a possibilidade de regularizar plantios
em topo de morros e da recomposição de áreas
de reserva legal com espécies exóticas.
O
argumento central utilizados pelos cientistas no estudo
é que as áreas utilizadas no país podem
ter a sua produtividade maximizada com investimentos em
estudos e pesquisas, não havendo a necessidade de
novos desmatamentos. Além disso, eles mostraram que
é necessário compensar as perdas causadas
ao ambiente pela produção insustentável.
“O
contraponto do sucesso econômico da agricultura tropical
se manifesta no aumento das pressões sobre o meio
ambiente, com agravamento de processos erosivos, perda de
biodiversidade, contaminação ambiental e desequilíbrios
sociais. Fica evidente que há necessidade de medidas
urgentes dos tomadores de decisão para se reverter
o atual estágio de degradação ambiental
provocada pela agropecuária brasileira”, diz
o relatório.
Baseados
nesse documento, a SBPC e ABC pretendem protelar a votação
do texto de Rebelo, ampliando a discussão das mudanças
no Código Florestal. A votação estava
prevista para a primeira quinzena de março, como
havia anunciado Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara.
Porém ele resolveu montar um grupo de representantes
ruralistas e outro ambientalista, a fim de discutir o tema
adiando a votação.
A
pressão por parte dos ruralistas para que a votação
saia ainda em março vem aumentando. O texto foi aprovado
em julho do ano passado numa comissão especial e
está pronto para ir ao plenário.
MMA
rebate críticas da senadora Kátia Abreu
Mauro
Pires, diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento
do Ministério do Meio Ambiente, se opôs as
análises feitas pela presidente da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil, Kátia
Abreu, referente à regularização dos
produtores rurais na questão ambiental.
Kátia
Abreu, disse que os agricultores correm risco de ficar sem
financiamento, já que o Banco do Brasil não
vai mais emprestar dinheiro aos produtores que não
tiverem averbação de reserva legal ou aderirem
ao programa Mais Ambiente. De acordo com a senadora esse
programa “só existe no papel”.
Pires
rebateu essa afirmação argumentando que a
regularização é feita “com ou
sem o Mais Ambiente”, pois é realizada por
órgãos estaduais do meio ambiente. “O
Mais Ambiente é um estímulo, mas não
é uma condição para a regularização
dos passivos”.
O proprietário rural deve apresentar a localização
da reserva ao órgão estadual competente e
formalizar o mapeamento em cartório, essa averbação
de reserva legal não depende do programa federal.
O percentual de reserva que deve ficar intacto varia de
acordo com o bioma, sendo que na Amazônia são
80%, no Cerrado 35% e nos demais 20%.
“A
primeira fase é alcançar a adesão dos
estados, que vão organizar os requisitos para a adesão
dos proprietários. Depois disso é que virão
as outras ações: de capacitação
e de criação de um sistema para que as informações
sejam repassadas dos estados para o governo federal”,
disse o diretor do Ministério do Meio Ambiente, reconhecendo
que o programa Mais Ambiente, criado em 2009 por decreto,
ainda está em fase inicial.
No
Pará, estado com mais área desmatada, já
tem mais de 30 mil propriedades se adequando a lei e na
Amazônia vários lugares já tem programas
de regularização ambiental em andamento, de
acordo com Pires.
Da
Redação
Com informações da Agência Brasil/MMA/Folha
de São Paulo