Após
25 anos, Chernobyl ainda representa ameaça ambiental
Chernobyl é uma lição não aprendida,
até agora
23/05/2011
- Um quarto de século depois do acidente na Usina
Nuclear de Chernobyl e especialistas afirmam que a precipitação
radioativa ainda é uma ameaça ambiental, apesar
de não existirem muitas pesquisas sobre o assunto.
Estudos
mostram que animais como castores, veados, cavalos selvagens,
gaviões e águias voltaram a habitar a zona
de isolamento (30 quilômetros) desde que o homem saiu
do local e a caça passou a ser ilegal.
De
acordo com Tim Mousseau, professor de biologia da Universidade
da Carolina do Sul (EUA) e um dos poucos cientistas que
estudam a biodiversidade no local, o cenário é
enganoso. "Chernobyl definitivamente não é
o paraíso para a vida selvagem", afirmou ele.
Mosseau
ainda disse que "Quando você realmente faz o
trabalho duro, de conduzir um estudo científico em
que rigorosamente controla todas as variáveis, e
faz isso várias vezes em muitos lugares diferentes,
o sinal é muito forte. Há menos animais e
menos tipos de animais que o esperado."
No
ano de 2010, foi publicado o maior censo da vida selvagem
na região de exclusão de Chernobyl e o responsável
pelo estudo foi Mosseau e seus companheiros.
Ficou
concluído com esse estudo que decaiu o número
de mamíferos e a biodiversidade de insetos como marimbondos,
gafanhotos, borboletas e libélulas.
Outro
estudo publicado por Mosseau analisou cerca de 550 pássaros,
de 48 espécies e de oito locais diferentes. O estudo
avaliava o tamanho do cérebro das aves.
A pesquisa mostrou que em locais que a radiação
era alta, o cérebro das aves era 5% menor do que
o das aves que habitavam locais com nível de radiação
menor. Essa diferença era ainda maior em aves com
menos de um ano.
Esse
fato está diretamente ligado a habilidade cognitiva,
gerando diminuição da capacidade de sobrevivência
do animal. Além disso, o estudo mostra que muitos
embriões provavelmente não resistiram e acabaram
morrendo.
Mosseau
afirmou que "Isso claramente está ligado ao
nível de contaminação. Houve necessariamente
consequências para todo o ecossistema."
Para
ele é de extrema importância estudar a ligação
do acidente com os danos ambientais gerados. Apesar de que
os recursos destinados a esse tipo de pesquisa são
escassos e a maioria dos estudos russos não é
traduzida para o português.
Poeira
radioativa
Após
o acidente com o reator quatro da usina nuclear de Chernobyl,
em 26 de abril de 1986, poeira e cinza radioativas espalharam-se
por mais de 200 mil quilômetros quadrados, afetando
diretamente a Ucrânia, Belarus e Rússia. Além
de vestígios terem chegado ao norte da Escócia
e oeste da Irlanda, obrigando-os a restringir a criação
de gado.
A
contaminação não foi uniforme, por
isso alguns lugares se mantiveram limpos e outros, a poucos
metros de distância, possuem alta contaminação.
Isso se deve ao regime de ventos e chuvas que depositaram
as partículas ou pelas folhas que as seguraram.
O
césio 137 e o estrôncio 90 (em menor grau)
são considerados, hoje em dia, as principais ameaças
no local, de acordo com o IRSN (Instituto de Proteção
Radiológica e Segurança Nuclear, da França).
As
plantas absorvem as partículas radioativas do solo
pelas raízes e contaminam os animais, que por sua
vez se alimentam dessas plantas. Então, esses animais
acabam contaminando os humanos ao fornecer carne e leite.
Quando
ingerida pelo homem, as partículas de césio
são absorvidas por ossos e órgãos e
liberam radiação alpha. Esta radiação
atinge diretamente o DNA, aumentando o risco de as células
danificadas se tornarem tumores.
Os lados oeste e sudeste da Ucrânia não foram
atingidos pelo desastre, e as grandes fazendas e empresas
alimentícias não correm riscos devido à
fiscalização, de acordo com os cientistas.
Porém,
as zonas rurais da região nordeste da Ucrânia
ainda é afetada, fazendo com que os fazendeiros pobres
que colhem cogumelos e grãos não consigam
nem pagar por feno limpo para alimentar seus animais.
Valery
Kashparov, diretor do Instituto Ucraniano de Radiologia
Agrícola, disse que em 2008 houveram cortes nos fundos
destinados ao monitoramento da radiação, por
parte do governo. Estima-se que hoje em dia são necessários
US$ 600 mil para garantia de comida não contaminada.
Kashparov
ainda disse que "A contaminação está
decaindo, mas levará décadas para a natureza
levá-la a níveis seguros".
+
Mais
O
acidente em Chernobyl, na Ucrânia, marca 25 anos em
meio à nova era anti-nuclear.
Depois do desastre na Usina de Fukushima, no Japão,
os protestos contra energia nuclear cresceram.
No
dia 26 de abril, o acidente de Chernobyl, o pior da história,
completou 25 anos com uma cerimônia com os presidentes
da Ucrânia, Viktor Yanukovych e o da Rússia,
Dimitri Medvedev.
O
aniversário do desastre aconteceu bem quando a onda
de reivindicações contra energia nuclear estava
em alta, devido ao acidente na Usina de Fukushima, no Japão,
logo depois de ser atingido por um terremoto e um tsunami,
em 11 de março.
No
dia 26 de abril de 1986, uma explosão do reator quatro
da usina de Chernobyl, na Ucrânia, matou imediatamente
30 pessoas (pelo menos) e uma nuvem radioativa se espalhou
pelo país e logo em seguida alcançou quase
que toda Europa.
Até
hoje não se sabe ao certo o número de pessoas
que morreram devido a problemas gerados pela radiação
ou tiveram graves problemas de saúde, mas sabe-se
que esse número é grande.
Acredita-se
que os danos provocados pelo acidente tenham aumentado porque
a então União Soviética, que a Ucrânia
fazia parte, escondeu o acontecido por vários dias.
Centenas
de milhares de pessoas tiveram que ser retiradas de suas
casas, na Ucrânia, oeste da Rússia e em Belarus
e até hoje há uma zona de exclusão
de 30 quilômetros em volta da usina.
Na
ocasião os engenheiros soviéticos colocaram
um revestimento de concreto no reator explodido a fim de
limitar o vazamento de radiação, mas após
25 anos é necessária outra camada de proteção.
Houve
em Kiev uma conferência para arrecadação
de fundos para construção da nova cobertura
e de tanques de armazenamento para combustível nuclear.
Arrecadou-se cerca de 550 milhões de euros (R$ 1,3
bilhão), mas serão necessários cerca
de 740 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão).
Críticas
No
caso do Japão, a usina de Fukushima ficou severamente
comprometida após ser atingida por um terremoto seguido
de um tsunami no dia 11 de março de 2011.
Assim
como aconteceu em Chernobyl, os operadores de Fukushima,
a Tepco (Tokyo Electric Power Co.) também foram recriminados
por não divulgarem rapidamente o acontecido.
Dimitri
Medvedev, presidente da Rússia, ao embarcar para
Ucrânia para participar de solenidade em Kremlim com
os sobreviventes do acidente de 1986, disse que o episódio
é uma lição. "Acho que nossos
Estados modernos precisam ver a principal lição
do que ocorreu em Chernobyl e da mais recente tragédia
japonesa como a necessidade de contar a verdade às
pessoas".
Antes
de visitar o local da usina em Chernobyl, Medvedev, Yanukovich
e o patriarca da Igreja Ortodoxa russa, Kirill, participam
de uma cerimônia em Kiev.
Protestos
Milhares
de pessoas se reuniram na França e na Alemanha para
protestarem, pedindo o fim do uso da energia nuclear. O
principal protesto ocorreu na Pont de I’Europe, sobre
o rio Reno, local que liga França e Alemanha, entre
as cidades de Estrasburgo na França e Kehl na Alemanha.
Em
meio aos sons das sirenes, os manifestantes levantavam cartazes
e gritavam "Chernobyl, Fukushima, nunca mais",
além de jogarem flores e deitarem no chão,
fazendo um tipo de “morte coletiva” simbólica.
Da
Redação
Com informação de agências internacionais