Jornais
estrangeiros criticam aprovação do Código
Florestal
Dilma afirma que irá vetar pontos que prejudiquem
o país
24/06/2011
- Mudança no Código Florestal brasileiro é
destaque no jornal espanhol “El País”
um dia após ter sido aprovado na Câmara dos
Deputados. A reportagem é apresentada com o título
“Brasil outorga a impunidade aos desmatadores da Amazônia”.
A
reportagem tem um olhar crítico a respeito da votação,
ressaltando que a aprovação é uma "vitória
do setor rural sobre o ambiental" na política
do país.
O
correspondente do jornal no Rio de Janeiro escreveu que
"Mais uma vez fica claro quem manda no Brasil quando
os interesses dos latifundiários estão em
jogo".
Fabio
Rodrigues Pozzebom/ABr |
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Brasília
- O relator do novo Código Florestal, deputado
Aldo Rebelo, e o presidente da Câmara dos Deputados,
Marco Maia, no Plenário durante sessão
extraordinária destinada a votação
do projeto de lei do novo Código Florestal
|
"O
todo poderoso setor agropecuário brasileiro mantém
sob controle a Câmara dos Deputados através
de uma densa rede de apoio nos partidos majoritários,
incluindo o Partido dos Trabalhadores (PT), do governo.
Mais do que nunca ficou claro o poder de pressão
que o campo brasileiro continua tendo nos despachos de Brasília".
Para ele "as imagens do Congresso após a polêmica
votação eram inquietantes: dezenas de deputados
se abraçando eufóricos e fazendo o sinal de
vitória".
"Na
mesma manhã, o Brasil se despertava com a notícia
do assassinato, a tiros, do líder ambientalista João
Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, ambos ativistas
mortos pela preservação da Amazônia.
Da Silva havia denunciado que sofria ameaças de morte
por parte de madeireiros e pecuaristas do Pará, onde
vivia. Os mesmos que provavelmente brindaram à aprovação
do novo código."
Críticas
O
jornal espanhol relatou o tom crítico empregado na
maioria das reportagens veiculadas na imprensa européia
e americana sobre a votação.
O jornal “The Independent”, do Reino Unido titulou
o artigo como: "Corte e queima: Brasil rasga a lei
que protege as suas florestas." Tal periódico
dedicou uma dobra de página para o assunto, além
de uma fotomontagem com imagens e gráficos mostrando
que “a Amazônia segue ameaçada”.
O
“Independent”, e outras publicações
se apoiam sobre os efeitos de uma possível anistia
aos fazendeiros que desmataram suas terras além do
que é permitido na legislação.
Philip
Fearnside, renomado ambientalista do INPA (Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia) é citado na reportagem,
pois foi ouvido pela agência de notícias Associated
Press.
"A
proposta de anistia dá continuidade a uma longa tradição
brasileira, de legalizar o ilegal. As pessoas acham que
podem desmatar ilegalmente porque mais cedo ou mais tarde
serão perdoadas", disse Fearnside.
Tal
declaração também foi reproduzida no
jornal espanhol “ABC”, para eles os deputados
"ignoraram as pressões dos ecologistas e passaram
como um trator sobre a opinião pública".
O
Diário de Sevilha descreveu o código como
"a gênese de um gigantesco ambiental", atribuindo
a avaliação aos ambientalistas.
Economia
O
tema foi destaque em dois dos principais jornais econômicos
estrangeiros, o americano "Wall Street Journal"
e o britânico "Financial Times".
No
diário nova-iorquino, a reportagem comenta que a
mudança no Código é "uma vitória
para os grandes produtores e pecuaristas do Brasil".
"A presidente brasileira, Dilma Rousseff, adotou uma
plataforma pró-desenvolvimento e geralmente se alia
com os produtores ao invés dos ambientalistas. Porém,
membros de seu governo dizem que a legislação,
aprovada na forma atual, vai muito longe", ressaltou
o "WSJ".
O
“FT” afirmou que a "legislação
ambiental alimenta temores pela Amazônia". As
mudanças no Código Florestal podem ameaçar
as exportações agropecuárias no país,
de acordo com o diário.
O
jornal escreveu que "Sob o governo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, as autoridades conseguiram
reduzir o ritmo de destruição da Amazônia
através do monitoramento via satélite".
"Os
ambientalistas argumentam que a implementação
mais rigorosa da lei beneficiou os exportadores dos principais
produtos brasileiros, incluindo soja e carne, que podiam
alegar com credibilidade que não estavam produzindo
em áreas desmatadas ilegalmente."
+
Mais
"Vetarei qualquer coisa que prejudique o país",
disse Dilma Rousseff
A presidente da República disse que as questões
polêmicas que constam no novo texto do Código
Florestal serão vetadas. O texto foi aprovado na
Câmara dos Deputados e agora segue para votação
no senado.
"Não
abrirei mão do compromisso com o Brasil. Temos obrigações
diferentes e prerrogativas diferentes. Somos poderes e temos
que nos respeitar. Eu tenho prerrogativa do veto. Se eu
julgar que qualquer coisa prejudica o país, eu vetarei",
disse Dilma.
"A
Câmara pode derrubar o veto. Você tem ainda
a instância judicial. Eu sou a favor da compreensão
e entendimento. O governo tem uma posição
e espero que a base siga a posição do governo.
Não existem dois governos", completou Dilma.
É
prevista pelo governo certa dificuldade para reverter a
situação de alguns pontos do texto que passaram
na votação da Câmara, agora no Senado.
O texto final proposto pelo PMDB consolida a manutenção
das atividades agrícolas nas APPs (Áreas de
Preservação Permanente), além de autorizar
os Estados a fazerem a regulamentação ambiental
e anistia quem desmatou até junho de 2008.
Paulo
Piau (PMDB-MG), o autor da emenda que derrotou o governo
na votação da Câmara, disse que se a
presidente Dilma vetar o texto ela estará "se
curvando aos interesses internacionais sobre a Amazônia".
Já
Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator na Câmara, afirmou
que a presidente está “desinformada”
ao querer vetar a versão aprovada pelos deputados.
A ordem no Senado é ganhar tempo para elaboração
de um texto favorável ao Planalto, pelos governistas,
que tente agradar tanto os ruralistas como os ambientalistas.
O
governo também optou por articular a sugestão
do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), para ser o relator
do Código na Casa. Ele está ligado à
área ambientalista e teria a tarefa de finalização
do texto na Comissão de Meio Ambiente antes da votação
no plenário.
Da
Redação
Com informações da Folha/BBC Brasil